Comprimido Vermelho ou Comprimido Azul?

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O comentário do nosso leitor “bigkax”, neste post, fez-me reflectir sobre o papel do astroPT.

Matrix é um filme fantástico e complexo, assente em discussões filosóficas e religiosas. Não faltam páginas na net que examinam essas complexidades, muitas das vezes com interpretações que uma pessoa nem se deu conta ao ver o filme (já que se vê o filme pelo entretenimento, claro).

Uma das imagens emblemáticas do filme é quando o Morpheus pergunta ao Neo se ele quer tomar o comprimido vermelho ou o comprimido azul (podem ver a cena, aqui, com legendas em português).
O Neo tem que tomar uma decisão: escolhe o vermelho ou o azul?
Não pode tomar os dois. Tem mesmo que decidir qual caminho seguir.

Obviamente, a côr dos comprimidos é uma metáfora para um significado mais profundo.

Tal como no Génesis, a história da maçã que a Eva comeu no Paraíso tem um significado mais profundo do que “roubar” maçãs num jardim. No Génesis (Bíblia) o significado, para mim, é este: Deus dita a lei que Adão e Eva não podem “comer” conhecimento, têm que viver ignorantes do que se passa à sua volta, seguindo somente o que Deus ditar para eles. Eva resolveu desobedecer, e foi comer a maçã da árvore do conhecimento (do bem e do mal). Eva, bem ou mal, decidiu fazer as coisas por si, em vez de esperar que outros ditassem o que ela devia fazer e pensar. Eva decidiu se levantar sozinha (no exemplo que dei aqui). Eva decidiu tomar as decisões por si, em vez de concordar com as restrições que lhe impuseram. Deus, pelos vistos, não gostou que o confrontassem, não gostou de ter alguém a querer conhecimento, e por isso expulsou a Eva (e o Adão que também comeu a maçã) do seu Paraíso.

(Àparte:
– notem que não estou contra Deus, mas sim contra os Humanos que inventaram esta história para controlarem outros humanos, para fazerem esses outros humanos viverem na ignorância e terem medo do conhecimento.
– e para não dizerem que estou contra Cristo, não estou, porque na minha opinião, se ele existiu, era Gnóstico – uma procura de conhecimento que já vinha dos Gregos. Ou seja, procurava o conhecimento, e a igualdade. Era contra o status quo, o controlo, a autoridade, e os dogmas de Roma (na altura) e contra o sexismo (existente na Igreja). Ele seria totalmente contra os Humanos posteriores que, em seu nome, procuraram o controlo, o dogmatismo, a autoridade, e a ignorância da população (ex: Idade das Trevas). Ao contrário de muitos crentes religiosos actuais, Jesus, a ter existido, tomaria o comprimido vermelho.
– curiosamente é algo que também aconteceu em ciência. Aristóteles sempre foi contra a autoridade. Aristóteles sempre disse que as pessoas deviam procurar as respostas por si, e fazer experiências. Daí que Aristóteles sempre foi contra escritos antigos, de “autoridades” nessa área, e preferiu ele próprio observar, experimentar, analisar, deduzir, induzir, fazer analogias, abstrair, e escrever livros (sobre uma enorme diversidade de assuntos). Os que vieram depois dele, e que o seguiram como “discípulos”, resolveram eles dizer que “Aristóteles era a lei”, deveria haver uma reverência à autoridade do Aristóteles. Daí que se devia seguir tudo o que Aristóteles dizia, como sendo verdade, porque ele era a autoridade suprema. Ainda hoje o “método aristotélico”, apesar de erradamente, é popularmente pensado dessa forma, de reverência à autoridade e seguir o status quo, sem opinião própria. Ou seja, quem veio depois, subverteu o que foi dito, de modo a controlar a população e estagnar o conhecimento. Foi uma forma da civilização humana praticamente estagnar durante 2000 anos.)

O mesmo poderíamos perceber na fantástica série Lost. Para mim, tal como disse aqui, Jacob sempre foi o seguidor de regras, do que lhe diziam para fazer, que não tem opinião própria (mindless), enquanto o “Homem de Negro” queria explorar o mundo, queria cultivar-se, queria ver o mundo lá fora, queria se desenvolver, queria melhorar, queria mais conhecimento. Enquanto Jacob segue sempre a mesma ideologia, o Homem de Negro questionava o status quo, e tentava fazer por mudar as coisas.

