Alterações Climáticas, Sol, e Terramoto

Não conhecia o professor Igor Khmelinskii, da Universidade do Algarve, mas ele deu uma entrevista para o programa Bairro Alto, que me pareceu bastante interessante.
Vejam a entrevista:


Há coisas que me deixaram com dúvidas no que ele disse.
Por exemplo, ele diz que a matéria orgânica está na forma de carbono, petróleo, gás natural. Sendo assim, como é que ele sabe as quantidades que existem de petróleo? Pode haver mais gás natural que petróleo, por exemplo. Mas parece-me que ele assume nas contas que tudo será em petróleo. Ou não?
Por outro lado, porque não falou na hipótese inorgânica do petróleo? Certamente que lhe daria números mais altos…

Concordo totalmente com ele em várias coisas:
– os modelos climáticos são feitos de acordo com as nossas “crenças” iniciais.
– o dióxido de carbono não determina a temperatura: isso é visível nos gráficos utilizados até pelo Al Gore. A relação parece ser contrária: a temperatura influencia a quantidade de dióxido de carbono.
– o Sol afeta o clima de forma substancial, e nem nos damos conta: isto deve-se ao estudo do Sol ainda estar na sua infância.

Como já disse neste post (sobre o Climategate), onde fui muito mais específico, o Homem pertence ao ecossistema e por isso afeta o clima (se não afetasse é que era de estranhar… já que todos os seres afetam). Mas assumir que o Homem é tão importante para em poucos anos afetar ciclos que duram há milhares de milhões de anos, é fazer do Homem o ser mais importante na Terra, é até fazer do Homem mais importante que o planeta Terra – este é um tipo de antropocentrismo, que como qualquer antropocentrismo, não me parece correto. É pôr os humanos num pedestal.

Este tipo de pedestal vê-se em muitas coisas.
Por exemplo, muitos dos argumentos do “movimento verde” sofrem desse antropocentrismo, desse egoísmo humano.
Num planeta em constante mudança (a única constante no Universo é a mudança), muitos querem que o planeta continue sempre como está. Supostamente porque se não ficar assim, o planeta deixa de existir. Mas isso é mentira.
O planeta existe há mais de 4 mil milhões de anos, de muitas formas. Já houve alturas em que não teve oxigénio. E mesmo assim existia vida. Da mesma forma, há muita vida na Terra que agradeceria que o planeta tivesse muito mais dióxido de carbono, ou até que a atmosfera fosse de ácido sulfúrico, por exemplo. Há muita vida na Terra que acharia isso um paraíso.
Por isso é que os movimentos em “defesa do planeta” muitas vezes não o são. São sim em defesa do Homem, das condições para a sobrevivência do Homem, e não das condições para existir planeta ou para existir vida de diferentes formas. São movimentos para “salvar a Humanidade” (supostamente, assumindo que a Humanidade precisa ser salva dessa forma) e não para “salvar o planeta”.

Também concordo com ele que muita gente se aproveita para fazer dinheiro.
Os profetas da desgraça profeciam sempre o fim-do-mundo para uma altura próxima – sempre foi assim desde há milhares de anos.
É conveniente “alertar” as pessoas para desgraças que vão acontecer durante a vida delas, porque o histerismo favorece quem quer ganhar dinheiro à custa disso.
E como os crentes são obcecados por desgraças… a ideia de “fim-do-mundo” é uma mina de ouro…

Veja-se por exemplo as notícias sobre a central nuclear do Japão que foi afetada pelo terramoto.
Nada de importante aconteceu que afectasse o Homem.
De facto, tendo em conta a enorme quantidade de centrais nucleares existentes pelo mundo, e o número de acidentes que tem provocado, a energia nuclear tem-se mostrado como uma das mais seguras.
No entanto, devido ao Japão, imediatamente se formaram grupos no Facebook contra a energia nuclear e não sei que mais, colocando-a como o Diabo em pessoa.
Ou seja, o histerismo global de quem se deixa “levar por modas”, pelo extremismo, sobre algo que se mostrou muito pouco nocivo para o Homem.

Mas pronto, o medo vende… é isso que vemos em todas as histerias de “fim do mundo”. As pessoas deixam-se levar pela irracionalidade.

