Serão os cépticos demasiado antagónicos?

Quantos de vocês já acreditaram em algum momento da vossa vida em OVNIs (pilotados por extraterrestres ou intraterrestres), fantasmas, poderes psíquicos, médiuns, amuletos da sorte, astrologia, terapias alternativas duvidosas, triângulo das bermudas e monstro do Loch Ness? Quantos de vocês deixaram de acreditar nessas coisas porque alguém se chegou perto de vós e gritou “Tu és um estúpido e ignorante! Só um atrasado mental poderia acreditar nisso!”?

“Don’t be a Dick” foi o tema apresentado pelo astrónomo Phil Plait no The Amaz!ng Meeting 8 promovido pela James Randi Educational Foundation. O vídeo tem cerca de 30 minutos e recomendo vivamente que o vejam antes de continuar a ler.

Phil Plait – Don’t Be A Dick from

O Phil Plait tocou em alguns pontos bastante interessantes. Não só a nossa sociedade promove a fé como a mãe de todas as virtudes, como também a nossa própria biologia parece impelir-nos para a credulidade e superstição. O pensamento crítico não é natural para nós, tem de se ser aprendido e praticado, ninguém nasce céptico, ninguém se torna céptico de um dia para o outro e nem sempre é fácil aplicar o pensamento crítico a todos os aspectos da nossa vida.

Não consigo evitar sorrir sempre que vejo esta imagem, mas a bem da verdade a legendagem não podia estar mais errada. Não se deixem enganar pela ideia romântica da «idade da ciência e da razão». Nós continuamos em minoria e em desvantagem. O grande e gordo lutador de Sumo de 180 kg no meio da arena não é a ciência, é a superstição. A ideia central de Phil Plait é de que o escárnio e o insulto podem até dar alguma satisfação pessoal imediata, podem até ser aplaudidos pelos nossos pares, mas o objectivo será pregar ao coro ou educar os outros? Porquê complicar ainda mais as coisas quando estamos em desvantagem?

E o ser antagónico não se resume somente aos insultos gratuitos. Será que precisam mesmo de dizer ao vosso sobrinho de 6 anos que o Pai Natal não existe? Será adequado interromper um funeral a meio para dizer que não existe nenhuma base racional para acreditar que a avozinha vai para uma espécie de Disneylândia no espaço onde vai ser feliz para toda a eternidade?

Quando comecei a escrever sobre cepticismo era tudo menos assertivo, digamos que entre outras coisas empregava a palavra idiota como se de uma vírgula se tratasse. Eu pensava que daria mais graça aos posts e o relativo anonimato que a internet oferece, conjugado com a adolescência, deu também o seu contributo. Depois de reflectir melhor sobre o assunto, prometi a mim mesmo que iria deixar de fazer isso. Não faz sentido algum estar a chamar os crentes de idiotas quando eu próprio já “fui” um crente, é quase como se estivesse a culpar a vítima. E o “fui” está entre aspas porque não é pelo facto de me ter tornado num céptico que me transformei num ser perfeito e infalível que nunca mais será enganado por nada nem ninguém.

Confesso que continuo a não ser um exemplo a seguir, sou apenas humano e em certas situações não resisto a utilizar o sarcasmo e o ocasional “homeopateta” (têm pelo menos de admitir que fica no ouvido). E é certo que a minha delicadeza tende a diminuir quando tenho de lidar com “missionários de teclado” sem um pingo de honestidade intelectual que me tentam inundar com verborreia pseudocientífica. Comentários como os que surgem aqui fariam o sangue de muitos ferver. Os meus parabéns ao Pedro Homero, L. Abrantes e a todos os que fazem parte do movimento 10:23. Eu invejo a vossa paciência!

Mas a questão permanece: menos antagonismo equivale necessariamente a melhores resultados? A experiência diz-me que mesmo não utilizando qualquer tipo de escárnio algumas pessoas vão sempre acabar por se sentir molestadas. O simples facto de colocar em causa a crença de estimação de alguém pode provocar por si só uma resposta inflamada. Convém não esquecer que existe toda uma bagagem emocional que se encontra associada às crenças pessoais. Não é incomum a conversa degenerar em insultos, por parte dos crentes, depois de todas as suas racionalizações e falácias lógicas terem sido refutadas.

Talvez se devam então colocar outras perguntas como foi sugerido por Matt Dillahunty:

– Quantos de vocês mudaram de posição depois de as vossas crenças terem sido contestadas por alguém?

– Quantos de vocês mudaram de ideias depois de uma discussão inflamada?

– Quantos de vocês mudaram de ideias depois de serem ofendidos?

– Quantos de vocês começaram a ficar mais cépticos da vossa própria posição depois de verem outras pessoas a serem humilhadas por tentar defender a mesma ideia?