Isto também tem a ver sobre que filosofia de vida preferimos seguir: determinismo, em que assumimos que já está tudo determinado? OU um mundo em que as nossas escolhas são importantes, que temos uma vida que depende das nossas opções?

Da mesma forma, no filme Matrix, o que é apresentado é uma escolha: de que modo preferimos ver a vida?

Temos à escolha um comprimido azul ou um comprimido vermelho. Qual tomamos?

Comprimido azul:
Escolhemos viver na ignorância.
Ignoramos o que se passa, e por isso estamos satisfeitos com aquilo que vemos/temos/sabemos.
Seguimos aquilo que nos é ditado, aceitamos o que nos é dito, e não temos opinião própria.
Assumimos que está tudo determinado, e não temos escolha.
Estamos confortáveis naquilo que assumimos ser a realidade.
Estamos contentes com aquilo que somos e que sabemos.
Estamos felizes com ir trabalhar/estudar todos os dias, acordar todos os dias à mesma hora, fazer exactamente as mesmas coisas todos os dias, seja lavar os dentes ou jantar a uma certa hora, trabalhar sempre à semana descansando ao fim-de-semana, ter férias sempre em certa altura, etc.
Basicamente, aceitamos o hábito, preferimos a rotina, viver sempre da mesma forma, ficar sempre no mesmo sítio, saber sempre as mesmas coisas, falar sempre com as mesmas pessoas, seguir sempre as mesmas políticas, seguir sempre aquilo que já sabemos, etc.
Deixamo-nos levar pela pressão social, quer na forma como devemos viver a vida, quer na forma de pensar.
Deixamos que a sociedade nos imponha o que pensar e como viver.
Sucumbimos à socialização (feita pela sociedade à nossa volta) e à educação formal (nas escolas, como diria Duckworth, que castram a nossa criatividade e individualidade).
Vivemos sempre dependentes de outros, e do que já é sabido.
Vivemos uma possível ilusão.
É mais fácil viver assim, é mais confortável quando não somos responsáveis pelo nosso destino.
Potencialmente leva a uma vida mais feliz: “Ignorance is a bliss” – a ignorância é uma benção que nos deixa felizes com a vida que temos.

Comprimido vermelho:
É o comprimido do conhecimento.
Queremos sempre ter um maior conhecimento, queremos saber sempre coisas novas, queremos aprender, queremos melhorar.
Examinamos a vida e a realidade.
Teremos certamente surpresas: umas vezes agradáveis e outras vezes desagradáveis.
Teremos uma maior pressão social para seguirmos a vida e a forma de pensar que nos impõem.
Questionamos o que nos dizem, questionamos o status quo, não estamos satisfeitos com aquilo que nos é apresentado, procuramos a verdade, não enveredamos por conspirações mas tentamos ver mais longe, tentamos mudar/melhorar as coisas, etc.
Duvidamos, arriscamos, questionamos, e procuramos as respostas.
Temos uma mente inquisitória (própria dos jovens de espírito, como diria Einstein, que continuam a colocar questões que parecem simples).
Temos uma mente aberta para experimentar coisas novas – “thinking outside the box”; mas não tão aberta que o cérebro caia.
Saímos fora da nossa zona de conforto, de modo a termos outras experiências.
Utilizamos o pensamento crítico, o “critical thinking”.
Pensamos por nós próprios.
Fazemos as nossas próprias escolhas, as nossas opções.
Damos um sentido à existência, em vez de nos limitarmos a sobreviver.
Procuramos e tentamos entender o sentido da vida.
Damos enorme valor à consciência, à forma como vemos o mundo à nossa volta.
Não nos limitamos a observar, mas pensamos, reflectimos, questionamos.
Entramos numa viagem que busca a verdade e o conhecimento. É uma viagem, um método de descoberta.
A responsabilidade da nossa vida, é nossa. Nós é que fazemos as opções para a vida que temos actualmente, e que teremos no futuro.

O comprimido azul é a escolha mais fácil, em que a pessoa está satisfeita com aquilo que tem, que se limita a absorver o que lhe dizem, e que levará a uma vida de felicidade… mas ilusória.
O comprimido vermelho é a escolha mais difícil, porque tem que lutar contra o “status quo”, tem que ir procurar respostas. Só quem tem uma personalidade forte tenta esta escolha.

Eu não pretendo dizer qual o comprimido que devem tomar.
A escolha é pessoal, de cada um.

