FANIs, Nova Nomenclatura para Avistamentos

Hoje até uma “dona de casa é capaz de entender e explicar os mecanismos básicos de um tremor de terra”. Tal capacidade parece motivo de comemoração… mas não é. Isto porque o conhecimento adquirido por essa pessoa é baseado na internet e nos órgãos de informação gerais, contaminados com falsas informações e desinformações, cheias de misticismo.

Em 1686/87, na época de Newton, os cometas eram vistos como demónios cósmicos. Os sinos das igrejas tocavam e os líderes religiosos incentivavam às doações… contudo, se é fim do mundo para quê as doações? O mesmo acontece com Harold Camping, que prega o fim do mundo e incentiva às doações para a salvação. Temos o arqueísmo neste post que mostra como damos um valor divino a algo que não conhecemos. Ou seja, todo o desconhecido é mais poderoso, comanda a vida e criam-se estórias de medo até ser descoberto e se saber que é algo tão simples e bondoso.

O livro “Um mundo infestado de demónios”, de Carl Sagan, admite que a ciência fracassou na capacidade de sensibilização da inteligência. Desta forma, “deixou espaço para o misticismo e o oportunismo fazerem recuar as fronteiras do pensamento”.

Michael Shermer, numa coluna da Scientific American dá mais um exemplo do medo do desconhecido e da desinformação por parte de quem não se dá ao trabalho de questionar. Um objecto triangular, quase silencioso e a efectuar manobras rápidas no céu da Califórnia. Shermer verificou, com alguma facilidade, que se tratava de um bombardeiro Stealth B-2, o que para muitos seria um OVNI.

“Uma coorte de observadores políticos, militares e aeroviários” pretende substituir a sigla OVNI pela sigla FANIS (Fenómenos Aéreos Não Identificados). A jornalista Leslie Kean, com base nestes observadores,  escreveu um livro intitulado de “UFOs: generals, pilots, and government officials go on the record”.

Para Leslie cerca de 95% dos avistamentos terão uma explicação plausível, como “balões meteorológicos, fulgurações, faróis no céu, aviões em formação, aeronaves militares secretas, pássaros ou aviões que reflectem a luz, dirigíveis, helicópteros, Vénus ou Marte, meteoros, lixo espacial, satélites, parélios, relâmpagos circulares, cristais de gelo, luz reflectida por nuvens, luzes reflectidas por cabines de aviões.”. Uma lista de hipóteses reais para uma ideia supersticiosa sempre igual.

Na Bélgica, entre 1989 e 1990 ocorreu uma onda de avistamentos de OVNIs. O general de brigada Wilfried De Brouwer comentou sobre o capítulo do livro de Leslie que refere o caso:

“Centenas de pessoas viram uma gigantesca nave triangular com uma largura de aproximadamente 40 metros com potentes holofotes bem colimados, movendo-se muito lentamente sem produzir qualquer ruído relevante, mas em muitos casos acelerando com velocidades altíssimas”

Este parece ter sido o avistamento de um bombardeiro stealth. Agora vamos comparar este parágrafo com o de Leslie:

“O bom-senso nos diz que se um governo conseguiu desenvolver uma aeronave enorme, capaz de pairar imóvel somente a alguns metros de altura e depois desaparecer num piscar de olhos – tudo isso sem emitir nenhum som –”

Vamos a comparações: de “uma nave de 40 metros” passa para uma nave “enorme”; “mover-se lentamente” torna-se em “pairar imóvel”; “sem fazer qualquer ruido relevante” é alterado para “sem fazer qualquer ruido” e “acelerar a velocidades altíssimas” passou a ser “desaparecer num piscar de olhos”.

“Esta transfiguração de linguagem é comum nos relatos de OVNIs, dificultando a tarefa dos cientistas de fornecer explicações naturais.”. Explica Shermer. (Scientific American).

7 comentários

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  1. Achei muito interessante o site….

  2. É curioso os vários sentidos que se podem dar a FANI 😀 😀 😀

  3. FANI’s?!!!
    Não gosto, demasiado ‘amaricado’ (coisa de ‘veado’ – no Brasil!!!!), OVNI’s é mais macho!!!

    Na lista dos eventos naturais confundidos com avistamentos podemos acrescentar os Sprites:
    http://pt.wikipedia.org/wiki/Sprites
    http://www.youtube.com/watch?v=jF2gW2g5qKM

    Abraços

    1. Fui ler hoje só kkk
      Tiraram do ar o vídeo mas fiquei curioso

  4. Louvável a proposta da mudança da nomenclatura “OVNI” para “FANI’s”.

    Qualquer fenômeno, a princípio estranho, já se enquadra (pelos pseudos, principalmente) como sendo OVNI’s – e, como o Sérgio Paulino disse em outro comentário, leva as pessoas à conclusões precipitadas.

    Até ser um objeto criado por seres extraterrestres supostamente inteligentes à visitar a Terra, n-perguntas devem ser respondidas – a retirar do artigo:

    “(…) balões meteorológicos, fulgurações, faróis no céu, aviões em formação, aeronaves militares secretas, pássaros ou aviões que reflectem a luz, dirigíveis, helicópteros, Vénus ou Marte, meteoros, lixo espacial, satélites, parélios, relâmpagos circulares, cristais de gelo, luz reflectida por nuvens, luzes reflectidas por cabines de aviões”

    Se todas essas opções forem negativas, penso que uma outra se faz necessária: “Estas supostas naves seriam uma espécie de sondas espaciais, tais como nós criamos?”

    Belo artigo, Dário.

    😉

    Abraços.

      • Jonathan Malavolta on 02/02/2023 at 19:01
      • Responder

      Cavalcanti, seu comentário me fez lembrar uma história curiosa que deixou 2 pilotos brasileiros chateados com um operador de rádio (torre de comando). Alegaram estar sendo perseguidos por um OVNI e questionaram se o operador do radar detectou alguma coisa; receberam um não como resposta do operador de radar, e foi aí que o operador de rádio sugeriu que talvez estivessem vendo o reflexo do Sol no Planeta Vênus (era hora de lusco-fusco, como chamamos o entardecer aqui no Brasil); discutiram com o operador: “Mas vemos não se move, este está se movendo, então é OVNI”. A disputa deles só foi terminar uma semana depois pois os pilotos, experientes e alegando saber identificar quando se trata de Vênus, denunciaram a história pros jornais assim que pousaram. Coube a um físico, professor de Meteorologia da USP, solucionar o engano deles uma semana depois, demonstrando que naquele dia do suposto avistamento, Vênus encontrava-se exatamente na posição denunciada pelos pilotos, e como ele estava em seu periélio, aparentava estar maior; já os movimentos similares ao de um disco voador seriam causados pela ilusão do Sol refletindo diretamente em cima do movimento de translação do próprio Vênus.

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