Mais Seis ou Sete Planetas

Acabam de ser disponibilizados dois artigos que descrevem a descoberta de mais 6, possivelmente 7, planetas, em torno de 3 estrelas: HD163607 (no Dragão), HD164509 (no Ofíuco) e HIP57274 (na Ursa Maior). Os artigos são:

“A High Eccentricity Component in the Double Planet System Around HD163607 and a Planet Around HD164509. Giguere et al. 2011”

“M2K: II. A Triple-Planet System Orbiting HIP57274. Fischer et al. 2011”

Os primeiros dois sistemas fazem parte do programa de observação N2K, que foca a atenção em estrelas de tipo espectral F, G e K ricas em “metais”. O programa tira partido da correlação positiva, bem estabelecida, entre a ocorrência de planetas maciços e a abundância de “metais” na estrela hospedeira. Ambas as estrelas têm tipo espectral G5, sendo que HD163607 é uma sub-gigante, isto é, acabou recentemente a fusão de hidrogénio em hélio no seu núcleo e saiu da sequência principal. Por seu lado, HD164509 está ainda na sequência principal, realizando a fusão de hidrogénio em hélio no seu núcleo. Os dois planetas de HD163607 são gigantes de gás com períodos de 75 dias e 3.6 anos, respectivamente. O planeta mais interior tem a particularidade de ter uma órbita de enorme excentricidade, cerca de 0.7, e o periastro da órbita estar quase alinhado com a nossa linha de visão. Este último facto faz com que a probabilidade de realizar trânsitos seja de uns respeitáveis 8%. Este planeta será certamente alvo de mais atenção no futuro.

Por outro lado, o planeta em torno de HD164509 tem um período de 282 dias e 50% da massa de Júpiter. A excentricidade da sua órbita, cerca de 0.3, é também substancial. Os autores detectaram ainda um sinal que poderá indicar a presença de um outro planeta no sistema (daí o título deste “post”).

As figuras seguintes mostram os dados relativos às estrelas hospedeiras e aos planetas destes sistemas, respectivamente, bem como a configuração da órbita do planeta mais interior de HD163607.


(Crédito: Giguere et al. 2011.)


(Crédito: Giguere et al. 2011.)


(A órbita excêntrica do planeta HD163607b e o alinhamento quase perfeito entre o seu periastro e a nossa linha de visão. Crédito: Giguere et al. 2011.)

HD163607 tem ainda a particularidade de ser facilmente encontrada no quadrilátero que forma a cabeça do Dragão, assinalada por uma seta vermelha na figura seguinte.

O segundo artigo refere a descoberta de 3 planetas, uma Super-Terra e dois gigantes de gás, em torno da estrela HIP57274. Os planetas têm períodos de 8, 32 e 431 dias, e massas de 12, 130 e 167 vezes a da Terra, respectivamente. O planeta mais interior, a Super-Terra, tem uma probabilidade de 6.5% de efectuar trânsitos visíveis a partir da Terra. As figuras seguintes mostram, respectivamente, as propriedades da hospedeira e dos 3 planetes referidos.


(Crédito: Fischer et al. 2011)


(Crédito: Fischer et al. 2011)

A estrela HIP57274 foi observada no âmbito do programa de observação M2K (sim, M2K e não N2K), que foca a sua atenção em estrelas de tipos espectrais K e M, com o objectivo de conhecer a frequência e arquitectura dos sistemas planetários nas estrelas de massa mais baixa.

As observações da velocidade radial foram realizadas com o espectrógrafo HIRES, instalado no telescópio Keck I, no Hawaii.

2 comentários

  1. Boa noite Luís,

    Como diz no artigo o tipo espectral é G5 V e G5 IV noutro caso. Qual é a diferença entre IV e V? Ou é só mesmo para diferenciar as estrelas hospedeiras?

    Outra questão é porque se G corresponde à cor amarela, no que se baseiam os entendidos da coisa para criarem tantas subdivisões, de G0 a G9 se não me engano.

    Abraço

    1. Olá Cristovão,

      o V e o IV correspondem a classes de luminosidade. Estrelas da classe IV são mais luminosas do que as da classe V. Em termos evolucionários verificou-se que as estrelas na classe V estão na sequência principal, a realizar a fusão do hidrogénio em hélio nos seus núcleos. As estrelas da classe IV sairam recentemente da sequência principal. Já não fazem a fusão do hidrogénio no núcleo mas antes numa camada mais periférica, o que aumenta a sua luminosidade. O núcleo formado por uma “cinza” de hélio está inerte.

      Quanto às subdivisões G0 a G9, elas refletem a temperatura da superfície visível das estrelas, a fotosfera. Variações nesta temperatura traduzem-se em diferentes intensidades das linhas espectrais dos vários elementos, o que permite estabelecer critérios para a criação destas subdivisões.

      Espero que ajude 😉

      Abraço

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