Quanto vale a ciência?

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A ciência é vital.
Não só nos dá as tecnologias, e vantagens que usufruímos no dia-a-dia, mas sobretudo dá-nos todo o conhecimento que dispomos.
É essa curiosidade científica, e o pensamento crítico a ela subjacente, que nos permite saber tudo aquilo que sabemos.
E esse conhecimento é vital. Veja-se por exemplo, em termos individuais, o caso da medicina, e em termos de espécie o caso da astronomia.
Para sobrevivermos precisamos sem dúvida do conhecimento científico.

Daí que se calhar a pergunta que se deve fazer é: Quanto vale o conhecimento?

Como se pode ver aqui, o conhecimento, sobretudo o científico, e nomeadamente o ligado à astronomia vale pouco, vale muito pouco. E isto são valores para os EUA, porque em Portugal as discrepâncias são muito maiores, e o conhecimento científico vale muito menos.
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Tendo em conta que esse conhecimento é vital para sobrevivermos como espécie, parece-me então que está demasiado subvalorizado.

Porque será que não damos valor ao conhecimento em geral?
Porque será que não damos valor, em particular, à ciência?
Porque será que não damos valor, nomeadamente, à astronomia?

Faço estas perguntas, após já ter reflectido bastante sobre isto, e até já ter partilhado ideias com astrónomos amadores, numa conversa que começou aqui e acabou aqui, 50 e-mails depois.
Neste post vou fazer uma auto-crítica, como português, como divulgador de astronomia, e como um dos coordenadores deste blog.


A qualidade paga-se.
Muita gente vê o preço como sinónimo de qualidade. Basta ir pelas ruas do Porto ou perguntar nos shoppings. Entre algo que é barato e outra coisa que é cara, as pessoas tendem a escolher o mais caro, porque imaginam que isso lhes trará maior qualidade.
Por exemplo, assume-se que o mérito dos médicos se mede pelo preço da consulta. Assume-se que o médico que leva 120 euros por consulta é melhor do que o médico que só leva 20 euros por consulta.
Ou seja, o subconsciente das pessoas atribui o valor a algo, mediante aquilo que paga por esse algo. É uma falsa noção de valor – o preço -, mas é o que as pessoas assumem ser verdade.

O que é de graça é desvalorizado totalmente.
Há já uns tempos recebi por e-mail uma estória, provavelmente apócrifa, de alguém que dizia que tinha deitado o frigorífico ao lixo. Ainda trabalhava, mas como comprou um melhor, desfez-se daquele que tinha. Colocou ao lado do lixo, de modo a alguém o levar. Ninguém pegou nele. Por isso, o dono pegou nele novamente e pôs-lhe um preço de 50 euros. E recebeu inúmeros telefonemas de quem lhe queria comprar o frigorífico.
Ou seja, como era de graça, ninguém pegou naquilo. Quando passou a ser pago, já muita gente queria.
Da mesma forma, alguém me disse há uns tempos que o cantor Zeca Afonso não cobrava nada quando cantava para o público popular, e queixava-se de que era menos bem tratado e menos considerado do que os outros cantores que cobravam cachet.
Provavelmente se o Quim Barreiros, por exemplo, fizesse espetáculos de graça, ninguém o convidava. Mas assim, a centenas (milhares?) de euros, terá provavelmente a agenda preenchida com convites.
O mesmo se passa na educação. Sendo de graça, ninguém lhe dá valor. Se o professor falta, os alunos pulam de alegria.
Ou seja, desconsidera-se, despreza-se e desvaloriza-se o que é de graça. Mesmo que tenha valor e qualidade, as pessoas assumem que não tem, por ser gratuito.

Não só a percepção (mesmo que errada) de qualidade se paga, mas a marca também se paga.
Por exemplo: se eu comprar um relógio nas lojas dos Chineses, sei que a qualidade é mínima, o relógio é barato (2 euros), e dura uma semana. Se comprar na Swatch, é mais caro (40 euros), pago também pela marca, e espero que tenha melhor qualidade e dure mais. Se comprar um Rolex, o preço é muito mais alto (podem chegar a 1 milhão de euros), vou também pagar pela marca, assumo que a qualidade é enorme, e espero que dure a vida inteira.
Outro exemplo: as marcas de roupa, é a mesma coisa. Quanto mais cara, e sendo de marca, assume-se implicitamente uma qualidade melhor.
Outro exemplo: se as sapatilhas Nike fossem de graça, ninguém queria saber delas.
Ou seja, a percepção de qualidade e a marca, pagam-se.

Não é a marca propriamente que se paga, mas sim a percepção de qualidade associada à marca, que existe na mente das pessoas.

Sendo assim, e tendo em conta que a ciência está em todo o lado no nosso dia-a-dia, então a marca “ciência” deveria ter um valor enorme.
No entanto, o que se passa é o contrário. A marca “ciência” e a marca “conhecimento”, nada valem para as pessoas.


Quem se aproveita desta mentalidade de “qualidade paga-se” são os pseudos e os os auto-denominados “famosos“.

Os pseudos fazem palestras a 25 euros, dão cursos a 170 euros, etc. Podem dizer as maiores palermices/mentiras, como por exemplo: “Os seres luminosos proporcionam um trabalho profundo do coração actuando no DNA espiritual e efectuando a conexão e activação de várias fitas de DNA“. Podem até incluir que passaram pela NASA ou por vários países (quer o tenham feito ou não), porque supostamente isso dá-lhes “credibilidade e prestígio” para aumentarem ainda mais os preços.
As pessoas lêem isto, e vêem o preço, e a percepção é que eles têm que saber do que estão a falar, pelo preço que levam.
Não só há uma falsa avaliação, mas há uma estupidificação/imbecilização da sociedade.

Já os “famosos” levam cachets monstruosos para aparecerem em discotecas.
A Bárbara Guimarães, quando era convidada para aparecer numa discoteca em Portugal, levava um cachet provavelmente de alguns milhares de euros por passar 2 horas a acenar.
A Jaciara (ex-mulher do jogador Deco, que já jogou no FCP) é considerada famosa (não me perguntem porquê, que eu também não sei). Quando vem a Portugal visitar uma discoteca, pede 3000 euros por 3 horas a acenar.
O Figo visita uma escola e tem logo a acompanhá-lo o Ministro da Educação.
Se o Cristiano Ronaldo decidir visitar uma escola, aparecem logo “por milagre” fundos monetários que não existiam e “altos dignatários da Nação” a marcar presença.
Famosos e pseudo-famosos (ex: Reality Shows) levam caríssimo para não fazerem nada, dando a entender que só a presença deles, a “marca” deles tem qualidade. Mesmo não tendo qualidade nenhuma, essa é a percepção que transmitem às pessoas.


Enquanto os pseudos colocam preços altos, para transmitirem a ideia que o que vendem tem qualidade, já os divulgadores de ciência (muitas das vezes são também cientistas) transmitem a ideia que a ciência tem pouca qualidade.
Enquanto os pseudos vão ficando ricos, os cientistas vão-se queixando da falta de fundos para as suas equipas.
Enquanto os pseudos (e famosos) aproveitam-se da mentalidade de “qualidade paga-se”, a ciência ignora isso e passa uma má imagem de si.