– Quantos de vocês mudaram apenas de opinião em resultado de as pessoas terem tratado as vossas crenças com paninhos quentes?

As opiniões sobre este assunto parecem dividir-se, há quem tenha aplaudido o discurso de Phil Plait como algo que já devia ter sido dito há muito tempo, enquanto outros viram nele uma forma de acomodacionismo ou até uma desculpa para que certas crenças sejam pura e simplesmente isentas de criticismo. Existem bons divulgadores de ciência, desmistificadores do sobrenatural e críticos da pseudociência, como a astrónoma Pamela Gay, que são muito bons no que fazem, mas que por razões emocionais conservam algumas crenças (religiosas) às quais decidem abertamente não aplicar os mesmos padrões de escrutínio. Situação que tem criado algum desconforto na comunidade.

Eu não sei como teria reagido se alguém me tivesse chamado de idiota pelas crenças absurdas que mantinha, no entanto, posso afirmar que a faísca inicial que despoletou a minha mudança de mentalidade foi o facto de ter visto outros a serem chamados de idiotas pela famosa dupla de ilusionistas Penn & Teller

Pessoalmente não acredito que exista uma técnica ideal para chamar alguém à razão. E acho que a maior parte do antagonismo advém sobretudo da frustração de não se conseguir convencer ninguém a mudar de ideias numa única conversa. No entanto gosto de agarrar-me à noção de que o nosso diálogo, por mais improdutivo que seja, poderá servir para que observadores externos comecem a reflectir sobre a questão (tal como aconteceu comigo). Acho que ter esta ideia em mente ajuda a reduzir a decepção da ausência de resultados imediatos e da frequente sensação de estar a conversar com uma parede.

Espero os vossos comentários. But please, don’t be a dick 😉

19 comentários

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  1. Caros:

    Não tenho tempo de ver o filme do Phil, já que tenho uma tecnica de ler na diagonal que garante 30% de sucesso em cerca de 80% do texto, mas não posso ver filmes acelerados porque a voz fica fininha e irrita-me.

    O que eu quero vos dizer, é que às vezes é dificil um tipo manter a calma e segurar o ad hominem que alivia a alma. Errar é humano. Ok, ok. Isto é treta.

    Agora a sério, o que quero mesmo dizer é que algum sarcasmo e humor, são muitas vezes capazes de fazer pensar. E são em mistura aceites pela sociedade. Humilhar não. Isso só se quiseres criar inimigos ou malta que tenha medo de ti. Pode funcionar na politica, na religião, mas é pouco eficaz para divulgar a verdade. É como servir caviar acompanhado com vomitado de cotovia.

  2. Jesus Cristo disse “Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e com ele cearei, e ele, comigo” (Ap 3.20).

    Não importa se ele (Jesus) era real ou não, mas o significado dessa frase sim, importa. Ela significa que é impossível salvar alguém que não quer ser salvo.

    Se esse alguém não quiser abrir a porta da sua mente (ou alma), a salvação (seja ela qual for) não entra.

    No budismo se diz que não se pode encher uma xícara de chá se ela já está cheia (de outro chá ou outra coisa qualquer). Mais uma analogia, que busca mostrar que em mentes “fechadas” não entra nada.

  3. Marco,

    Kepler, Newton, etc, funciona como muitas pessoas da ciência actuais.
    Não têm Literacia Funcional, nem sequer pensamento crítico (que por definição é transversal).
    O que têm sim é um elevado conhecimento numa determinada área.

    Tal como dizes, as áreas estão separadas, e eles não sabem fazer essa transversalidade…

    Aliás, nenhum de nós tem essa transversalidade completa, e somos idiotas em diferentes alturas para diferentes áreas.
    Eu quando vou ver o Benfica, começo a insultar o árbitro mal entram em campo. É uma idiotice? É! Sou um completo idiota, parvo, … e o que mais queiras chamar!
    E reconheço isso!

    Não faz de mim melhor ou pior por ser idiota numa certa altura numa determinada área.
    Isso só faz de mim humano.

    Claro que reconhecer que somos idiotas ajuda… 😛

  4. @ Carlos

    Não temos definições diferentes, eu concordo que ter conhecimento não equivale necessariamente a ter inteligência, isto é, a capacidade de resolver problemas novos.

    Mas como explicar a Pamela Gay? Que aplica pensamento crítico a tudo excepto à sua religião. Já para não falar de Newton e a alquimia, Kepler e a astrologia e por aí fora. Não foram certamente estúpidos, mas como qualquer ser humano podem cair em patetices e disparates. O Michael Shermer fala de uma capacidade de compartimentação do cérebro para explicar isso. Se tem alguma validade, não sei…

    Pessoalmente, acho que é a emoção a principal culpada do melhor que a patetice humana tem para nos oferecer.

