Astronomia no norte de Portugal

Em tempos, em conversa com alguém que frequenta o denominado “Grupo da Atalaia”, não me recordo bem quem, mencionou o facto de aqui no Norte, pouco se ouvir falar de astronomia amadora, principalmente em grupos e/ou observações.

Obviamente não podia concordar mais. Desde então, tenho tentado perceber as razões desse facto e, aparentemente, elas têm-me fugido constantemente.

Inclusivamente, o Grupo Polaris nasceu para tentar mudar o panorama, embora pelas tais razões mencionadas, nunca tenha sido tão dinâmico como desejável, já que após algum tempo nunca teve o número de pessoas activas que seria desejável.

Existem, no entanto, outros grupos pelo país fora, o que torna a questão ainda mais “estranha”. Temos o Proxima Centauri em Coimbra (que até já é associação e tudo), temos o grupo Regulus, a Orion no Minho, o pessoal da Atalaia, o GOAAA, só para citar alguns.

Existem também alguns encontros de Astronomia como, por exemplo, o Astrovide, o Astromira, o AstroPaiva, os da APAA de 2 em 2 anos. No entanto houve tempos em que muitos outros havia: os ERAA da praticamente extinta ANOA, os ENAA do NACO, os ENIA organizados informalmente pela malta da zona de Mira. Com um pouco de sorte, estou a esquecer-me de alguns…E, claro, a Astrofesta organizada pelo Museu da Ciência, na pessoa do prof. Máximo Ferreira.

A mailing list do astroPT não é original. Existem outras a funcionar com mais ou menos subscritores (não interessa para o caso). São exemplos a APAANews da APAA – Associação Portuguesa de Astrónomos Amadores, a Astrolista do pessoal da Galactica. Houve em tempos uma outra muito activa, a Astrolista original, da ANOA, que entretanto acompanhou os destinos da próropria Associação. Depois há os fóruns. Conheço 2, que penso serem os mais activos. O Astroforum e o Albedo, do pessoal da Galactica.

De comum a todos estes canais, a predominância de membros do Centro e Sul do país. Mas, afinal, qual será o problema, se é que existe um problema?

Eu penso que, uma das razões é a divulgação e a falta de eventos nacionais organizados cá por cima. Não me aprece que os Nortenhos sejam menos interessados ou curiosos que os sulistas (e isto não tem nada a ver com a tradicional guerrinha Norte-Sul).

Vou dar como exemplo, a Astrofesta, que tal com já foi dito é organizada pelo Museu da Ciência. E claramente o evento Nacional com maior capacidade de divulgação e penetração na sociedade. Tem recursos que outras associações e grupos não têm, como me parece óbvio. E tem pessoas também, pois são elas que possibilitam as coisas. Mas vejamos alguns números, relativos às Astrofestas realizadas até hoje e a sua distribuição geográfica:

A Norte de Lisboa:
8 (1995, 1999, 2000, 2001, 2003, 2005, 2006, 2007)

Norte de Coimbra:
3 (1999, 2000, 2005)

Norte de Aveiro:
2 (2000, 2005)

Entre Coimbra e Lisboa:
5 (1995, 2001, 2003, 2006, 2007)

A Sul de Lisboa:
7 (1994, 1996, 1997, 1998, 2002, 2004, 2008)

Propositadamente não mencionei as localidades em causa, por não ser relevante para a questão. Como se pode facilmente ver, o Norte tem sido descurado nas organizações da Astrofesta. Apenas 3 vezes se realizou a Norte de Coimbra e dessas 3, apenas 2 acima de Aveiro. A Astrofesta é um evento nacional, como tal deveria ocorrer em zonas mais diversificadas do país. Até numa lógica de cooperação com os grupos locais, se possível, na organização do evento, como aconteceu em 2005 tendo sido um sucesso em quase todos os níveis, senão mesmo todos. Foi também a última a que fui.

Em tempos fui (e voltarei a ser, sempre que ache necessário) um critico da Astrofesta (e dos eventos a que vou em geral), sempre que denotei falhas ou aspectos que, no meu entender, seriam de melhorar. Já emiti opiniões várias vezes, sempre no sentido de melhorar a Astrofesta e nunca de a denegrir, pois considero que o seu papel é muito importante. Essas opiniões, não são aqui relevantes, excepto no que diz respeito à “nacionalização” do evento.

Resta dizer que este ano, lá devo ir a Serpa. Se tiver oportunidade, vou tentar conversar com a organização de modo a fazer-lhe chegar mais estas minhas opiniões. Se todos fizermos a sua parte, é sempre possível mudar e melhorar. E o argumento dos céus escuros como bréu (tipicos do Alentejo profundo) não serve neste caso, pois para este tipo de eventos, um céu razoável é suficiente.