Por exemplo, o Zé Matos leva muito pouco pelo conhecimento que detém, em comparação com o desconhecimento dos pseudos. Tanto em palestras como em cursos, os valores que o Zé Matos leva são nitidamente inferiores aos dos pseudos. Se qualidade paga-se, as pessoas vão ficar a pensar que o curso dos pseudos é melhor, que as mentiras deles valem mais que o conhecimento do Zé Matos.
Os elementos da Atalaia não levam nada pelas explicações quando fazem observações astronómicas com o público.
O Pedro Ré, o Guilherme de Almeida, e vários outros pertencentes à APAA, também não levam nada pelas palestras que fazem. E muitas vezes nem sequer têm “direito” a ser indemnizados pelas deslocações que fazem. Os organizadores nem se “lembram” dessas despesas, assumindo que estas pessoas só por divulgarem ciência então serão uns “coitadinhos” e não têm direito a serem reembolsados (ou seja, têm que ter prejuízo, e é se querem!). Há uma desvalorização total do conhecimento e das pessoas que o detém.
Quando existem encontros de astronomia, os palestradores não são pagos.
Quando há eventos locais, por exemplo organizados pelas Câmaras, os famosos são pagos a peso de ouro para lá irem, até eventuais palhaços são pagos, mas os divulgadores de conhecimento (neste caso, de astronomia) não são pagos. As câmaras teriam todo o interesse em pagar-nos, porque são eventos úteis para os moradores, que dão visibilidade à região, dão boa imagem às Câmaras, dão lucros aos restaurantes e pensões, e enriquecem o conhecimento dos naturais da terra. Mas o certo é que nem as deslocações ou estadias querem pagar. Assumem que o conhecimento não vale nada.
As escolas não pagam a quem lá vai fornecer o conhecimento (os próprios professores são muito mal pagos, por isso já se vê como o conhecimento é desvalorizado). Eu próprio (e o Nuno e a Vera) temos experiência pessoal de ir a escolas há uns anos atrás perguntar se queriam que dessemos algumas aulas GRATUITAS de astronomia, e disseram-nos que não. Provavelmente, porque era de graça, e assim é mal visto (é visto como não tendo qualidade). No entanto, se dissessemos que um pseudo-famoso que acabou de sair da Casa dos Segredos iria lá, provavelmente até nem havia aulas e tentariam arranjar o mais dinheiro possível para lhe pagarem.

E nem é preciso referir que quando estes e outros especialistas vão divulgar astronomia/conhecimento a uma escola, além de não serem pagos, também não têm os ministros a agradecerem-lhes e a “babarem-se” ao seu lado, em presença de tão grande conhecimento.

Comigo passa-se o mesmo dos exemplos que dei em cima.
Sempre que vou a Portugal, vou a vários lados fazer divulgação de astronomia. Tento fazer palestras, por escolas, encontros, astrofestas, etc.
Não sou pago pelo trabalho, e raramente me pagam as deslocações.

(já agora, um àparte para dizer que nos EUA, existe esse reconhecimento pelo trabalho, pelo mérito, pelo talento, pelo conhecimento. Daí que sou pago e não esperam que eu faça nada de graça. Pagam pela qualidade do conhecimento.
Por outro lado, existe uma aposta na ciência, na marca, e no marketing, como por exemplo nos centros da NASA. O que leva ao respeito e à valorização dessas instituições. Já em Portugal parece-me que centros de ciência (no Visionarium tenho experiência própria disso) não querem saber de marketing ou de “vender” os seus produtos científicos – por exemplo, nas próprias lojas que não se encontram nas saídas.
Há também uma valorização do que é essencial, e não uma concentração no acessório ou “deixar andar”.
Parece-me também que aqui existe um planeamento de longo prazo, enquanto em Portugal pensa-se somente no curto prazo, por exemplo preferindo ter 50 pessoas a olharem durante 1 hora para uma palestra, esquecendo-nos que a mensagem de longo prazo que se transmite é que o nosso valor, o nosso conhecimento, o nosso tempo, não vale nada.
Tenta-se igualmente dinamizar com os recursos disponíveis e tentar arranjar mais para utilizar, enquanto em Portugal há muito telescópio “empacotado”.
Parece-me sobretudo uma questão de mentalidade. Na América do Norte, e na Europa do Norte, pode-se retirar um jornal (ninguém tira mais) das “caixas” de jornais, por vezes não existem pessoas a controlar entradas para o cinema, pode-se comer nos supermercados, etc. As pessoas não tentam “passar a perna”, ser “chicos-espertos”, porque sabem que o trabalho custa e quem fica a perder é a sociedade no seu todo. Na Europa do Sul não se vê os frutos desse trabalho, e por isso não se dá valor a quem trabalha, a quem detém conhecimento)

Voltando a mim, e ao que faço em Portugal, é claro que faço as coisas por “amor à causa” (mesmo tendo prejuízo monetário).
Obviamente que acho importante o trabalho que faço no blog, e na divulgação quando vou a Portugal.
E para alguns, provavelmente isso é suficiente, mesmo não tendo o reconhecimento que merecem.
Afinal o importante é fazer chegar a astronomia, e o conhecimento, ao maior número de pessoas.

No entanto, a minha pergunta prende-se com a percepção das pessoas.
Se não levamos $$, as pessoas assumem que essa actividade tem menos qualidade que as palestras dos pseudos a dezenas de euros.
Ou seja, a ciência é “vendida” como se fosse uma “loja dos Chineses” (não tenho nada contra elas, é só um exemplo de preço-qualidade). O conhecimento (científico) é publicitado nos preços, como tendo pouca qualidade. A “marca” ciência vale menos por isso… poderemos estar a retirar mérito à ciência.
Ao fazermos as coisas de graça, estaremos a desprezar o valor da marca ciência, e estaremos a contribuir para que as pessoas não tenham orgulho na ciência e na sua educação científica.

Exemplo: se o sr. X desse 100 euros por uma palestra de astrobiologia, provavelmente sentir-se-ia mais orgulhoso a contar aos amigos: “Ontem fui a uma palestra excepcional. Dei 100 euros, mas foi muito bem empregado, porque a qualidade era excelente e fiquei a saber muito mais”.
No entanto, o que acontece actualmente é isto: o sr. X diz ao amigo: “Ontem fui a uma palestra de astrobiologia. Foi excelente. Aproveita que é de graça.”
Ou seja, o amigo poderá ir, porque é de graça. Não pela marca, não pela ciência, mas sim porque é de graça.

A ciência perde valor aos olhos das pessoas.
O conhecimento científico/astronómico é visto como tendo menos valor que um Curso de Metafísica, ou que uma Bárbara Guimarães a acenar, ou que uma Jaciara a aparecer nalgum lado, ou que um Figo a visitar alguma coisa.

E provavelmente somos nós que estamos a contribuir para isso, para a desvalorização popular da ciência, para o demérito da ciência, para a diminuição da importância da ciência, e para a desvalorização do nosso próprio conhecimento.
Enquanto os pseudos valorizam as mentiras que divulgam, e os “famosos” não aceitariam ir de graça fazer trabalhos similares, já quem divulga a ciência deixa que o seu valor seja entendido como “zero”.
Há uma desvalorização total do conhecimento e das pessoas que o detém.
E nós contribuímos para isso – deixamos que essa seja a mensagem passada para as pessoas, que essa seja a percepção das pessoas. Não mostramos orgulho no conhecimento que temos, no mérito que dispomos, no valor que o nosso conhecimento tem. Deixamos que as pessoas associem ciência e conhecimento com pouco valor, um valor nulo (gratuito).
Este recurso próprio que temos – conhecimento -, é, assim, desprezado, inclusivé por nós. E se nem a própria pessoa dá valor ao seu conhecimento, não se pode esperar que os outros dêem esse valor.