    Voltando ao meu próprio testemunho anedótico (que vale o que vale…), eu lembro-me de a certa altura andar tão fascinado com poderes psíquicos que nunca, mas mesmo nunca, me passou pela cabeça que se fosse possível levitar objectos apenas com a mente, então toda a gente andaria a fazer isso e todos os cientistas estudariam o fenómeno. Estas perguntas nunca surgiram por causa das minhas emoções, da força de querer acreditar. Foi só quando tive acesso a visões contrárias e vi outros a serem humilhados a tentar defender as mesmas ideias, que comecei a por em causa as minhas crenças de forma sistemática.

    É fácil esquecermo-nos, quando andamos a falar de racionalidade, que não somos robôs sem emoções. A ideia de nos acharmos superiores aos outros assusta-me precisamente por ser demasiado sedutora. E também porque faz-me lembrar o Sheldon 😛

    E porque não quero faltar à verdade, reparei agora que deveria ter dito que já não chamo ninguém de idiota… mas nos posts… para não estar a generalizar. Não quer dizer que quando encontro alguém realmente idiota, não lhe diga que é um idiota, normalmente um treteiro que de vítima não tem nada 😛

    Abraço!

  5. “Escrevi este post mais com o objectivo de convidar à reflexão e no seguimento da conversa que estava a decorrer na área dos comentários.”

    Sim, eu percebi. E concordo. Acho que todos temos direito à nossa opinião, e realmente escrever um post só sobre esta problemática seria o melhor
    😉

    Concordo com tudo… excepto com isto:

    “Estas pessoas não são idiotas nem incultas”

    Claro que essas pessoas são idiotas e incultas!!!
    😛
    Ou então, temos definições diferentes de inteligência.

    A inteligência não é sinónimo de Content Knowledge. Só por a pessoa ter mais informação sobre um assunto, não quer dizer que seja mais inteligente que a outra ao lado que não leu os livros respectivos.
    Se fosse assim, o meu telemóvel é mais inteligente que eu…

    A inteligência das pessoas vê-se nos assuntos sobre os quais não têm todas as informações de conteúdo necessárias.
    Daí que muitas pessoas da ciência são umas idiotas e ignorantes. Não porque não saibam sobre a sua área (podem até ser as melhores na sua área, porque têm esse content knowledge), mas falta-lhes o pensamento crítico necessário para aplicar análises racionais noutras áreas em que não são especialistas.

    Nota que quando digo que a pessoa é idiota, não estou a dizer que ela não possa ser conhecedora sobre certos assuntos. É uma idiota ou inculta noutros assuntos.
    Neste caso, falta-lhes porventura a mais importante característica da inteligência: aplicar o pensamento crítico de forma transversal a várias áreas (incluindo naquelas áreas em que não têm todas as informações necessárias – que são as áreas mais importantes para aplicar a inteligência).

    Como eu disse aqui:
    http://www.astropt.org/2010/07/27/roswell-explicado/
    “É muito fácil tirar as conclusões mais prováveis quando se tem todas as informações sobre o assunto. Ou seja, é fácil “saber pensar” quando se tem conhecimento sobre o assunto. O espírito crítico é muitíssimo mais importante quando não se tem as informações sobre o assunto. Aí sim é que se vê se a pessoa tem espírito crítico ou não (se preferir continuar a seguir as suas crenças/desejos pessoais).”

    Tudo isto tem a ver com Literacia Funcional.
    Para mim, a Literacia Funcional é ter inteligência.
    Para ter Literacia Funcional, ou seja, para ter a Literacia necessária para viver no mundo científico actual, a pessoa tem que saber avaliar as inúmeras informações que lhe chegam de todo o lado e sobre uma miríade de assuntos.
    Essa literacia/inteligência não se vê por saber bastante sobre um assunto e especializar-se nele, mas vê-se na aplicação de pensamento crítico de uma forma transversal, sobretudo naqueles assuntos dos quais não sabemos tanto ou que passem por simples crenças/desejos (a auto-reflexão é uma das características do pensamento crítico).

