O Mistério de Cassiopeia A

O astrónomo real John Flamsteed registou, em 1680, uma estrela de magnitude 6 na constelação de Cassiopeia durante os trabalhos de preparação de um atlas do céu. Atribuiu-lhe o número 3 na constelação (3 Cas). No entanto, algum tempo depois, quando revisitou o mesmo campo, a estrela tinha desaparecido.
Este registo é visto por alguns astrónomos como a única observação existente da supernova que deu origem à Cassiopeia A.
De facto, desde a sua descoberta nos anos 40 e a determinação da data provável da explosão, no final do século XVII, que a falta de registos históricos associados a esta supernova tem intrigado a comunidade científica. A natureza da estrela que deu origem à supernova e o tipo da supernova que originou a Cassiopeia A têm sido objecto de discussão recorrente ao longo dos anos, na tentativa de explicar a sua aparente invisibilidade.

Seria bom ter uma máquina do tempo e poder recuar até 1680 para podermos analisar com um espectroscópio a luz proveniente da supernova. De facto, podemos fazê-lo de uma forma algo engenhosa.
Apesar da luz da supernova que viajou directamente na direcção da Terra ter passado por nós há mais de 300 anos é possível ainda, teoricamente, observar luz da explosão que percorreu caminhos mais longos antes de cá chegar. A forma de o fazer é observando reflexos da luz da supernova em nuvens interestelares – os chamados ecos de luz. Ainda recentemente isto foi feito para uma supernova na Grande Nuvem de Magalhães.

Agora, astrónomos do Max Plank Institute for Astronomy e dos Observatórios Subaru e Steward detectaram um desses ecos de luz para Cassiopeia A.
Baseando-se inicialmente em imagens obtidas com o Observatório Spitzer, nas quais detectaram ecos infravermelhos devidos ao aquecimento de poeiras interestelares pela radiação da supernova, a busca estendeu-se então ao domínio do visível no Observatório de Calar Alto. Finalmente, a detecção de um eco de luz visível suficientemente brilhante (magnitude 24 no vermelho!), permitiu a obtenção de um espectro que, quando comparado com uma base de dados de espectros de diferentes tipos de supernovas em diferentes fases evolutivas, permitiu classificar a supernova que originou Cassiopeia A como um evento de tipo IIb, ainda numa fase inicial. Na realidade o espectro obtido é muito semelhante ao da famosa supernova 1993J na galáxia M81.

Este tipo de supernova resulta do colapso gravitacional de uma estrela maciça que perdeu a maior parte do seu invólucro de hidrogénio (mas não todo). Assim, a estrela que explodiu e deu origem a Cassiopeia A seria provavelmente uma supergigante vermelha de tipo K ou M. Outra característica importante deste tipo de supernova consiste no facto de não ser tão luminosa e diminuir de brilho mais rapidamente do que uma supernova normal de tipo II. À distância de 11000 anos-luz e tendo em consideração a absorção da luz por poeiras interestelares, a explosão teria atingido a magnitude 3.2 vista da Terra. Este brilho modesto aliado ao rápido decaimento do mesmo, se conjugado com algumas semanas de mau tempo, poderia explicar a ausência de registos históricos.

Podem ver a notícia em detalhe aqui e aqui.

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  1. […] – Supernovas: Cassiopeia A misteriosa, Eta Carinae, Tycho, M101, SN 2011dh. Bala Cósmica – SGR 0526-66. Anel. Puppis. T […]

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