Um Mundo Acolhedor Mesmo Aqui ao Lado ?


(A nova Super-Terra GJ667Cc iluminada debilmente pela sua hospedeira anã vermelha. Crédito: Tyrogthekreeper)

Uma equipa liderada pelos astrónomos da Carnegie Institution for Science Guillem Anglada-Escudé e Paul Butler, descobriu uma Super-Terra em órbita de uma das estrelas do sistema triplo GJ667 (Gliese-Jahreiß 667), situado a apenas 22 anos-luz de distância na direcção da constelação do Escorpião. O sistema é constituído por duas componentes, A e B, de tipos espectrais K3V e K5V (menos maciças, luminosas e quentes que o Sol) que orbitam em torno de um centro de gravidade comum com um período de 42 anos. A terceira componente, C, é uma anã vermelha que orbita o sistema formado por A e B à distância. As estrelas do sistema têm uma abundância em “metais” que é apenas um quarto da do Sol.

Foi em torno da GJ667C, a anã vermelha, que foi descoberto o novo planeta designado de GJ667Cc. Como o nome implica, já tinha sido descoberto um planeta em torno desta estrela, o GJ667Cb, uma Super-Terra com um período orbital muito curto de 7.2 dias. Na realidade, o objectivo do estudo que deu origem à descoberta era o de refinar a órbita e estimar com mais precisão a massa mínima do GJ667Cb. Para o efeito a equipa aplicou uma nova técnica de processamento de dados a observações da estrela obtidas pelo HARPS, pela equipa do Observatório de Genebra, combinadas com observações próprias, realizadas com o espectrógrafo HIRES, no telescópio Keck I, no Hawaii, e com o novo espectrógrafo Carnegie Planet Finder, instalado no telescópio Magellan II, no Chile.

A análise destas observações permitiu à equipa identificar claramente o sinal do GJ667Cb e, inesperadamente, um outro sinal mais débil devido a um planeta mais exterior, com um período orbital de 28.2 dias e uma massa mínima de 4.5 vezes a massa da Terra. À distância a que orbita a estrela, o GJ667Cc recebe cerca de 90% da quantidade de luz que a Terra recebe do Sol. No entanto, uma vez que a maior parte da radiação emitida pela anã vermelha se situa na zona do infravermelho, o planeta deve absorver a energia de forma mais eficiente do que a Terra o faz com a luz solar. No cômputo geral, a quantidade de radiação absorvida pelo planeta deverá ser semelhante à absorvida pela Terra permitindo possivelmente a existência de água no estado líquido. De facto, o GJ667Cc situa-se na zona habitável da estrela hospedeira. Para além do GJ667Cc, o sistema poderá ainda ter mais uma Super-Terra e um gigante de gás, ambos em órbitas mais exteriores. A confirmação destas hipóteses carece no entanto de mais observações.


(O sistema de GJ667C, com o novo planeta GJ667Cc na zona habitável da estrela. O planeta “d” não está ainda confirmado. Crédito: Carnegie Institution for Science)

A relevância desta descoberta, numa altura em que somos inundados com descobertas da missão Kepler, reside na proximidade do sistema, que é um vizinho próximo do Sol. Os planetas detectados pela missão Kepler situam-se a centenas ou milhares de anos-luz de distância e têm uma importância fundamentalmente estatística, contribuindo para percebermos melhor que tipo de planetas e sistemas planetários existem na nossa galáxia. Este conhecimento será depois utilizado no planeamento, essencialmente na escolha de alvos, de missões futuras que irão tentar observar directamente planetas em torno de estrelas na vizinhança do Sol. Estrelas como as do sistema GJ667.

A descoberta será publicada na revista Astrophysical Journal Letters. Podem ver a notícia original aqui.

14 comentários

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    • Paulo Albuquerque on 04/02/2012 at 01:14
    • Responder

    Boas,

    Tendo recentemente descoberto este blog e sendo tb eu um leigo na materia, porem interessado, gostaria de dar a minha pitada.

    A influencia dos planetas gigantes nas trajectorias de certos corpos celestes não poderão tambem dirigir esses mesmo objectos em direcção á terra? Embora ache que a probablidade de tal acontecer seja infinitamente menor se comparada com a possibilidade de os afastar.

    Embora acompanhe o Michio Kako, acho-o demasiado ligado á ficção cientifica. E fiquei um pouco desiludido com o mesmo, quando reparei que nas suas conferencias o discurso usado era o mesmo á uma data de anos.

    Sonhar com a colonização de qualquer planeta nos tempos mais proximos acho extremamente dificil ou mesmo impossivel. Será necessaria uma grande evolução tecnologica que a meu ver demorará no minimo centenas de anos a atingir. Afinal mesmo a colonização da Lua não está para acontecer brevemente.

