A árvore da discórdia

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É a primeira vez na minha vida que escrevo sobre um filme que ainda não vi. Tenho boas razões para o fazer porque o que se pretende neste post é conhecer a opinião de quem já o viu. O filme é «A Árvore da Vida», de Terrence Malick.

Malick é um realizador tremendo e muitíssimo respeitado – tal como sucedia com o falecido Stanley Kubrick, é um daqueles realizadores com quem os mais bem pagos atores em Hollywood desejam trabalhar apenas por uma questão de prestígio artístico.

As reacções ao filme têm sido tão díspares que só me aguçaram ainda mais a vontade de o ver.

Há pessoas que saem do filme em lágrimas; outras abandonam a sala trinta minutos depois dele começar. Muitas fazem-no ao intervalo.

Há quem tenha aplaudido no final; há quem se ria, com desdém. Há quem diga que foi o «pior filme que viu na vida»; há quem garanta que foi «o melhor filme que já viu na vida».

Pessoas andam à bulha em fóruns de discussão por causa de «A Árvore da Vida», como se estivesse em causa uma relíquia sagrada e não um filme.

Já vi pessoas a dizer que «nunca apanharam uma seca tão grande numa sala de cinema». Outras asseguram que «o filme mudou a forma como encaram a vida e o Cosmos». Já vi zonas de comentários onde as pessoas parecem divididas em trincheiras: de um lado, estão os que amam o filme; do outro, os que o odeiam.

Estes últimos dizem que é um filme «sem história ou estrutura narrativa»; os segundos dizem que é um «poema visual, uma experiência»; os que o detestam dizem que é «indulgente, pretensioso, com um espírito evangelizador cristão que se torna excessivo e insuportável»; os que o adoram contra-atacam, afirmando que só não gosta do filme quem é «burro, ignorante e sem sensibilidade para a arte»; os que não gostam sentem-se ofendidos e dizem que o filme só é bom para «pseudo-intelectuais e gente que gosta de se mostrar mais inteligente do que é». Os que estão a favor sentem-se picados e respondem normalmente com um «Idiotas, vão mas é ver os Transformers que isso é que é um grande filme».

Esta batalha verbal online já dura há vários dias. E tudo por causa de um filme.

Que filme é este? Alguém já o viu? O que tem assim de tão extraordinário que suscita reacções tão extremas?

21 comentários

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  1. Um dos profs. de astronomia aqui, diz que o filme é uma obra-de-arte 😉
    http://www.utexas.edu/know/2011/10/07/bromm_tree_life/

  2. Será a repetição da história “o rei vai nú”? Só os “inteligentes” o conseguem perceber 😛
    Também ainda não o vi, por isso não posso falar.

  3. como já se disse aqui todo o tipo de arte (incluindo o cinema) é susceptível de gerar opiniões positivas e opiniões negativas. faz parte desde sempre do próprio conceito de arte. por exemplo, não interessa, mas acabo de chegar de madrid onde tive oportunidade de ver ao vivo o Guernica do Picasso e eu acho-o espantoso, mas a minha mulher ficou desiludida! 🙂

    e de facto, pode gostar-se ou não da Árvore da Vida do Terence Malick (pasme-se: eu e a minha mulher concordámos desta vez e ambos adorámos loll), mas enquanto obra de arte é imperdível.

    obviamente se se pretender ver um filme de acção ou uma comédia romântica não se vai ver a Árvore da Vida (daí muita gente sair a meio, porque foram ao ‘engano’ pela presença do Brad Pitt – só esses saem, digo eu!). Quer “Noivos Sangrentos”, o seu primeiro filme, quer o seguinte “Dias do Paraíso” (para não falar de “A Barreira Invisível”) são também nessa perspectiva magníficos filmes, mas muito mais acessíveis ao público em geral.

    A Árvore da Vida é uma obra de arte (filme) que descreve o universo, a integração da humanidade neste espaço e neste tempo (que já foi dos dinossauros, como é expresso no filme) e a sua relação pouco-facilitada com a divindade (seja qual for). não sendo um filme religioso (eu também não), é na minha opinião uma oração perfeita e original. é um filme realizado com perspectivas de câmara únicas (as sombras quase que contam mais que os actores, apesar do elenco de luxo), com uma escolha de banda sonora inteligente (os coros são magníficos) e o enredo não é mais do que a expressão da nossa dor e desilusão (todos a experimentamos) num mundo de pessoas deste espaço e deste tempo, que se traduz na árvore-da-vida-de-cada-um (cena final).

