Mentes Abertas

Disserto bastante sobre os pseudos.
Considero que as suas crenças são providas de irracionalidade (ou seja, contrárias à razão, contrárias à ciência).
Mas considero sobretudo que os seus argumentos são extremamente falaciosos, e não entendo como não existe um mínimo de auto-reflexão da parte deles.

Talvez existam diferentes tipos de pseudos, como diz este texto.
No entanto, parece-me que os argumentos sofrem sempre dos mesmos defeitos.

Recentemente, numa discussão com uma pessoa que anda a “berrar” que o mundo como se conhece vai acabar em 2012 (Profecia Maia), dando para isso informações falsas sobre dados sobre asteróides, alinhamento galáctico, NASA, etc, dizia-lhe eu que ele não deveria mentir.
Dizia-lhe eu que há informações correctas e informações erradas.
Por exemplo, disse eu, a gravidade é algo que qualquer pessoa pode comprovar como correcto. Se uma pessoa disser que consegue voar para todo o lado, não sofrendo os efeitos da gravidade, e não apresentar qualquer prova disso, então obviamente que qualquer pessoa minimamente inteligente consegue perceber que essa pessoa está a mentir.
Da mesma forma, continuei eu a argumentar, 2 + 2 = 4 é correcto; se uma pessoa disser que 2 + 2 = 7, então essa pessoa está a mentir.
Recebi como resposta que 2 + 2 = 7 é realmente correcto se deixarmos a lógica dos humanos. E ainda foi-me sugerido que me libertasse da ciência humana, para assim poder comprovar que 2 + 2 = 7.

Como se pode ser racional, quando o critério aceitável pela outra pessoa é a irracionalidade?

Basicamente, a máxima dos pseudos é: todos os disparates podem ser correctos, se a pessoa optar por ser irracional.
Neste caso, tal como no cartoon acima, as pessoas com pelo menos 2 neurónios para pensar, são acusadas de terem a mente fechada só porque não seguem religiosamente qualquer disparate que um qualquer mentiroso se lembre de imaginar.

Camille Cracciola, Richard Feynman, Richard Dawkins, Carl Sagan, James Oberg, Bertrand Russell, J. Robert Oppenheimer, Virginia Gildersleeve, Harold T. Stone, Max Radin, Stephen A. Kallis Jr., e muitos outros, disseram:
“Keep an open mind, but not so open that your brain falls out” – tenha uma mente aberta, mas não tão aberta que o cérebro caia.

Ora, o que me parece é que quem opta pela irracionalidade, opta precisamente por deixar cair o cérebro, preferindo ser acéfalo.

Quem tem a mente aberta o suficiente são os cientistas.
Afinal, quem imaginou ideias fantásticas como a Quântica, a Relatividade, ou o Mundo Virtual?
Ou quem consegue com sucesso fazer com que a electricidade por “artes mágicas” apareça nas nossas lâmpadas?
Ou quem consegue “por artes mágicas” fazer aparecer imagens de pessoas a milhares de kms num pequeno quadrado chamado televisão?

Em face de todas as evidências no mundo real, parece-me completamente ridículo (e totalmente falso) o argumento de que os cientistas têm a mente fechada.
O que me parece é que os pseudos já tiveram a mente tão aberta que o cérebro que tinham escapou, e por isso agora acreditam em qualquer barbaridade que lhes apareça.

Outro argumento que os pseudos utilizam, é que os cientistas têm a mania que sabem tudo.
Mas será que dizer que 2 + 2 = 4 é dizer que se sabe tudo? Será que afirmar o óbvio (verdade) é sinónimo de dizer-se que se sabe tudo?
Parece-me, mais uma vez, que é o contrário.
Enquanto os cientistas fazem da dúvida o seu método, os pseudos crêem piamente na verdade de um absurdo qualquer, sem qualquer prova a substanciar.
Os pseudos têm tanto a mania que sabem tudo, que por vezes nem com as provas contrárias à frente dos olhos, eles nem assim ponderam sequer poderem estar enganados. Isso sim, é assumir que se sabe tudo, contra todas as provas que possam existir.