Mas voltando ao tema em causa.
Não nego as alterações climáticas. Somente digo que a mudança é a constante em tudo, incluindo no planeta Terra.
As mudanças são normais, fazem partes de ciclos que já duram há 4 mil milhões de anos, e que não temos forma de controlar. Temos simplesmente que nos adaptar, como disse Darwin, se quisermos sobreviver.
Não nego que o Homem influencia, mas não me parece que seja o fator vital para o “fim do mundo”.
Uma análise completa ao que eu penso, está neste post

Ainda sobre a entrevista, houve outra coisa que me chamou a atenção: ele ter falado do Piers Corbyn, deste site.
Parece-me uma figura polémica. Mas isso são todos aqueles que apresentam hipóteses contra a ortodoxia da altura, e que apresentam evidências para o que dizem.
Vejam esta reportagem:

É óbvio que concordo com ele que o Sol influencia o clima da Terra, e que não se tem em conta isso.
Ele ao ter em conta a influência do Sol, obviamente que inclui uma variável que lhe permite acertar mais vezes.
Penso que isto é lógico.

Olhando para este debate:

É óbvio que ele sai a ganhar.
Mas a razão parece-me clara: é um cientista que sabe do assunto a discutir com um não-cientista que vai nas carneiradas com o único objetivo de fazer dinheiro.

No entanto, quando ele entra por programas como este, perde a razão:

Este é um programa de conspirações que existe aqui em Austin. Por acaso, eu ouço-o e vejo-o na TV (o programa de rádio também é filmado) de vez em quando.
Quando ele diz que foram o Sol e a super-Lua que provocaram o terramoto no Japão, isso não faz qualquer sentido e vai contra os dados históricos da super-Lua, como expliquei neste post.

Agora, o que me parece é que o que ele está a dizer é que são fatores geofísicos que provocam terramotos, mas que as influências gravitacionais ajudam a esses terramotos serem mais fortes. Ou seja, não provocam, mas podem influenciar aumentando-lhes a “performance”. E aí sim, concordo.
As marés existem precisamente devido à influência gravitacional do Sol e da Lua na Terra… as marés altas do outro lado da posição do Sol, por exemplo, existem porque o Sol “puxa” a parte rochosa da Terra para si.
Logo, não me surpreende que a influência solar possa elevar a magnitude de um terramoto. Mas não o provoca. E isto é uma distinção fundamental que me parece que os defensores dos histerismos e teorias da conspiração não sabem fazer.

O objetivo deste post é fazer com que as pessoas não caiam em extremismos, e perceber que existem posições contrárias sobre alguns assuntos.
É preciso combater os alarmismos de fim do mundo, venham eles donde vierem.

P.S.: tudo o que eu disse aqui é ciência. E como tal, é discutível. Nada do que eu disse aqui está “escrito em pedra”, mas argumentos baseados em factos (evidências científicas) são opiniões informadas, já argumentos que rejeitam os dados da ciência são opiniões sem nexo. As respostas que ainda não existem para estes temas, só a ciência as poderá dar. Não são as crenças de cada um que levarão a um maior conhecimento. As pessoas são livres de ter a sua própria opinião; mas não são livres de inventarem os seus próprios factos.

7 comentários

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  1. O que eu disse, é que a matéria orgânica, e então os produtos da sua decomposição, gás natural, petróleo e carvão, formam-se a partir de fotossíntese. Isso deixa na atmosfera o oxigénio, cuja quantidade conhecemos. Sabendo essa quantidade, não custa calcular a quantidade da matéria orgânica enterrada, seja ela gás natural, petróleo, ou carvão. O resto – é comparar os “depósitos conhecidos” com o que está enterrado. O resultado – é que conhecemos apenas 0,3% (sendo esta uma estimativa superior, pois uma parte de oxigénio foi consumida nas reacções com rochas redutoras, facto bem conhecido aos geólogos).

  2. Estive a estudar na UAlg e nunca vi tal senhor… mas pronto, por vezes lá dão à costa algumas personagens interessantes.