    Dizer que não é um filme, mas um quase-documentário, é dizer que se fosse um documentário não valeria a pena vê-lo. na minha opinião considere-se um filme, um documentário, uma pintura ou um score, vale perfeitamente a pena trocarmos algumas horas da nossa vida (poucas) por este trabalho de Malick. Podemos gostar ou não (como do Guernica de Picasso), mas o importante é aprendermos que há formas diferentes de comunicar o que se pensa da vida. Isso pode não ser um processo fácil, mas certamente nos faz evoluir como seres humanos. e isso é a arte. goste-se ou não.

    na perspectiva da astronomia (presumo que seja por isso que a “Árvore da Vida” seja tão discutida nos fóruns do tema), a utilização de algumas imagens do Hubble de forma tão original (como retrato da emoção de vivermos num universo espantoso) é algo que nos deve orgulhar, porque como disse o director da NASA, autorizar a utilização de imagens do Hubble a um qualquer realizador ou ao Terrence Malick, não é a mesma coisa, porque o TM não é um realizador comum.

    Por tudo isso, gostem ou não, não deixem de ver o filme.

    1. Pronto, Pedro, convenceste-me. Excelente análise e comentário. 🙂

  4. Só achar piada á cena de porrada entre macacos no 2001 Odisseia no Espaço é no minimo curioso pois para esse tipo de gosto nada melhor do que um dos filmes do chuto no morris desculpem Chuck Norris.
    Como Ana G. Pereira disse “Como, por regra, no que respeita aos filmes procuro tudo aquilo que a realidade não me pode dar”, num filme gosto da imagem, do som, dos diálogos e efeitos especiais adoro. Como qualquer filme ou outra obra de arte o artista (realizador) transmite a sua visão de um evento ou obra, como tal temos de estar preparados para eventualmente sofrermos uma tentativa de evangelização. Quando isso me acontece tento ficar só com o trigo e deixo lá o joio. Até porque o tal Jesus tinha umas boas teorias sobre amor e de dar outras faces apesar de na prática ter andado à estalada no templo com os feirantes verdadeiro precursor da velha máxima faz o que eu digo não o que eu faço. Dito isto e porque gosto da national geographic parece que é um filme que vou ver.

    Off Topic o verdadeiro motivo deste post.
    Noto por vezes grandes dificuldades em aceder ao vosso blog, as páginas demoram uma entrada numa nave à Kubrick, fica aqui o alerta.

    • Ana Guerreiro Pereira on 08/08/2011 at 14:05
    • Responder

    Não vi, não sei, mas tinha ideia de que tem suscitado este tipo de reacções extremas: ou se ama ou se odeia.

    Qto aos transformers, já ouvi q é a maior parvoice e seca que já se apanhou na vida 😀

    Como, por regra, no que respeita aos filmes procuro tudo aquilo que a realidade não me pode dar, talvez o filme me deixe agradada. Por outro lado, irritam-me tremendamente as tentativas de evangelização. Por outro lado ainda, adoro esoterismo sob a forma de filme e adoro fingir que o universo é aquilo que não é. Por outro lado mais ainda, costumo retirar realidades do meio das fantasias e ficções.