Aliás, parece-me que para diferentes situações da vida, tomamos diferentes “comprimidos”.
Por exemplo, se formos fazer uma longa viagem de carro (milhares de kms), temos o cuidado de levar primeiro o carro ao mecânico. Ou seja, preferimos tomar o comprimido vermelho, ter conhecimento sobre como está o carro, e se é preciso melhorar alguma coisa (por exemplo, em termos de travões); em vez de irmos na viagem e confiarmos que não se passa nada.
Noutro exemplo, se calhar fazemos o contrário. Por ventura, muitos de nós, compramos os produtos no supermercado, e nem vemos a data de validade, ou o sítio onde foi produzido. Não queremos saber, e esperamos que corra tudo bem.
Há outros casos em que é difícil saber o que fazemos: será que vamos mensalmente ao médico ver, por exemplo, se surgiu alguma potencial doença nova (ex: cancro), ou preferimos a ignorância de vivermos felizes não sabendo de doenças? Será que se amanhã a NASA detectasse um enorme asteróide a vir na direcção da Terra, e que iria embater daqui por 2 dias, e não houvesse nada a fazer (iríamos ser totalmente exterminados), preferíamos saber (comprimido vermelho) ou preferíamos viver o resto da nossa vida despreocupados, felizes, e alheios a essa inevitabilidade (comprimido azul)?

Pessoalmente parece-me que em geral (sem falar de casos específicos na vida, mas da vida no seu todo), a maior parte das pessoas toma o comprimido azul: passa pela vida, em vez de vivê-la.
Tal como nos tentam dizer alguns filmes, com as suas mensagens. Por exemplo, Metropolis, Invasion of the Body Snatchers, e centenas de outros.

Também me parece que a ciência, o método científico, o pensamento científico, o debate racional, a experiência, é claramente uma forma de tomar o comprimido vermelho.

Como isto se liga ao astroPT?

O projecto astroPT visa basicamente divulgar astronomia, em português.
No entanto, muitos posts (como este agora!) não estão directamente ligados a assuntos astronómicos.
A culpa é, claramente, minha.
A minha área é a astrobiologia, uma área multidisciplinar que não vê a astronomia (ou a ciência em geral) isolada, mas sim ligada a muitos outros aspectos da vida. É uma envolvência de diversos assuntos, e não uma especialização num assunto específico.
Daí que, bem ou mal (não vou fazer juízos de valor, deixo isso para os leitores), escrevo sobre Ficção Científica, sobre Educação, sobre Literacia, sobre Mentalidades, sobre Comportamentos Humanos, sobre Política, sobre Religião, sobre Carros, sobre Futebol, sobre Vida Estranha, sobre Pulseiras, sobre Cursos Metafísicos, sobre OVNIs, sobre Críticas à Ciência/Astronomia, sobre auto-Reflexões, sobre Defesa da Ciência, sobre Animais com Fotossíntese, sobre Animais que Vivem para Sempre, sobre Pseudo-Ciência, etc, etc, etc.

Parece-me que um projecto científico, como este, deve ter uma visão alargada da ciência, e do seu papel social. Deve-se imiscuir na sociedade em que está envolvido, e não ignorar os ataques à ciência que se vêem diariamente, nem ignorar a sociedade (os outros aspectos sociais).
Esta é uma visão puramente pessoal (não sei se é ou não, partilhada por todos).

Ou seja, o astroPT tem o objectivo primário de divulgar a astronomia e providenciar um maior conhecimento astronómico, mas também fomentar o pensamento crítico, analisar assuntos de elevado interesse social (que tenham uma relação, mesmo que ténue, com a astronomia), e incutir uma maior racionalidade.
Dito de outra forma, o astroPT não vos dá a escolher qual comprimido tomar. O astroPT oferece-vos o comprimido vermelho.
Mas a escolha é, sempre, vossa.
Podem tomar o comprimido vermelho, de livre vontade, frequentando este espaço; ou podem preferir o comprimido azul, rejeitando este conhecimento, e continuando felizes com uma vida que não ponha em causa aquilo que já sabem.

Obviamente que espero que nos visitem, e que valorizem o astroPT com os vossos comentários, questões, e análises.
Mas a escolha é vossa.
E se escolherem vir cá, como espero que o façam, já sabem que é para tomarem o comprimido vermelho
😉

30 comentários

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  1. Carlos, um reparo, o fruto não era uma maçã.

