Encontrado o planeta Tatooine, de Star Wars!

Tatooine é um enorme planeta deserto que foi colonizado por mineiros e fazendeiros.
É um planeta que orbita um sistema duplo de estrelas (“2 sóis”).
É um planeta fictício, do universo de Star Wars (Guerra das Estrelas), e que é a casa de Luke Skywalker.

O Luís Lopes já tinha profetizado que hoje na conferência de imprensa da NASA, talvez fosse divulgada a descoberta de um planeta deste género, já que constava uma pessoa ligada a Star Wars.

Hoje, numa conferência simplesmente fenomenal, essa descoberta foi revelada!

O planeta chama-se Kepler-16b , mas o apelido já está dado mundialmente: Tatooine!

Nunca ninguém tinha alguma vez visto um planeta deste género (a orbitar e fazer trânsitos em ambas as estrelas)… a não ser em Star Wars!

Como disse o Alan Boss: “O que era ficção científica, tornou-se realidade!”

O planeta encontra-se a 200 anos-luz de distância e orbita ambas as estrelas.
A órbita (ano) demora 229 dias, o que é similar a Vénus (225 dias).
O sistema é estável, pelo menos durante vários milhares de milhões de anos.

Vejam os gráficos, aqui.

O planeta tem massa e tamanho semelhantes a Saturno e dista 104 milhões de kms das estrelas, que são menos massivas (uma estrela tem 69% da massa do Sol, e a outra tem 20% da massa do Sol), mais pequenas e mais frias que o nosso Sol, por isso o planeta deve ser frio. Talvez com temperaturas de -100º C.
É um planeta gasoso semelhante a Saturno.

Os cientistas dizem que é muito provável haver planetas rochosos nesse sistema, mas ainda não foram detectados. Eles disseram inclusivé que a Missão Kepler irá detectar esses planetas num futuro próximo.
Também referiram que, devido a orbitar 2 estrelas, a ideia de zona habitável não é estática, mas tem um dinamismo que nunca se tinha visto antes.
Os planetas rochosos terão uma maior probabilidade de ter vida como a conhecemos, e se existirem em órbita destas estrelas, então sem dúvida que se terá descoberto uma nova classe de sistemas planetários que poderão ter vida. E tendo em conta que a maior parte das estrelas no Universo são binárias (2 estrelas), então as oportunidades para haver vida aumentaram vertiginosamente.
Por outro lado, apesar do Kepler-16b estar um pouco fora da zona habitável, a equipa de cientistas mencionou que o planeta poderá ter luas… e quiçá poderão ser como Europa ou Titã (que estão fora da zona habitável, mas podem ter vida).

Os cientistas também disseram que se pode ver a estrela com binóculos, e que os astrónomos amadores poderão seguir o transito do planeta em 2012.

Por fim, a conferência de imprensa acabou, com o “apresentador” a dizer: May the Force be with You 😀

O Luís Lopes também escreveu sobre esta espantosa descoberta:

As suspeitas confirmaram-se. A equipa da missão Kepler anunciou, há poucas horas, a descoberta do primeiro planeta que orbita duas estrelas que formam um sistema binário. O planeta, designado de Kepler-16b (o sistema Kepler-16 também tem estas designações: KOI-1611, 2MASS 19161817+5145267), foi detectado pelo método dos trânsitos e situa-se a cerca de 200 anos-luz de distância. Trata-se de um planeta com características físicas muito parecidas às de Saturno: 105 vezes a massa da Terra (um terço da massa de Júpiter) e uma densidade de 0.96 g/cm3, portanto idêntica à da água (considerando as margens de erro). Com esta densidade, deverá ser constituído em partes iguais por rocha e gás.

A arquitectura do sistema é muito interessante. As duas estrelas formam um sistema binário, isto é, orbitam um centro de massa comum, com um período de 41 dias. À distância, o Kepler-16b orbita o referido centro de massa das estrelas com um período de 229 dias, semelhante ao período orbital de Vénus em torno do Sol (225 dias). As estrelas são ambas mais pequenas, menos maciças e menos luminosas que o Sol, mas mais activas. A estrela primária tem 69% da massa e 65% do raio do Sol, ao passo que a secundária tem apenas 20% da massa e 22% do raio do Sol. Os tipos espectrais serão algo como K5V (uma anã laranja) e M5V (uma anã vermelha), respectivamente. Deste facto resulta que o Kepler-16b está para lá da Zona Habitável associada às duas estrelas e deverá portanto ser um mundo frio e inóspito. Podem ter uma ideia mais clara da estrutura do sistema através da figura e vídeo seguintes.