    Enfim, parece-me que vou ter o Tico à porrada com o Teco…

  5. Vi o filme. Do principio ao fim (isto é importante, porque pelo menos na sala onde vi, grande parte da restante assistência saiu a meio…). Fotografia, banda sonora e até estrutura narrativa são excelentes. Interpretações muito boas. Lamentável é sobretudo o argumento que como cita no post é “indulgente, pretensioso, com um espírito evangelizador cristão que se torna excessivo e insuportável”. Para quem cresceu num meio rural de forte tradição católica e teve contacto próximo com a «doutrina» cristã, saberá identificar essa mensagem implícita que, pode ser confundida com “tretas new age” (e talvez tenha uma inspiraçãozinha de “forma” não seja errado) mas que na verdade são os princípios religiosos cristãos mais tradicionais, conservadores e diria até retrógrados. É este aspecto que, na minha opinião, transforma o bom filme explícito numa chata história: não existe um único argumento “novo”, uma única interrogação “nova”, o suscitar a reflexão sobre… a vida (seja em que dimensão – espiritual, material, …). O filme acaba a assemelhar-se a “propaganda” pura e dura do tipo Geoge Orwell (parece daqueles filmes que passariam nos ecrãs do 1984).
    Existe uma cena que traduz bem este sentimento: a dos dinossauros. Esta cena, além de personificar todo o espírito do filme é o culminar de uma ideia “antropocêntrica” religiosa (e não só) do papel do Homem na natureza (ou seja, da sua altivez perante as restantes criaturas…). Aliás, toda a primeira parte, em que se retrata a “evolução” do universo e do planeta (do big bang aos humanos), é todo um discurso manipulador muito sui generis e camuflado de factos e princípios científicos consolidados.
    Concluindo: um bom filme. Mas cuidado: é manipulador dos sentimentos e das ideias. E ninguém gosta de ser manipulado tão abertamente. Digamos que é como um Michael Moore com uma qualidade incomparávelmente melhor e com uma grande diferenla: a manipulação em que o Moore por vezes cai, baseia-se na omissão ou exagero de factos. Já Mallick, apresenta-se sem pudor, defendendo argumentos mesmo contra “factos” científicos consolidados – e generalizadamente aceites.

    Por fim, gostaria de deixar uma pequena observação: é engraçado que este filme surge quando nos EUA aparentemente surgem movimentos religiosos numa mistura de religiosidade tradicional e new age que ganham grande espaço mediático indo desde os criacionistas até ao Tea Party (e aos seus candidatos que se dizem mandatados por Deus…).

    1. Paulo,

      uma das belezas da 7ª Arte é precisamente as diversas interpretações que uma película pode suscitar no seu público. E não discordando com a sua opinião, vi o filme de uma outra forma.

      Se por um lado as intenções espirituais e de valor estão lá (afinal de contas esta será a obra mais pessoal de Malick onde a história se confunde com a sua realidade), a mensagem final é universal. Seja ela sentida do ponto de vista católico ou não (Malick assume-o), fala-se acima de tudo da dualidade entre o bem e o mal. E o que nos leva a nós a escolher entre um e outro, num Universo/Natureza/Deus absolutamente abrangente. As questões levantadas pelo filme são igualmente universais, mas Malick consegue expô-las de uma forma única através de uma simbiose entre imagem e som ímpar. São questões sempre presentes nos seus filmes, como uma assinatura (ou obsessão, consoante a perspectiva) com que Malick tenta, através da sua generosa sensibilidade e talento, lançar ao seu público.

      Como nota final, julgo ser desnecessário comparar o estilo de Moore com o de Malick, dado que o primeiro apresenta-nos um documentário enquanto o segundo oferece-nos uma obra de ficção. São mundos muito distintos quer na forma como no objectivo.

  6. O filme é visualmente maravilhoso do início ao fim e a montagem é extraordinária e, por isto, acho que vale a pena ver. De resto, não achei um grande filme: o argumento não é nada de especial e as constantes referências a Deus e aquilo de seguir o caminho da graça por oposição ao caminho da natureza aborreceram-me um bocadinho.

  7. Pedro, já tinha lido, mas obrigado na mesma pelo link 🙂

  8. Se é familiar com a obra de Malick saberá com o que contar. E tal como a maioria dos génios, as opiniões, para além de extremas, dividem-se.

    Para mim, um dos melhores filmes de sempre.

    http://myleftpocket.tumblr.com/tagged/the_tree_of_life

    1. Pedro. Sim, sou fã de Malick. The Thin Red Line é um dos meus filmes preferidos de sempre. Mas não sei o que esperar deste.

        • Pedro on 07/08/2011 at 23:21

        Esse também está na minha lista. E o melhor que sei dizer do The Tree Of Life é que será a combinação perfeita entre o TTRL e o New World.

        Um olhar pessoal sobre as opções que fazemos na vida, para nós certas e erradas, sob o olhar de tudo aquilo que nos rodeia. Seja lá o que isso for.

