Unha-3: foguetão pacífico ou míssil ameaçador?

Aproximamo-nos a passos largos da abertura da janela de lançamento para a missão do foguetão norte-coreano Unha-3. Apresentado ao mundo no passado dia 8 de Abril, muito já se tem conjecturado sobre o verdadeiro objectivo deste lançamento. Se por um lado a Coreia do Norte se esforça em reforçar as suas declarações sobre os objectivos pacíficos do Unha-3, muitos países referem a propaganda do regime norte-coreano que procura insistentemente esconder o seu verdadeiro objectivo de desenvolver um meio de transporte capaz de enviar armas de destruição maciça a meio mundo de distância.

De facto, a Coreia do Norte está impedida por várias resoluções das Nações Unidas de desenvolver tecnologias que sejam aplicadas no desenvolvimento de mísseis balísticos intercontinentais. Por outro lado, a Coreia do Norte sempre fez tábua rasa dessas resoluções, fazendo salientar o seu direito legítimo ao desenvolvimento destas tecnologias como forma de garantir a sua independência e segurança.

No jogo politico-estratégico que se desencadeia na península coreana, a propaganda dos dois blocos ainda tecnicamente em guerra vai tentando marcar pontos para ambos os lados numa situação que se torna mais alarmante ou se saber que nas comemorações do 100º aniversário de Kim Il-Sung, a Coreia do Norte deverá levar a cabo mais um ensaio nuclear.

Então surge a questão:O que é o Unha-3 – um foguetão pacífico ou um míssil ameaçador? Na verdade é um pouco de ambos. Recentemente, Ryu Gum Chol, Director Executivo da Exploração Espacial no Departamento de Tecnologia Espacial da Coreia do Norte, referiu que o Kwangmyongsong-3 pesava somente 100 kg e que para uma arma, este peso seria pouco eficaz. Por outro lado, sublinhou que o lançamento de um míssil balístico intercontinental necessitaria de uma tecnologia mais avançada e que não teria lugar de uma posição fixa. Ora, a referência à massa do Kwangmyongsong-3 como forma de justificar a veia pacífica desta lançamento pode levar em erro, pois um míssil balístico de dois estágios baseado no Unha-3, teria uma capacidade de carga muito superior a 100 kg. Sabendo que os Estados Unidos possuem ogivas nucleares com uma massa de cerca de 100 kg e admitindo que a Coreia do Norte ainda não foi capaz de fabricar ogivas deste tipo, logo este míssil desenvolvido a partir do Unha-3 poderá ser utilizado para o transporte destas ogivas mais pesadas. A referência à necessidade de se proceder a um lançamento a partir de uma posição móvel para se justificar a natureza militar de um vector deste tipo, também é enganadora. Tanto a União Soviética (R-7, etc.) como os Estados Unidos (Redstone, Atlas, Titan, etc.) desenvolveram mísseis balísticos intercontinentais que eram lançados a partir de posições fixas.

No tabuleiro do jogo estratégico que se pratica na Ásia, os próximos dias poderão vir a ser o rebentar de uma panela de pressão ou o silvo da válvula de escape de uma situação política que se arrasta há décadas e que representa o último resquício de uma guerra fria que baseada numa doutrina nuclear, manteve um instável equilíbrio desde a Segunda Guerra Mundial.

Imagem: People’s Daily

3 comentários

  1. Obrigado Cavalcanti! É sempre excitante e muito interessante escrever sobre estes lançamentos. Dá-me uma ideia do que seria tentar escrever sobre os lançamentos soviéticos na Guerra Fria!

    1. “(…) uma ideia do que seria tentar escrever sobre os lançamentos soviéticos na Guerra Fria!”

      Sim, sim. Não tenho dúvidas quanto à isso!

      😉

      Abraços cordiais.

      😛

  2. Já agora, Rui, excelente artigo.

    😉

Responder a Cavalcanti Cancelar resposta

O seu endereço de email não será publicado.

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

Verified by MonsterInsights