55 Cancri-e: MOST Concorda com Spitzer

No dia 29 de Abril, noticiamos aqui a descoberta dos trânsitos do exoplaneta 55 Cancri-e. A equipa responsável pela descoberta, liderada por Joshua Winn do MIT, utilizou o telescópio espacial canadiano MOST para realizar as exigentes observações fotométricas no visível. Alguns dias depois noticiavamos também que uma outra equipa, liderada por Brice-Olivier Demory, igualmente do MIT, acabava de confirmar a descoberta desta feita com observações realizadas no infravermelho pelo telescópio espacial Spitzer.

No entanto, havia um problema. Os raios deduzidos para o planeta a partir das observações realizadas pelo MOST e pelo Spitzer eram inconsistentes. Segundo o MOST, o planeta teria um raio 1.6 vezes superior ao da Terra e sensivelmente o dobro da densidade média terrestre. Por outro lado, segundo o Spitzer, o planeta teria um raio 2.1 vezes superior ao da Terra e uma densidade média de 0.83 vezes a da Terra. Em termos muito simples, o planeta observado pelo MOST seria uma versão gigante de Mercúrio, com uma elevada percentagem de metais (ferro e níquel principalmente) na sua composição. Do lado do Spitzer, teríamos um planeta formado por metais e rochas (cerca de 79% da massa), materiais voláteis como a água (20% da massa) e possivelmente quantidades vestigiais de hidrogénio e hélio. A explicação mais provável para esta discrepância consistiria em alguma das equipas ter cometido um erro no processamento das observações ou na sua análise.

Há pouco menos de três horas (escrevo isto às 3:50 da manhã), a equipa de Joshua Winn disponibilizou uma versão revista do seu artigo original. Winn e os seus colaboradores realizaram uma análise minuciosa aos procedimentos de tratamento de dados usados pelo MOST e detectaram um erro num bloco de código recentemente adicionado ao software que realiza essa tarefa. Este erro no software tinha o efeito de sub-estimar a profundidade dos trânsitos do 55 Cancri-e e, consequentemente, sub-estimar o raio do planeta. A análise dos dados realizada pelos autores após a correcção do erro aponta agora para um raio planetário de 2.0 vezes o da Terra e uma densidade média de 1.1 vezes a terrestre, valores consistentes com os obtidos com o telescópio Spitzer.

Este caso mostra o quão importante na ciência é a verificação independente dos resultados publicados. Não fosse a detecção independente dos trânsitos com o Spitzer e a constatação da discrepância nos resultados, o erro no software de processamento de dados do MOST poderia ter passado despercebido durante muito tempo, possivelmente afectando os resultados de muitos outros artigos realizados com dados do telescópio. É também de salientar a atitude eticamente exemplar da equipa de Joshua Winn.

Podem ver o artigo revisto aqui.

10 comentários

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  1. A 55 Cancri B é uma pequena estrela vermelha.
    Portanto menos prejudicial ao planeta.

    1. desculpe, acho que vc está confundindo, o planeta orbita a estrela é 55 Cancri (a), uma estrela gemea do nosso sol, não uma anã vermelha.

  2. Olá Denis,

    sim, o planeta orbita a estrela em menos de um dia.
    Não é um bom destino de férias 😉

    Ab.

    Luís

    1. Luis, isso me suscitou uma pergunta: Já que o planeta esta tão perto assim da estrela, então porque ele não foi dilacerado ainda? Pelo que me consta quando um corpo celeste se aproxima demais de um outro muito maior, a força gravitacional do corpo maior destroça o corpo menor, então para um planeta ter um ano de algumas horas, ele provavelmente deve estar a 1 ou no maximo 2 milhoes de km de distancia. Bem, ao meu ver uma estrela como 55 cancri, praticamente igual a nossa provavelmente destroçaria um planeta que orbitasse tão perto ainda mais sabendo que a essa distancia o planeta deve estar liquifeito e muito mais flacido e maleavel. Então pq esse planeta ainda não foi destroçado???

      1. Denis,

        Eventualmente, o planeta lá cairá para a estrela.
        Mas demora tempo.
        Estamos a detectá-lo numa altura em que ainda não caiu 😉

  3. Com relação à distancia da estrela, é aquela mesma? Menos de um dia o ano? se está correta a distancia, então um planeta com o dobro do nosso tamanho, densidade e provavelmente gravidade orbitando um sol quase identico ao nosso tao perto É UM BAITA DESPERDICIO DE PLANETA…. afff….as vezes da vontade de bater na mãe natureza!!! ¬¬’

  4. Dou prioridade aos que dizem respeito a exoplanetas e mesmo esses por vezes não tenho tempo de ler tudo. Também leio artigos sobre outros temas como evolução estelar, tento estar a par do que sai do Kepler, CoRoT , etc….

    É complicado 😉

  5. É uma boa fonte, não consigo é ler todos os artigos… (tenho uns 600 por ler).
    Como consegues?

  6. Bem, tu tás sempre em cima do acontecimento 🙂

    Tens alguma linha direta com os investigadores? 🙂

    1. Não, não tenho.

      Para começar durmo pouco 😉 e quase todos os dias, às 0h GMT é actualizado o arquivo
      arxiv.org com “pre-prints” de artigos em várias áreas, nomeadamente astrofísica. Normalmente não me deito se dar uma espreitadela às novidades. E quando há novidades como esta, como dificilmente posso escrever um post a horas decentes por questões profissionais e familiares, faço-o noite dentro…

      O detalhe do erro no software de processamento do MOST está descrito na resposta do J. Winn a um revisor do artigo (é público).

  1. […] O ano passado foram detectados trânsitos do planeta 55 Cancri-e, com os dados a revelar que esta super-terra teria uma densidade superior à Terra. Ainda mais recentemente saiu a notícia que este planeta deveria ter água super-crítica e gelo […]

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