O sistema é espectacular também devido à forma como as duas estrelas e o planeta estão perfeitamente alinhados com a nossa linha de visão. De facto, o alinhamento é tal que o Kepler observa a estrela mais pequena a passar em frente da maior (eclipse primário), a estrela maior a passar em frente da estrela mais pequena (eclipse secundário). Se apenas existissem as estrelas, o sistema teria uma curva de luz semelhante à representada na figura seguinte.

Mas o Kepler viu mais. Viu os trânsitos do planeta pelo disco da estrela maior, pelo disco da estrela mais pequena e, em algumas ocasiões, simultaneamente pelos discos de ambas. Esta última situação ocorre quando o trânsito do planeta coincide com o eclipse primário do sistema binário. Esta complexa sucessão de eventos dá origem a uma curva de luz espectacular que podemos ver nas figuras seguintes.

Os sistemas binários de estrelas são importantíssimos em astrofísica pois constituem das poucas oportunidades que os astrónomos têm de medir directamente a massa e a dimensão das estrelas, observando o seu movimento orbital e aplicando a Terceira Lei de Kepler. Desta forma foi possível calcular com grande precisão os ditos parâmetros para as estrelas deste sistema. Para calcular a massa do planeta, os astrónomos utilizaram um efeito mais subtil. O movimento orbital do planeta provoca ligeiros atrasos ou avanços nos instantes em que ocorrem os eclipses do sistema binário. A amplitude deste efeito, no caso pouco mais de 1 minuto (!), permitiu calcular a massa do planeta, um belo exemplo de aplicação da técnica designada de TTV (Transit Timming Variations).

Nas palavras de Bill Borucki, o investigador principal da missão, “Esta descoberta confirma a exstência de uma nova classe de sistemas planetários que podem suportar vida. Dado que a maior parte das estrelas na nossa galáxia fazem parte de sistemas binários, esta descoberta significa que as oportunidades para o desenvolvimento da vida são muito maiores do que se os planetas se formassem apenas em torno de estrelas singulares. Esta descoberta demonstra finalmente que os planetas podem formar-se em torno de estrelas em sistemas binários, uma hipótese que os cientistas consideraram durante décadas.”

A descoberta foi publicada na revista Science. Podem ver a notícia original aqui. Todas as imagens são crédito da missão Kepler. A tradução livre das palavras de Bill Borucki é da minha inteira responsabilidade.

Leiam aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, e aqui.

Que fantástica descoberta!!!! 😀

22 comentários

3 pings

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  1. o planeta klepler 16 b esta em orbita de qual estrela anã laranja ou anã vermelha no artigo não diz.

    1. ??

      Se se chama Kepler-16b, quer dizer que está em órbita do sistema/estrela Kepler-16 , o qual é referido no texto do artigo e em imagens 😉

  2. Não tem como um pertencente à Área de Exatas e amante da Ciência ficar indiferente diante destas descobertas maravilhosas. Esta altura, não conhecia o AstroPT.

    Você está coberto de razão, Carlos, quando bem afirma:

    ” (…) a astronomia transmite uma espiritualidade muito mais abrangente que nenhuma religião alguma vez conseguiu alcançar.”

    De modo particular, quando vejo esses vídeos, sinto-me avançar um pouco mais, por menor que seja, da infinita distância que separa a mente humana da Mente Daquele que, acredito ser, a Causa-Princípio de todas as coisas.

    Mesmo que a descoberta tenha sido datada de 2011 , para nós, amantes da Ciência, nunca deixará de ser emocionante. 😉 Recordar é viver. 😉

    Excelentes vídeos e artigo sensacional! 😉

    Abraços.

    1. Obrigado 🙂

        • Cavalcanti on 19/05/2012 at 03:54

        Obrigado? Obrigado digo eu. 😀

        Sinceramente, o melhor artigo do AstroPT! Também já o favoritei. 😉

        Abraços!!!

  3. Tenho a esperança de que antes de morrer já tenhamos feito contato com outra civilização inteligente, ou descoberto indícios inquestionáveis de planetas com formas de vida (inteligentes ou não). É a notícia que espero ver todo o dia que entro no Google News.

