Afinal os Maias Previram o Quê?

calendario maia

Começo com um pouco de história sobre um povo com capacidades extraordinárias. De entre as civilizações mesoamericanas, a dos maias foi a que se manteve por mais tempo. Ainda existem cerca de 6 milhões de maias no México, Guatemala, Belize e Honduras. A sua época áurea remonta entre 250 a 900. Os maias mapearam passagens de objectos celestes. Os seus almanaques prevêem eclipses e as posições de Vénus e de Marte.

A astronomia maia sobreviveu ao tempo. Contudo, a sua mitologia também sobreviveu. Os movimentos do Sol, Lua e Vénua eram considerados movimentos dos deuses. A astronomia estava inserida num sistema de crenças e rituais religiosos que incluíam sacrifícios e guerras. A sorte ou o azar de quem vivia naquela sociedade dependia das interpretações dos xamãs sobre o movimento dos astros. Havia a obsessão em descobrir relações numéricas entre os movimentos dos planetas e ciclos religiosos.

Os maias acreditavam que o Universo era plano e quadrado e o Sol girava em torno da Terra. Havia o submundo, dominado pelos deuses da morte. O céu pertencia ao Sol e a Itzamna. Quando escurecia, os maias podiam ver as acções dos deuses nos desenhos das estrelas como o desenrolar de uma narrativa.

 

Os calendários Maias:

 

contagem longa – com anos de 360 dias

cíclico – combinação de outros dois calendários:

tzolkin – 260 dias, religioso

haab – 365 dias, civil

 

Os 260 dias do tzolkin representa o número de dias em que o Sol passa pelo zénite em algumas das cidades. Outra explicação para este calendário é o número de dias em que Vénus está visível. A combinação tzolkin-haab traduzia-se em repetição de datas a cada 18980 dias (73 tzolkin eram 52 haab).

Outras datas estavam relacionadas a observações astronómicas. Vénus demorava 584 dias a completar o seu período sinódico (a voltar à mesma posição no céu). Após cinco ciclos venuzianos, tanto Vénus como a Terra voltavam à mesma posição relativamente às estrelas.

O objectivo do calendário de contagem longa era o de registar factos históricos de forma linear sem a repetição de datas que os calendários de contagem curta obrigam. Neste calendário, de 360 dias, o dia era kim, o mês era uinal e tinha 20 kim. O ano, tuin, tinha 18 uinais para totalizar os 360 kim.

Daqui nada ressalta que em 2012 haverá algum evento destruidor.

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A precisão dos Maias é algo que nos deixa perplexo. Ora reparem:

O haab, com 365 dias, ficava desencontrado do ano solar real a cada quatro anos. Para comparar a precisão maia vamos usar o nosso calendário gregoriano. Com os anos bisextos, e não só, o nosso calendário perde 1 dia a cada 3300 anos. Mais em pormenor, um ano, no calendário gregoriano tem 365,24250 dias, o ano solar tem 365,24219 dias.

Inscrições nas ruínas de Palenque mostram que os maias sabiam que 1507 anos solares correspondiam a 1508 haab. Assim, deduziram, por observação sistemática, que um ano tinha 365,242203 dias. Sabiam ainda de 46 tzolkins correspondiam a 405 ciclos lunares. No calendário de Ptolomeu temos 29,53337 dias. No calendário maia temos 29,53086. Uma precisão maior!

O segredo está na persistência e na observação sistemática dos movimentos e posições dos corpos celestes, durante muitos anos.

Enquanto isso, o segredo dos pseudo também está na persistência da loucura.

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Os mesoamericanos adoravam não só o Sol mas também os planetas (que também eram deuses).

O Planeta Vénus, para os maias, representava a guerra e era irmão do Sol. Estes dois irmãos teríam passado por provas no submundo ao disputar jogos de bola em que, quem perdesse era decapitado. Então estes dois irmãos venceram as provas e tornaram-se Vénus e Sol. Desta forma representavam sacrifícios e batalhas. Através das posições de Vénus, os mesoamericanos determinavam jogos de bola, sacrifícios e batalhas.

Marte tem um período de translação maior que o da Terra. Por esse motivo, a cada 780 dias, o nosso planeta ultrapassa Marte, que parece andar para trás, na abóbada celeste, num movimento que dura cerca de 75 dias. Para os maias Marte é uma espécie de porco “decapitado”. Uma curiosidade ressalta: 780 dias correspondem a 3 tzolkins, ou 260 dias.

Ainda relativamente a Marte, os mesoamericanos tinham interesse em calcular quanto tempo demorava até que este planeta aparecesse novamente em frente da mesma constelação. Calcularam e chegaram ao número de 702 dias, intercalado com 540 a cada sete ou oito anos.

Algumas das constelações dos maias seríam escorpião, jaguares, serpente, morcego, tartaruga e tubarão. Tinham também um gémeos, em que um era porco.

Em suma, os maias eram obcecados em comparar dados e recolher informação sistemática. É como medir tudo em minha casa e fazer comparações com tudo isso. Muito bem, a TV mede 63cm, a secretária 234, 234/63=3,71 que é a medida da espessura do meu telemóvel. Isto quer dizer alguma coisa, para além de ser uma observação meticulosa? Para os pseudo pode querer dizer que um lápis gigante vais riscar as paredes da minha casa no dia 4 de Abril de 2013? Não me parece. Mas há quem acredite! Há quem encontre mensagens subliminares em qualquer coisa, até em canetas BIC!

