Opportunity descobre mais uma evidência do passado húmido de Marte

No início de Novembro, o robot Opportunity observou uma estranha linha esbranquiçada a sobressair ligeiramente da superfície rochosa no extremo noroeste do Cabo York. Baptizada com o nome Homestake pela equipa da missão, a pequena formação não tinha mais de 40 a 50 cm de comprimento e 1 a 2 cm de largura, mas destacava-se claramente pelo seu intenso brilho na paisagem desta região da superfície marciana.

Um pequeno veio mineral conhecido informalmente por Homestake, observado pelo robot Opportunity no extremo noroeste do Cabo York. Imagem obtida a 07 de Novembro de 2011 pela sua câmara frontal.
Crédito: NASA/JPL-Caltech.

Depois de uma inspecção mais próxima ficou claro que a curiosa formação era um veio de um depósito sedimentar aparentemente constituído por gesso, um mineral muito comum na Terra (os maiores cristais terrestres de gesso encontram-se na famosa mina de Naica, no México). Formada por moléculas diidratadas de sulfato de cálcio, o gesso (também conhecido por gipsite ou gipsita) é depositado em veios rochosos pela circulação de soluções sulfatadas saturadas. No caso do veio descoberto pelo Opportunity, a solução aquosa que lhe deu origem resultou provavelmente da dissolução de cálcio e compostos de enxofre provenientes de rochas e gases vulcânicos.

Imagem em cores naturais de Homestake obtida a 07 de Novembro de 2011 pela câmara panorâmica do robot Opportunity.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/Cornell/ASU.

Visão aproximada de um fragmento de Homestake obtida pela câmara microscópica do robot Opportunity.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/Cornell/USGS.

Durante a sua longa viagem pelas planícies arenosas de Meridiani Planum, o robot Opportunity encontrou materiais rochosos compostos por sulfatos de magnésio, ferro e cálcio, minerais que apontam para um passado húmido em Marte. O veio brilhante encontrado no Cabo York apresenta altíssimas concentrações de cálcio e sulfato, numa razão que sugere a presença no local de cristais de sulfato de cálcio relativamente puros. Esta invulgar composição é um forte indício de que os depósitos de Homestake foram produzidos em condições mais neutras que as que geraram outras rochas analisadas pelo Opportunity. Homestake “poderá ter sido formado num ambiente aquoso diferente, um mais favorável para uma grande variedade de organismos vivos” afirmou ontem Benton Clark, um dos membros da equipa científica da missão, numa pequena conferência no encontro de Outono da American Geophysical Union.
O robot Opportunity prepara-se agora para passar mais um longo inverno marciano, o seu quinto desde que chegou ao planeta vermelho. Neste momento, o explorador da NASA dirige-se para uma vertente soalheira no extremo norte do cabo York, um local com vista para o interior da cratera Endeavour, pelo que deveremos vir a ter belas panorâmicas sobre a gigantesca cratera nos próximos tempos.

6 comentários

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  1. Realmente o vocábulo “gipsita” em Portugal não existe. E se de facto Sérgio Paulino diz _ e transcrevo, ter encontrado a “gipsita” espalhada em alguns websites respeitáveis de Portugal, é certo que o autor pela construção desses websites, não deverão assim tão respeitados ao ponto de não respeitar a língua portuguesa. Deve ser a bastardia adquirida nos currais e não na escola ou Universidade. Certamente deveria ser um sujeito oriundo do “cabo das tormentas” E neste caso, quem mais ordena, é a língua portuguesa onde ela nasceu: Portugal.Pode ser falada em ambas as margens do Atlântico, mas só uma das margens a brotou, a outra adoptou.
    Em bom português, não há gipsites(as).
    Verdade que há gíps(e)o : (gesso ou semelhante a gesso). Materiais ou objectos com estas componentes designam-se por gipsífero(s).

    Assim se fala bom português, de acordo com os manuais escolares existentes em Portugal.

    1. Caro Alves,

      O seu comentário não só acrescenta muito pouco à discussão anterior, como ainda é marcado por um tom grosseiro.

      Esta questão já foi discutida e esclarecida com o Ze S. A palavra “gipsita” não é usada no nosso país. No entanto, faz parte da língua portuguesa e é usada por cerca de 194 milhões de pessoas no outro lado do Atlântico. Por essa razão mantive-a no texto.

      Afirmar que o “bom português” é aquele que é usado no país onde a língua portuguesa nasceu, é demonstrar um profundo desrespeito pela grande maioria dos visitantes do nosso blog.

  2. Não, e não. O gesso é um mineral constituído por sulfato de cálcio hidratado (quando não existe água na estrutura, forma-se outro mineral, a anidrite). É verdade que existe a designação gipsite – os minerais em Portugal têm normalmente nomes acabados em -ite, -ita é no Brasil – mas é de uso muito incomum. Quando se fala da escala de Mohs, fala-se em gesso. Em vários anos de Geologia, poucas vezes terei ouvido “gipsite”. Eo facto de se chamar gesso a um material processado não invalida que seja esse o nome comum do mineral que lhe está na origem. Mas enfim, reconheço que a reacção dos cabelos em pé foi exagerada… 🙂

    1. Olá Ze S,

      Tem toda a razão relativamente ao uso do sufixo -ite em vez de -ita em Portugal. Confesso que foi uma dúvida que tive quando escrevi o post. 🙂
      Quanto à questão do gesso, não consigo confirmar o que afirma – a palavra gipsita está espalhada pela net, incluindo nalguns sites respeitáveis de Portugal. Mas a verdade é que não sou geólogo, logo se me diz que em vários anos de Geologia poucas vezes terá ouvido a palavra “gipsite”, vou admitir que relativamente a esta questão também deverá ter razão. Sendo assim, vou incluir os dois termos. 😉

  3. Eu sei que há muitos leitores brasileiros por aqui, mas “gipsita” até me pôs os cabelos em pé. O mineral em português chama-se gesso.

    1. Caro Ze S,

      Não sei porque ficou com os cabelos em pé. Gesso e gipsita não são sinónimos. O gesso é uma matéria prima que se obtém da cozedura da gipsita. Pelo que pude verificar na net os dois termos são usados nos dois lados do Atlântico.

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