    • Ana Guerreiro Pereira on 20/05/2011 at 11:57
    • Responder

    Certo, mas segundo o que me foi contado (já sabes porquê… :D), tb diz muitas parvoíces típicas de conspiracionistas. O Igor é uma figura muito polémica. E alerto: não é biólogo nem tem noções de biologia. É exímio na sua área, mas tropeça fora dela. 🙂

    1. Sim, claro.

      Percebe-se que ele mete água em algumas coisas. Não me parece que a ideia dele de aumentar o CO2 para aumentar o cultivo seja no mínimo recomendável…

      Eu limitei-me a referir as partes em que concordava com ele… mas há outras coisas que me parece que ele ou não sabe dessa especialidade (biologia) ou não se sabe explicar bem…

    2. Nota que ele ter falado do Corbyn é sintomático.
      São duas figuras polémicas, contra a ortodoxia… e que me parece que ambos se deixam levar pelos conspiradores em algumas coisas…

      Nota-se que são ambos excêntricos… contra o “conhecimento instalado”, o que é bom até para espevitar as ondas…

      Mas o que eu alerto é para não sermos levados pelos extremismos…

      Nem nos deixemos levar pelos conspiradores que dizem que o terramoto foi causado pela Super-Lua, nem nos deixarmos levar pela “carneirada” que o Aquecimento Global é criado pelo Homem e que vamos morrer dentro de 20 anos (como já se anda a ouvir há vários anos).

      É preciso entender as evidências científicas, é necessário saber criticá-las, e não sermos levados por crenças ou esquemas de marketing.
      É preciso combater os alarmismos de fim do mundo, venham eles donde vierem.

      Isto parece-me ser a lição principal.

        • Ana Guerreiro Pereira on 20/05/2011 at 12:46

        Isso, sem dúvida. Pessoalmente tendo, qd posso e qd estou em posição disso, combater os alarmismos á la al gore. No entanto, tb considero que não é com posições como a do Igor que se consegue isso. O público leigo não sabe distinguir o que é correcto do que não é e toma tudo como correcto (se bem que, segundo entendi, até o apresentador estava espantadíssimo LOL), pelo q vai atrás do que ele diz.

        Ele tem uma fixação pelo CO2 e mecanismos do CO2 😀 na parte da quimica-física da coisa, está correcto, mas depois falha a extrapolar e interpolar para a parte biológica e agronómica. Por exemplo, há diversos estudos que demonstram que as plantas q crescem em ambientes cheios de CO2 são nutritivamente defeituosas. Não é só de CO2 que uma planta vive: tb necessita de azoto, água e oxigénio (e luz solar, lógico), entre outros. E ele não leva isso em conta, adopta uma perspectiva reducionista de uma parte do sistema e esquece-se que algo como a biosfera não pode ser visto dessa forma, tem de ser abordado de uma forma ampla e dinâmica.

        O CO2 não determina a temperatura por si só, mas é um gás com efeito de estufa, isto é, capaz de reter calor na atmosfera. Ora, calor significa energia, energia significa movimento cinético de moléculas e movimento cinético traduz-se em temperatura. A temperatura é uma medida do estado vibracional das moléculas de um dado sistema 😀 não necessariamente do calor. Mas neste caso, o CO2 ao aumentar a quantidade de energia térmica que fica retida na atmosfera…aumentará a temperatura nessa zona. Logicamente que altas temperaturas numa zona significam baixas noutra e que aquecimento global não significa calor a rodos em todo o lado (uma noção errada que muitos têm). A temperatura tb influencia a quantidade de CO2, mas, o contrário tb é verdadeiro. Basta reparar no que acontece numa sala fechada cheia de pessoas: o CO2 exalado de imediato leva ao aumento do efeito de estufa e a temperatura na sala aumenta. O aumento de CO2 traduz-se num aumento global de temperatura, pois é um gás com efeito de estufa. Não há dúvida nisso. A questão é q as consequências desse aumento transitório podem ser uma diminuição de temperatura em determinadas zonas.

        O clima é um sistema tão dinâmico e tão imprevisivel que…só podemos ficar atentos e adaptarmo-nos. As mudanças já estão em curso e já são visiveis. É uma questão de nos adaptarmos.

        • Ana Guerreiro Pereira on 20/05/2011 at 12:58

        O que está correcto é que o CO2 não é o único gás com efeito de estufa e nem sequer é o mais potente. Infelizmente, é o mais abundante.

        O metano, por exemplo, é 20 vezes mais potente. Mas (para já) não é abundante na atmosfera. Os mais pessimistas temem que o aquecimento global derreta o chamado permanfrost e que com isso sejam libertadas quantidades imprevisiveis de metano…

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