CoRoT-7b Validado


(Um dos cenários possíveis para o CoRoT-7b: um “planeta de lava”)

Em Fevereiro de 2009, a equipa da missão CoRoT (COnvection ROtation and planetary Transits) anunciou a descoberta do primeiro planeta do tipo terrestre através do método dos trânsitos. Designado de CoRoT-7b, o novo mundo orbitava a estrela hospedeira, uma anã de tipo espectral G9 situada a cerca de 500 anos-luz na direcção da constelação do Unicórnio, em apenas 20.5 horas. O raio do planeta foi determinado com precisão através da duração dos trânsitos (1.3 horas) e conhecendo o raio da estrela hospedeira (82% do raio solar). Apesar da massa da estrela ser também conhecida com boa precisão (91% da massa solar) a massa do planeta revelou-se muito mais difícil de calcular pelo método usual da velocidade radial. De facto, a estrela CoRoT-7 apresentava um elevado nível de actividade fotosférica, típico de estrelas mais jovens do que o Sol, que se refletia um ruído significativo nas medições da velocidade radial do sistema.

Passados quase três anos, e apesar de terem sido detectados sinais de mais um, talvez mesmo mais dois, planetas no sistema, a massa do CoRoT-7b continua a ser mal conhecida, com estimativas que vão desde 2.3 a 8.0 vezes a massa da Terra. O ruído nas observações devido à actividade da estrela é tal que existe mesmo a possibilidade remota de os sinais atribuídos aos planetas serem de origem estelar. O cálculo preciso da massa do CoRoT-7b é essencial para estabelecer a sua densidade média e consequentemente o grosso sua composição. Note-se, por exemplo, que a massa do Kepler-10b, um planeta de características supostamente semelhantes descoberto com o telescópio Kepler e anunciado em Janeiro de 2011, é conhecida com muito melhor precisão, uma vez que a respectiva estrela hospedeira é muito mais estável para medições da velocidade radial.


(A incerteza na massa do CoRoT-7b é muito maior (elipse é maior) do que a incerteza na massa do Kepler-10b. O último é certamente um planeta intermédio entre uma Super-Terra e um Super-Mercúrio. Para o primeiro há vários cenários possíveis. Crédito: Missão Kepler)

Numa tentativa de estabelecer independentemente a origem planetária dos trânsitos, uma equipa de astrónomos liderada por François Fressin, do Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics, aplicou a técnica da validação de exoplanetas descrita neste artigo para verificar a natureza planetária do CoRoT-7b, sem recurso à técnica da velocidade radial. Num primeiro passo, a equipa observou os trânsitos do CoRoT-7b com o telescópio Spitzer e comparou a sua profundidade com a observada pelo observatório CoRoT, verificando que eram semelhantes. Este resultado reforça substancialmente a hipótese dos trânsitos serem devidos a um planeta. Em seguida, a equipa modelou os trânsitos com o software BLENDER para determinar a probabilidade de se tratar de um falso positivo provocado por um alinhamento fortuito com um sistema binário com eclipses. O resultado é reconfortante. A análise mostrou que a probabilidade de o sinal ser um falso positivo é menos de 1 em 3500.

Com este exercício a equipa “validou” o planeta CoRoT-7b utilizando exclusivamente fotometria obtida com os telescópios CoRoT e Spitzer. Podem ver o artigo aqui.

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