Prendas Astronómicas

Com o aproximar da época natalícia, alguns leitores poderão ver-se confrontados com o desejo de oferecer um telescópio como forma de estimular o interesse pela astronomia em algum ente querido, provavelmente uma criança ou jovem. Este artigo, que reflecte exclusivamente a opinião do autor (um astrónomo amador que apenas tem a seu favor a experiência de mais de 25 anos), tem como objectivo facilitar a tarefa de escolher uma tal prenda.

Para começar, um telescópio poderá não ser uma boa primeira escolha. As pessoas esquecem frequentemente que a astronomia pode ser praticada apenas com os olhos. Conhecer o céu nocturno, as constelações, a mitologia, os nomes das estrelas e as suas características físicas e distâncias pode ser um projecto extraordinariamente aliciante para uma criança ou jovem. Eu próprio aprendi as constelações sozinho aos 12 anos de idade com a ajuda de mapas rudimentares. Hoje em dia, no entanto, há excelentes pontos de partida para essa descoberta. Recomendaria por exemplo o livro “Roteiro do Céu”, de Guilherme de Almeida, um conhecido astrónomo amador português e autor de vários outros livros, publicado pela Plátano Editora.

Um bom atlas do céu é um investimento fundamental para um astrónomo amador. Existem para vários gostos, exigências e, naturalmente, preços. Um excelente exemplo é o “Sky & Telescope’s Pocket Sky Atlas” de Roger W. Sinnott (é em inglês mas isso não deve ser um problema, mesmo para quem estiver pouco familiarizado com a língua, uma vez que se destina essencialmente à consulta de mapas). Não será fácil encontrá-lo em livrarias em Portugal, mas pode ser encomendado facilmente pela Internet, por exemplo da Amazon.

Este atlas poderá funcionar como complemento ao “Roteiro do Céu”, apresentando mapas mais detalhados de todo o céu. No entanto, o seu potencial completo só será aproveitado com a ajuda de um instrumento óptico. Isto leva-me à sugestão seguinte. Os binóculos são infelizmente pouco valorizados como instrumentos ópticos para astronomia, apesar de serem na realidade uma boa primeira escolha por vários motivos. Em primeiro lugar, são instrumentos polivalentes, podendo ser utilizados para observação astronómica ou terrestre, por toda a família. Em segundo lugar, são extremamente portáteis, podendo ser levados em férias ou nalguma saída de campo com facilidade. Finalmente, uns binóculos de boa qualidade podem ser comprados por menos de 100 euros, uma fracção do valor de um telescópio. Os modelos que recomendaria seriam os 10×50 (10 vezes de ampliação e lentes de 50mm). Existem várias marcas boas. Podem aconselhar-se nas lojas de artigos para astronomia em Portugal: Galáctica, Brightstar e Astrofoto.

Finalmente, se a prenda é para alguém cujo interesse pela astronomia já atingiu um nível de maturidade mais elevado, isto é, que já adquiriu um bom conhecimento do céu nocturno e mostra um interesse sustentado no assunto, então um primeiro telescópio poderá ser uma possibilidade interessante. Mais uma vez, a maioria das pessoas associa em geral telescópios a instrumentos extremamente dispendiosos. Na realidade, existem telescópios para todas as bolsas, mas os últimos 10 anos e a globalização da economia foram gentis para os astrónomos amadores. Hoje em dia é possível comprar telescópios com boa qualidade óptica por valores relativamente modestos, digamos abaixo dos 500 euros. Note-se que não se trata de brinquedos. Estes telescópios, apesar do seu preço relativamente modesto, são excelentes instrumentos que podem oferecer anos e anos de satisfação mesmo ao mais exigente dos astrónomos amadores.

