STS-135 – a última missão do vaivém espacial (I)


A 5 de Janeiro de 1972 o então Presidente Richard Nixon anunciava a iniciativa para o desenvolvimento de um novo veículo espacial.. “Decidi hoje que os Estados Unidos deveriam proceder de imediato com o desenvolvimento de um tipo completamente novo de sistema de transporte espacial desenhado para ajudar a transformar a fronteira espacial dos anos 70 em território familiar, facilmente acessível para os empreendimentos humanos nos anos 80 e 90”. Era assim dado o primeiro passo para a criação daquilo que hoje conhecemos como o vaivém espacial.

No dia 21 de Abril de 1972 os astronautas John Young e Charles Duke encontram-se nas Planícies de Descartes na superfície lunar durante a missão Apollo-16. Os dois homens recebem uma chamada do CAPCOM, Anthony Engand, no Controlo de Missão, Houston – Texas, que lhes informa que a Câmara dos Representantes havia aprovado com 277 votos a favor e 66 votos contra, o novo orçamento espacial que incluía os primeiros financiamentos para o desenvolvimento do vaivém espacial.

Quatro décadas após a conversação com os astronautas na superfície lunar, e três décadas após pela primeira vez os seus motores terem entrado em ignição para transportar humanos para a órbita terrestre a 12 de Abril de 1981, o vaivém espacial está pronto para voar uma última vez, com o vaivém espacial Atlantis na Plataforma de Lançamento 39A no Centro Espacial Kennedy, Florida, pronto para o lançamento às 1526UTC do dia 8 de Julho de 2011. O Atlantis irá transportar quatro tripulantes na sua 33ª missão desde que foi lançado pela primeira vez em Outubro de 1985, sendo este o 135º e último voo na história do Programa do Vaivém Espacial.

Esta 37ª e última visita à estação espacial internacional é designada para armazenar o complexo com a maior quantidade possível de mantimentos e peças sobressalentes para sustentar o laboratório e as suas tripulações na era pós-vaivém.

Ao comando da última missão está o veterano astronauta Christopher Fergusson, de 49 anos de idade, que irá fazer o seu terceiro voo espacial, todos tendo como destino a ISS. Fergusson foi Piloto do Atlantis na missão STS-115 em Setembro de 2006 e Comandante do Endeavour na missão STS-126 em Novembro de 2008.

O último Piloto do Atlantis é o astronauta Douglas Hurley, de 44 anos de idade. Hurley irá fazer a sua segunda missão espacial, tendo voado para a ISS a bordo do vaivém espacial Endeavour em Julho de 2009 durante a missão STS-127 que completou o segmento japonês da estação.

A Especialista de Missão n.º 1 é Sandra Magnus, de 46 anos de idade, veterana de duas missões espaciais. Magnus visitou a ISS em Outubro de 2002 na missão STS-112 que transportou uma das estruturas transversais para o complexo e regressou à Terra como um dos membros da Expedição 18, lançada a bordo do Endeavour como parte da tripulação de Fergusson na missão STS-126 em Novembro de 2008 e regressando à Terra com a tripulação da missão STS-119 a bordo do Discovery em Março de 2009 após 134 dias no espaço e 132 dias na ISS.

O Especialista de Missão n.º 2 e Engenheiro de Voo é o astronauta Rex Walheim, de 48 anos de idade, que leva a cabo a sua terceira missão espacial. O seu primeiro voo teve lugar em Abril de 2002 na missão STS-110 e regressou ao complexo orbital em Fevereiro de 2008 na missão STS-122 que transportou o laboratório espacial europeu Columbus.

A tripulação final do Atlantis está limitada a quatro elementos pois não está disponível qualquer vaivém espacial para servir como veículo de salvamento no improvável evento de o Atlantis sofrer qualquer tipo de dano ao seu sistema de protecção térmica durante o lançamento que o possa impedir de regressar à Terra. Neste caso, os quatro tripulantes teriam de regressar ao planeta a bordo das cápsulas russas Soyuz TMA num período de vários meses. Os quatro tripulantes irão transportar assentos personalizados Kazbek que poderão ser utilizados nas Soyuz caso seja necessário.

Nos seus 30 anos de serviço o vaivém espacial serviu para transportar 355 astronautas de 16 países.

