Chang’e-1 a caminho da Lua!

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Este foi um marco importante para a China e um dia que todos aguardavam há já algum tempo. No início de uma janela de lançamento de 35 minutos que abriu às 1005UTC (o lançamento teve lugar precisamente às 1005:04,602UTC) um foguetão CZ-3A Chang Zheng-3A (CZ3A-15) foi lançado desde o Centro de Lançamento de Satélites de Xichang localizado na província de Sichuan no Sudoeste da China, transportando a primeira sonda lunar chinesa, a Chang’e-1 (ChangEr-1). O lançamento teve lugar na primeira oportunidade e as condições atmosféricas que eram a principal preocupação para os especialistas espaciais chineses, acabaram por cooperar. O lançamento foi testemunhado por centenas de pessoas que compraram um bilhete para assistir a este momento histórico. Este foi o 104º lançamento orbital com sucesso levado a cabo pela China, o 45º lançamento orbital com sucesso levado a cabo desde Xichang, o 9º lançamento orbital chinês em 2007 e o 6º lançamento orbital realizado desde Xichang no corrente ano.

Antes de iniciar a viagem para a Lua, os técnicos chineses irão avaliar o estado da sonda após o lançamento e a abertura dos seus painéis solares preparando-a para a sua viagem. Após deixar a órbita terrestre a 31 de Outubro, a Chang’e-1 irá iniciar uma viagem de cinco dias até atingir a órbita lunar a 5 de Novembro. A sonda irá entrar numa órbita lunar operacional e a primeira imagem deverá ser enviada em finais de Novembro.

Durante séculos a mitologia chinesa contou a estória de uma bonita mulher que vivia na Lua há mais de 4000 anos. A bela Chang’e foi exilada para a Lua porque terá roubado o segredo da imortalidade ao seu marido. Agora, dentro de dias, Chang’e terá uma companheira orbitando a sua casa na forma de uma sonda lunar que marca a primeira fase do Programa de Exploração Lunar da China (PELC).

O PELC é o terceiro marco importante para a indústria espacial chinesa e nasceu em 1998 na forma do Programa 211. Este programa teve a sua origem dos trabalhos levados a cabo desde 1991 quando os especialistas chineses propuseram um programa de exploração lunar e levaram a cabo algumas pesquisas avançadas.

O Programa 211 estabeleceu dois objectivos: o primeiro destinava-se às aplicações espaciais e o segundo destinava-se à exploração do espaço profundo. Após ser apresentado e aprovado, este programa já teve as suas melhorias feitas tendo em conta os progressos alcançados pelo programa espacial chinês nos anos que se seguiram. O primeiro objectivo do plano espacial desenvolveu-se na criação de veículos de lançamento de grande porte que dentro em breve irão colocar cargas pesadas em órbita terrestre. Outros desenvolvimentos foram a criação de plataformas de satélites, aplicações dos dados obtidos por satélites e o desenvolvimento de sistemas de observação terrestre e de detecção remota.
O segundo objectivo do Programa 211 levou à criação do PELC. Em Novembro de 2000 a China publicou o seu Livro Branco sobre as suas actividades espaciais, claramente definindo que a exploração lunar se iria tornar no principal objectivo do seu programa de exploração do espaço profundo.

Segundo Luan Enie, Director do Programa Chang’e, a China foi cuidadosa ao seleccionar a sua aproximação estratégica a este programa. Esta é uma aproximação realista e com o mote principal no aspecto de numa gradual exploração automática com o objectivo de acumular experiência e conhecimento. Tendo isto em conta, a China tem assim três objectivos no seu programa lunar: orbitar a Lua, uma missão de alunagem e uma missão de obtenção de amostras do solo lunar. Estes objectivos serão conseguidos, em primeiro lugar, com o lançamento da Chang’e-1 para orbitar a Lua; em segundo lugar, com o lançamento de uma sonda que irá transportar um outro veículo capaz de levar a cabo uma alunagem automática; e em terceiro lugar, o lançamento de uma missão capaz de alunar e recolher amostras da superfície lunar, trazendo-as de volta para a Terra.
A primeira fase foi iniciada em Janeiro de 2004 com a aprovação da Fase I do PELC. Em Fevereiro de 2004, o principal grupo de investigação para o Projecto de Exploração Orbital Lunar, foi estabelecido e levou a cabo a sua primeira reunião onde os requerimentos gerais e plano de desenvolvimento para o PELC foram determinados, com o programa de exploração lunar a receber a designação Chang’e. A fase conceptual e de desenvolvimento foi finalizada em Novembro de 2004. Após esta fase alguns problemas técnicos foram resolvidos, permitindo a construção de um protótipo em Dezembro de 2005. A produção do modelo de voo teve início em 2006.