    1. Então?

      Fui à Wikipedia:
      http://en.wikipedia.org/wiki/Forbidden_fruit

      Li que diferentes textos referem diferentes frutos… 😉
      Eu sempre aprendi maçã… devido a estar na Europa Ocidental 🙂

  2. Tinha escrito um comentário longo mas que por incompatibilidades entre mim e os meios tecnológicos foi-se… Portanto, aqui vai resumidamente a minha opinião.

    Em tempos, havia uma lista em que alguns de nós pertenciamos de discussão de astronomia. E um dia, por motivos que nos escaparam (ou não) um dos membros responsáveis achou-se dono da verdade o que originou alguns descontentamentos e saídas dessa lista.

    Ninguém é dono da verdade! E na minha opinião, o AstroPT assume isso como sendo um dos valores adjacentes ao projecto: todos nós temos uma opinião e o AstroPT torna-se um um espaço precisamente de discussão, de mexer em ideias pré-concebidas e fazer pensar na ciência em geral e na astronomia em particular.

    Na minha opinião temos estado no caminho certo, fomentado um espírito crítico nas pessoas que nos seguem e mesmo nos colaboradores.

    Nenhum de nós é dono da verdade, nem tão pouco detentores de todo o conhecimento. E por isso mesmo, e enquanto cidadãos, creio que o AstroPT tem o dever de informar, espicaçar e despertar conhecimento, opiniões e denunciar situações demagógicas que vão existindo por esse mundoe universo fora.

    Portanto, show must go on! E o AstroPT está no caminho certo!

    Cumprimentos astropolíticos
    Vera Gomes

  3. Pois, também pode ser, realmente 🙂

    E penso que vai de encontro ao que a Mirian disse: essa é uma visão mais de “pai”, em que os filhos são “teenagers” e começam a acenar que estão prontos para “sair de casa” e explorar o “mundo real”, sem os pais a olharem sempre por cima do ombro…

    Lá tá, não sou pai, por isso nem me lembrei disso 🙂

  4. Falando da história bíblica que tal esta linha de pensamento abaixo?

    Ao comerem da maçã (comprimido vermelho) não estariam Adão e Eva ‘acenando’ que estavam preparados para viver fora do Paraíso (Paraíso = comprimido azul)? Ao fazer a opção, mostraram que estavam maduros para enfrentar o ‘mundo real’.

    Que acham?

  5. 🙂

    Ao que parece, falamos todos a “mesma lingua”. 🙂

  6. Só para acrescentar: a Ficção Científica explora estas questões morais e filosóficas noutros planetas… mas na verdade é tudo sobre nós, sobre como os Humanos se comportariam
    😉
    http://www.astropt.org/2009/06/30/curso-de-astrobiologia/
    http://www.astropt.org/2009/06/21/carlos-oliveira-na-rtp/
    http://www.astropt.org/2009/04/15/artigo-no-ija/
    😉

  7. Mirian, expressei-me mal então 🙂
    É que eu sou Deus…
    😛
    Não, não é isso, expressei-me mal noutra coisa: a minha opinião pessoal é similar à do bigkax, no sentido em que acho que as pessoas devem tomar as decisões por si próprias e ser responsabilizadas por isso.

    Assim, nunca achei que a ciência ou os cientistas fossem responsáveis pelas explosões da bomba atómica, mas sim os políticos da altura.
    Da mesma forma, não acho que por serem voluntárias, a responsabilidade da missão não deixa de ser dos líderes também (é uma responsabilidade conjunta).

    Ligo à Eutanásia no sentido que é um voluntário acabar da vida, e no sentido que não tenho qualquer certeza sobre o que eu penso mesmo.
    Por exemplo, acho que a responsabilidade é totalmente da pessoa (tal como o suicídio). E ela é que sabe o melhor para si. Logo, se prefere assim, acho que deve ser concedido.
    No entanto, por vezes, em situações extremas (como é o caso) as pessoas não pensam correctamente (de forma racional), e daí que se calhar não se deveria dar tanta responsabilidade a uma pessoa nesse estado (extremo).

    Ou seja, a única certeza que tenho, é que tenho dúvidas sobre o que faria…
    Parece-me que moralmente não há uma clara definição entre o que é correcto e incorrecto… como disse o bigkax, existe uma grande área cinzenta.

    A outra certeza que tenho (afinal a outra não era única) é que a Ficção Científica, quando bem feita, explora de forma genial estas questões.

