Spitzer observa trânsito completo do HD80606b

O exoplaneta HD80606b é certamente um dos mais mediáticos. Vejam aqui a cobertura que este planeta já mereceu no AstroPT.

Ontem foi disponibilizado um artigo que descreve a observação do trânsito completo deste planeta em frente à sua estrela hospedeira pelo telescópio Spitzer. A longa lista de autores inclui dois ilustres portugueses: o Nuno Santos, do Centro de Astrofísica da Universidade do Porto, e que dispensa apresentações, e o João Gregório, um astrónomo amador português que tem vindo a desenvolver um trabalho reconhecido internacionalmente da observação de trânsitos de exoplanetas. O João foi já co-autor na descoberta dos exoplanetas XO-4b e XO-5b.

Apesar do telescópio Spitzer ter já esgotado o hélio líquido, que mantinha os seus instrumentos a uma temperatura de -271 Celsius para poder observar objectos débeis em comprimentos de onda do infravermelho, o observatório consegue utilizar ainda, à temperatura actual de -242 Celsius, dois canais de um dos instrumentos com excelente precisão. Ao prolongamento da missão original, sem o líquido criogênico, deu-se o nome apropriado de “warm mission” (missão quente).

A equipa de astrónomos utilizou o telescópio para obter fotometria de alta precisão do trânsito de 12 horas do HD80606b que teve lugar nos dias 13 e 14 de Janeiro de 2010. As observações prolongaram-se por uma janela de 19 horas para realizar medições fotométricas do sistema antes de após o trânsito. Uma das vantagens de observar trânsitos de exoplanetas em infravermelhos consiste no facto de, para estrelas de tipo solar, como é o caso da HD80606, o efeito de “escurecimento do limbo” ser muito menos pronunciado. O dito efeito consiste numa diminuição da intensidade do brilho de uma estrela na periferia do seu disco em relação à região central do mesmo. A existência deste efeito nas observações dificulta o cálculo dos pontos de início e final dos trânsitos, bem como da dimensão do planeta em relação a estrela. Neste aspecto, as observações permitiram estimar com uma precisão sem precedentes o raio do planeta em 98% do de Júpiter.

Simultaneamente com as observações do Spitzer foi conduzida uma campanha de observação espectroscópica do sistema no Observatório de Haute-Provence. As observações permitiram medir o efeito de Rossiter-McLaughlin para o planeta e determinar com segurança que o plano da sua órbita se encontra inclinado relativamente ao plano equatorial da estrela hospedeira por um ângulo de cerca de 42 (+/-8) graus. Este resultado confirma uma medição anterior mas agora com uma precisão bastante mais elevada e sugere que a órbita actual do HD80606b é o resultado da interacção gravitacional com outros corpos no sistema.

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