Imagine-se que está um extraterrestre lá em cima, a tentar compreender a população terrestre.
O que pensará ele?
Que a nossa sociedade dá mais valor a acenos, a pseudo-famosos, a ex-jogadores de futebol, e a pseudos, do que ao conhecimento científico.
Ou seja, o ET pensaria exactamente o que as pessoas pensam: o que é mais caro e tem os “chefes da nação” a acompanhar, tem mais valor.

Alguma coisa tem que mudar. As mentalidades têm que mudar.
Provavelmente só muda, se os divulgadores (como eu quando vou a Portugal) mudarem de mentalidade. Se pararmos de denegrir a ciência e a nós próprios, sem querer. Se deixarmos de assumir para nós e para o nosso conhecimento um valor abaixo dos Quim Barreiros deste mundo, e começarmos a dar a entender que “o meu valor é superior ao do Quim Barreiros” ou, no mínimo, assumir: “o meu valor intelectual é semelhante ao do Quim Barreiros em termos musicais”. Só isso, já faria mudar muita coisa, só isso já faria as pessoas perceberem que a ciência e a pessoa que a comunica tem valor.
Só mudando as mentalidades neste campo, poderemos mudar a percepção das pessoas quanto ao valor da ciência e ao nosso próprio valor.


O projecto astroPT é gratuito, disseminando assim a ideia que a qualidade do conhecimento científico é insignificante (ao ser de graça).
Por exemplo, existem inúmeros sites na net que têm conteúdo porno, e paga-se. No blog do astroPT, não se paga nada, para se saber de notícias astronómicas. Assim, o astroPT está a passar a mensagem que o conhecimento de astronomia vale menos que vídeos pornográficos.
Ou seja, o astroPT mesmo tendo por objectivo disseminar conhecimento científico, está sem querer a transmitir a mensagem que esse conhecimento não vale nada. Quem nos lê fica invariavelmente com essa ideia: que saber de astronomia vale menos do que pagar para ir ver a Jaciara, por exemplo.
Como qualidade paga-se, a percepção de quem nos lê é que o astroPT, e a ciência, tem menos qualidade que pseudo-famosos.

Por outro lado, enquanto o Quim Barreiros, o Cristiano Ronaldo, ou o Carl Sagan fazem valer a sua Marca como sinal de reconhecimento nas suas áreas, já o astroPT, ao ser gratuito, transmite a ideia que não existe esse valor – a marca astroPT não existe, é nula, gratuita. Essa será a percepção de quem nos vê/lê.

Notem que nem estou a dizer que se se pagasse, então o projecto astroPT teria que ser profissionalizado, e daria para competir com artigos ao nível de sites profissionais de notícias.
Estou somente a colocar as coisas em termos filosóficos, em termos de percepção das pessoas.
Como as pessoas sabem que a qualidade paga-se, então o astroPT estará inadvertidamente a transmitir a mensagem que a divulgação da astronomia e da ciência em geral devem ser de graça porque não têm qualidade.

Ou seja, apesar do nosso objectivo ser melhorar o conhecimento científico/astrónomico dos nossos leitores, o que poderá estar a acontecer é que estamos a reforçar a ideia de que o valor (desta divulgação) da ciência é nulo.
Estamos a contribuir para a ideia que a marca conhecimento e a marca ciência nada valem.
A filosofia gratuita de transmissão do conhecimento inerente ao astroPT, pode estar assim a dar um tiro no pé, e a contribuir para a desvalorização da ciência.

É tudo uma questão de percepção de valor, e imagem de marca.
A divulgação da ciência, e a transmissão de conhecimento, terá necessariamente que compreender estas leis de mercado.
Já Darwin dizia que o factor principal para a sobrevivência é a adaptação ao meio em que se está inserido.

Sendo assim, parece-me que o astroPT:
– para não morrer, terá que evoluir.
– terá que ter uma evolução que tenha em atenção as percepções da sociedade.
– terá que tentar ser reconhecido como uma marca de qualidade.
– e terá que tentar mudar as mentalidades, passando a contribuir para com que a ciência seja valorizada, fazendo com que o conhecimento seja reconhecido como tendo valor.

55 comentários

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  1. “Todos o fazem por amor à camisola?”
    <--- os que eu referi, sim. O Guilherme de Almeida, por exemplo, farta-se de ter prejuízos nas deslocações que faz, para ir trabalhar de graça. O Zé Matos, como eu disse atrás, é o único que faz disso profissão. Não é "lobo", não é "soberba", é mesmo a profissão dele. E mesmo assim é mal pago (comparado com os pseudos ou famosos). "Que a ciencia faça como o futebol, cobre dinheiro e no processo faz divulgação. Se isto não é suberba o que é?" <--- Como é que receber por trabalhar é sinónimo de soberba (divino, arrogante, mesquinho, que se acha superior)? Juro que não percebo... <--- O Mário diz que o objectivo deles é para serem adorados como deuses, ao não levarem dinheiro. E a seguir o Mário diz que se levarem dinheiro, é para passarem a ser adorados como deuses. Isto é uma contradição. Se eu já sou "deus" por não levar dinheiro, não posso mudar e passar a ser "deus" ao levar dinheiro. Já o sou, por isso não posso passar a ser. "Sei por exemplo que o AstroPT, se “atrasa”, a dar algumas noticias" <--- Será porque quem dá as notícias em 1º lugar é pago para isso? Ou seja, é o seu trabalho? Mesmo assim, a maioria das nossas notícias é dada 1º que o Público, por exemplo. E eles é que são pagos para dar notícias, não nós. <--- Não percebo como isso é roubar. Os cientistas não sabem vender o seu produto, enquanto os pseudos sabem vender. Onde é que isto é roubar? abraço!

  2. Claro que lí o texto e até gostei bastante. Até faço referencia aos pseudos, que o Carlos tanto prazer tem em atacar.

    Mário–>“Aqueles que dão palestras e não pedem dinheiro para o fazer apenas buscam o reconhecimento publico, querem ser adorados como deuses, vestem a pele de cordeiros e no fundo são lobos”

    Carlos–>”O Pedro Ré, o Guilherme de Almeida, e vários outros pertencentes à APAA, também não levam nada pelas palestras que fazem. E muitas vezes nem sequer têm “direito” a ser indemnizados pelas deslocações que fazem. Os organizadores nem se “lembram” dessas despesas, assumindo que estas pessoas só por divulgarem ciência então serão uns “coitadinhos” e não têm direito a serem reembolsados (ou seja, têm que ter prejuízo, e é se querem!). Há uma desvalorização total do conhecimento e das pessoas que o detém.Quando existem encontros de astronomia, os palestradores não são pagos.”
    Todos o fazem por amor à camisola? Não me parece. Mas se sim, tenho a lhe dizer que são seres humanos excepcionais.

    Mário–>“A meu ver, a ciencia devia actuar como os futobolistas, quando eram pagos a migalhas e tinham de ter outro emprego, eram pessoas comuns, quando começaram a ganhar e cobrar pelo que fazem, passaram a ser deuses.”