Parece-me sobretudo que os cientistas têm a mente aberta para novas ideias que possam ser comprováveis – e não aceitar qualquer estupidez que um mentiroso se lembre de afirmar.
Daí que, como diria Carl Sagan, afirmações extraordinárias requerem evidências extraordinárias, e essas só na prática (com a experiência) se podem evidenciar.
É um método científico que é aplicado a qualquer pseudo ou a qualquer cientista (ex: as ideias de Einstein só foram aceites após haver evidências para elas na prática, com experiências concretas). É um método que funciona! – como se pode ver pelo mundo actual.

Parece-me sobretudo que é uma total hipocrisia dos pseudos andarem a divulgar ideias totalmente anti-ciência, enquanto utilizam as vantagens da ciência no seu dia-a-dia…

11 comentários

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  1. (… comentário editado…)

    1. Colocou um nome diferente… colocou um e-mail diferente… mudou o tom e o teor da escrita… só se esqueceu de mudar de tecnologia.

      Franciele, em vez de vir para aqui insultar cientistas, aprenda sobre ciência.
      E, já agora, deixe de ser hipócrita! Sabe que está num computador ou num telemóvel/celular que lhe é dado pelos cientistas e pelo estudo da ciência?

      Se não gosta de como a ciência evolui (que nunca é através do charlatão mentiroso), não utilize a ciência.

      abraços

  2. Imagino eu se Einstein ou Galileu ou Nikolas Tesla ou Philo Farnsworth (inventor da televisão) tivesse dado ouvidos as mentes fechadas que provavelmente os chamaram de loucos, irracionais ou “pseudos” assim que tiveram os primeiros vislumbres das suas ideias ? Se não tivessem uma MENTE REALMENTE CIENTIFICA para em primeiro lugar OUSAR acreditar no INVISIVEL, no CONSIDERADO IMPOSSIVEL, para QUEBRAR PARADIGMAS VIGENTES estabelecidos pelas “mentes racionais”? Onde ainda estaria a humanidade? A terra ainda estaria sendo o centro do universo, não teríamos televisão, não entraríamos na era da internet, da informação e conexão, e ainda viveríamos presos a mecânica clássica do século 17….Quanto retrocessos “mentes racionais” são capazes de suportar?

    A grande vantagem da ciência como uma forma de conhecermos a natureza é o fato de que ela está em constante evolução.

    O que é então uma mente cientifica afinal? É uma mente aberta e disposta a INVESTIGAR E CRIAR, não é de maneira nenhuma uma mente presa ao que já foi constatado e confirmando, nenhuma mente realmente cientifica está interessado no que já foi provado, uma mente cientifica está interessado nas POSSIBILIDADES que pode EXPLORAR E CRIAR e acredite são INFINITAS.

    Antes de afirmar que algo não existe também é preciso provas, e ausência de evidencias não é evidência de ausência….Porém eu tenho certeza que se você abrir a mente e tentar compreende as pessoas, ninguém diz nada por acaso, aquela pessoa que você jura que está dizendo aquilo por simplesmente ser um charlatão mentiroso, você vai ver que ela tem uma base para dizer o que diz, e antes de se fechar e resistir, por favor, seja um cientista e vá investigar e explorar as infinitas possibilidades, faça esse favor a humanidade, já temos resistências demais, seja contribuição, não uma ancora bloqueando a evolução.

    1. O charlatão mentiroso é um charlatão mentiroso.
      Quem cegue o charlatão mentiroso é uma pessoa acéfala.

      A ciência investiga. Quando o resultado é negativo, qualquer pessoa minimamente inteligente percebe que não pode ir contra as regras da natureza.

      Se a Franciele saltar do topo de um prédio de 20 andares, sem nada, vai cair no chão.
      Não interessa o que o charlatão mentiroso diga: sabe-se bem como a gravidade funciona.

      Einstein, Galileu, Nikolas Tesla, Philo Farnsworth, e muitos outros inventores e cientistas pela história da Humanidade, basearam-se no conhecimento científico já existente. Como *todos*.
      Nenhum foi um charlatão mentiroso, porque nenhum deles negou a ciência ou o conhecimento existente.
      Nenhum deles fez nada considerado impossível.

      Simplesmente, como sempre se faz em ciência – e qualquer mente racional o faz – o conhecimento é construtivo: constrói-se sobre o que já existe. A evolução do conhecimento é gradual.

      Em vez de se deixar enganar por charlatães mentirosos, leia sobre ciência, sobre história da ciência, e sobre o processo da ciência.