A Chang’e-1 não será apenas mais uma sonda lunar, tendo dois objectivos genéricos: os objectivos tecnológicos e os objectivos científicos. Os objectivos tecnológicos da Chang’e-1 são o desenvolvimento e lançamento da primeira sonda lunar da China; o domínio das tecnologias básicas para a exploração lunar desde a órbita da Lua; iniciar pela primeira vez a exploração científica da Lua; estabelecer sistemas de engenharia para a exploração lunar e acumular experiência para futuros projectos de exploração do nosso satélite natural. Por ouro lado, os objectivos científicos da Chang’e-1 são a obtenção de imagens tridimensionais da superfície lunar, determinar de forma precisa as estruturas básicas e características da superfície lunar, levar a cabo um mapa da geologia lunar e seus elementos estruturais para proporcionar informação para a missão de alunagem; detectar e analisar o conteúdo e distribuição de elementos úteis e tipos de materiais na superfície lunar e proceder à localização da distribuição desses elementos, detectar as características do solo lunar (rególito) e calcular a profundidade do solo lunar, explorar o ambiente espacial entre a Terra e a Lua, obter dados sobre o vento solar e estudar os efeitos da actividades solar no ambiente Terra-Lua.

A sonda lunar chinesa está equipada com seis cargas com um total de 25 dispositivos em oito instrumentos: um sistema de observação óptica (câmara CCD estéreo e um interferómetro/espectrómetro), altímetro laser, espectrómetros de raios gama e raios-X, detector de microondas, sistema de monitorização do ambiente espacial (com um detector de partículas de alta energia e um detector iónico de baixa energia), e um sistema para controlo dos dados da carga.

Para atingir todos os seus objectivos a Chang’e-1 terá de ser manobrada para um caminho orbital específico em torno da Lua. A sonda irá atingir uma órbita polar circular baixa que irá variar entre os 100 km e os 200 km de altitude. Esta órbita permite à sonda cumprir os requisitos na obtenção de dados com a mesma resolução e imagens de alta resolução. A Chang’e-1 foi desenhada de forma a ser capaz de proceder a rotações de 90º ao adoptar duas atitudes de voo ortogonais, podendo assim cumprir os requisitos para uma boa iluminação.

A sonda está equipada com um sistema de controlo que irá governar todos os seus sistemas tendo em conta vários sensores espalhados pelo corpo da sonda. O sistema é capaz de fazer mover componentes móveis, determinar os ajustamentos necessários para uma boa orientação da atitude do veículo e determinar a orientação da sonda. A bordo seguem um giroscópios, um acelerómetro, um sensor solar, um sensor ultravioleta lunar, um sensor estelar, dispositivos de controlo de momento e um mecanismo de controlo de propulsão.
A orientação da sonda, navegação e sistema de controlo tem a capacidade de se auto diagnosticar e certas funções de resolução de problemas foram incorporadas no software de controlo da Chang’e-1, podendo assim resolver alguns problemas sem a intervenção dos controladores terrestres.
O computador de bordo adopta uma estrutura redundante para garantir a fiabilidade das suas operações. O sistema de controlo dos sistemas da sonda foi modificado tendo como base a experiência já obtida noutros veículos.
O controlo térmico é um problema de grande importância para a Chang’e-1 com os técnicos espaciais chineses a terem um grande cuidado no desenvolvimento de sistemas capazes de manter as temperaturas óptimas para a funcionalidade da sonda.

Segundo as autoridades chinesas:
“O programa de exploração lunar é subordinado a e serve os interesses para uma revitalização estratégica da China através da ciência, tecnologia e educação, e através do desenvolvimento sustentável. O propósito do programa é o de atingir as necessidades do progresso da ciência, tecnologia, política, economia e social, com a necessidade de promover de forma prioritária o progresso e a tecnologia.
A exploração lunar é um grande programa de exploração científica envolvendo um alto investimento e um alto risco, mas com um retorno certo. O programa deverá aderir ao princípio de ‘focar em certos aspectos enquanto se ignora outros aspectos’, seleccionar e dar a ênfase a objectivos importantes e limitados e levar a cabo desenvolvimentos importantes em área chave, criando assim fundações sólidas para futuros programas de exploração espacial.
Apesar do início tardio do PELC, tem um início ambicioso utilizando os actuais resultados de exploração, as actuais experiências e lições ganhas por outros países nas suas actividades de exploração lunar. A China optimizou os objectivos de exploração e os métodos de implementação da tecnologia com o avanço e inovação até atingir um determinado nível. O PELC tem as suas próprias características e irá contribuir para a exploração internacional da Lua.
Tendo como base a independência e inovação, a China gostaria de expandir os intercâmbios internacionais em vários níveis e em múltiplos canais e a cooperação na exploração lunar. Desde intercâmbios académicos, co-pesquisas a co-desenvolvimento, a China espera melhorar de forma gradual os níveis e as escalas de cooperação e atingir mais resultados com menos investimento.”

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