O distante Éris é gémeo de Plutão – calculado com precisão o tamanho do planeta anão no momento em que ocultou uma estrela de fraca luminosidade

Astrónomos mediram pela primeira vez de modo preciso o diâmetro de Éris, o longínquo planeta anão, no momento em que este passou em frente de uma estrela de luminosidade baixa.
Este fenómeno foi observado no final de 2010 por telescópios no Chile, incluindo o telescópio belga TRAPPIST que se encontra instalado no Observatório de La Silla do ESO.
As observações mostram que Éris é um gémeo quase perfeito de Plutão em termos de tamanho.
Éris parece ter uma superfície muito refletora, sugerindo que se encontra uniformemente coberto por uma fina camada de gelo, provavelmente uma atmosfera gelada.
Os resultados serão publicados a 27 de Outubro na revista Nature.

Em Novembro de 2010 o distante planeta anão Éris passou em frente de uma estrela de fundo de luminosidade baixa, num acontecimento a que chamamos ocultação. Estes eventos são muito raros e difíceis de observar, uma vez que o planeta anão se encontra muito longe e é muito pequeno. O próximo acontecimento do género envolvendo Éris terá lugar apenas em 2013. As ocultações oferecem-nos a maneira mais precisa, e muitas vezes a única maneira, de medir o tamanho e estimar a forma de corpos muito distantes do Sistema Solar.

(…)

As observações da ocultação foram feitas em 26 locais diferentes espalhados por toda a Terra e que se encontravam na trajetória prevista da sombra do planeta anão – incluindo alguns telescópios de observatórios amadores. No entanto, só foi possível observar o evento diretamente em dois lugares apenas, ambos situados no Chile: um no Observatório de La Silla do ESO com o telescópio TRAPPIST e o outro em São Pedro de Atacama, onde se utilizaram dois telescópios. Os três telescópios registaram uma diminuição do brilho da estrela distante correspondente à altura em que Éris bloqueou a sua radiação.

As observações combinadas dos dois locais chilenos indicam que Éris tem uma forma praticamente esférica. Estas medições são bastante precisas no que dizem respeito à forma e ao tamanho do objeto, mas apenas se não tiverem sido distorcidas pela presença de montanhas altas, o que dificilmente existirá num corpo gelado tão grande.

Éris foi identificado como sendo um objeto grande situado no Sistema Solar exterior em 2005. A sua descoberta foi um dos motivos que levou à criação de uma nova classe de objetos chamados planetas anões e à reclassificação de Plutão de planeta para planeta anão em 2006. Éris encontra-se atualmente três vezes mais longe do Sol do que Plutão.

Embora observações anteriores utilizando métodos diferentes sugerissem que Éris era provavelmente 25% maior do que Plutão, com uma estimativa para o diâmetro de 3000 quilómetros, este novo estudo prova que os dois objetos têm essencialmente o mesmo tamanho. O novo diâmetro calculado para Éris é de 2326 quilómetros com uma precisão de 12 quilómetros, o que torna o seu tamanho melhor conhecido que o de Plutão, que tem um diâmetro estimado entre 2300 e 2400 quilómetros. O diâmetro de Plutão é mais difícil de medir devido à presença de uma atmosfera que torna impossível detectar diretamente o seu bordo utilizando ocultações. O movimento do satélite de Éris, Disnomia, foi utilizado para estimar a massa de Éris. Descobriu-se que Éris é 27% mais pesado do que Plutão. Combinando este resultado com o diâmetro estimou-se que a densidade de Éris é de 2.52 gramas por cm3.
“Esta densidade significa que Éris é provavelmente um grande corpo rochoso coberto por um manto relativamente fino de gelo,” comenta Emmanuel Jehin, que participou neste trabalho.

Descobriu-se que a superfície de Éris é muito refletora, refletindo 96% da luz que lhe chega (albedo visível de 0.96). Este valor corresponde a uma superfície ainda mais brilhante do que neve fresca na Terra, o que torna Éris num dos objetos do Sistema Solar mais refletores, em simultâneo com a lua gelada de Saturno, Enceladus. A superfície brilhante de Éris é muito provavelmente composta por uma mistura de gelo rico em azoto e metano gelado – como nos indica o espetro do planeta – que cobre todo o planeta com uma camada de gelo fina muito refletora com menos de um milímetro de espessura.
“Esta camada de gelo pode ter resultado da condensação em gelo da atmosfera de azoto ou metano do planeta anão, que atinge a superfície à medida que o planeta se afasta do Sol ao longo da sua órbita alongada e entra cada vez mais num ambiente frio,” acrescenta Jehin. O gelo pode posteriormente voltar a transformar-se em gás à medida que Éris se aproxima do ponto mais próximo do Sol, a uma distância de cerca de 5.7 mil milhões de quilómetros.

