A mente aberta!

Volta e meia, tumba! Lá levo eu com a cena da “mente aberta”. É preciso ter a mente aberta dizem.
Mas eu, como sei o que – quase sempre – lá querem atirar para dentro, tenho muito cuidado com essa coisa da mente aberta.

Assim, para abrir a porta a tudo e mais alguma coisa, não dá. Isso é o equivalente cognitivo a deixar o carro parado no cais-do-sodré todas as noites, com as portas abertas e dinheiro no porta-luvas para a gasolina.

É que “mente aberta” para mim, significa ser capaz de aceitar as evidências; significa ter sede de procurar demonstrações sólidas, vontade de conhecer resultados experimentais, e ser capaz de os aceitar mesmo que não sejam o que nós esperávamos. Significa também hierarquizar a evidência pelo que vale e não pelo que queremos acreditar.

“Mente aberta” definitivamente não é acreditar em tudo o que alguém propõe.  Não é dar um bilhete de ida ao espirito crítico e mandar a lógica e os factos conhecidos verem se chove. Toda a gente, de um modo ou de outro, escolhe as coisas em que acredita. A minha proposta é que o critério, em vez de ser a sensação visceral que uma ideia nos causou ou o pedido de credulidade do apresentador, seja a ponderação consciente e informada sobre a matéria em causa. Que seja a qualidade da justificação. Que seja a qualidade da resposta à pergunta: “como sabes isso?” Se a resposta é outro apelo à credulidade, ou porque era bom que assim fosse ou porque há muita coisa que ainda não se sabe (apelo à ignorancia) que é a norma nos auto-intitulados abertos de mente (pelo menos quando o termo vem à baila), estamos mal.

Eu até poderia dizer que se isso é a tal “mente aberta” não me faz falta uma mente aberta. Mas é o próprio uso do termo que está errado. Mente aberta sim, mas com espírito crítico.

Quem diz ter mente aberta com tanta prontidão, (normalmente para impingir as coisas que diz requererem mente aberta), está a rejeitar outras ideias muito mais plausíveis sobre o mesmo assunto e que se refutam mutuamente. E quem achar que tudo o que passa pela cabeça de alguém é verdade e que é verdade tudo ao mesmo tempo, bem… Recomendo as melhoras.

4 comentários

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  1. Cibele, cuidado, perceba, não há maior expansão da mente do que fazem os pseudos.

    Só que sem base cientifica, sem realidade, e em volume, e aí está o mote da charge.

  2. Ilustração sonora 😛

    Mas sou um bocado cetico em relação àquela história da mulher dele. Tem sarna?

  3. A mente aberta é o que disse Einstein:
    “A mente que se expande em um ideia, jamais retorna a seu tamanho original”

    Isso sim é uma mente aberta.

    • Ana Guerreiro Pereira on 13/01/2012 at 23:13
    • Responder

    O Tim Minchin ilustra bem o teu texto:

    http://www.youtube.com/watch?v=bBUc_kATGgg

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