    Esta é a minha opinião.
    Daí que quando eu chamo as pessoas de idiota, não é com um objectivo de insultar, mas sim como definição de que essa pessoa não está a utilizar o pensamento crítico, ou seja, não está a demonstrar Literacia Funcional.
    😉

  6. @Carlos Oliveira

    Ahah 😀
    Mas eu disse que não era exemplo para ninguém e sou ainda pior em posts mais antigos. Escrevi este post mais com o objectivo de convidar à reflexão e no seguimento da conversa que estava a decorrer na área dos comentários. Se tivesse sido eu a escrever o post sobre a ameaça pseudo não o teria feito sequer muito diferente. Nem todos podemos ser um Carl Sagan (tenho para mim que ele era na verdade um extraterrestre :P)

    Continuo a usar sarcasmo, não resisto, mas há muito tempo que não chamo idiota a ninguém, não porque ache que paninhos quentes surtam mais efeitos, mas pela razão que expus acima. Acho que nem sempre é uma questão de se ser estúpido ou ignorante pois há pessoas extremamente inteligentes que acreditam nas coisas mais absurdas. Talvez seja a falta dessa tal disposição mental para o pensamento crítico de que o Carlos fala, o tal ingrediente X. Eu tive uma prof de química orgânica que acreditava nos poderes quânticos dos cristais, um amigo de engenharia que espetava agulhas de acupunctura nas orelhas para estudar melhor, mas o que mais me chocou até agora, foi uma rapariga que andava comigo na Secundária me ter dito que respondia ao que fosse preciso nos testes para tirar boa nota, mas que ela sabia que a evolução era tudo mentira porque contradiz a Bíblia, entrou em Medicina (ela é testemunha de Jeová e não sei como tenciona conciliar a sua fé com as transfusões de sangue). O criacionismo não está limitado aos EUA, até porque muitas das seitas religiosas originais de lá estão também a operar em Portugal.

    Estas pessoas não são idiotas nem incultas, mas acreditam em coisas absurdas. O facto de serem inteligentes torna-os ainda melhores a arranjar desculpas e racionalizações.

    O “dick” é relativo aos olhos de quem vê e ao ego de cada um, agora temos de concordar que certas coisas são mesmo aberrantes. Uma coisa é usar sarcasmo nos posts, outra é a provocação gratuita e outra ainda é ir de câmara em punho e oferecer 20 dólares a um casal de sem-abrigo para riscarem a palavra “Deus” de um cartaz e depois meter no Youtube. Isto quando já se sabe à partida que eles têm uma mente tão fechada que não o vão fazer (especialmente com a câmara ligada). Quer dizer, qual é o objectivo desta humilhação? Provar que as crenças religiosas são irracionais? Está bem, mas isso já eu sabia. (E sim, isto aconteceu mesmo).

    O discurso do Plait tem alguma validade, mas também é verdade que parece ter sido feito à medida das queixas dos religiosos que fazem parte do movimento céptico e que se sentem desconfortáveis com o aumento de “novos” ateístas…

    «Porque o grande problema dos ciclos de pseudo-ciencia, é precisamente a atitude de “laissez-faire” dos cientistas… que leva a que os pseudos proliferem como baratas.»

    Eu concordo, mas também os compreendo de certa forma. Têm medo que o simples facto de dar atenção aos pseudos faça ainda pior. Tenho visto cientistas a tentar debater pseudos na televisão que fizeram um péssimo serviço porque simplesmente não fizeram o trabalho de casa e fiaram-se que o seu conhecimento de factos científicos era o suficiente. Estou-me a lembrar de um cientista a debater um negacionista do aquecimento global. É preciso conhecer os pseudos e os seus truques.

    Eu não tenho ilusões, eu sei que há pessoas que é impossível mudar, especialmente aquelas a quem eu gosto de chamar treteiros, que não se interessam minimamente pelo ideal de verdade. Mas se eu mudei é porque é possível mudar pelo menos alguns, se eu tinha ou não o tal ingrediente X já dentro de mim não sei. Sei que estou rodeado de crentes todos os dias, alguns são meus amigos, outros até família, e a minha vida seria um autêntico inferno se desatasse a chamar todos de idiotas. Basicamente concordamos em discordar…

    PS: Todas as outras coisas do comentário do Carlos que não foquei foi porque concordei, ou escaparam-me porque já estou cheio de sono 😛

    Boa noite

  7. colbertnation.com…

    Já agora, gostei desta entrevista que vi ontem:
    http://www.colbertnation.com/the-colbert-report-videos/376922/march-09-2011/david-brooks

    A conclusão que tirei: as pessoas tomam decisões e fazem escolhas, de forma emocional, irracional.

    Ou seja, podes utilizar a razão, podes utilizar argumentos racionais e correctos, podes dar toda a informação necessária que quiseres, que as pessoas tomarão sempre as tuas palavras dependendo da crença delas – não objectivamente, mas sim subjectivamente.

    A parte inconsciente, irracional, é importante. E isso faz-nos dar valor a certas coisas.
    Esse valor que damos é subjectivo – é independente da informação que nos está a ser dada.