  4. Ganhe uma camisa JEDI gratuitamente! Basta entrar no site do Greenpeace: Ai está o Link! Ajude-me em meu treinamento Jedi http://vwdarkside.com/pt/jedi/hugo-almeida-485648

  5. Bom, após o “blackout” do “balck list” em 16-9-2011 , parece que posso editar…
    O planeta descoberto é um “matulão” gasoso. Tatooine parece o deserto! Ainda falta descobrir um planeta rochoso nesse sistema binário com as referidas características. O nome deste deveria ser “Vapoorine”! Só falta detectar os outros possíveis planetas com “boa vida” e “má vida”, entre esses o tal “Tatooine” e também o tal “Sarlaac” com a aquela lesma enorme que se conhecia pelo nome “Jaba” o Hut. No “Space Balls” do Mel Brooks, existia era o “Pizza” o Hutt.
    May the “Schawrz” be with you!

    1. Que se passou, Paulo?

      Não conseguia comentar?

      Que erro dava?

      abraços

        • Paulo on 19/09/2011 at 13:03

        Olá a todos.
        Dava uma mensagem a informar que estava adicionado a um “Blackist”, pelo que me lembro! Hoje deu “Slowdown Cowboy! Speed kills”. Mas depois de um F5 “Refresh”, a coisa funcionou!

        Vida longa e próspera!

      1. Ahhhh mas nós não temos sequer Blacklist…
        Deve ter a ver com o seu servidor e o sistema de comentários 🙁

        Esse do cowboy tem dado a várias pessoas também… sinceramente, ninguém percebe.
        Também não tem a ver connosco mas sim com o sistema de comentários… mas continuamos sem saber como poderemos corrigir ou “dar a volta” a isso 🙁

  6. Ola,
    ficou muito legal seu post, e esta sendo de grande ajuda
    Eu já ia utilizar esta noticia em uma atividade de ensino com alunos de ensino médio, justamente começando da cena do Star Wars. E agora mostrarei seu Blog na integra!
    Você me ajudou muito, e realmente a noticia é fascinante.

    1. Obrigado pelas palavras 😉

    • Marília Peres on 17/09/2011 at 00:14
    • Responder

    É daquelas descobertas que nos deixa emocionados e felizes por estarmos a assistir.
    Obrigada ao Carlos e ao Luís Lopes pelas explicações e links.

  7. ” a não ser em Star Wars!”

    LOL. Por amor da santa, o que não falta na ficção científica são sistemas solares binários!

    1. Apesar de haver em 3 filmes:
      http://en.wikipedia.org/wiki/Binary_stars_in_fiction

      é certo que o mais popular como sistema binário é Tatooine… 😉

    • Carlos Eduardo Santos on 16/09/2011 at 13:06
    • Responder

    Gostaria muito que o meu pais tivesse uma educação de boa qualidade, meu sonho era ser astronomo, mas, infelizmente não tive esta oportunidade.
    Parabéns aos editores deste blog, realemente vcs merecem um brinde pelo intelecto.
    Abçs

  8. Penso que deve ser o paper original: http://arxiv.org/abs/1109.3432

  9. O Carlos tem razão, é um vídeo a não perder. Excelentes intervenções, explicações, gráficos e vídeos.

  10. Coloquei aqui:
    http://domelhor.net/story.php?id=81702

  11. Não conseguimos encontrar a conferência de imprensa da NASA.
    Ela foi espectacular em directo, mas gostava agora de colocar o vídeo no final do post 😉

    Se alguém a descobrir, avise 🙂

    E não se esqueçam de vir aqui ao post novamente, porque mal a encontremos, vamos colocar aqui no post essa conferencia fenomenal 🙂

  12. Divulguem, divulguem, divulguem… é uma descoberta fantástica 🙂

  1. […] o planeta Kepler-16b, a 196 anos-luz da Terra, é um excelente destino turístico para a malta que daqui a uns milhares […]

  2. […] Mais 10 + 18 + 50. HD 132563. HD 85512b, HD 10180, HD 40307g, Kepler-10b, Kepler-11, Kepler-16b (Tatooine), Kepler-20e e 20f, Kepler-22b. Kepler-62, Kepler-69. Diamante. 55 Cancri-e de diamante. Negro. […]

  3. […] Já no passado tinha sido descoberto um planeta que orbita um sistema duplo de estrelas (“2 sóis”). O planeta denominou-se Kepler-16b, mas ficou logo com o apelido Tatooine! (Star Wars) Leiam aqui. […]

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