    Carlos–>”O conhecimento científico/astronómico é visto como tendo menos valor que um Curso de Metafísica, ou que uma Bárbara Guimarães a acenar, ou que uma Jaciara a aparecer nalgum lado, ou que um Figo a visitar alguma coisa.” Que a ciencia faça como o futebol, cobre dinheiro e no processo faz divulgação. Se isto não é suberba o que é?

    Como é que o mesmo fim é uma contradição? Parece-me que o Carlos se vê retratado, embora não veja como.

    “depreendo assim que o Mário preferia que os cientistas não lhe comunicassem qualquer conhecimento” não tente depreender nada, é pessimo nisso. Passo os meus dias a tentar acompanhar a ciencia e, a tentar entender o que vai mudando. Vai daí, venho todos os dias ao AstroPT, vou lendo o que me parece relevante e ignoro posts de critica abusiva. Sei por exemplo que o AstroPT, se “atrasa”, a dar algumas noticias, mas, nem por isso deixo de cá passar para ler mais um pouco.

    “Ninguém falou em “roubar”.”

    Só posso responder a isto desta forma:”Enquanto os pseudos vão ficando ricos, os cientistas vão-se queixando da falta de fundos para as suas equipas.” Desculpe, se isto não é roubar.

    Abraço

  3. “Não é menosprezando estes que se elevam os que lêem literatura erudita.”
    Note que eu não menosprezei ninguém. Muito pelo contrário. Eu elogiei o facto dos pseudos e dos famosos saberem lidar com as percepções das pessoas. Critiquei o facto de quem está na ciência não o saber fazer.
    Ou seja, não menosprezei os que lêem “revistas côr-de-rosa”. Critiquei os que não as lêem por não saberem mostrar-se como estando ao mesmo nível dos outros (na percepção das pessoas).

    “Se houver 50, por certo que irei a algumas, como outros irão. E desses que irão, muitos irão voltar. E, quantos mais voltarem, mais essas actividades serão valorizadas.”
    Pode-se também argumentar em sentido contrário.
    O ouro só é valioso porque é raro.
    Uma presença do Cristiano Ronaldo é valiosa, precisamente porque pode acontecer uma vez na vida para essa escola. Se ele fôr lá todas as semanas, deixa de ser valorizado por isso, e tenho a certeza que os ministros deixam de aparecer com ele nas escolas…

    “À ciência e à cultura cabe fazer o mesmo:”
    Lá está, eu acho que à ciência e à cultura cabe auto-valorizar-se. Enquanto continuar a passar a mensagem que nada vale, então aos olhos das pessoas nada pode valer.
    É isso que tento dizer com esta minha frase: “se nem a própria pessoa dá valor ao seu conhecimento, não se pode esperar que os outros dêem esse valor.”

    abraço!

  4. Alguns comentários intercalados:

    “Note que não se está a discutir a qualidade real, mas sim a percepção que as pessoas têm dessa qualidade mediante o valor que pagam (vide exemplo dos médicos).
    O que é apregoado como tendo qualidade não passa à história. Isso é wishful thinking. Quanto é que as pessoas pagam todos os anos em leitura de búzios, astrologias, homeopatias, e “águas milagrosas”? Também não me parece que o Quim Barreiros seja o epicentro da qualidade musical, no entanto não é por isso que “passa à história”.
    Parece-me sim que essa sempre foi a maneira de pensar de quem está ligado à ciência: “eles vão acabar por desaparecer”. Mas essa estratégia não funcionou nos últimos 3000 anos. Porque haveria de funcionar agora? Como diria Einstein, tem que se tentar uma estratégia diferente, e não esperar que a mesma estratégia do “deixar andar”, que nunca funcionou, vá agora funcionar.”

    ALBERTO>>Nem todos têm que ler Dostoievski ou livros de ciência.
    Também há lugar para os que lêem literatura de cordel ou revistas cor de rosa.
    Não é menosprezando estes que se elevam os que lêem literatura erudita.
    Não se trata de deixar andar.
    Mas apoucar uns não eleva os outros.
    O aumento de escolaridade terá necessariamente um aumento de leitores e um aumento de interesse pela cultura.
    Mas leva tempo.
    Então, é necessário puxar por aquilo que gostamos pela forma positiva e não denegrindo o que não gostamos.
    Porque aquilo de que não gostamos continuará a existir e a ter consumidores, queiramos ou não.

    “Que as actividades de divulgação deviam ser pagas…concordo em absoluto.
    Mas não podemos ir pelo lado de não haver interesse por elas serem baratas ou gratuitas.”
    Então qual é a solução para elas serem valorizadas?

    ALBERTO>> Devem ser valorizadas pela qualidade e pela presença constante.
    Se, na minha área, houver duas actividades de divulgação por ano, há uma grande probabilidade de eu não poder ir a nenhuma, apesar do meu interesse.
    Se houver 50, por certo que irei a algumas, como outros irão.
    E desses que irão, muitos irão voltar.
    E, quantos mais voltarem, mais essas actividades serão valorizadas.
    Esse é o caminho. Marcar presença.

    “Pode-se pensar em “mais educação”. Mas note-se que nunca houve no passado tanta educação como actualmente, e no entanto continuamos a dar valor aos “vendedores de banha de cobra” e as actividades de divulgação científica valem (em termos de percepção popular) exactamente o mesmo de sempre: 0.”

    ALBERTO>>> Os vendedores de “banha da cobra” têm vindo a fazer desde sempre, e agora utilizando os meios de comunicação, o seu trabalho de presença constante.
    Não gostamos, mas eles afirmam-se estando sempre presentes.
    À ciência e à cultura cabe fazer o mesmo:
    – Ter actividades;
    – Divulgá-las;
    – Fazer-se ver, ler e ouvir.

    Alberto

  5. Olá Jorge,

    Acho que tens razão naquilo que dizes. Mas deixa-me complementar algumas das coisas que disseste.

    Acho bem que essas sessões passem a ser pagas, no entanto há uma grande diferença entre essas sessões, e o que eu faço quando vou a Portugal, ou o que o Guilherme de Almeida faz, por exemplo, ou o que o astroPT faz.
    É que segundo me parece vocês são pagos por essas sessões.
    Ou seja, as pessoas pagam-vos indirectamente (pagam impostos ao estado, e uma pequena parte desse financiamento é para isso).
    Não é um conhecimento gratuito. As pessoas é que não se dão conta disso, e deveriam dar-se conta disso.
    É a diferença entre as estratégias democrata e republicana: os democratas preferem pagar mais ao estado e o estado que aplique o $$ no que quiser, enquanto os republicanos querem pagar um minimo ao estado e preferem aplicar esse $$ da forma que eles próprios querem e vêem na altura.