    P.S.: quanto à história do seu miudo, na escola, penso que infelizmente é “normal”, geral. Existe uma simples memorização dos assuntos, como explica o Calvin:
    http://compsci.ca/blog/wp-content/uploads/2008/03/calvin_and_hobbes_ch940127.jpg
    Mas também não quero dar a ideia que não há respostas erradas e outras certas. Porque há. Como até tento explicar na categoria sobre os Pseudos. Mas penso que a escola deveria puxar mais pela imaginação dos alunos e pela compreensão dos assuntos. No exemplo matemático, vi por exemplo isto feito em algumas escolas privadas por aqui:
    A pergunta é: como chegar ao número 6?
    As respostas dos alunos podem ser em número infinito, desde 3+3, ou 2×3, ou 8-2, ou 24:4, ou uma infinidade de outras respostas.
    Ou seja, pode haver muitas maneiras de chegar a um resultado certo.
    Assim como há maneiras erradas, como por exemplo se para chegar a 6, a resposta é 20+7. Isto é errado.
    Mas isto é no caso de se conhecer o resultado certo. Porque os maiores desenvolvimentos são aqueles que nem se conhecem de antemão o resultado. E esta forma de ver o mundo, muito mais criativa, também deveria ser ensinada nas escolas.
    Assim como deveria ser ensinada na escola a discussão dos assuntos, e a utilização de argumentos racionais para defesa das posições.
    Digo eu…
    😛

  8. Carlos,

    Por isso que você não é Deus! 😀

    Entrando na sua conversa com bigkax, acredito que a partir do momento que uma decisão sai das mãos de alguém, como por exemplo, dos cientistas, eles deixam de ter responsabilidade sobre aquilo, a menos, claro, que continuem a fazer aquilo, da forma como bigkax disse.
    Da forma como você colocou, estaria responsabilizando os inventores do avião pelo seu uso nas guerras. E daí que, tomar o vermelhinho corre o risco de levar a culpa do mundo. 🙂

    Agora, concordo que líderes acabam por tomar para si “o bem e o mal” que pode vir de uma decisão, mesmo que seja tomada por todo o grupo – é a maldição de ser lider. 🙂

    • Agostinho Jorge on 26/10/2010 at 01:09
    • Responder

    Obrigado! Carlos. Continua…
    Abraços

  9. @bigkax:
    Sim, mas o Kirk continua a ser o Captain, e é responsável por todas as decisões, assim como é responsável pela segurança de toda a sua tripulação.
    Exemplo: o Picard enviou a Ensign Sito numa missão suicida. Ela foi voluntariamente. Mas na prática, ele é o responsável por tomar essa decisão (de haver uma missão dessas).
    Neste caso, no meu entender, foi uma decisão, por ventura errada. Mesmo trazendo enormes benefícios, e mesmo sendo ela voluntária.
    😉
    Parece-me semelhante ao caso da Eutanásia, em que as pessoas tomam essa decisão para elas (voluntárias).

    Já agora, adorei o filme em que eles vêm ao passado salvar as baleias. Apesar de ser geralmente considerado muito mau.
    😀

    @Mirian: não sou pai, mas mesmo que fosse, não seria omnisciente 🙂

  10. bigkax,

    Meus dois meninos tiveram problema desse gênero, e o que combinamos foi que, nas provas eles escreveriam exatamente o que o professor disse, só para tirar nota. Chegando em casa, no caso de um, escreveria num blog o que ele não pode escrever na prova. 🙂 No caso do outro, contaria a nós, em casa, como ele resolveria o problema, ou o que ele imaginava da situação proposta. No primeiro caso, saiu até que um blog interessante, satírico e surpreendente para um menino, na época, com 12 anos. 😉 O segundo, conseguiu no professor de Matemática um parceiro, que aceita as respostas sem cálculo dele (só “de cabeça”) e respeita o seu raciocínio lógico.

    Carlos,

    Uai, qual o problema em se saber antecipadamente o que ia acontecer? 😀 Você não é pai, certo? 😀 (Para os meus filhos eu tenho o “terceiro olho” :D)

  11. Carlos Oliveira
    Se bem me recordo cada membro da tripulação voluntarioso-se, portanto cada um deles arriscou a sua vida para salvar outra. Neste caso os instintos humanos deram bons frutos, alem de salvar o Spock posteriormente salvaram toda a população terrestre ao ir ao passado buscar as baleias ao passado.

