Fronteira, Alentejo

Nesta altura do ano, o Alentejo é um deleite visual.
O omnipresente verde é matizado por mil variedades de flores, desde
os brancos, aos azuis, aos roxos, aos amarelos, numa policromia
arrebatadora.
Quando a paisagem se abre, a partir de uma pequena elevação, é um
deslumbramento para os sentidos.

Fui até Fronteira, em caravana com o Filipe e a Rute.
Só a viagem, com as maravilhosas paisagens multicolores, já valeu a
deslocação.

Depois juntámo-nos ao José Ribeiro e fomos até ao Observatório.
Fica situado quase no topo de uma pequena colina, face a uma outra encimada por uma igreja, e sobranceira a um açude.
Pelas encostas, de um e outro lado, proliferam ninhos de cegonhas, havendo filhotes em
muitos deles.
A partir do observatório, é possível fazer a observação de toda a paisagem em redor, através de uma câmara controlada remotamente do interior.
O açude permite actividades aquáticas; uma esplanada e um restaurante complementam este lugar magnífico.
Foi ali que jantámos, após o que fomos até ao observatório.
O José Ribeiro continuou o trabalho de captura de espectros que iniciara na noite anterior, através do C14 instalado na cúpula.
Eu e o Filipe instalámos os nossos equipamentos num terraço, junto à entrada.
O Filipe fez as primeiras imagens do trio do Leão, com a sua nova câmara.
A imagem que nos mostrou é absolutamente espantosa.

Eu, como habitualmente, dediquei-me à observação visual.
Houve várias companhias para esta observação. Um casal ficou apanhado por Saturno e foram muitas as tentativas, algumas conseguidas, de o registar em afocal, quer com uma câmara digital, quer com o telemóvel.
A nós também se juntou o vereador da área cultural da Câmara de Fronteira, bem como vários agentes das forças policiais locais.

Os céus de Fronteira não são os melhores do Alentejo, pelo menos junto ao observatório.
Há um edifício de piscinas, abaixo do observatório, junto ao rio, profusamente iluminado e com candeeiros inapropriados.
Muita luz seja projectada para cima, de forma inadequada às imediações de um observatório.
Seria algo a rever naquele local.
Isso não afecta o trabalho na cúpula, mas afecta as observações no exterior.
O efeito é menos notório num outro terraço, próximo da cúpula, do outro lado do edifício.

O observatório está excelentemente equipado, quer para divulgação astronómica, quer para observação da natureza.
E está particularmente bem equipado para trabalhos de índole científica.
É um complexo magnífico, com grande variedade de equipamentos, e que honra a autarquia de Fronteira.
Merece ser divulgado e visitado.

O que observei?
Quase não interessa.
Só o prazer de sentir o interesse dos que passaram grande parte da noite ao nosso lado, de ver o entusiasmo por contarem 5 satélites de Saturno, de notarem a variação das suas posições ao longo da noite, de rejubilarem com uma pobre imagem de Júpiter ou com as crateras da Lua, ou ainda de se maravilharem com uns enxames abertos e globulares, ou de, pela primeira vez, verem uma galáxia que não a Via Láctea, é razão mais do que suficiente para dizer : – Valeu a pena!

Não posso terminar sem deixar aqui um aplauso à autarquia de Fronteira pela ousadia de levar por diante um investimento significativo, sem um retorno imediato, mas que fará de Fronteira um
ponto de referência para a astronomia e para a cultura.

Pela minha parte, vou voltar com frequência.

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Além do mais, em Fronteira – Portalegre – Alentejo está a nascer um parque da ciência com Espaço, Água, Fauna e Flora.
O Observatório Astronómico da Ribeira Grande ainda não abriu ao público, mas já tem recebido diversas actividades ligadas nomeadamente, ao Centro de Ciencia Viva de Estremoz.
Deve abrir em pleno Verão, e deverá ter um Planetário cuja a construção vai começar ainda este ano, um jardim de Astronomia – com um Relógio de Sol e a representação do Sistema Solar.
O planetário terá capacidade para 25 pessoas, com uma cúpula com cerca de 10 metros de diâmetro feita em fibra, para uma melhor defenição.
Vai ter uma capacidade que não existe em Portugal, que é o controlo remoto, o que vai possibilitar a participação à distancia de Universidades e de Escolas.

1 comentário

  1. Infelizmente, no município de fronteira, os interesses são outros. O observatório deve ter sido construído para dar trabalho e lucro a umas quantas empresas porque há já alguns anos que está fechado e ao abandono. Constrói-se, mas depois não há capital humano nem políticas culturais para dinamizar, com conhecimento e rigor, os espaços.

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