    “podemos caminhar para uma sociedade ignorante mas tecnologicamente avançada.”
    Parece-me que já fazemos parte dela.
    Se amanhã toda a tecnologia desaparecesse, qual é o leitor do astroPT que saberia fazer um frigorífico, um telemóvel, ou um computador? Ou até electricidade…
    As pessoas hoje são meras utilizadoras da tecnologia, mas não a compreendem.
    Quem sabe como a TV funciona? Como é que uma pessoa a milhares de kms aparece numa “caixa” em minha casa, e como é que eu carregando num botão essa pessoa desaparece e aparece outra do outro lado do mundo?
    A maior parte das pessoas é totalmente ignorante sobre a forma como estas coisas diárias funcionam…

    Pois, mas a família do Newton era rica, e em adulto, ele passou a receber da universidade. Da mesma forma Herschel, por exemplo, tinha o Rei a pagar-lhe.
    Ou o Kepler, o Brahe, o Galileu, etc, tinham contribuições substanciais da “realeza” e pessoas bastante ricas.
    Platão era de uma família rica e poderosa. Sócrates tinha os “meninos ricos” a financiarem-no nas suas estimulantes conversas filosóficas. E Aristóteles tinha um pai médico que tratou o avô de Alexandre o Grande, casou com a filha do ditador supremo na altura, e ensinava a realeza da altura.
    Ou seja, todos eles eram financiados (não eram gratuitos). Além de todos eles serem vistos como pessoas de valor pelo que faziam.
    Essa percepção não existe hoje, talvez porque a ciência (e o conhecimento em geral), e muito bem, se popularizou. A popularização do conhecimento é algo que considero ser excelente e deve continuar. No entanto, essa mesma popularização levou a que as pessoas mentalmente não dêem tanto valor a essa ciência e a esse conhecimento. Enquanto dantes quem detinha mais conhecimento era valorizado (Platão ou Galileu), hoje quem detém mais conhecimento é desvalorizado (ler novamente o post).
    Nota que esta ideia começa precisamente… nas escolas. Os “nerds” são os que estão no “bottom of the food chain” nas escolas. Começa nas escolas, e vê-se por toda a sociedade (com algumas honrosas excepções: Bill Gates, Carl Sagan, etc).

    abraço!

  6. Grande documento de reflexão sobre a divulgação da ciência no mundo e particularmente em Portugal! Concordo, igualmente, com a resposta do Mbeki sobre o facto do interesse na divulgação científica não partir do público mas ter vindo a ser imposta pela própria comunidade científica e mais recentemente pelos governos.

    Antes de mais, por mais que não queiramos temos de conviver com a realidade que tão bem descreveste na tua reflexão. Portugal era há cem anos um país de analfabetos e como tal ninguém pode ter interesse por aquilo que não conhece.

    Por outro lado, o nosso ensino está muito direccionado para o chamado mercado de trabalho – dar às pessoas os conhecimentos básicos para desenvolverem uma profissão havendo até a ideia que alguns conhecimentos são inúteis ou desnecessários. No entanto, deixa-me contar aqui um diálogo que uma professora de línguas manteve com um aluno de uma escola do nordeste transmontano no qual o aluno dizia que não precisava de aprender a falar “estrangeiro” porque as ovelhas que guardava só percebiam em português. Esse é um dos aspectos mais fantásticos do conhecimento é que ele é inútil, principalmente para quem não o tem. Se o adquirires pode ser muito útil ou não! Esse aluno que não quis aprender línguas nunca vai sentir falta desse conhecimento que não tem, pois nunca lhe vai ser dada a oportunidade de ter, por exemplo, um emprego no qual terá de falar línguas mas se ele tivesse adquirido esse conhecimento, aparentemente inútil, poderia ser muito útil tanto profissionalmente como na vida privada. O problema do interesse pela ciência nasce de algum desconhecimento – ninguém pode estar interessado naquilo que não conhece. Assim, é totalmente explicável que nos países mais desenvolvidos haja mais interesse na cultura científica do que naqueles em que esse conhecimento não está tão propagado. No entanto, tal como referiu o Mbeki a comunidade cientifica e os diferentes governos tem tentado criar ou aumentar essa cultura cientifica através da maior escolarização e até através de programas como o ciência viva. É certo que, isto criou um hábito nas pessoas de usufruírem gratuitamente da divulgação científica o que será muito difícil de alterar no futuro. No entanto, já se fala da possibilidade de algumas dessas sessões começarem a ser pagas.

    Por outro lado, há que realçar o carácter impulsionador que o conhecimento científico tem tido no nosso bem-estar económico. As pessoas usufruem dos frutos do conhecimento sem perceberem quase nada da base desse conhecimento. Assim, podemos caminhar para uma sociedade ignorante mas tecnologicamente avançada.

    A moda de medir tudo em “dinheiro” tem-se alastrado. Agora já não se diz que n pessoas fizeram greve, diz-se a greve custou x ao país, não se diz n% de alunos reprovam no 10º ano, diz-se o insucesso escolar custa x aos cofres do estado. Já ninguém está interessado na qualidade do ensino ou no que determinado número de licenciados sabe ou conhece, mas sim qual a percentagem de pessoas no país são licenciadas, quantos têm mestrados ou quantos têm o nível equivalente ao 12º ano, independentemente do “conhecimento ou “saber” que isso representa.

    Por último, queria realçar um aspecto que considero muito importante. A utilidade do conhecimento. Ao vivermos numa sociedade tão ávida pelo rendimento, temo que muito conhecimento considerado inútil ou menos produtivo possa vir a ser desprezado.

    O que parece ser mais útil para a sociedade? Um agricultor que trabalha de sol a sol para produzir alimentos ou um tipo que fala de sombras em cavernas e escreve diálogos imaginários sobre o seu mestre que por sua vez vai dizendo por todo o lado “Só sei que nada sei”? Um trabalhador honesto que cumpre o seu horário de trabalho normal ou um “louco” que anda a brincar com prismas em salas escuras e em vez de plantar árvores de fruto se deita à sobra das macieiras a pensar sobre a lua?
    Na realidade o que realmente tem feito avançar este mundo são estes inúteis que em vez de terem uma vida produtiva se dedicaram simplesmente a pensar sobre coisas inúteis. ”

    Grande abraço

  7. Mário,

    Note que todo o artigo foi de auto-reflexão e auto-crítica. Não foi uma crítica aos pseudos, pelo contrário, foi sim um elogio aos pseudos que sabem usar essa percepção das pessoas a seu favor, enquanto a ciência não sabe fazer isso.
    Ou seja, neste caso, a ciência terá que aprender com pseudos, famosos, etc.

    “Aqueles que dão palestras e não pedem dinheiro para o fazer apenas buscam o reconhecimento publico, querem ser adorados como deuses, vestem a pele de cordeiros e no fundo são lobos”
    “A meu ver, a ciencia devia actuar como os futobolistas, quando eram pagos a migalhas e tinham de ter outro emprego, eram pessoas comuns, quando começaram a ganhar e cobrar pelo que fazem, passaram a ser deuses.”
    Estas 2 frases estão em total contradição. Então diz que os palestradores só fazem palestras gratuitas para serem adorados como deuses, e a seguir diz que se eles passarem a cobrar, passam a ser deuses.
    Não faz qualquer sentido.
    Então se o Mário diz que os palestradores só dão esse conhecimento público por quererem ser deuses, depreendo assim que o Mário preferia que os cientistas não lhe comunicassem qualquer conhecimento – só assim deixavam de ter “soberba”.
    Os comunicadores/divulgadores que têm prejuízo próprio ao comunicarem, afinal, na opinião do Mário, fazem isso porque querem ser vistos como deuses. Vê-se até pelo público que todas as semanas cantam o nome dos divulgadores e os seguem para todo o lado, certo? (é uma ironia)
    Acabe-se com qualquer comunicação de ciência, e acabe-se com o astroPT, porque na sua opinião só fazemos isto por motivos egoístas. Enfim…

    Quanto aos anúncios já os tentamos durante 1 mês há cerca de 2 anos atrás. E nenhum de nós gostou desse teste. Apareciam mais anúncios para divulgar os pseudos que outra coisa.

