Tyche – planeta gigante nos confins do sistema solar?

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Já temos exposto várias descobertas do telescópio espacial WISE. Ele entretanto “morreu” (acabou o seu tempo de vida), e daí que publiquei este post a resumir o seu elevado rendimento científico.

Ora, como qualquer telescópio, apesar de “morto”, o WISE tem ainda muita informação por analisar. Está em computador, mas os cientistas ainda não tiveram hipótese de a analisar em detalhe.
Não se sabe o que está nessa informação.
O que acontece normalmente é que não está nada de “anormal”, porque as verdadeiras descobertas já foram anunciadas com “pompa e circunstância” pela NASA. Daí que os dados, após análise, normalmente destinam-se a coisas com relevância para os cientistas, mas sem qualquer importância para o público.

No entanto, numa entrevista para o jornal Britânico, The Independent, o professor Daniel Whitmire, da Universidade da Louisiana, decidiu dizer que acreditava poder existir um planeta nos confins do Sistema Solar, e que esse planeta pode ter sido detectado pelo WISE, mas está nos dados que ainda não foram analisados.
Note-se que as palavras principais é que isto não passa de uma crença pessoal do cientista, em que propõe uma hipótese (“pode“), e não tem qualquer evidência científica para isso (“dados não analisados“).
Ou seja, cientificamente falando, vale 0.

Vale tanto como eu dizer que acredito que pode haver um planeta como a Terra em redor da estrela Sirius. Não tenho qualquer evidência, mas acredito nisso.
Relevância científica = 0.

No entanto, provavelmente numa tentativa de marketing em que demonstra um péssimo sentido de divulgação/ensino científico, este professor foi ainda mais longe: disse que o planeta (o tal que ele não tem qualquer evidência!) deveria se chamar Tyche, será 4 vezes maior que Júpiter, será composto de hidrogénio e hélio, terá luas, anéis, e uma atmosfera com nuvens e tempestades (!!!), terá uma temperatura de -73ºC, e estará 15.000 vezes mais afastado do Sol que a Terra (375 vezes mais afastado que Plutão) – o que corresponde à zona da Nuvem de Oort.

Além desta imaginação puramente especulativa, baseada em crenças pessoais e sem qualquer validade científica, o certo é que a “teoria” dele também tem problemas de matemática.

Mas em termos científicos, vejo outros problemas:
– a Nuvem de Oort está 50.000 vezes mais afastada do Sol que a Terra, logo, ao contrário do que ele diz, o planeta ainda estaria muito longe da Nuvem de Oort.
– o planeta não pode ser 4 vezes maior que Júpiter. A razão é simples: com mais de 3 vezes a massa de Júpiter, os planetas contraem-se e ficam mais pequenos. Será que um erro tão básico, que se aprende em Introdução à Astronomia para não-cientistas, foi dado por este investigador? Não. Ao ler-se a notícia original vê-se que ele disse 4 vezes a massa de Júpiter. Os jornalistas posteriores é que não sabem ler (incluindo os da TV, que já vi na CNN e MSNBC), e dizem erradamente 4 vezes o tamanho de Júpiter.

Ou seja, aos erros do cientista ainda se juntam os erros dos jornalistas.
Conclusão: notícia mais disparatada era difícil haver esta semana!

As agências de notícias fartaram-se de divulgar esta notícia esta semana, incluindo os sites de astronomia.
Podem ler, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, e aqui.

Ou seja, um cientista decidiu dizer um disparate (em termos científicos e de divulgação) num jornal, e os jornalistas vão logo atrás sem fazerem uma análise crítica.
E claro que os pseudos aproveitam-se logo para falar de planetas gigantes a vir na direcção da Terra e que nos vão matar a todos em 2012!!!
Enfim…

Se pode existir um planeta gigante nos confins do Sistema Solar? Pode!
Se podem existir 50 planetas como a Terra nos confins do Sistema Solar? Podem!
Se podem existir cavalos no planeta XPTO ao redor da estrela YZ? Podem!
É uma questão de crenças, e não de evidências científicas.
As evidências científicas, nestes casos, não existem!

Por último, se realmente fôr descoberto um planeta gigante nos confins do sistema solar (e as evidências actuais apontam para ele não existir!), então não seria uma descoberta radical. Era mais uma rocha gelada a orbitar o Sol. Nada de anormal.
E certamente que a sua órbita está muito longe da Terra! (não virá para cá!)

tyche

46 comentários

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    • Reinaldo da Silva on 29/09/2016 at 21:44
    • Responder

    Professor fiquei curioso com a expressão citada, e gostaria que o senhor ensinasse.

    “– o planeta não pode ser 4 vezes maior que Júpiter. A razão é simples: com mais de 3 vezes a massa de Júpiter, os planetas contraem-se e ficam mais pequenos”

    1. Essa é uma das regras 😉

      Mais massa, promove a contração.

        • Reinaldo da Silva on 30/09/2016 at 22:00

        Então professor digamos que umu determinado objeto com massa de quatro ou cinco vezes a de Júpiter ele se vai diminuir até ficar em cerca de que tamanho?

      1. Depende do objecto. Se for uma estrela (com maior massa do que referiu), por exemplo, irá ser maior 😉

        Se for planeta, também existe um limite para planetas terrestres (rochosos).

  1. […] na possível descoberta de Tyche, um potencial planeta gigante no sistema solar exterior. Leiam aqui. Não existem evidências, mas existia a “vontade dos astrónomos” em tentar encontrar […]

  2. […] Eris. Haumea. Makemake. Orcus. 2007 OR10. 2012 VP113. 3 novos planetas-anões. Tique, Tyche, Planeta X. Plutão: características, não-planeta, explicação, imagens, água, oceano, anéis, […]

  3. […] Acabo este post, da mesma forma que acabei o post sobre o suposto planeta Tyche: […]

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