Com os novos resultados a equipa pôde também estimar a temperatura à superfície do planeta anão, obtendo um resultado de no máximo -238º Celsius para a superfície iluminada pelo Sol e menos ainda para o lado noturno de Éris.

(…)

Esta é uma reprodução de quase todo o artigo do ESO.

11 comentários

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    • Reinaldo da Silva on 22/03/2016 at 22:47
    • Responder

    Professor;
    Se eu tivesse condiçoes, isso é se eu tivesse milhões ou bilhões de dólares (quem dera!), o senhor seria o lider da missão como Edward Stone missão Voyager e o Alan Stern líder da missão New Horizons para Plutão.
    Isso é claro se o senhor aceitasse.

    1. Reinaldo,

      Obrigado pela confiança que deposita em mim 🙂

      Mas, como já deve ter reparado em outros comentários, eu sou bastante direto, e tento ser realista e objetivo, mesmo quando é contra mim ou contra “os meus”.
      Neste caso, é o que se passa.
      Eu agradeço, mas eu não seria, de longe, a melhor escolha para liderar uma missão dessas. Não tenho experiência nem competências para isso.

      Se me dissessem que era uma viagem tripulada, aí sim, mesmo sem experiência ou competências, atirava-me logo de cabeça para ir a conduzir! ehehehehe 🙂

      abraços! 😉

    • Reinaldo da Silva on 21/03/2016 at 21:11
    • Responder

    Olá professor;
    É uma pena querido professor, pois em meu país Brasil bilhões de dólares são roubadosdos cofres públicos, se aqui tivessemos governo sério (não quero dizer que os políticos todos são corruptos, existe uma excessão) mas NÃO temos pessoas que tem visão de investir massiçamente em ciências e tecnologia, que poderia em uma parceria com a Nasa ou Agencia Européia mandar uma missão para Éris e desvendarmos muitos de seus mistérios.

    Desculpe professor talves o senhor não tenha gostado que eu tenha tocado neste assunto de política, mas é o meu lamento por saber que não somente meu país mas a humanidade sai perdendo porque alguns se beneficiam, quantas riquesas de conhecimento existem em nonno sistema solar que nois ainda nem fazemos idéia?

    Se eu podesse, falo de poder eu mesmo financiar, eu faria uma parceria com alguma agencia ou Nasa ou então da Europa, eu seguiria sua linha de raciocinio, e enviaria para Urano, depois aproveitaria a gravidade do gigante gasoso e enviaria a sonda para alguns dos planetas menores do Cinturão Kuiper.

    1. Não há problema em falar de política, até porque neste caso está-se a referir a planos espaciais.

      Infelizmente, não é só no Brasil e não é só na política. Há corrupção em todo o lado, por exemplo na economia. E em todos os países 🙁

    • Reinaldo da Silva on 20/03/2016 at 04:17
    • Responder

    Professor Carlos;
    Sabemos que a NASA se utilizou dos estudos de vários anos da órbita de Plutão, para ter um calculo bem mais preciso da orbita e os resultados sabemos foram muito melhores.
    Então professor foi no Observatório Percival Lowell houve astronomo que levou muitos anos estudando o astro Plutão, pois então professor se hoje a NASA ou outra agencia digamos a Europeia resolvesse enviar uma sonda para o distante Éris seria melhor fazer medições mais precisas e enviar a missão só depois de anos, ou em pouquissimo meses mesmo poderia mandar uma sonda espacial e ela chegar tão próximo de Éris como a New Horizons chegou de Plutão?

    1. Caro Reinaldo, se fosse por nós, já estaríamos em Eris com três sondas e dois rovers 😉

      O problema, da NASA e de todos, é o orçamento. O orçamento dá para pouco (cada vez para menos). O máximo que se consegue é uma missão durante alguns anos. Tem que se fazer escolhas.
      Já tivemos missão a Júpiter (Galileu), a Saturno (Cassini), a Plutão (New Horizons), além de várias missões a Marte. A próxima escolha de uma grande missão – de longa duração – deveria ser a Urano ou então a Europa, lua de Júpiter.

      Infelizmente, duvido que vejamos uma missão a Eris nas próximas décadas 🙁

      abraços!

  1. Éris está cada vez mais interessante. Todo aquele gelo deverá formar uma atmosfera quando este pequeno mundo se aproximar do seu periélio, daqui a uns 270 anos.
    Fiquem tranquilos. O Astropt estará por aqui para dar em exclusivo a notícia desse importante acontecimento. 😀

    Já agora, vejam imagens desta ocultação aqui: http://icueva.wordpress.com/2010/11/30/ocultacion-estelar-del-planeta-enano-136199-eris/.

    1. Excelente 🙂

  2. Agora é que ninguém atura o Alan Stern…

    1. Podes querer…

      1. pessoalmente acho que ele tem razão 😉

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