    Ninguém falou em “roubar”. Falou-se em valorizar o conhecimento.
    Leu o texto?

    abraço

  8. Penso que dar mais valor à ciencia so mesmo quando a ciencia se der valor a si mesma e deixar de criticar os pseudos. Existe na ciencia algo que lhe é desnecessário; arrogancia e egocentrismo, apesar de se apregoar que é para o bem comum. Só posso gostar ou amar os outros quando me aceito, compreendo e tento mudar o que está de errado em mim. Quando tenho um problema e digo que a culpa é dos outros, algo vai mal. Se falho em ver os meus problemas como sendo criados muitas vezes por mim mesmo, estou a ser egoista e pouco humilde.

    Pelo lado monetário, é pura inocencia, falta de espirito empreendedor e, soberba. Aqueles que dão palestras e não pedem dinheiro para o fazer apenas buscam o reconhecimento publico, querem ser adorados como deuses, vestem a pele de cordeiros e no fundo são lobos. Dizem que fazem por amor à camisola e no entanto apenas procuram o estrelato. A meu ver, a ciencia devia actuar como os futobolistas, quando eram pagos a migalhas e tinham de ter outro emprego, eram pessoas comuns, quando começaram a ganhar e cobrar pelo que fazem, passaram a ser deuses.

    E mais uma vez, por favor deixem de criticar os pseudos, façam o vosso trabalho ao vosso gosto, transmitam noticias e opinioes, mas deixem-se de andar a criticar os que não têm a ciencia no coração nem na cabeça. Não faz sentido e, parece-me que eles não vão ler as criticas que lhes são feitas. Eu sei que evito ler esse tipo de posts, não porque não têm piada ou razão mas sim porque já cança. É uma moda que não me veste bem e a meu ver nem ao AstroPT.

    Já agora, metam lá uns anuncios pequenos sem ocupar muito espaço. Ganhar dinheiro com o que se faz dentro da legalidade não fica mal, fica mal é roubar para ter dinheiro.

    Abraço e continuem o bom trabalho

  9. Olá Alberto,

    Concordo em (quase) tudo. Só discuto um ponto e faço-lhe uma pergunta.

    Note que não se está a discutir a qualidade real, mas sim a percepção que as pessoas têm dessa qualidade mediante o valor que pagam (vide exemplo dos médicos).
    O que é apregoado como tendo qualidade não passa à história. Isso é wishful thinking. Quanto é que as pessoas pagam todos os anos em leitura de búzios, astrologias, homeopatias, e “águas milagrosas”? Também não me parece que o Quim Barreiros seja o epicentro da qualidade musical, no entanto não é por isso que “passa à história”.
    Parece-me sim que essa sempre foi a maneira de pensar de quem está ligado à ciência: “eles vão acabar por desaparecer”. Mas essa estratégia não funcionou nos últimos 3000 anos. Porque haveria de funcionar agora? Como diria Einstein, tem que se tentar uma estratégia diferente, e não esperar que a mesma estratégia do “deixar andar”, que nunca funcionou, vá agora funcionar.

    “Que as actividades de divulgação deviam ser pagas…concordo em absoluto.
    Mas não podemos ir pelo lado de não haver interesse por elas serem baratas ou gratuitas.”
    Então qual é a solução para elas serem valorizadas?
    Pode-se pensar em “mais educação”. Mas note-se que nunca houve no passado tanta educação como actualmente, e no entanto continuamos a dar valor aos “vendedores de banha de cobra” e as actividades de divulgação científica valem (em termos de percepção popular) exactamente o mesmo de sempre: 0.

    abraço!

  10. Embora concorde com muito do que o Carlos escreveu, há que ter em consideração outros aspectos:
    – A qualidade não se apregoa. Existe ou não.
    Um trabalho, ou uma prática continuada de qualidade será reconhecida como tal.
    Leva é tempo.
    Pelo contrário, algo que é apregoado como de qualidade, rapidamente passará à história, se não tiver essa qualidade..

    – A importância da ciência tem a ver com o impacte imediato que tem na vida das pessoas.
    Uma descoberta científica importante pode só vir a ter reflexos a médio ou longo prazo.
    Por isso, quem, no dia a dia, tem de preocupar-se com a sobrevivência, terá pouca inclinação a ligar importância a uma importante descoberta científica.
    “Primeiro viver, depois filosofar” é um princípio muito antigo e sempre actual.
    Só consome cultura quem criou condições de vida que lhe permitam outras actividades que não as da sobrevivência.
    Não podemos esperar grande interesse pela ciência numa sociedade pobre e onde o consumo de cultura nunca foi um paradigma.

    – Que as actividades de divulgação deviam ser pagas…concordo em absoluto.
    Mas não podemos ir pelo lado de não haver interesse por elas serem baratas ou gratuitas.

    – Quanto ao astroPT acho que é um excelente meio de divulgação e de presença.
    Há pouco tempo, o Carlos anunciou o milhão de visitantes.
    Quanto tempo levará a atingir o 2º milhão?

    – Penso que cada um de nós deve fazer o melhor que sabe para o enriquecer.
    O resto, a mudança de mentalidades, virá por arrasto e não por dizermos que elas têm de mudar.

    E para terminar um Feliz Natal para todos.

    Alberto

  11. Olá Emilio,

    Concordo com tudo o que disse, excepto neste ponto:
    “Sendo assim o conhecimento cientifico deve estar ao alcance de todos. A sua divulgação por aqueles que o detêm deve ser de certa forma uma “obrigação moral”.”

    Por poder ser “obrigação moral” é que estes deviam ter um maior valor, e deveriam ser assim valorizados pelo seu trabalho.
    Um enfermeiro, um médico, um bombeiro, ou um professor têm “obrigações morais” de educar, salvar, etc…
    Já um advogado, por exemplo, não terá essas “obrigações morais”.
    Quem recebe mais? Quem é mais valorizado? Quem se vira para si e lhe diz: “Este é o meu valor”, em que esse valor é superior ao outro exemplo? Um bombeiro ou um advogado?

    Esse é precisamente o problema.
    Quem é valorizado, por si próprio e pelos outros, é quem não tem essas “obrigações morais”.
    😉

  12. Há outra questão a considerar (na minha modesta opinião).
    O conhecimento científico faz parte da Cultura e esta é pertença de toda a humanidade, sem ela não seríamos o que somos enquanto espécie. A informação biológica (DNA…) não chega, existe uma informação externa que carregamos connosco de geração em geração.
    Sendo assim o conhecimento cientifico deve estar ao alcance de todos. A sua divulgação por aqueles que o detêm deve ser de certa forma uma “obrigação moral”.
    Comparar isto com Quim Barreiros e afins que não passam de entretenimento medíocre (na maior parte dos casos) e que de cultural nada têm, não faz sentido.
    Quanto à receptividade das pessoas, aí o problema é outro. Educação e mais educação precisa-se. A educação cientifica nas escolas é uma caricatura daquilo que devia ser e por isso temos uma sociedade cheia de indivíduos sem espírito critico, sem capacidade para pensar de forma lógica e racional, o que de certa forma interessa às elites dominantes, mas isso é outra história…

    Dito isto, àqueles que de forma graciosa e apaixonada, contribuem para a divulgação do conhecimento científico, como é aqui o caso, só temos é de agradecer e dar força para que continuem.

  13. Sérgio,

    O frigorífico foi-lhe só dada a informação do preço, e não das suas condições. Só mudou isso.