        A cena que colocou neste tópico é das mais pujantes em cinema e tem um impacto tremendo no grande ecrã, pode ler mais sobre a equipa científica/artística que a criou aqui: http://www.awn.com/articles/article/giving-vfx-birth-tree-life

  9. Quando o filme estava em exibição eu li a sinopse e vi o trailer e não ganhei vontade nenhuma de o ir ver. Ainda assim gostei da música.

    Eu não tenho grande paciência para filmes que se querem muito filosóficos e artísticos, provavelmente não tenho sensibilidade para isso.

    Além de que o filme não tem espadas, nem guerras à senhor dos anéis, o que é claramente um ponto negativo.

    Ainda assim, como não vi o filme, não posso falar sobre o filme, apenas sobre aquilo que o trailer deixa a desejar.

  10. Carlos, quando cheguei à parte em que dizes que o 2001 – Odisseia no Espaço é uma seca…
    Fiquei com vontade de armar já aqui uma bulha! 😛

    1. A melhor parte do 2001 é os macacos à porrada.
      Depois disso, o filme perde todo o interesse 😛

      Se o 2001 fosse só os minutos iniciais, era excelente 🙂

      Mas quem quer ver alguém no espaço a demorar meia-hora pra entrar numa nave? 😛 ehehehe 😛

      1. Não sei se percebes mas estou aqui a tentar dominar a minha indignação.
        (Embora também goste da parte em que os macacos andam à porrada. Fazem lembrar as claques de futebol 😉 )

      2. Sim, eu percebo… era o mesmo que me dizerem que o Contacto não presta… 😛 Eu passava já aos insultos 😛 eheheh 😛

        Sabes que eu e um amigo meu usamos essa parte num trabalho de vídeo que fizemos para a disciplina de Gestão de Pessoal (Recursos Humanos)… precisamente quando estavamos a falar de claques de futebol 😛

        • Dinis Ribeiro on 08/08/2011 at 13:06

        Eu, por exemplo, gosto imenso de ver o 2001, e penso que até deveria ser mais longo, e que foi uma pena terem obrigado o Kubrik a cortar parte do filme.

        Essas sequências de spacewalking até podiam ter 45 minutos…

        Já viram um dos “lentos” filmes do Cousteau, filmados no Precontinent nos anos 60, nas habitações subaquáticas no mar vermelho?

        Há um filme do Manuel de Oliveira que dura 6 horas…

        Eu gosto de vários tipos de filmes muito diferentes, e mesmo os filmes a preto e branco que demoram muito tempo para mostar uma ideia….

        Penso que a estrutura do cérebro das gerações mais novas tem uma distibuição diferente das sinapses, por ter sido mais estimulada a nível visual e cognitivo, e por isso, para muita gente há filmes “antigos” que são intoleravelmente lentos.

        Há pessoas menos jovens, para quem ver os “transformers” ou apanhar um violento electrochoque visual” é quase a mesma coisa…. não conseguem tolerar a velocidade, e “desligam”, quase do mesmo modo que acontece a muita boa gente com o 2001.

        Eu gosto duma gama de “velocidades de escoamento da imagens” talvez mais variada, e num leque um pouco mais alargado.

        E mesmo de situações em que a imagem é termida de propósito e que causam vómitos e tonturas a muita gente, como no filme http://en.wikipedia.org/wiki/Cloverfield

      3. A primeira vez que vi o 2001 adormeci 😀
        Eu gostei da temática mas tem algumas cenas longas demais 😛
        Dito isto, pelo menos tentaram ser o mais realistas possíveis, como no facto de não haver som no espaço, o que é raro acontecer noutro filmes

  11. Eu não vi o filme… mas pelo que já ouvi dele, eu seria daqueles que o acharia uma seca… além de parecer que tem conceitos new age que eu não acharia muito graça 😛
    Talvez por isso tenha decidido não ir ver o filme quando esteve por aqui nos cinemas. Era uma das opções, e eu votei contra ir vê-lo 😛
    Note-se que eu também acho o 2001 – Odisseia no Espaço uma seca 😛

    Mas lá tá… não vi o filme… por isso esta não é uma opinião devidamente informada 😉

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