Nesta qualidade sugeria a aquisição de um telescópio reflector newtoniano (em honra do seu inventor, Sir Isaac Newton, e cujo sistema óptico é baseado em espelhos) numa montagem simples dobsoniana (em honra do seu inventor, o americano John Dobson). Um tal telescópio, vulgarmente designado de dobsoniano, de 6 polegadas (15cm) ou 8 polegadas (20cm) de abertura (o diâmetro do espelho principal) constitui um excelente primeiro instrumento para um jovem astrónomo amador, pela simplicidade de uso e pelas vistas que proporciona. Mais uma vez aconselho os leitores interessados a contactarem as lojas acima referidas para se informarem sobre as características dos modelos das diferentes marcas e os preços. Uma questão que deve ser tida em conta é a dimensão destes instrumentos, quer para o seu armazenamento adequado em casa, quer para o seu transporte numa viatura até ao local de observação.

Saudações natalícias !

4 comentários

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  1. Prezado Luiz

    Estou com intenção em adquirir um equipamento para observação de planetas do sistema solar mas também para observar estrelas, galaxias, etc.

    Para um amador, existe algum equipamento de baixo custo que seja satisfatorio para tais observações?

    Seguem alguns equipamentos que fiz pesquisa recente:

    http://www.astrobrasil.com/ecommerce_site/categoria_158_4527_Telescopios-Refletores

    Algum desses me atenderia nesse objetivo,

    O Carlos me alertou que a observação inicial é melhor feita a olho nú e binocolus.

    Investir num bom binoculo é realmente melhor que investir em um telescopio para quem queira observar os planetas do sistema solar e estrelas?

    Grato

    Daniel

    • TrolhaDesempregado on 18/01/2012 at 14:36
    • Responder

    Olá.
    Qual é a diferença entre o “Sky & Telescope’s Pocket Sky Atlas” e o “Roteiro do Céu”?
    É que já tenho o segundo. Embora o Sky & Telescope’s Pocket Sky Atlas custe apenas cerca de 12 euros não me apetece gasta-los se depois tudo o que estiver neste tb estiver no outro. São os mapas que têm mais informação (maior quantidade de estrelas)?
    Obrigado,
    Carlos

      • GUilherme de Almeida on 03/04/2014 at 23:23
      • Responder

      Boa noite,

      Para responder ao Carlos e procurando ser imparcial, pois sou o autor do referido “Roteiro do Céu”, posso adiantar objectivamente as seguintes diferenças entre “Sky & Telescope’s Pocket Sky Atlas” e o “Roteiro do Céu”:

      São livros com propósitos diferentes.

      O “Pocket Sky Atlas”, é um pequeno Atlas de bolso, como o seu título indica. Apresenta mapas mais detalhados do céu, para quem já conhece o céu. A sua função é mapear o céu e não estar a explicar como se aprende a identificar as e a reconhecer as constelações as técnicas de reconhecimento do céu, a metodologia para o aprender. Nem tem o objectivo de dar os conceitos essenciaiss para se entrar no conhecimento do céu. Assume-se que o leitor já sabe isso. Não compete a um atlas do céu ensinar a conhecer o céu. Quem vai para um atlas do céu sabe perfeitamente onde encontrar no céu a Seta, o Carneiro, Andrómeda, o Lagarto ou o Capricórnio.

      O “Roteiro do Céu” é primeiro uma fonte de aprendizagem do céu. Mostra como se faz para conhecer o céu, que técnicas seguir na prática e como fazê-lo, mostrando passo a passo os procedimentos a seguir por quem quer comhecer o céu. Mostra exemplos, descreve, explica e dá conceitos de base essenciais a quem quer conhecer o céu. Tem mapas e uma carta celeste, habilita a conhecer as 107 estrelas mais brihanste pelos seus nomes e a localizar e reconhecer todas as 88 conmstelações. Mas não lhe compete ser um atlas de grande detalhe (magnitude limite das estrelas representadas: 4,5 a 5, que é o ideal para aprender).

      Atlas demasiado detalhados serão confusos no início da aprendizagem. Há que encontrar um justo equilíbrio entre clareza, facilidade de uso e quantidade de informação mapeada.

