Senhoras e senhores, um planeta habitável

Gliese
(Um hipotético pôr do Sol visto a partir da super-Terra Gliese 667 cC. A estrela mais brilhante do céu é a anã vermelha Gliese 667 C, que faz parte dum sistema estelar triplo (Crédito: ESO/L. Calçada) )

Há muito que Gliese 667 cC é um dos «suspeitos» de pertencer ao ainda restrito clube dos planetas teoricamente capazes de sustentar vida, mas desta vez o anúncio dos astrónomos é mais peremptório: esta super-Terra – sugerem novos dados recolhidos por cientistas das universidades de Gottingen e da Califórnia – não só está dentro da chamada zona habitável (isso já se sabia) como se encontra «não nos limites, mas mesmo no meio». A frase é de Steven Vogt, um astrónomo da Universidade da Califórnia e conhecido caçador de planetas.

Um chef de cozinha diria que o planeta Gliese 667 Cc está mesmo au point: nem demasiado perto (a água evaporaria) nem demasiado longe (congelaria). Só nos falta «provar» a mistela e confirmar se tem o «sabor» que promete. Mas cheira bem!

Esta Terra em potência orbita a Gliese 667 C. Este é o nome de uma estrela anã vermelha, classe M, muito vulgar no Universo, com 31% da massa do Sol e 0,3% da luminosidade. A Gliese 667 C pertence a um sistema estelar triplo e encontra-se a 22 anos-luz da Terra na direção da constelação do Escorpião.

À escala cósmica, é como se vivesse num apartamento situado no mesmo andar que nós.

O planeta recebe a mesma quantidade de energia que a nossa Terra do Sol, pelo que é perfeitamente lógico supor que as temperaturas devem ser igualmente amenas. Gliese 667 C está a pouco mais de 12 por cento da distância a que a Terra se encontra da nossa estrela – o que é excelente, uma vez que se trata de uma estrela anã vermelha, muito mais pequena e ténue. Sendo assim, garante Vogt, as condições à superfície permitem a existência de água em estado líquido.

Não podemos ter a certeza quanto à existência de vida, mas se um dia tivermos tecnologia para enviar uma nave espacial numa viagem de 22 anos-luz, então será este o planeta de destino.

Mesmo que não consigamos descobrir vida nos próximos anos, o simples facto de existir um planeta rochoso num sistema triplo (uma anã vermelha, duas laranjas) pobre em metais poderá obrigar-nos a rever o que sabemos atualmente sobre os processos de formação planetária.

E se tivermos em conta que a maioria das estrelas no Universo são deste tipo (anãs vermelhas, classe M) quantos mundos rochosos se poderão ter formado onde nunca esperaríamos encontrá-los?

Estamos cada vez mais próximos de conseguir a descoberta do século – é ainda uma grande fezada, mas custa-me acreditar num Universo onde a vida seja apenas um milagre irrepetível.

É costume dizer-se que encontrar um planeta nestas condições é o Santo Graal dos astrobiólogos. Acho que a maioria preferia deixar cair todas as letras e ficar apenas com o G, e referir-se à descoberta de um exoplaneta habitável como o ponto G da astrobiologia. É menos medieval, mais sexy e inspirador, e igualmente difícil de encontrar.

4 comentários

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  1. “É costume dizer-se que encontrar um planeta nestas condições é o Santo Graal dos astrobiólogos. Acho que a maioria preferia deixar cair todas as letras e ficar apenas com o G, e referir-se à descoberta de um exoplaneta habitável como o ponto G da astrobiologia. É menos medieval, mais sexy e inspirador, e igualmente difícil de encontrar.”
    GOLD!
    🙂

  2. Adorei o pormenor do “ponto G”
    Excelente artigo Marco!!
    Cumprimentos

  3. Wow, finalmente.
    Mal posso esperar para aperfeiçoarmos nossa tecnologia e acharmos as “outras terras”.

  4. Mais uma vez, Marco, prestigio este excelente artigo escrito por sua pessoa.

    😉

    Abraços.

  1. […] b. CoRoT. CoRoT-Exo-7b. CoRoT-2b. HR 8799. Gliese 581, Gliese 581d (aqui), Gliese 581g (notícia), Gliese 667 cC, GJ 1214b (atmosfera de água), Kepler-186f, KOI-961, KOI-172.02, Alfa Centauri, Quinteto, Mais 10 […]

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