Ciência na Arte

Frequentemente, os cientistas queixam-se que os artistas não dão importância à ciência. De uma forma geral têm razão: é muito raro a ciência fazer parte da inspiração dos artistas; muitos acham até que a visão científica é demasiado tecnicista e sem beleza para os padrões da arte.

Esta questão não é propriamente recentente. Há mais de 50 anos, na famosa conferência As Duas Culturas, C. P. Snow alertava para o facto das culturas científica e humanística se estarem a separar. Se por um lado os cientistas, por ignorância e falta de interesse, não possuiam uma grande cultura humanista; por outro lado verificava-se que os humanistas evidenciavam um total desprezo pelo próprio conhecimento científico, o que justifica esta ausência da inspiração científica na arte.

O famoso físico Richard Feynman, que a partir de certa altura na sua vida se começou a interessar por diversas áreas não científicas, é um dos divulgadores científicos que mais reflectiu sobre este tema. Para Feynman, não faz sentido que o conhecimento científico diminua a beleza do Universo. Pelo contrário, como explica em The Feynman Lectures on Physics:

Poets say science takes away from the beauty of the stars — mere globs of gas atoms. Nothing is “mere”. I too can see the stars on a desert night, and feel them. But do I see less or more? The vastness of the heavens stretches my imagination — stuck on this carousel my little eye can catch one-million-year-old light. A vast pattern — of which I am a part… What is the pattern or the meaning or the why? It does not do harm to the mystery to know a little more about it. For far more marvelous is the truth than any artists of the past imagined it. Why do the poets of the present not speak of it? What men are poets who can speak of Jupiter if he were a man, but if he is an immense spinning sphere of methane and ammonia must be silent?

É claro que há excepções: aqui e ali, lá se vão encontrando obras artísticas com inspiração científica. Uma que neste momento me lembro é uma música dos Queen intitulada ’39 que, de certa forma, está relacionada com astronomia e astrofísica.

A música foi escrita pelo guitarrista da banda, Brian May, que é também doutorado em astrofísica pelo Imperial College of London. A letra fala de exploradores espaciais que, numa época em que a Terra está velha e sobrepopulada, vão em busca de novos planetas que a longo prazo possam dar continuidade à existência da espécie humana. No entanto, quando regressam à Terra passado um ano trazendo boas notícias, tudo está diferente devido à dilatação do tempo prevista pela Relatividade Restrita de Einstein. Aqui, muitos mais anos passaram…

6 comentários

Passar directamente para o formulário dos comentários,

  1. Van Gogh e outros concordariam:
    http://www.astropt.org/2008/06/01/astronomia-e-arte/
    🙂

    Incluindo Alan Bean, da Apollo 12:
    http://www.astropt.org/2010/01/09/alan-bean-pintor/
    😉

    • Isabel Marreiros on 16/02/2011 at 21:22
    • Responder

    Confesso, adoro pintar e a Astronomia é sem sombra de dúvida uma importante fonte de inspiração, o último quadro tem o nome “Gliese”. A astronomia faz nos sonhar 🙂

  2. publico.pt…

    Já agora, um artigo que tem a ver com este tema:
    http://www.publico.pt/Ci%C3%AAncias/rob-kesseler-um-artesao-apaixonado-pelo-mundo-natural_1480432
    🙂

  3. A arte só se faz com ciência 😉

    E a ciência é uma arte 😀

  4. Acho que basta comparar os materiais usados numa exposição de qualquer artista da actualidade, com uma exposição de arte “pré histórica” para se perceber que a ciência tem um papel importante nas artes e na introdução de novas ideias.

    Também na música e dança/performances a evolução tecnológica está recorrentemente presente.

    Já o que, tanto artistas como cientistas, dizem sobre os outros, parece me muitas vezes baseado em preconceitos.

    Já agora, recomendo uma visualização da capa (e a parte interior da capa) do “fun in space” do Roger Taylor, também grande fã de sci-fi.

  5. Olá, Miguel!

    Por acaso penso que a arte e a ciência estão lado a lado humanamente falando.
    Deve ser porque a beleza da natureza é esmagadora que o homem tende a não querer saber como é que ela funciona. A imensidão da natureza diminui ainda mais a pequenez humana (temos apenas o nosso amigo microscópio que nos aumenta).

    E os cientistas podem não ter essa noção, mas muitas das teorias são pura poesia, no meu ponto de vista de artista com poucos conhecimentos científicos.

    Mas a ciência mostra-nos um Universo fantástico, esplendoroso e muito inspirador.

    E tal como o conhecimento científico evolui e para o admirar e compreender temos que nos munir de muita bagagem, também para admirar e compreender os trabalhos artísticos teremos que ter a nossa mente muito aberta, dinâmica e conhecedora da linguagem estética.

    No meu ponto de vista, não estão muito distantes, humanamente, estes dois ramos do conhecimento, o científico e o estético. São as diferentes abordagens do Universo onde o homem vive. E acho que saber como é que as coisas funcionam aumenta as possibilidades de encontrar a beleza.

    Obrigada!

Responder a Ana Margarida Silva Cancelar resposta

O seu endereço de email não será publicado.

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

Verified by MonsterInsights