    Ou seja, mais uma vez, o que se passa no receptor é muito mais importante do que o emissor
    😉

  8. Já agora, cá fica mais um post meu sobre esta problemática:
    http://www.astropt.org/2010/11/04/o-fim-esta-proximo/
    “Colocar as pessoas em dúvida sobre as suas crenças, ou provar-lhes que estão erradas, faz com que as pessoas defendam mais as suas crenças por mais irracionais que os argumentos sejam.”
    http://blogs.discovermagazine.com/notrocketscience/2010/10/19/when-in-doubt-shout-%E2%80%93-why-shaking-someone%E2%80%99s-beliefs-turns-them-into-stronger-advocates/
    “You don’t have to look very far for examples of people holding on to their beliefs in the face of overwhelming evidence to the contrary. (…)
    Their study also casts the acts of advocates in a different light. They might be outwardly trying to change the minds of other people but their actions could be equally about bolstering their own beliefs.”

    Ou seja, a minha interpretação é simples: quem pensa que é com mais informação e menos insultos (ou seja, com paninhos quentes e paciência) que consegue mudar a forma das pessoas pensarem, está redondamente enganado tendo em conta alguns estudos que existem.
    Ser um “dick” tem exactamente o mesmo resultado que dar mais informação pacientemente.
    E o resultado é simples: as pessoas vão-se ligar mais às suas próprias crenças.

    Conclusão: a mudança das pessoas depende muito mais do receptor, do que do emissor.

  9. Eu percebo que este post tenha vindo desta discussão:
    http://www.astropt.org/2011/02/21/ameaca-pseudo/

    Eu respeito as opiniões de cada um.

    Aliás, o Plait (e tu) disse que quando era mais jovem era crente em várias coisas. Curiosamente, o mesmo me aconteceu a mim.
    Mas quando ele diz: “ninguém me chamou idiota”, parece-me que inconscientemente mente. Ou ele não falava com cépticos na altura, ou então provavelmente foi chamado de idiota. E no entanto, mudou… porque, como ele diz, o que se diz em momento A não é crucial. Porque as mudanças são graduais, e depende da pessoa querer mudar por si própria – algo também já referido em comentários anteriores, e que é o mais importante em toda esta discussão. A pessoa tem de querer mudar, tem de haver esse nível intelectual da pessoa, de ser céptica em relação àquilo que pensa. A pessoa tem de estar em determinado nível de desenvolvimento intelectual em termos de pensamento crítico (mesmo acreditando em várias coisas)… como diria Piaget quando escreveu sobre a evolução mental, para se saber o que se ensinar nas escolas.

    Por outro lado, quando Plait faz a pergunta: já acreditaram em algo? Ora, isto é um argumento não-racional, porque é um lugar-comum. Sabe-se que toda a gente acredita e acreditou em algo. Logo, não pode usado como argumento. A utilização de lugares-comum é um argumento pseudo de modo a levar as pessoas para aquilo que queremos “vender”.

    A 2ª pergunta dele é se essa crença se perdeu porque a pessoa foi insultada? Este é mais um argumento que não pega, porque a resposta é óbvia: não.
    Ou seja, pela 2ª vez, ele faz perguntas em que se sabe as respostas – ele está a usar um artifício argumentativo, mas que na prática não quer dizer nada.
    Mais, nesta 2ª pergunta, ele assume (a divisão entre estratégias) que se a pessoa tenta explicar convenientemente, a outra pessoa vai perder as suas crenças pessoais, o que é o oposto do que ele disse no resto da palestra.

    De resto, concordo com ele.

    O problema parece-me ser de realismo vs. idealismo.

    Em teoria, parece uma ideia muito bonita.
    Na prática, não funciona.

    O Phil Plait, por exemplo já foi chamado de “dick” várias vezes.
    Quando o vês em sítios em que recebe para educar/divulgar, é óbvio que se torna mais profissional, mas em discussões informais a teoria não corresponde à realidade.
    Aliás, ele próprio intitula-se (na palestra) “science evangelist”. E ele próprio na palestra diz que está a “tentar” ser “melhor”.
    O que me parece é que ele se esquece que está a lidar com Humanos em que ele próprio é Humano.

    Marco, o teu próprio site, apesar de gostar dele e ter posts excelentes, alguns posts parecem-me demasiados “forte”, de “ataque por ataque”, ou seja, “dickish”
    😛

    O que é normal.
    Porque o grande problema dos ciclos de pseudo-ciencia, é precisamente a atitude de “laissez-faire” dos cientistas… que leva a que os pseudos proliferem como baratas.
    Em alturas em que há cientistas “sem medo”, com atitudes de completos “dick” como Galileu ou Huxley (totalmente contrários aos diplomatas que o Plait defende), foi quando a ciência deu grandes saltos em termos de conhecimento da população.

    Se há estudos que provem uma relação directa desse fenómeno? Desconheço. Provavelmente não há.
    Mas do que eu sei de história da ciência, posso tirar essas conclusões por mim.

