Astronomia & Astrologia

Artigo de Carlos Vogt sobre a separação entre astronomia e astrologia:

Não é de hoje que astronomia e astrologia se separaram e até que a separação foi amigável. Na verdade, decorreu da própria evolução e transformação dos estudos dos astros, dos corpos celestes e da busca das leis que regem o seu desempenho no espaço. Como essas leis são físicas, foi também a evolução dessa ciência e de suas descobertas o que concretizou a separação que, ao longo dos séculos, desde a mais remota antiguidade histórica de que se tem notícia, foi se anunciando como inevitável.
Além de todas as diferenças conhecidas e reconhecidas entre a astronomia e a astrologia, a que mais salta aos olhos é que a primeira é uma ciência exata e a segunda não é exatamente uma ciência.
Ser uma ciência exata significa que a sua prática requer grande capacidade de observação e disciplina experimental alicerçados em um forte domínio da física e da matemática somados, é claro, a um espírito obsessivamente escrutador da imensidão do cosmo.
À consolidação da astronomia como ciência correspondeu, em grau talvez equivalente ao hiato cada vez maior que a separou da astrologia, a enorme popularização e crescente popularidade desta última.
Não que as duas não trabalhem ambas com a noção de causalidade. Apenas que o seu entendimento, função, papel e funcionamento é diferente num caso e noutro.
Para a astrologia a causalidade do mundo, isto é, sua necessitação causal é finalista, no sentido que a ordem do cosmo, do macrocosmo, determina a ordem dos acontecimentos da vida do homem, no microcosmo. O alinhamento ou desalinhamento dos astros organiza ou desorganiza a vida das pessoas no cotidiano de seus enfrentamentos. Não é possível deixar de pensar nessa forma de entender a causalidade sem pensar na noção de destino que domina, de um modo geral, uma visão que poderia dizer-se clássica da existência humana, independentemente do alcance popular que ela tenha e que sabemos ser grande.
Com o romantismo e o surgimento do drama em substituição à tragédia como forma de representação das novas dinâmicas da vida humana e de suas condições de relacionamento político, social e econômico, o homem deixa de ter destino e passa a ter destinação.
É o momento também de afirmação da ciência como instituição e o momento da consagração da física de Newton e da descoberta científica das leis que regem a mecânica dos corpos, celestes ou na Terra.
O século XIX viria exacerbar o ardor da crença na ciência até que, quando tudo parecia resolvido, vem o pessoal da física quântica e da teoria da relatividade e vira o templo das convicções estabelecidas de pernas para o ar. E a ciência dá um salto qualitativo, no começo do século XX, tão grande e importante que as suas conseqüências perduram até hoje nas mais diversas formas de sua manifestação e expressão: na ciência propriamente dita, na tecnologia, na tecnociência e nas grandes revoluções das tecnologias da informação, da biologia molecular e da biotecnologia.
Com isso a astronomia tem também desenvolvimentos notáveis, inclusive graças aos instrumentais que as novas tecnologias vão criando para a observação de situações e de fenômenos antes impossíveis de serem alcançados pelas nossas limitações naturais.
Aqui a causalidade também está presente, mas sem finalismo, determinando, contudo, uma ordem racional do cosmo, organizado segundo leis que é preciso estabelecer, testar, provar, falsear, negar e, assim, avançar no conhecimento do conhecimento do mundo e de suas (in)diferenças.
Entre a astronomia e a astrologia há ainda o fato curioso de que, em geral, os astrólogos são leigos totais em conhecimento científico, embora iniciados nos segredos que o comportamento dos astros escondem e revelam para os homens; do outro lado, a curiosidade é que, embora se tratando de uma ciência altamente sofisticada com inúmeras ramificações em torno da física, da matemática e mesmo da biologia, há uma grande quantidade de praticantes da astronomia totalmente amadores na ciência e amadores apaixonados do conhecimento que ela possibilita e proporciona.

Artigo completo (Revista Eletrônica de Jornalismo Científico – Com Ciência)

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