No porão de carga do Atlantis estará o módulo logístico MPLM (Multi-Purpose Logistics Module) Raffaello que irá transportar no seu interior cerca de 3.920 kg de mantimentos para a ISS e seus seis tripulantes. O Raffaello faz assim o seu quarto voo para a estação, sendo utilizado pela primeira vez em Abril de 2001 no vaivém espacial Endeavour na missão STS-100. O seu último voo foi na missão STS-114 a bordo do vaivém espacial Discovery, a primeira missão após o acidente com o vaivém espacial Columbia.

O módulo logístico será retirado do porão de carga do Atlantis pelo braço robot da ISS, o Canadarm2, durante o quarto dia de missão e acoplado ao porto de atracagem do módulo Harmony que está voltado para a Terra. O Raffaello estará assim ao lado de um outro módulo semelhante, o Leonardo, que é agora um módulo permanente acoplado ao módulo Unity e que serve como espaço de armazenamento para os residentes da ISS.

O lançamento do Atlantis está programado para ter lugar quando a rotação da Terra coloca o Centro Espacial Kennedy no plano, ou corredor, da órbita da estação espacial. O lançamento serve também como o primeiro acto de um encontro cuidadosamente coreografado que mais tarde irá utilizar os motores de manobra do vaivém espacial para refinar a sua trajectória para se aproximar e acoplar com a estação espacial internacional dois dias mais tarde.

Uma vez chegados à órbita terrestre no dia do lançamento, Fergusson e os restantes membros da tripulação irão preparar o vaivém espacial para as operações orbitais, abrindo as portas do porão de carga e enviando imagens de vídeo e imagens fotográficas do último tanque exterior de combustível líquido que transporta os milhões de litros de hidrogénio e oxigénio líquidos que são consumidos pelos motores principais do Atlantis durante a sua viagem de 8,5 minutos até à órbita terrestre. A tripulação irá então manobrar o Canadarm e levar a cabo uma curta verificação do porão de carga e do seu conteúdo.

No dia seguinte, a tripulação irá utilizar o Canadarm para chegar ao lado direito do porão de carga para agarrar e manobrar o sistema de sensores OBSS (Orbiter Boom Sensor System) com um comprimento de 15 metros e que irá utilizar o seu sistema de observação laser e câmaras de alta fidelidade para inspeccionar as telhas de carbono reforçado ao longo dos bordos das asas e as telhas telhas do sistema de protecção térmica. A inspecção deverá ter uma duração de seis horas. Todas essas imagens juntamente com as imagens obtidas no dia do lançamento e as imagens obtidas pela tripulação da ISS durante a aproximação do Atlantis, serão enviadas para a Terra onde serão analisadas no Centro Espacial Johnson para garantir um regresso em segurança à Terra.

A tripulação irá também preparar-se para a sua chegada à estação no dia seguinte, verificando as ferramentas que serão utilizadas na aproximação e activando o mecanismo de acoplagem que os irá fixar com a ISS.

No Dia de Voo n.º 3, dois dias após o lançamento, o Atlantis será o centro das atenções quando acoplar com a ISS. Três horas antes da acoplagem os motores de manobra orbital do vaivém irão ser activados com o vaivém a cerca de 17 km atrás da estação espacial. Esta é a terminal initiation burn que colocará o Atlantis numa trajectória de intercepção a um ponto a 305 metros abaixo do complexo no vector radial, ou ‘R-bar’, uma linha imaginária entre a estação espacial e a Terra.

A partir deste ponto, Fergusson irá ocupar o seu lugar no convés posterior para voar o Atlantis ao longo da R-bar numa aproximação até 183 metros abaixo da ISS. Nesta posição, Fergusson irá realizar uma manobra de pirueta invertida denominada R-bar Pitch Maneuver (RPM) com uma velocidade de três quartos de grau por minuto. Esta manobra fará com que o Atlantis volte a sua parte inferior para os tripulantes da ISS Michael Fossum e Satoshi Furukawa, que a partir do interior do módulo Zvezda irão obter imagens com câmaras de 800 mm e 400 mm para documentar as condições do Atlantis. As imagens serão posteriormente enviadas para a Terra para análise.