        • Jonathan Malavolta on 15/02/2022 at 22:01

        “Cegue”? Alguém finalmente criou coragem para cegar os charlatães e impedí-los de ver? Quem sabe agora eles não deixam de negar a ciência (sinto muito, é ilógico uma pessoa seguir ao mesmo tempo Ciência e Pseudo-ciência, uma vez que uma automaticamente nega a outra), já que precisarão dela para voltar a enxergar (duvido que alguma pseudo-ciência ou crendice popular absurda devolva a visão a alguém).

      1. Tem razão: erro meu.

        Corrigindo: Quem segue o charlatão mentiroso é uma pessoa sem pensamento crítico.

        abraço

      • Jonathan Malavolta on 15/02/2022 at 21:53
      • Responder

      “Antes de afirmar que algo não existe também é preciso provas…”

      Franciele, se permite alguém versado em Letras se intrometer na conversa, “afirmação” é algo positivo e portanto percebe-se como sua frase acima descrita está equivocada. Quem afirma, diz que algo existe, que algo é real, que algo é possível. O carinha que fala que “não existe, não é real, não é possível” (ou “é impossível”) não está afirmando, está negando, e o está fazendo claramente por faltarem evidências apresentadas por quem fez a afirmação anterior. Em Filosofia, existe uma figura chamada “ônus da prova”, e esta figura recai em quem faz a afirmação, não em quem a nega. E o ônus da prova, apesar de figura filosófica, é utilizado por diversas outras áreas: Sociologia, História, Direito, Matemática, Física, etc. Ou seja, é o crente que tem a obrigação de provar que deus existe; o ateu não tem obrigação nenhuma de provar que ele não existe, e o crente não tem direito algum de cobrar “provas da não-existência” do ateu. É o ufólogo que tem de provar que ufos/ovnis e seus respectivos tripulantes existem, não quem nega tal existência (o ufólogo também não tem direito algum de cobrar “provas de não-existência”). É o esotérico/ocultista que tem de provar que feitiçaria existe, não é quem nega sua existência; o esotérico/ocultista não tem direito algum de cobrar “evidências de não-existência” de quem nega essa suposta existência.
      A respeito, tem uma parábola do Carl Sagan que pode servir de exemplificação, chama-se “o dragão em minha garagem”.

      Conclusão: O ônus da prova cabe a quem afirma, alega, supõe, JAMAIS a quem nega!

  3. olá!

    o que também nao deixa de ser verdade é que muitos não crentes, quando o avião está no ar e começa a dar sinais de querer terminar a viagem mais cedo à revelia de todos, subitamente descobrem que afinal também rezam.. (para dentro, para ninguem ouvir) 😉

    🙂

  4. Carlos,

    Acho que já tinha lido o título algures sim. 🙂 Mas obrigado de qualquer maneira pela referência. Deve ser interessante. Sendo eu um fã dos dois como diz no post… 🙂

  5. Olá José Luis,
    Já conhece o livro de ciência dos Simpsons? 🙂
    http://www.astropt.org/2007/12/13/ciencia-nos-simpsons/

    Coloquei lá o seu comentário…
    😉

  6. lghs.net…
    Isso da hipocrisia de utilizar no dia-a-dia coisas que existem graças à ciência, fez-me lembrar de um episódio dos Simpsons em que:

    Lisa: You should really listen to him. He’s a man of science, and you can barely read.
    Homer: Bah, science. Has science ever kissed a woman, or won the Super Bowl, or put a man on the moon? Here’s what I think of your precious science. (goes full speed into a blood vein. Submarine begins to go out of control) Ah! Help me science!

    Quando é realmente necessário… 😀

    Há quem prefira enterrar a cabeça na areia até que toda a areia acabe e deixe de ter onde a enterrar, e quem tenha sempre presente as maravilhas que a ciência trouxe, traz e certamente ainda trará.

    PS: Já agora, para quem quiser ver mais ciência nos Simpsons aqui tem:
    http://www.lghs.net/ourpages/users/dburns/scienceonsimpsons/clips.html
    🙂

  1. […] os cientistas estão sempre dispostos a mudar os seus pontos de vista e formas de pensar. Os cientistas têm a mente aberta o suficiente para reconhecer que podem estar enganados, e assim corrigirem-se (o próprio método científico é […]

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