    Como mostram vários estudos é quase impossivel fazer as pessoas mudar de forma de pensar (como disse o Plait e os comentários acima), e como se pode ver na prática, essa é a realidade.

    A verdade é que há 2 géneros de pessoas, como eu já expliquei aqui:
    http://www.astropt.org/2010/05/25/nos-contra-eles-a-diversidade-humana/
    As que querem evoluir, e as que querem ficar na mesma.

    Ele deu um exemplo de uma crente em Criacionismo que queria evoluir. Assim, é normal que as pessoas evoluam, e procurem mais conhecimento.
    Já apanhei uma aluna igual, na minha aula de astrobiologia – que inclusivé veio falar comigo em privado dizendo-me aquilo que acreditava. No final do semestre (já depois das notas serem dadas), veio ter comigo a dizer que achava o Criacionismo uma carrada de mentiras, e que eu tive grande influência nessa mudança dela. É certo que sei que não terei sido a única influencia, obviamente. O próprio ambiente universitário, e várias aulas dela, fizeram certamente com que ela reflectisse mais.
    Mas a grande diferença nestes casos é que:
    – ela queria aprender mais; só precisava que alguém lhe explicasse os assuntos.
    – mesmo que não se apercebesse, ela tinha uma mente aberta para novas ideias.
    – eu estava a trabalhar, e não a escrever num blog.
    – a mudança demorou alguns meses, e não foi por causa de um post que ela viu escrito num blog.

    É preciso perceber as especificidades de cada situação e não generalizar que deve ser feito assim ou assado.

    Até porque não sei se o caso da minha aluna é normal. Se calhar, não.

    Aqui lida-se muito com as pessoas que querem ficar na mesma. Mesmo visitando centros de ciencia, esse conhecimento que lhes é dado, é só para comprovarem a crença que têm (como disse o Plait). Nunca põem nada em causa.
    Percebi isso perfeitamente quando trabalhei no Maryland Science Center e lidava com Criacionistas.
    Aliás, existe um programa de sucesso na TV em que um pai e uma mae criacionistas têm 18 filhos. Os filhos só vêem programas religiosos. E periodicamente vao visitar o Museu da Criação (romaria como se fosse a Fátima), onde vêem os dinossauros a viver com crianças. Para eles, o filme Flinstones é um documentário histórico!
    A filha mais velha do casal, casou há pouco, e diz que quer ter mais de 20 filhos e ensiná-los da mesma forma.

    Só aqui nos EUA são mais de 100 milhões assim… daí que este filme acerta no alvo quando diz que seremos uma civilização de idiotas dentro de uns anos:
    http://www.astropt.org/2009/11/15/idiotas/

    A este tipo de pessoas, podes dizer o que quiseres, que eles não vão mudar de opinião.
    Eu lembra-me de eles aparecerem aqui pelo observatório e dizerem que o Homem nunca foi à Lua, porque Deus não deixa… é tudo uma conspiração do Governo. Quando lhes é explicado que foram 6 missões em vez de só 1, eles perguntam se eu estive lá para ver. Porque se não estive, então ando a acreditar em livros mentirosos.
    Ou então quando se lhes mostra o feixe de luz que constantemente se envia para a Lua, de modo a ser enviado de volta pelos Reflectores lá deixados pelos astronautas… eles dizem que estamos a enganá-los com truques baratos feitos em computador.
    Posso-te dar mais 30 exemplos semelhantes… mas acho que já se percebeu.

    Podes até tentar o método construtivista, de deixá-los a eles chegarem às respostas, a partir da racionalidade por eles entendida…
    Mas não podes construir nada a partir de algo que não existe. Até para o Big Bang existiu uma “sopa” de energia primordial. Neste caso, eles não têm os fundamentos básicos da racionalidade, nem querem ter. Basta-lhes a sua crença, independentemente do que digas. E quanto mais lhes explicares, mais “dick” te tornas aos olhos deles.
    Se lhes disseres que somos feitos de átomos, por exemplo, eles perguntam-te como sabes. A não ser que tenhas um “laboratório” à mão, isso não passará de uma discussão de crenças. Mesmo que tenhas microscópios, eles vão dizer que aquilo é um truque da máquina. E como não tens um microscópio à mão potente o suficiente para lhes mostrares átomos, eles ficam na crença que é tudo invenções de cientistas.
    O mesmo para exemplos de laboratórios de biologia… ou observatórios de astronomia, etc…
    Quanto mais lhes tentares explicar e até mostrar as coisas, mais “dick” te tornas aos olhos deles.