  12. Mirian Martin
    Tive mesmo problema que o teu menino mais novo no meu 10º ano em Filosofia, felizmente consegui recuperar no 11º com um professor diferente.
    Um dos problemas dos sistema educativo é que quando as perguntas não são 1+1=2 alguns professores “não gostam” que os alunos aprendam a pescar e quando o azul é avermelhado pode dar para o torto.

  13. Mirian, ahhh se fôr assim, já percebo a história 🙂
    Eu também detesto quem não assume responsabilidades, por isso, entendo Deus
    😛
    Mas Mirian, Deus não é Omnisciente? Então Deus já devia saber que eles iriam fazer aquilo…
    😉

    Bigkax, tens razão, eu não conhecia o contexto.
    Aliás, eu tive uma evolução de gostos em relação à série Stargate
    😉
    Mas então e os cientistas que descobriram como as estrelas funcionam? É que a bomba atómica funciona da mesma forma… A intenção dos cientistas sempre foi compreender as estrelas, mas só porque os políticos decidiram explodir bombas atómicas com o mesmo conhecimento, isso faz dos cientistas maus?
    Ou o Einstein conseguiu a “redenção” pela sua Equação da Energia ao assinar a carta contra as bombas?
    😉
    Quanto à quote de Star Trek, então o Kirk esteve errado em colocar em perigo toda a tripulação para salvar o Spock?
    😉

  14. Essa história de comprimidos fez-me lembrar o meu menino mais novo, depois de receber a nota de Física. Muito baixa… E ficou irado, afinal, uma questão que ele considerava aberta, nào era tão aberta assim e errou completamente.
    – Mas mãe, estava escrito “na sua opinião”… E eu coloquei a minha opinião! Se ele quisesse a dele, me dissesse!
    Daí, a sociedade, desde o começo, desde os bancos escolares, já mostra o quão interessante são os comprimidos azuis.

    Mas concordo que revesamos nas doses de azuis e vermelhos. Nem sempre temos gana para um vermelhinho – é mais confortável e seguro um azul. Mesmo que um vermelho abra novas alternativas.

    Por exemplo, na tal história de Adão e Eva, nunca achei que Deus esperasse que os dois não comessem do fruto proibido – era chamar Deus de muuuuuito ingênuo. Acredito que Ele realmente perdeu a paciência com os dois naquele jogo de empurra- empurra: não fui eu, foi ela! ah, não fui eu, foi a serpente! E como ninguém assumia os seus próprios atos, erro maior do que ter conhecimento do bem ou mal, jogou todo mundo para fora do paraíso (?). 🙂

    De certa forma, ainda fazemos isso. Somos capazes de ir atrás do vermelhinho e até engoli-lo. Mas assumir que temos posturas diferentes nem sempre nos parece conveniente. E claro, acabamos nos traindo e perdendo o lugar no nosso paraíso pessoal, com crises de indefinição entre aquilo que sou e aquilo que acredito. 😉

  15. Carlos Oliveira
    Provavelmente não conheces o contexto, Daniel Jackson esta a beira da morte(por radiação ao evitar uma mega explosão ) e Oma Desala oferece-lhe ascensão a um plano de existência superior. O Daniel não se acha merecedor por não ter feito boas acções suficientes. Oma dá exemplos de boas acções e Daniel protesta que pode ter feito feito uma boa acção de vez em quando mas não fez nada que fizesse a diferença, e algumas acções acabaram por fazer mais mal do que bem. Então Oma diz:“The success or failure of your deeds, does not add up to the sum of your life. Your spirit cannot be weighed. Judge yourself by the intentions of your actions, and by the strength with which you faced the challenges that have stood in your way. The Universe is vast and we are so small. There is really only one thing we can ever truly control… whether we are good or evil.”
    É uma coisa criar uma arma de destruição maciça para destruir e matar, e outra criar a mesma arma para acabar com uma guerra e esta ser usada sem que tenha sido planeado. Mas é preciso ter em conta o quanto se fez para que a arma não seja utilizada. “Judge yourself by the intentions of your actions, and by the strength with which you faced the challenges that have stood in your way.” Se não se lutar pelas intenção estas não passam de intenções.

    O bem e mal é mais uma questão de cinzentos.
    Darth Vader passou-se para o “lado negro” por boas rações mas depois tomou más decisões. E quando a esposa morreu ele não voltou para o lado bom, e “The Needs Of The Many, Out Weigh The Needs Of The Few , Or The One”, não esta certo matar milhões para salvar um, especialmente quando o um já não pode ser salvo.