    “É mais difícil isto acontecer do que… me sair o totoloto todas as semanas durante 20 anos” haja esperança… 🙂

    Acho mesmo que nos destruimos antes de qualquer destas conquistas.

    Um abraço de NJ EUA

    1. “A influencia dos planetas gigantes nas trajectorias de certos corpos celestes não poderão tambem dirigir esses mesmo objectos em direcção á terra?”

      Sim, foi isso que referi num comentário em cima.
      Mas parece que é em muito menor quantidade do que aqueles que ele poderá “puxar” para si.

      ““É mais difícil isto acontecer do que… me sair o totoloto todas as semanas durante 20 anos” haja esperança…”

      A probabilidade ainda é menor, se soubermos que eu nem sequer jogo no totoloto 😛 LOL 🙂

      “Um abraço de NJ EUA”

      Os EUA é o 3º país donde nos vêm mais visitantes, mas sinceramente não sabia de mais ninguém dos EUA que nos visitasse 😉
      Mas temos até visitantes que estão na Eslovénia, e também não sei quem são 🙂

      abraços

        • Paulo Albuquerque on 04/02/2012 at 02:18

        sobre o totoloto já somos dois….mas a esperança mantem-se..

        As estatisticas da web são muito pouco crediveis. Existem muitos “robos” que pesquisam constantemente os website para indexar os novos conteudos e que contam como visitas. Depois as pesquisas por palavras chave em motores de busca podem enviar visitantes que nem percebem patavina de Português.

        Sou um frequentador assiduo do nightskiesnetwork.com e espero em breve ter o meu telescopio (já que o primeiro deixei em Portugal) para efectuar uma espiadelas pelo universo.

        mais uma vez, abraços.

        P.S. ahhh e sou tb da cidade invicta.

  1. Aqui está o artigo:

    http://arxiv.org/abs/1202.0446

  2. “(…) a quantidade de radiação absorvida pelo planeta deverá ser semelhante à absorvida pela Terra permitindo possivelmente a existência de água no estado líquido. De facto, o GJ667Cc situa-se na zona habitável da estrela hospedeira. (…)”

    Excelente notícia!!!! 🙂

    Quanto à possível vida:
    Os jornalistas normalmente imaginam que se está na Zona Habitável, então poderá ter vida.
    Mas claro que não é assim.
    Vénus esteve na Zona Habitável, e está agora muito próximo dela, mas aquilo é um inferno…
    Já Marte é um deserto e também está no outro limite da nossa Zona Habitável.
    Existem diversos condicionalismos para a existência de vida que não passam só pela distância à estrela 😉

    Jupiter funciona como salvador mas também pode funcionar como causador. 😉 Pode fazer com que asteróides tenham uma órbita a entrar no sistema solar interior devido à sua atracção. 😉
    Por isso, eu diria que Júpiter não é essencial – apesar de eu estar a ir contra as ideias do Ward, Brownlee, e mais uma data de cientistas 😉

    Quanto ao sistema de Gliese 581:
    http://www.astropt.org/?cat=284
    http://www.astropt.org/2011/11/25/index-de-habitabilidade-dos-planetas/
    http://www.astropt.org/2007/04/25/gliese-581/
    http://www.astropt.org/2010/12/23/astronomos-do-eso-respondem-a-pergunta-gliese-581d-e-um-planeta-extrasolar-potencialmente-habitavel/
    http://www.astropt.org/2010/10/01/gliese-581-g-o-1%C2%BA-planeta-como-a-terra/
    http://www.astropt.org/2010/09/29/gliese-581g/

    🙂

  3. Pergunta ‘optimista’!!!: Quando tempo demoraria por exemplo uma sonda equipada com um porpulsor de íons – actual – a efectuar 22 anos-luz?!!!
    (‘esquecendo’ todas as outras variáveis conhecidas e desconhecidas do espaço interestelar)

    Abraços

    1. http://www.astropt.org/2008/07/12/quanto-tempo-leva-a-viajar/

      As Voyager vão levar 73 mil anos para chegar à estrela mais próxima do Sol, e que está a 4 anos-luz.

      22 anos-luz é mais de 5 vezes essa distância.

      Mesmo que uma sonda com propulsor de iões vá mais depressa, mesmo assim demorará à volta de 300 mil anos.

      O astroPT promete que daqui a 300 mil anos damos a notícia dessa sonda a chegar a este sistema 🙂 ehehehee 🙂

  4. ainda acho gliese 581 um sistema bem melhor em questões de habtabilidade, já que sao 3x mais chances,gliese581c gliese581g gliese581d e o melhor sao só 2 anos de de diferença pouca coisa kkkkkkkk

  5. Olá Renato,

    Quanto à existência de vida é impossível dizer. Sabemos muito pouco sobre o planeta (e sobre a vida).