    Aliás, ao contrário da critica ao post anterior:
    http://www.astropt.org/2011/02/21/ameaca-pseudo/
    Basta ler os comentarios ao post sobre a Profecia Maia em 2012, para perceber a irracionalidade de muitos “fence sitters”, como “são chamados”.
    É um post com todas as informações no post (que foi uma crítica feita ao post sobre a Ameaça Pseudo), e no entanto há muitos “fence sitters” que mesmo assim comentam de forma completamente irracional, ignorando as informações que constam no post. E isto já para não falar de todos os comentários que nem passam (sobretudo religiosos).
    São fence sitters, porque até se interessam por estes assuntos, até vêm ler estes blogs de ciência, e até perdem tempo a comentá-los com as suas opiniões.
    No entanto, percebe-se que não querem evoluir, e percebe-se que é indiferente o que escrevemos nos posts.
    http://www.astropt.org/2008/08/22/2012/

    Por mais informações claras e racionais que sejam colocadas nos posts, por mais que o assunto seja perfeitamente explicado, serás sempre um “dick” para alguns.
    Ignorar isto, é ignorar a realidade.
    😉

    Ou seja, o conceito de “dick” é relativo.
    Além de que a teoria é muito bonita, mas na prática, é a demasiada simpatia dos cientistas que em parte contribui para o estado da Literacia actual (a tal atitude de “laissez”).

    Dito isto, obviamente, como sempre, estou perfeitamente aberto a estar enganado.
    (as pessoas muitas vezes confundem a defesa forte das nossas opiniões, com arrogancia, ou falta de abertura a outras ideias, quando é mais uma “misconception” de quem não sabe avaliar o que se diz)

  10. @bigkax

    Nop, o vídeo faz parte de uma série feita por cépticos do blog Skepchick.
    Sinceramente não vejo problema em entrar na brincadeira, acho que é simplesmente deixar uma criança ser criança. Ok, nesta situação dava para ser neutro, noutras talvez não.

    Ele até fez um bom desejo, é pena que não se vá realizar, toda a gente sabe que não se pode dizer em voz alta 😛

  11. Sem mais informação diria que o vídeo do aniversario eram feito por crentes, dizer que é uma estupidez acreditar nisso durante um aniversario é estúpido mas apoiar desta maneira também o é, alem de ensinar hipocrisia. A acção mais correcta seria a do 4º “actor” que permanece “neutro”. Afinal o objectivo é incentivar raciocínio lógico e não as crenças pessoais.

  12. @ L. Abrantes

    Nem mais.

    Obrigado e continuem o bom trabalho 😉

  13. Excelente post!

    Admito que não é fácil aguentar com muitos dos não-argumentos dos proponentes de homeopatia. Mas em parte é também a falta de argumentos sólidos que torna óbvio para todos que aquilo que sustenta esta pseudo-ciência é apenas uma questão de fé.

    Em resposta ao título e fazendo eco do Phil Plait, é uma questão de objectivos. Fazemos o que fazemos para chamar alguém à razão ou é apenas para ridicularizar/menosprezar as crenças dos outros?

    Se é para chamar à razão, podes ser assertivo sem insultar e se as pessoas se ofenderem por isso (facto recorrente porque uma crença aparentemente está acima de qualquer escrutínio), paciência. As pessoas tendem a proteger as suas ideias/crenças quando sabem que não conseguem ou não sabem defendê-las de críticas, daí que se sintam ofendidas por tudo e por nada.

    L. Abrantes
    1023 Portugal

  14. @sergio

    “Pôr em causa aquilo em que se acredita, para se chegar a uma verdade maior, se para uns é natural, para outros é pôr em causa o seu próprio ser. Não é fácil para o ego, alguém virar-se para si próprio, dizer “fui estúpido (cego porque quis) a minha vida toda” ”

    Realmente, por esse prima, talvez nunca tenha sido um crente “a sério” 😛

    Mas é bastante comum ver isso por exemplo nas pessoas que se sujeitam ao desafio de $1000.000 do James Randi. Normalmente não são os aldrabões que lá vão, até porque não precisam de dinheiro, são os crentes genuínos, pessoas que se convenceram de que possuem realmente poderes mágicos. E quando lhes é demonstrado que isso não corresponde à realidade, simplesmente não conseguem encarar o facto e inventam mil e uma racionalizações para se manterem na fantasia.

    Eu não nutro ilusões de que seja possível convencer toda gente, já me dou por satisfeito com alguns, principalmente os que estão sentados em cima do muro.

  15. @ paulobg

    Ahah 😀
    Eu tenho tendência a fazer o mesmo, não consigo evitar, mas ao humilhar o guru da irracionalidade preferido de alguém, corremos invariavelmente o risco de molestar também os iludidos para os quais ele é um autêntico ídolo. É impossível agradar a todos…

  16. @ Mirian
    Eu não sei como teria reagido se me tivessem humilhado, mas provavelmente não estaria hoje aqui a escrever. E acho que a sua avó lidou muito bem com a situação, poderia ter simplesmente dito que era um disparate ou que a religião dela era a correcta, provocando uma acção defensiva da sua parte e reforçando ainda mais a sua crença. Felizmente não o fez.