    Note que eu não discuto o “valor real”. Discuto sim a percepção que as pessoas têm desse valor.
    Até digo que é uma falsa noção de valor: “Ou seja, o subconsciente das pessoas atribui o valor a algo, mediante aquilo que paga por esse algo. É uma falsa noção de valor – o preço -, mas é o que as pessoas assumem ser verdade.”

    Não concordo que existe “circo” nos museus.
    Existe “circo” nos estádios de futebol, existe “circo” quando os “famosos” aparecem, existe “circo” nas palestras dos pseudo, existe “circo” até quando as câmaras convidam palhaços para abrilhantar a festa. Se calhar o problema da ciência é precisamente não haver esse “circo”.
    Os museus, por exemplo, quer em Portugal quer nos EUA são na sua grande maioria demasiado “sóbrios”, deviam ser muito mais interactivos, por exemplo.

    O que eu digo é que esse valor já existe, as pessoas é que não têm essa percepção do valor, porque é desvalorizado (gratuito). Ou seja, é preciso mudar a percepção das pessoas, de modo a elas saberem avaliar o produto pelo que ele é, e não pelo que pensam que é (em que o preço é sinónimo de qualidade).

    abraço!

  14. Carlos,

    Acho que está a ver as coisas de uma forma incompleta e simplista. Não é por ser grátis que deixa de ter valor. Alias, valor, é um conceito, preço é outro. São conceitos distintos mas que por muitas vezes andarem associados, se confundem.

    Achei piada à forma como vê o episodio do frigorifico… Será que foi o preço que criou a procura, ou não terá sido antes a divulgação, e a informação de que o artigo se encontrava em boas condições de funcionamento e disponível, para quem o quisesse? (algo que não estava presente quando não passava de um simples frigorifico usado abandonado na rua)

    Relativamente às marcas: é obvio que se pagam as marcas! Mas quanto custa (a uma empresa por ex) criar e manter essa marca? Quanto gastam as 2 principais Colas, em publicidade? Ou certas marca de carro (BMW, Mercedes etc)

    Os pagamentos às figuras públicas, para aparecer em eventos acontece também de forma natural, dada a publicidade e retorno (financeiro) que essas presenças geralmente garantem.

    Se o Carlos garantir a alguém, que com o seu saber, vai oferecer um retorno superior ao custo, vai facilmente ter o interesse de muita gente.

    Relativamente ao que se passa na NASA, ou museus noutros países, não passa de aplicação de técnicas comerciais para aumentar o espectro dos mercados alvos e desta forma as receitas e o interesse (passando por providenciar uma experiencia de “mero entretenimento” aos visitantes). Ir a um complexo científico e aparentar estar-se no circo, não é propriamente “nobre”, mas certamente será uma forma de conseguir mais receitas.

    Ter de vender o conhecimento, através de alterações de cosméticas é uma aberração, para qualquer pessoa que preze o valor dos conteúdos. No entanto, apostar nas “embalagens” é algo cada vez mais necessário para garantir a sobrevivência.

    Finalmente, se acha que por cobrar algo automaticamente introduz a noção de valor e que essa noção irá perdurar, então fico feliz por estar no ramo da ciência e não numa carreira empresarial.

  15. Roberto, se interpretou o post como uma lamentação, está redondamente enganado.
    Eu não me lamento. Aliás nunca dou para o peditório dos “choradinhos”.

    Apontei um problema real, apontei uma solução possível (mudança de mentalidades), e assumi que eu próprio posso estar a contribuir para o problema e não para a solução, daí que assumo que talvez tenha que mudar de “estratégia”.

    Tudo isto é uma reflexão, e nunca uma lamentação.

    “acho que se deveria transmitir que em Portugal exitem pessoas, Cientistas, Astronomos que transmitem cultura científica sem cobrarem.”
    Isso foi o que foi dito no post. Esse é um dos problemas. Porque estão (eu e o astroPT incluídos) a contribuir para essa mentalidade de que a ciência nada vale.
    Leu o texto? 😛

  16. Entendo que esta questão deve ser vista pelo lado positivo e não depreciativo.
    Não negando nada do que foi transmitido no post, acho que se deveria transmitir que em Portugal exitem pessoas, Cientistas, Astronomos que transmitem cultura científica sem cobrarem.
    Não me parece que as lamentações de que não nos pagam leve a algum lado.
    Não se pense também que isto é um problema português, nem restrito à Astronomia.
    A população em geral não valoriza a ciência, não reconhece de uma forma cabal na ciência o valor que ela tem. Veja-se o que aconteceu com tudo que envolveu a co-inceneração onde cientificamente ficou provado que era de longe a melhor solução.

  17. Já agora, quanto às sustentabilidades…

    Se outros países têm essa sustentabilidade social, então acho que Portugal também poderá ter. Não há razão nenhuma para não ter. Tem é que haver uma diferente mentalidade.

    Quanto à sustentabilidade económica, a mesma coisa. Se os outros a têm, Portugal também deveria de ter.
    O problema é que em Portugal não se sabe “vender” o valor da ciência, como mencionei no post.

    Por exemplo, eu adorava o Visionarium no ínicio, e fui lá várias vezes. Depois aquilo ficou basicamente ao abandono. Numa das vezes que lá fui, não andava ninguém, e vi 2 ou 3 seguranças em vários pisos. No piso de cima, do espaço, estava um segurança muito simpático, que queria ajudar, mas só dizia bacoradas. 95% do que ele explicou estava mal.
    Ou seja, tudo parece abandonado, não há ninguém a ajudar, e quem tenta ajudar não sabe o que diz. Qual é o valor que estão a incutir a essa divulgação da ciência? 0.
    Ainda assim, voltei lá 2 anos mais tarde, e percebi que continua abandonado, nem sequer havia seguranças, nem ninguém a ajudar em nada, e quando eu quiz comprar algo na loja, ela estava fechada, às escuras, e ninguém me quiz vender nada (mesmo comigo disponível para comprar, para pagar).
    Assim, é difícil haver sustentabilidade económica. Mas isso é porque não se sabe vender a ciência.

    Por aqui vejo o orgulho do conhecimento nas universidades (milhares andam todos os dias com camisolas da universidade e dos departamentos, o que dá imenso dinheiro em camisolas).
    Por aqui vejo nos museus (e já trabalhei num) toda a gente a querer ajudar, incluindo imensos voluntários que detém um elevado conhecimento daquilo que explicam, e sobretudo vejo bastante marketing e valor da marca. Vejo também as lojas à saída. Ou seja, os visitantes têm mesmo que passar pelas lojas, e sobretudo quando se leva crianças, é certo e sabido que elas vão querer comprar algo.
    Isto permite obviamente uma sustentabilidade económica. Porque sabem “vender” o produto científico, sabem lhe dar valor.
    E o público agradece, e compra.

  18. Frederico, tem razão.

    E penso que está de acordo com o post, que é um problema de percepção do “valor” do conhecimento.
    Eu tenho disponibilidade para pagar se der valor àquilo que vou comprar.
    Se não der valor, então não pago. E parece-me que isto é o que acontece na maioria das vezes. Não se dá valor ao conhecimento.

    Porque quem paga para ir ver a Jaciara, e quem paga para convidar a Jaciara, por exemplo, também poderia pagar para ver o Pedro Ré ou poderia pagar para convidá-lo a ir dar palestras, por exemplo.
    Da mesma forma que o Ministro que até acompanha o Figo à escola (e a escola faz “greve” nesse dia) também poderia acompanhar quem lá vai divulgar ciência.
    Mas à ciência, não se dá valor…

  19. Quando se fala de ciencia esta é quase sempre apresentada em modos que os comuns dos mortais simplesmente não entende.