Após a obtenção das imagens e finalizada a manobra RPM, Fergusson irá então orientar o Atlantis até um ponto a cerca de 122 metros da ISS directamente em frente da estação espacial no ‘V-bar’, vector velocidade, a direcção de viagem da estação e do vaivém. Fergusson irá então voar lentamente o Atlantis através de um estreito corredor, alinhando o anel do mecanismo de acoplagem com o seu alvo, o Pressurized Matting Adaptar 2. O contacto e captura para finalizar o encontro deverão acontecer minutos mais tarde.

Cerca de 90 minutos depois, ou uma órbita terrestre mais tarde, para permitir que ambas as tripulações levem a cabo a verificação da não existência de fugas nas interfaces de acoplagem, as escotilhas entre o Atlantis e a ISS serão abertas e as tripulações saúdam-se mutuamente para assim iniciarem mais de uma semana de operações conjuntas.

Imagens: NASA

5 comentários

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    • Ana Guerreiro Pereira on 08/07/2011 at 03:16
    • Responder

    Desculpem a ignorância, mas não estou a par da história dos vaivéns nem dos seus meandros, para além do que li aqui (e não estou por terras de astro assim há mto tempo 😉 ). E perdoem a possível pergunta totó, mas porque é que é, concretamente o último voo deste vaivém em especial (tem de se reformar?) e porque é q não vão existir mais vaivéns (falta de financiamento?) ?

    1. Estão velhos. 😉

      E sabes que só servem para chegar a órbitas ao redor da terra… nunca deram para se viajar pelo espaço 😉

  1. Parece-me um artigo que só olha para o umbigo do programa espacial norte-americano esquecendo-se do programa russo e do emergente programa chinês. O progresso espacial da Humanidade não é somente feito pelos EUA e dizer que o limite da exploração espacial são os 36.000 km é no mínimo absurdo quando ainda este ano quatro sondas se preparam para ser lançadas em direcção a Marte e Júpiter.

    No entanto, é um artigo que espelha a frustração dos EUA ao ficarem definitivamente e durante alguns anos sem um meio de acesso independente ao espaço.

  2. A revista “The Economist” de 2 de Julho 2011 tem a exploração espacial como tema de capa… em grande parte por causa do último voo do Space Shuttle.

    Trata-se de um artigo muito crítico (realista?) sobre o futuro da exploração espacial…

    Título:

    The end of the Space Age
    Inner space is useful. Outer space is history

    Link: http://www.economist.com/node/18897425

    Cito algumas afirmações que me parecem controversas e que poderiam talvez ser um tema para debates:

    Bye-bye, sci-fi

    It is quite conceivable that 36,000km will prove the limit of human ambition.

    It is equally conceivable that the fantasy-made-reality of human space flight will return to fantasy.

    It is likely that the Space Age is over.

    Today’s “space cadets” will, no doubt, oppose that claim vigorously.

    They will, in particular, point to the private ventures of people like Elon Musk in America and Sir Richard Branson in Britain, who hope to make human space flight commercially viable.

    But the market seems small and vulnerable.

    One part, space tourism, is a luxury service that is, in any case, unlikely to go beyond low-Earth orbit at best (the cost of getting even as far as the moon would reduce the number of potential clients to a handful).

    The other source of revenue is ferrying astronauts to the benighted International Space Station (ISS), surely the biggest waste of money, at $100 billion and counting, that has ever been built in the name of science.

    No bucks, no Buck Rogers

    But the shuttle is now over.

    The ISS is due to be de-orbited, in the inelegant jargon of the field, in 2020.

    Once that happens, the game will be up.

    The future, then, looks bounded by that new outer limit of planet Earth, the geostationary orbit. Within it, the buzz of activity will continue to grow and fill the vacuum.

    This part of space will be tamed by humanity, as the species has tamed so many wildernesses in the past.

    Outside it, though, the vacuum will remain empty.

    There may be occasional forays, just as men sometimes leave their huddled research bases in Antarctica to scuttle briefly across the ice cap before returning, for warmth, food and company, to base.

    But humanity’s dreams of a future beyond that final frontier have, largely, faded.

  3. O lançamento poderá ter que ser adiado devido ao tempo 🙁
    http://www.publico.pt/Ci%C3%AAncias/chuva-e-trovoes-podem-adiar-lancamento-do-vaivem-atlantis_1501565

    podiam adiar por mais 2 ou 3 meses… para eu poder ir ver!!!!! :-S

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