Se a atenção prestada ao Norte (neste caso, haverá outros) mudar e a Astrofesta se tornar verdadeiramente nacional, a divulgação da Astronomia ficará a ganhar, obviamente. Mas há mais. Associações como o CAUP também deviam ter uma palavra forte a dizer neste panorama, com mais marketing, mais divulgação às massas. Só assim se chegaria a um maior número de pessoas. No entanto, esta é a minha opinião e vale o que vale. O meu único interesse é, se estiverem a ler isto, incentivar os organizadores de eventos e os divulgadores a prestar mais atenção ao país no seu todo e não “regionalizar” a Astronomia.

3 comentários

  1. Mais discussão sobre este problema:
    http://groups.google.com/group/astro-PT/tree/brow

  2. Olá Filipe!

    Em relação à Atalaia, é um ponto fixo porque as pessoas assim fizeram com que fosse. Terá levado tempo, mas aconteceu.

    Quanto à comunicação, a questão que tenho para mim é aseguinte: nas listas, foruns e afins, há (quase)sempre mais pessoas a sul de Coimbra que a Norte de Coimbra, o que depois se reflecte claramente no terreno.

    A capacidade de mobilização é igual de norte a sul, penso eu. Basta ver outras areas e acontecimentos em que as pessoas se mobilizaram da mesma forma em todo o país. Penso que a questão não seja esta.

    As estradas e o tipo de terreno, aceito que possam contribuir. Mas é pouco decisivo, penso eu, assim como o clima. O clima podia originar menos saídas, mas só isso. (IMHO)

    Com este post, não pretendo de modo algum denegrir seja o que for ou quem for, apenas tentar perceber as causas de tal facto.

    Na mesma onde de ideias, a Astrofesta foi só um exemplo. Aliás, se falarmos de outros encontros, o panorama é idêntico ou ainda pior, já que há menos.

    Além disto tudo, parece-me que a Astronomia Amadora em Portugal teve um shift para "pior" há uns anos atrás. Em 2001, por exemplo, o dinamismo era maior e mais notório. Sinais dos tempos? 😉

  3. Não penso que a distribuição das Astrofetas sejam parte do problema, mas antes que sofram do mesmo mal..

    Pessoalmente acho que a razão está enraizada na definição de "grupo de astronomia". Um grupo, para se formar, precisa de:

    – um número mínimo de pessoas com *amor* pela astronomia

    – canais e facilidades de comunicação entre essas pessoas

    – abertura por parte dessas pessoas para ensinarem, aprenderem e partilharem o seu conhecimento.

    Em termos de pessoas, acho que as há em todo o lado, podendo ser mais fácil encontrá-las nos sítios em que há mais gente..

    Em termos de canais de comunicação, acho que 2 horas de viagem numa auto-estrada longa cansa tanto como 45 minutos numa estrada de serra. Portanto, naturalmente acho que onde o terreno for plano, é mais fácil de se congregarem pessoas.

    Em termos de abertura, em princípio ela deveria de ser mais ou menos igual em todo o lado. Se bem que tenho desconfiado que quanto maiores as dificuldades de encontrar informação, maior a abertura e facilidade de partilha de conhecimentos com outros.

    No caso da Atalaia, a coisa é um pouco diferente. A atalaia basicamente é um local com alguma segurança que acolhe pessoas. É um ponto de encontro fixo! Não há muitos outros sítios fixos, com condições semelhantes para haver reunião de amantes da astronomia.

    A experiência que tenho na zona de Lisboa, é que a comunicação não é a melhor e há um ambiente algo citadino: dois desconhecidos demoram imenso tempo até derreter a desconfiança.. Mais a sul no país, a noção do colega astrónomo é mais aberta. A sensação que tenho é que quanto mais uma comunidade luta por tentar encontrar informação sobre os temas que procura mais facilidade tem em se integrar, do que quando tem toda a informação disponível e há mais gente. É parecido com as pessoas que se cumprimentam na aldeia, e só o fazem na cidade se trabalham no mesmo sítio.

    Há ainda um outro risco que é a especialização de gostos. Se alguém tende a ficar demasiado focado em parte da astronomia tem tendência a isolar-se e dedicar mais tempo do seu tempo livre a essa faceta do hobbie. Isto não é bom se a comunidade é pequena e houver muita diversidade de interesses, pois naturalmente as coisas tenderão a coagular em núcleos diferentes, com menor comunicação entre cada sub-grupo.

    Não sei se no fundo, a culpa indirecta disto tudo é o tempo que cada um tem disponível, que na cidade é mais "valioso" que no campo. E tempo mais valioso tem que ser gasto mais selectivamente, e como tal com menos compartilha de informação.. Lembro-me quando andava na faculdade que havia tempo para quase tudo.. Agora a coisa já não é tanto assim..

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