    O sistema tem mais um planeta que já era conhecido (o GJ667Cb) e poderá ter mais 2 se se confirmarem os sinais detectados pela equipa, como referido no texto 😉

    A existência de Júpiter no nosso Sistema Solar e especificamente na órbita em que se encontra é importante para a Terra. Júpiter funciona como uma espécie de aspirador espacial, capturando ou dispersando para fora do Sistema Solar corpos que poderiam continuar o seu percurso até à região interior do Sistema Solar e colidir com a Terra. Pensa-se que esses cataclismos têm consequências nefastas para a vida mas, no caso da Terra, o único que conhecemos, nunca conseguiram extingui-la.

    Quanto à 2a pergunta não faço a menor ideia. Há muitas outras estrelas potencialmente mais interessantes mais próximas do Sol. Mas não vou especular senão aparece aí o Carlos e acusa-me de práticas pseudo ;-)))

    Ab.

    Luís

      • Renato Romão on 03/02/2012 at 19:40
      • Responder

      Grato pelas respostas.
      Mais uma vez volto a referir que sou um leigo muito curioso e interessado, mas no momento sem muito tempo para ler e investigar. A minha questão da importância da existência de um planeta como Júpiter, deve-se ao facto de um dia estar a ver um documentário com Michio Kaku a criar um sistema solar (http://www.youtube.com/watch?v=nud-AD3bZf8), onde ele menciona a devida importância, mas na minha opinião (leigo), vai sem dúvida ao encontro da opinião do Carlos e fiquei com a tal dúvida, se seria melhor ou não ter um planeta como Júpiter.
      Gosto de pensar que possivelmente um destes exoplanetas, já descobertos ou por descobrir, possa ser alvo de colonização humana de forma a escapar à hipotética extinsão da nossa civilização. É neste contexo que foram direccionadas as minhas questões.

      Abraços

      1. Existe um paper muito interessante sobre o papel de Júpiter.
        Numa das últimas conferências científicas a que fui, um aluno de doutoramento de astrofísica tinha feito uma investigação rigorosa sobre isso, com base em simulações computacionais.
        Se eu conseguir me lembrar quem era o rapaz (falei com ele em intervalos), e onde tenho o paper dele que ele me enviou, eu depois digo mais qualquer coisa sobre isto.

        Quanto à colonização humana é difícil. Por milhares de factores, entre os quais: a gravidade tinha que ser a mesma, e a atmosfera tinha que ser constituída pela mesma percentagem de elementos.
        É mais difícil isto acontecer do que… me sair o totoloto todas as semanas durante 20 anos. 😉

        abraços

        • Renato Romão on 03/02/2012 at 22:43

        Nada como uma boa terraformação.LOL
        E provavelmente alguns milhares de anos até estar concluido!!!
        Acredito no nosso potencial cientifico!!!

        Abraços

        • Renato Romão on 03/02/2012 at 22:46

        Já me esquecia Carlos, se puder coloque um post com o tal paper.
        Mais uma vez, grato pela disponibilidade!

        Abraços

    • Renato Romão on 02/02/2012 at 20:01
    • Responder

    Boas,

    No entanto, não é de descartar que possa conter vida.
    Luís, vi numa noticia na SIC (http://sicnoticias.sapo.pt/vida/2012/02/02/descoberto-quarto-novo-planeta-potencialmente-habitavel), que o sistema poderá conter pelo menos mais 3 planetas.
    Só duas perguntas;
    1- Não é importante a existência de um planeta tipo Júpiter num sistema solar em que exista um planeta com caracteristicas semelhantes à Terra?

    2- É o planeta possivelmente habitável mais próximo da terra?

    Abraços

  1. […] Estudos anteriores de Gliese 667C descobriram que a estrela acolhe três planetas, situando-se um deles na zona habitável. Agora, uma equipa de astrónomos liderados por Guillem Anglada-Escudé da Universidade de Göttingen, Alemanha e Mikko Tuomi da Universidade de Hertfordshire, Reino Unido, voltaram a estudar o sistema, re-analisando os dados anteriores e acrescentando ao cenário já conhecido algumas observações novas do HARPS e dados de outros telescópios. Encontraram evidências da existência de até sete planetas em torno da estrela. Estes planetas orbitam a terceira estrela mais ténue do sistema estelar triplo. Os outros dois sóis seriam visíveis como um par de estrelas muito brilhantes durante o dia e durante a noite dariam tanta luz como a Lua Cheia. Os novos planetas descobertos preenchem por completo a zona habitável de Gliese 667C, uma vez que não existem mais órbitas estáveis onde um planeta poderia existir à distância certa. […]

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