      Postas as coisas nestes termos, o “Roteiro do Céu” prepara o leitor para vir a usar o “Pocket Sky Atlas”. O Pocket Sky Atlas pode ser visto como uma continuação do “Roteiro do Céu”. O nosso livro “Observar o Céu Profundo é também uma continuação natural do “Roteiro do Céu” e foi escrito com esse propósito (magnitude limite das estrelas representadas= 7,5).

      Quem não conhece o céu e for directamente para o “Pocket Sky Atlas” ficará baraçlhado e terá dificuldades, pois faltam-lhe as bases, as técnicas e os procedimentos, exemplos e explicações que são dados no “Roteiro do Céu”. O índice completo do “Roteiro do Céu” está aqui:
      “Sky & Telescope’s Pocket Sky Atlas”
      E a Introdução está aqui:
      http://www.platanoeditora.pt/files/271/968.pdf

      Ideia geral:
      http://www.platanoeditora.pt/?q=C/BOOKSSHOW/17

      Espero ter contrinbuído para o esclarecimento.

      Boas observações.
      Guilherme de Almeida

  2. As recomendações do Luís são excelentes, e regra geral as mesmas que damos aqui no CAUP, quando nos pedem recomendações sobre que telescópio comprar, para dar de presente no Natal ao filho ou ao neto.

    Muito resumidamente:

    – Primeiro é preciso conhecer o céu. Eu costumo comparar isto a tirar a carta… primeiro temos de conhecer o código e só depois é que aprendemos a conduzir. Para tal, obter uma carta ou um atlas celeste (e/ou o livro do Guilherme de Almeida).

    – Depois de conhecer bem o céu a olho nu, investir nuns bons binóculos, tão bons como (e com preço aproximado a) um mau telescópio, e muito mais multifuncionais.

    – Finalmente, se já for um hobbie mais sério, investir num telescópio.

    É neste ponto que discordo com o Luís. (Como diria o meu chefe, “há sempre duas escolas”)

    Na minha opinião, na altura de investir num telescópio deve-se optar por um equipamento bom (e por consequência, caro). Isso passa por uma boa montagem (que nos dias de hoje, já não faz sentido que não tenha um sistema go-to) e por um telescópio com um bom diâmetro (quanto maior, melhor).

    Isto porque, indo para uma solução barata (como uma montagem dobsoniana), um utilizador sério irá considerá-lo limitado ao fim de pouco tempo, e irá querer algo melhor. Sendo assim, “desperdiçou” dinheiro num equipamento intermédio, que poderia ter utilizado a investir num equipamento bom.

    Claro que, em especial em tempos de crise, “bom” não significa “topo de gama”. Eu recomendaria uma montagem como a EQ-5 pro (ou algo equivalente, como a LXD75)
    http://www.astroshop.eu/equatorial-with-goto/skywatcher-mount-neq-5-pro-synscan-goto/p,11661

    Ambas “aguentam” com tubos ópticos de diversos tamanhos, por isso a poupança pode ser feita ao comprar um reflector de 6 polegadas (por exemplo, este:
    http://www.astroshop.eu/skywatcher-telescope-n-150-750-explorer-bd-ota/p,15564 )
    e mais tarde, se houver mais dinheiro para investir, trocá-lo por um catadióptrico de 8 ou 10 polegadas.

    Se preferirem comprar logo o telescópio completo, eu pessoalmente acho estes dois equipamentos bem equilibrados:

    http://www.astroshop.eu/bresser-telescope-n-203-1000-messier-lxd75-goto/p,17678
    ou
    http://www.astroshop.eu/celestron-telescope-n-200-1000-advanced-c8-as-gt-goto/p,17631

    Claro que isto significa gastar por volta de 1000 euros, e não 500. Mas, na minha opinião, mais vale poupar este ano e gastar os 1000 no Natal do proximo ano a comprar um bom equipamento, do que “desperdidar” 500 agora, para daqui a 2 anos ter de gastar os 1000 na mesma.

    Só para rematar… tenham em atenção possíveis promoções de equipamentos em fim de vida. Eu comprei o meu Meade LXD75 com um Newtoniano de 6 polegadas, por apenas 500 euros, numa promoção do LIDL.

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