    Por exemplo: “Os seres luminosos proporcionam um trabalho profundo do coração actuando no DNA espiritual e efectuando a conexão e activação de várias fitas de DNA“, é bem mais facil de “entender” do que a suposta utilização de arsenico no DNA de uma bacteria. Enquanto que a primeira afirmação roça a religião dizendo que é assim por é assim, sem grandes explicações, a segunda já nos faz pensar não só na alteração do que é sabido sobre DNA mas também em tudo aquilo que roda em volta desta “descoberta”.
    De uma forma mais simples: É mais facil para o comum dos mortais, acreditar em algo sem grandes explicações e, que não tenha de dedicar muito tempo a pensar, do que passar imenso tempo a tentar entender todas as ramificações da ciencia.

    Por outro lado, ninguem é mais importante que o seu proximo só porque entende de ciencia e o outro dá uns pontapés na bola. Qual destes é mais importante? nas sociedades actuais claramente o jogador de futebol. Injustiça? Sim, muita. Devia alguem que entende de ciencia ser mais importante? Não. Então como se faz?

    Ensinar toda a gente, que todos vamos à casa de banho e ás vezes não é bonito (gostava de dizer isto de outra forma mais portuguesa, mas por respeito ao astroPT não o faço).

    Tenho dito.

  20. nba.fi…

    Já agora, fui comparar com países da Europa do Norte.
    Exemplo: Finlândia. Tem pouco mais de 5 milhões de habitantes. Tem 5 milhões de visitas anuais aos seus museus.
    http://www.nba.fi/en/statistics

    Em Portugal, com 10 milhões de habitantes, em 2007 bateu-se o recorde de visitantes, com pouco mais de 1 milhão de visitantes a museus.
    http://viajar.clix.pt/noticias.php?id=2955&lg=en

    • Frederico Cardigos on 22/12/2010 at 13:18
    • Responder

    Excelente texto e óptima reflexão. No entanto, penso que o problema não está no cobrar. O problema está na disponibilidade para pagar. Ou seja, mais do que no emissor do conhecimento, que pode cobrar ou não o preço justo, o problema está no receptor português que não tem disponibilidade para pagar. Mais uma vez, é um problema que, na minha opinião, se resolve com boa educação, com grande qualidade. Algo que todos teremos de assumir, colectivamente, que estamos dispostos a pagar. Melhor, que exigimos ter e não nos importamos de pagar.
    A Wikipedia, fenómeno de divulgação de conhecimento em larga escala, é gratuita e voluntária. Tem erros, alguns artigos são mesmo ilegíveis, mas, na generalidade, dá as pistas para uma primeira abordagem. Não é por ser gratuita que lhe dão menos valor. Acho eu…

    • Joaquim Meinedo on 22/12/2010 at 12:46
    • Responder

    A ciencia está desvalorizada em portugal, porque isto é um recanto à beira mar plantado muito mal frequentado.
    Anda toda a gente a armar ao fino e não sabe nada de coisa nenhuma, “vale mais” um indivíduo que tenha um canudo, mesmo não sabendo nem sequer a tabuada, do que Um com pouca instrução oficial, mas que tenha conhecimentos muito para além de vários com canudo.
    Temos que ir tentando ensinar esta gente, nem que para isso tenhamos que ter prejuízo.
    JMeinedo.

  21. Olá “Mbeki”,

    A profissão existe. O Zé Matos é divulgador de ciência. Pelo que sei, é a profissão dele. Não tem outra profissão.

    Existem mais pessoas por ano a entrarem no Kennedy Space Center na Flórida, no Rose Center em NY, no MSC em Baltimore, ou no Museu Guggenheim (de arte) em NY, do que a ir ver jogos de futebol ou concertos do Quim Barreiros.
    5 milhões visitam o Museu do Ar e do Espaço, em Washington DC, anualmente. — pessoalmente adoro este museu.
    E 600 milhões (!!!!) visitam os museus anualmente nos EUA.
    http://staging.forbestraveler.com/best-lists/most-visited-museums-story.html
    E todos eles pagam para irem ver exposições nesses museus.
    Ou seja, dão valor a isso. Valorizam o conhecimento que lhes é prestado ao ponto de pagarem por ele (e algumas vezes o preço é alto, dependendo de quantos “shows” quiserem assistir). E valorizam a “marca” desses museus.

    Já em Portugal, duvido que as pessoas estejam dispostas a pagar para irem ver o Visionarium, por exemplo.
    Assim como assumem que não devem pagar para irem ver uma palestra do Pedro Ré, por exemplo.
    A minha pergunta é: porque há essa diferente percepção do valor do conhecimento, e como mudar essa mentalidade?

  22. Parece então que a discussão dos últimos 40 anos sobre a divulgação científica tem uma solução fácil: basta cobrar cachet. Há duas falhas principais nesta argumentação: a primeira é presumir que as pessoas estão dispostas a pagar pela divulgação científica – e neste caso, importa recordar que o movimento original partiu da própria comunidade científica, que perante a pressão social sentiu necessidade de justificar os seus orçamentos, os seus recursos e os investimentos que queria que fossem feitos. Portanto, nunca houve um momento em que o público procurasse ávidamente eventos de divulgação científica, pelo contrário. O esforço tem estado sempre do lado da comunidade científica (e mais recentemente, dos governos) para que as pessoas valorizassem a ciência e legitimassem os investimentos nela feitos; a segunda é comparar um evento de divulgação científica com um concerto do Quim Barreiros ou com um jogo de futebol, e utilizar isso como argumento. Para derrubar esta ideia basta perguntar quantos eventos de divulgação científica em Portugal já tiveram os 60 mil espectadores que enchem um estádio de futebol ou que vão ver Quim Barreiros na queima das fitas. E podemos até estender o exercício para o caso dos EUA, com as devidas correcções de escala, e creio que as conclusões serão semelhantes.

    E uma nota final quanto aos divulgadores/comunicadores de ciência: a categoria aparece depois dos cientistas e da sociedade perceberem que não conseguiam comunicar, surgindo então pessoas especializadas em fazer a tradução entre as línguas dos dois mundos. No entanto, é preciso não esquecer que apesar de alguns cientistas conseguirem ser comunicadores de ciência, poucos ou nenhuns comunicadores de ciência são cientistas. A profissão não existe por si só, e não faz sentido que existam comunicadores de ciência desligados das instituições científicas e dos cientista – sejam ou não mais competentes do que os tais “pseudos”. E creio que este artigo é apenas uma tentativa confusa de legitimar a existência de algo que não tem sustentabilidade social ou económica.

  23. estas são algumas “deambulações mentais” que vou tendo, tendo em vista melhorar a percepção da ciência e do conhecimento pela população em geral.

    Mas gostava de ouvir a vossa opinião sobre isto.
    Gostava de tentar perceber melhor qual é a vossa percepção, e qual é a percepção que as pessoas têm da ciência.
    Gostava de tentar saber algumas soluções que possam propôr para se mudar as mentalidades, e a ciência (e o conhecimento em geral) passar a ser valorizado.

    E gostava de saber o que pensam do astroPT.
    Se não estará também a contribuir para esta mentalidade/percepção de desvalorização (sem valor) da ciência.

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