    Quando falei de OVNIs coloquei “(pilotados por extraterrestres ou intraterrestres)” precisamente porque as pessoas têm a tendência a esquecer-se do que significa a sigla – objectos voadores não identificados. O facto de vermos uma coisa estranha no céu não significa necessariamente que única explicação sejam visitantes do espaço. O querer acreditar é tão forte que por vezes isso torna impossível dar a única resposta verdadeiramente honesta: “eu não sei o que era”.

    Acho que o espírito é mesmo esse, procurar sempre uma explicação racional. Procurar a verdade e não o que gostávamos que fosse verdade. Eu não nego que extraterrestres existam, eu apenas exijo ser convencido com provas decentes. 😉

    PS: O objecto que viu pode ter sido real e mesmo assim ter provocado uma “ilusão de óptica” nos pormenores observados. Já perdi conta às vezes que “vi” um gato ou um cão ao longe e quando chego perto constato que é apenas um saco de plástico 😛

  17. Haja respeito e bom senso.

    Acho que não existe nenhuma fórmula mágica (tirando talvez uma lavagem cerebral), mas tendo em conta o fim, julgo não justificar o meio. Tentar abrir os olhos de alguém à força, só criará maior esforço e empenho, por esse alguém, para os manter fechados… Pôr em causa aquilo em que se acredita, para se chegar a uma verdade maior, se para uns é natural, para outros é pôr em causa o seu próprio ser. Não é fácil para o ego, alguém virar-se para si próprio, dizer “fui estúpido (cego porque quis) a minha vida toda” e continuar alegremente, sem sentimento de culpa… ou seja, parece me que por vezes, face ao desmontar lógico e racional de n teorias, essas passam a ser defendidas quase exclusivamente por uma questão de orgulho.

    Assim, ou existe alguma predisposição para ver as coisas de forma diferente (e aí é uma questão de conseguir encontrar por onde se pode puxar) ou, é estar a tentar cultivar no deserto… pode ser feito? Parece-me que sim, mas dá uma trabalheira e nunca vai dar grandes frutos…

  18. Olá, bom artigo! Sobre o “Don’t Be a Dick” há que distinguir 2 tipos de “iludidos” os que iludem e os que são iludidos, aos primeiros digo “Be a Big Dick” aos segundos concordo em absoluto que o melhor é explicar-lhes “without being a dick”.

    abraço

  19. Quando eu tinha por volta dos meus 8 anos, estava lendo a Bíblia, na parte das profecias, aquelas mais terríveis. A minha avó, que não era da mesma religião, mandou que eu parasse com aquilo e fosse brincar. Eu disse que era importante eu saber aquilo.E ela me responde: papel aceita qualquer coisa. A partir daquele momento, não que a Bíblia tenha se transformado num livro sem fundamento, mas uma coisa a ser questionada. Minha avó não me ofendeu – se tivesse feito isso, provavelmente eu teria me arraigado àquilo que estava fazendo.

    Muitos, muitos anos mais tarde, minha própria avó gritou apavaroda, porque estava vendo algo no céu. Era como se fosse uma explosão. Cheguei lá a tempo para ver o final. Não tinha explicação para aquilo, a não ser um balão das festas juninas, com muitos fogos dentro e todos explodidos conjuntamente. Entretanto, aquilo continuou atravessando o céu no final da tarde. Ficamos todos na varanda vendo aquele objeto enorme que desfilava pelo céu, em forma de charuto, com luzes em foma de losango em baixo, cruzados. Passou por nós e continuou o seu caminho. O que era? Não sei.

    Chegamos a morar perto de uma base aérea militar. Uma vez um objeto passou perto e de lá se deslocaram, logo a seguir, jatos em seu rastro. Meu irmão viu e ficou assustado. O que era? Não sei.

    Ninguém da familia virou caçador de OVNI, mas acredita que para tudo existe uma explicaçào lógica, mas… também acredita em milagres – aqueles que a gente ainda não consegue explicar.

    Dizer para mim que o que vi era algum ilusào de ótica, é ignorar a minha própria inteligência. Dizer que sou crente e acredito em tudo que vejo, é não conhecer a pessoa a quem se dirige. E por aí vai…

    Explicar com bases lógicas certos eventos ajuda a enxergarmos além da “fé”. Afinal de contas, se Deus nos fez à sua imagem e semelhança, a lógica também faz parte do pacote. 😉

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