Crateras marcianas com nomes portugueses: a cratera Aveiro

Provavelmente muitos de vós desconhecem o facto de existirem crateras em Marte cuja designação oficial teve origem em localidades portuguesas.
A nomenclatura das formações geológicas dos planetas e satélites do Sistema Solar está a cargo do Working Group for Planetary System Nomenclature (WGPSN) da União Astronómica Internacional (UAI), e respeita um conjunto de regras e convenções bem definidas. No caso do planeta vermelho, as crateras com um diâmetro inferior a 60 km recebem os nomes de cidades e vilas de todo o mundo com menos de 100 mil habitantes. Como demonstra uma rápida busca no site do WGPSN, são 4 as crateras marcianas com nomes de localidades de Portugal. Estes locais não receberam até hoje grande atenção por parte da comunidade científica, mas não deixam ainda assim de estimular a minha curiosidade relativamente ao seu aspecto. Tive de me embrenhar nas bases de dados das diversas missões a Marte para encontrar imagens destas estruturas, e descobrir alguns aspectos interessantes da sua geologia. Foi este o pretexto para iniciar convosco um pequeno périplo por estes locais, uma viagem com partida na cratera Aveiro.


A cratera Aveiro num mosaico de imagens obtidas a 31 de Março de 2004 pelo instrumento THEMIS da sonda 2001 Mars Odyssey (ver aqui imagem original).
Crédito: NASA/JPL/Arizona State University.

Aveiro é uma cratera de impacto com cerca de 9,11 km de diâmetro, situada a nordeste de Tharsis Montes, a meio caminho entre Kasei Valles e a cratera Fesenkov. A sua formação é posterior às erupções que à cerca de 3,36 mil milhões de anos cobriram de lava toda a planície em redor.
Os numerosos barrancos que sulcam a vertente norte são talvez os pormenores mais interessantes visíveis em toda a cratera. Tal como acontece em outros locais em Marte, estas estruturas aparentam ter sido esculpidas recentemente por água corrente proveniente de lençois de gelo subterrâneos.


Barrancos na vertente norte da cratera Aveiro. Imagem obtida a 14 de Março de 2003 pela sonda Mars Global Surveyor (ver aqui imagem original e imagem de contexto).
Crédito: NASA/JPL/Malin Space Science Systems.

Próxima paragem: cratera Coimbra.

15 comentários

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  1. Caro Zé,

    Fiz essa observação no facebook e só depois pensei nisso: a cratera Lisboa (o mesmo se aplica à cratera Funchal) teve o seu nome aprovado em 1979, numa altura em que, ou as regras eram diferentes ou a população era inferior a 100 mil habitantes.
    🙂

    Quanto aos vales, surgem com os nomes Tagus, Durius e Munda respectivamente.
    😀

  2. De facto, tb há vales com os nomes antigos de Tejo, Douro e Mondego. Além da cratera Magelhaens (os americanos nunca acertam no nome do Fernão…). Quanto às crateras, temos o caso curioso de Lisboa se ter infiltrado entre cidades com menos de 100 mil habitantes… ou não. É que essa cratera, por sinal a mais pequena das 4, foi baptizada há mais tempo, numa altura em que se aceitavam nomes de portos terrestres para crateras…

  3. Agora seguem-se as crateras Fundão, Buraca e Redondo 😀

  4. 😀

    • Ana Guerreiro Pereira on 06/03/2011 at 00:10
    • Responder

    Sérgio, quem sabe, um dia possa ter areia na camioneta 😀 😉 obrigada de qq forma (e pode-me tratar por tu se quiser).

  5. LOL
    Partilho da tua opinião Carlos!
    😀

    @Ana: Tem toda a razão quanto ao formulário. Não a quis desencorajar.
    😀

    • Ana Guerreiro Pereira on 05/03/2011 at 22:58
    • Responder

    desculpem, é eis e não heis que se escreve. Agora ganhei esta mania do “heis” e sai-me sem querer… (o q será q freud diria disso?..)

    • Ana Guerreiro Pereira on 05/03/2011 at 22:55
    • Responder

    Ahahaha, mais facilmente conseguia fazer passar o nome Dragão!! 😛 com a justificação “o facto de o Dragão de Komodo ter sido uma das maiores surpresas da biodiversidade terrestre, ao se constatar a sua reprodução via partenogénese, pode ser tido como um símbolo de que quando se pensa que em certos modelos não surgirão mais novidades, heis que eles nos dão mais um capítulo do livro do conhecimento”…

    ahahah ;-p

    com lero lero convence-se qq um 😛 😀

  6. Acho que há um “specific scientific need to name a planetary surface feature”, com o nome BENFICA!!!
    😀

    • Ana Guerreiro Pereira on 05/03/2011 at 22:42
    • Responder

    Já estive a dar uma olhada e a primeira coisa que pensei foi: aiiii, isto é areia demais prá minha caminete… 😀 🙂

    E, de facto, tem-se: “This form is intended for use by members of the professional science community who have a specific scientific need to name a planetary surface feature”

    Acho que “pela piada de ter uma cratera com o nome da minha cidade natal” não é bem uma “specific scientific need to name a planetary surface feature” 😀

    • Ana Guerreiro Pereira on 05/03/2011 at 22:36
    • Responder

    Ena, eheheh, vou pensar no caso 😀 e talvez escolher então uma cratera (pronto, é desta q fazem de mim astrobióloga amadora 😀 – tive de deixar o bio na designação, por força de defeito de formação eheh).

    Obrigada! 🙂

  7. Infelizmente, Ana, nenhuma cratera recebeu ainda o nome Loulé. 🙁
    No entanto, o WGPSN avalia propostas apresentadas por qualquer pessoa. Tem apenas de mostrar qual o interesse científico da cratera que escolher para que o nome seja sujeito a aprovação. 😀
    Existe até um formulário para preencher: http://planetarynames.wr.usgs.gov/FeatureNameRequest

    • Ana Guerreiro Pereira on 05/03/2011 at 22:08
    • Responder

    Para quando a cratera Loulé?? :DDD

  8. Também desconhecia 🙂

    • Frederico Silva on 05/03/2011 at 02:53
    • Responder

    Desconhecia completamente!

    Em bom inglês americano: ‘Nice catch!’

    Cratera bastante interessante, e o nome igualmente interessante. Muito bom! 😀

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