 

Fonte:

SCIAM especial “Etnoastronomia”, “Astronomia Maia”, Bruno Maçaes.

11 comentários

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    • Ana Guerreiro Pereira on 03/03/2011 at 23:03
    • Responder

    Sobre os Maias, um cartoon engraçado: http://grafonolandia.blogspot.com/2011/02/apocalipse-now.html

    (desculpem o alojamento e a desarrumação :D)

    A mitologia Maia descreve q o universo terá sido criado num jogo de “pok-ta-pok”, o tal muito semelhante ao futebol e que poderá ser um primórdio do futebol (blheque, tribalismos… :P). Um jogo de “pok-ta-pok” era então um ritual de recriação do nascimento do universo e, por isso, estava carregado de simbolismo religiloso.

    Parece é q não há consenso quanto a quem é que era sacrificado, se os vencedores se os perdedores… 😀

    É que os vencedores, por o serem, eram considerados dignos dos deuses… e alguém digno dos deuses era sacrificado… já os perdedores, por o serem, não seriam dignos de algo, que naquela civilização, era tido como uma honra.

    1. Oi Ana, tentei o site grafonolandia, mas precisa me passar um convite. Obrigado..

  1. Sim.
    Já aumentei a minha explicação em cima. 😉

  2. Se calhar não me expressei bem. Ao que eu me estava a referir era sobre esta frase: “Por esse motivo, a cada 780 dias, o nosso planeta ultrapassa Marte, que parece andar para trás, na abóbada celeste, num movimento que dura cerca de 75 dias.” 🙂
    Este movimento dá-se o nome de movimento retrógrado aparente, certo?
    Abraço

  3. ccvalg.ptscientificamerican.com…

    Nota que o aparente movimento retrógrado é só numa pequena parte da sua órbita:
    http://www.ccvalg.pt/astronomia/noticias/2007/11/14_marte.htm
    (e sim, esse é o movimento retrógrado aparente)

    De resto, penso que tens razão.
    A Terra tem uma órbita menor que a de Marte.
    O que leva a que a Terra demore 365 dias terrestres para dar uma volta em redor do Sol.
    Já Marte demora cerca de 686 dias (terrestres) para dar uma volta ao redor do Sol.
    365 é menos que 686.
    Logo, a Terra tem um período de translação menor.

    Já corrigi.

    Já agora, dois artigos também sobre isto:
    http://ceticismo.net/religiao/grandes-mentiras-religiosas/o-fim-do-mundo-em-2012/
    http://www.scientificamerican.com/article.cfm?id=solar-cycle-may-have-tumb
    (relação com a actividade solar)

  4. Só uma pergunta, esse movimento sobre a Terra e Marte dá-se o nome de movimento retrógado aparente, certo?
    Obrigado

  5. Bom dia,
    Excelente artigo!
    Só queria fazer uma observação. Quando dizem que “Marte tem um período de translação menor que o da Terra” isto está incorreto. Penso que, para ser uma afrirmação verdadeira, deveria ser das duas uma: Marte tem um período de translação maior que o da Terra ou A Terra tem um período de translação menor do que Marte.

    Cumprimentos

  6. Sobre as canetas BIC, a parte das conspirações extraterrestres é realmente de partir a rir!!
    😀

    “Documentos secretos encontrados no final do ano de 2001 indicam um envolvimento direto da NASA com a BIC. Também foram encontrados documentos oficiais da NASA, onde estavam registrados estudos sobre uma possível invasão de sondas extraterrestres no Planeta Terra.
    Acredite ou não,estamos sendo vigiados a anos sem percepção alguma. De facto, conclui-se que as canetas BIC são sem sombra de dúvida sondas extraterrestres que nos inspecionam diariamente, desde nossa infância até hoje, em casa, na escola, na universidade, nos hospitais, no trabalho, em tudo. Certamente você está exposto a uma caneta BIC neste exato momento”

    Só faltou dizer que essa invasão extraterrestre era em 2012… previsto pelos Maias!!!

    LOLLLL 😀

  7. É o que dá não terem televisão… muito tempo livre para pensar sobre o “pouco” que podiam observar.

    Relativamente ao Sporting… talvez seja exactamente ao contrário. Talvez ficassem bem melhor com uma equipa toda nova…

  8. Resumindo e concluindo:
    Os Maias eram meticulosos observadores do céu.
    O grande problema deles, eram as interpretações que faziam.

    O que me leva à próxima conclusão: se a tua TV mede 63cm, então é qual animal decapitado?
    😛

    E que me leva a outra consideração: se no final de jogo, se decapitasse os perdedores (como na mitologia Maia)… o Sporting hoje estaria pior do que na realidade está. Ou seja, apesar de perder, é só boas notícias para o Sporting!!!!
    😛 😛 😛

  9. Na verdade não previram – demonstraram que o homem é louco por observação e matemática! 🙂

    Quanto à BIC… 😀 Sensacional!!!

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