  16. Bigkax,

    Em relação à última quote – a ideia do bem e do mal – duvido que possamos controlar totalmente. Duvido que possamos definir exactamente o que é uma ou outra.
    Penso que há situações em que é fácil.
    Outras situações, não me parece que seja assim tão fácil definir.

    Exemplos:

    Eutanásia ou Pena de morte: será que é considerado “bem”, matar alguém seja porque razão fôr?

    Historicamente, tanto a escravatura como a pedofilia, eram consideradas “bem” (e até com argumentos vindos da religião e da ciência).
    Actualmente, tanto uma como outra são moralmente e legalmente inaceitáveis.

    Do Star Wars, lembro-me do Darth Vader. Será que o Anakin Skywalker passou-se para o “lado negro” por razões más?
    É que ele passou para o lado negro porque queria salvar a mãe e a esposa… ou seja, foi com BOAS intenções
    😉

    Aliás, a Ficção Científica é simplesmente genial a colocar-nos estes dilemas filosóficos e morais.
    Um dos mais recentes excelentes exemplos, que me lembro, foi no Battlestar Galactica, quando os Cylons invadiram o planeta onde os humanos estavam escondidos. Na série, como sou Humano, obviamente que achei simplesmente fantástico (aceitei moralmente e legalmente) os terroristas matarem todos os cylons e humanos traidores que encontrassem.
    Mas na vida real, e aqueles episódios eram uma crítica à invasão americana do Iraque, sempre considerei o terrorismo um acto errado, irracional, e totalmente imoral.
    Ou seja, parece-me que mesmo a moral (a ideia do bem e do mal), vemos por filtros próprios da sociedade onde estamos inseridos…

  17. Já agora, na senda do post, faço um comentário a todos os comentários, que por vezes podem ser mal entendidos, porventura devido a uma diferença cultural.

    Aqui nos EUA, a crítica, o comentário, a opinião diferente (que não seja disparatada), é vista de forma positiva. Tenta-se ter uma avaliação objectiva, de modo a saber o que é opinião e o que não é, de forma a ver quem tem maiores competências (ex: se eu precisar ser operado, prefiro um cirurgião a um astrónomo), de forma a saber se traz algo novo para a mesa (fazerem uma análise ao post, ou fazerem perguntas, ou trazerem dúvidas, ou terem piada para entretenimento (como o meu comentário e do Fernando, acima deste), ou trazerem um maior conhecimento (incluindo outras ligações a ideias similares como os comentários do José Luis e do “bigkax” acima deste), ou corrigirem algo, ou parabenizarem algo (como se fosse colocar um “Like” no Facebook), ou simplesmente nos dizerem o que pensaram), etc.
    Ou seja, trazerem algo que seja novo, diferente, vosso… o que no post, corresponde a tomar o comprimido vermelho.

    O que não quer dizer que não possa haver discussão. Aliás, é totalmente ao contrário!
    Aqui discute-se muito mais sobre ciência e outros assuntos, do que em Portugal, que é país de “brancos costumes” e que aceita muito mais o que é dito.

    Mas para haver discussão, tem que se defender pontos de vista diferentes.
    Eu vou defender sempre o que se sabe, a verdade, a ciência, os argumentos racionais, e a minha opinião sobre o assunto.
    Mas em nenhuma altura quer isso dizer que essa é a conclusão final, nem sequer que eu sei tudo sobre o assunto (ao contrário do que alguns, que não percebem as diferenças culturais, possam pensar).

    Também é certo que, em jeito de auto-reflexão, penso que a minha personalidade é semelhante à do T.H. Huxley (“Darwin’s bulldog”), e por isso a defesa das minhas ideias será forte!
    E por isso, por vezes as pessoas confundem isso com arrogância, e outras vezes confundem com algo pessoal. Mas isso não poderia estar mais longe da verdade.
    Por vezes é precisamente o contrário: gostei tanto da ideia contrária, que tento contrapôr fortemente com as minhas próprias ideias para ver se a pessoa consegue explicar melhor o assunto (e eu aprender e ficar a perceber melhor essa nova ideia – assim como a pessoa que a diz, também conseguir defender e perceber melhor a sua própria ideia).
    Outras vezes, é porque a ideia não faz mesmo qualquer sentido, nem sequer tem argumentos racionais. Mas é só uma avaliação da ideia e dos argumentos em defesa dela, e não estou a definir as pessoas – não é nada pessoal.

    Não se iludam, o que espero ver nos comentários é a mesma coisa que espero dos meus alunos.
    Quem repete o que eu digo, a mim não me afecta positivamente. Ou seja, não retiro qualquer proveito disso, não penso, não ensino, não reflicto, não aprendo, nem me entretém.
    O que espero nos meus alunos é trazerem sempre algo novo; de modo a eu aprender também com as ideias deles (as que tiverem uma lógica racional). Daí alguns deles no primeiro teste, terem má nota, quando escrevem exactamente aquilo que eu disse.
    Também não quer dizer que tudo o que seja novo seja positivo. Em discussões, os argumentos devem ser racionais e lógicos. Mas o que é novo, faz pensar. E colocar em causa o status quo, de forma racional, coerente, e lógica, está na base da ciência.

    Ou seja, o que espero ver nos comentários é tudo isso.
    Mesmo assumindo, obviamente, que numa área específica uns sabem mais do que outros (ou seja, é preciso perceber as competências de cada um em cada assunto).
    Mas pode haver sempre contribuições positivas de todos, precisamente porque todos podem analisar, opinar racionalmente, perguntar, corrigir, responder, parabenizar, criticar, pensar, e até brincar.
    Ou seja, potencialmente todos os leitores podem contribuir positivamente nos comentários.
    De modo a todos nos divertirmos, e todos aprendermos uns com os outros.

  18. “We’re in a time when we must choose between what is right and what is easy. And remember, Harry, whatever happens, you’re never alone.” Albus Dumbledore
    “Lightning flashes, sparks showers, in one blink of an eye, you have missed seeing.”
    —Oma Desala(Stargate)
    É fácil conformar-nos com o temos e ignorar o que podemos ter(bom ou mau). Também é fácil esquecermos-nos que as nossas escolhas afectam os outros. E é tão fácil escaparmos as milhares de mortes diárias que podiam ser evitadas(entre outros problemas).

    “If you immediately know the candle light is fire, then the meal was cooked a long time ago”
    —Monk on Kheb & Oma Desala(Stargate)
    Temos que nos melhorar diariamente e o comprimido vermelho é o caminho.

    “The success or failure of your deeds, does not add up to the sum of your life. Your spirit cannot be weighed. Judge yourself by the intentions of your actions, and by the strength with which you faced the challenges that have stood in your way. The Universe is vast and we are so small. There is really only one thing we can ever truly control… whether we are good or evil.”
    —Oma Desala(Stargate)

  19. Està bem eu vou tomando o vermelho! Mas nada de futebol

  20. Ah sim, clubes à parte, também escolheria o vermelho. 🙂 Isso do determinismo ou de as nossas escolhas serem importantes também é abordado no filme Matrix num dos diálogos que sempre me ficou na memória:

    Morpheus: (…) Do you believe in fate, Neo?
    Neo: No.
    Morpheus: Why not?
    Neo: Because I don’t like the idea that I’m not in control of my life.

  21. Eu prefiro o comprimido vermelho…
    até porque sou do Glorioso… Benfica!!!
    😛

  1. […] não interessam aos conspiradores. O que lhes interessa é viver das mentiras. Como já referi neste post, o papel do astroPT é dar-vos o comprimido vermelho. Mas a escolha é vossa: se querem esse […]

  2. […] O problema surge quando nos dizem coisas para as quais não temos assim tanto conhecimento, para as coisas que não estamos certos, para aquilo que não pesquisamos/aprendemos tanto. Aqui sim, é que ter pensamento crítico é vital. O pensamento crítico, cientifico, racional, lógico é essencial quando não se sabe a resposta, quando não se tem a certeza da resposta certa. Como eu disse neste post (para o caso dos OVNIs), nestes casos em que não se detém todo o conhecimento, em que não se sabe a resposta certa, é que é importante ter-se espírito crítico. O pensamento crítico não é demonstrado nas situações em que sabe as respostas certas, ou onde se tem a certeza que a resposta é errada, mas sim nas situações em que não se sabe quem tem razão: aí sim, deve-se exercer o pensamento crítico, porque é a nossa única defesa contra sermos enganados e tomarmos decisões erradas. Aí sim se vê a literacia científica das pessoas. No mundo ocidental, moderno, literacia já não é saber ler e escrever, mas sim saber escolher entre a muitíssima informação que se recebe, saber pensar, saber ter espírito crítico, ou seja, tomar o comprimido vermelho. […]

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