Lua, Oceanos e Bebés


Há muitas crenças relacionadas com os efeitos da lua. Vamos aqui limpar uma das crenças, pelo menos, com o auxílio de um excelente trabalho de Física. Mais à frente irei enumerar cerca de 20 crenças desmistificadas por mais de uma centena de estudos. É comum ouvir-se que nascem mais bebés nas noites de mudança de fase de lua ou de lua nova. O autor deste belo trabalho transcreve o que ouviu num programa nas ondas hertzianas por parte de uma astróloga: “Se a Lua é capaz de agir nas enormes massas de água dos oceanos, como ela não teria efeito sobre os líquidos no útero da mãe ou sobre outros fluidos corporais, influenciando no crescimento dos nossos cabelos?”

Neste excerto há apenas uma relação entre acontecimentos e uma colagem mal feita a uma crença. Uma inferência tem de ter uma formulação da ideia e não simplesmente uma relação. A segunda frase é a conclusão da anterior. Ou seja, é um argumento mas incoerente pois não há encadeamento científico entre as duas frases. “Sem dúvida, um persuasivo argumento, especialmente para quem desconhece como as marés ocorrem. As pessoas sabem que as marés existem; muitas já as observaram no mar, nunca, porém, em uma bacia”.

Muita gente não sabe mas a elevação dos oceanos não se dá apenas do lado da Terra que está voltado para a lua, mas também no lado diametralmente oposto e que “a força gravitacional do sol sobre a Terra é cerca de 200 vezes maior do que a força exercida pela lua”.

Contudo a lua influencia não só o oceano mas também a trajectória terrestre já que “é responsável por fazer com que o centro de massa da Terra descreva uma trajetória aproximadamente circular em torno do centro de massa do sistema Terra- Lua”

A imagem seguinte mostra, a diferença entre a crença e a realidade da elevação dos oceanos na terra. A imagem é, obviamente, exagerada.

Agora vamos ver se há sentido no tal excerto

Relação das fases da Lua com o nascimento de bebês

O oceano acaba por sofrer diferentes atracções gravitacionais pela lua e sol em diferentes zonas porque é bastante extenso. Estas diferentes atracções geram as marés. “Mas não há efeito de maré em uma região com volume tão pequeno quanto o de uma bacia, de uma piscina ou até mesmo de um açude, pois distintos pontos dessas regiões estão praticamente equidistantes do astro atrator, sofrendo, como qualquer massa, uma força de maré, constante em todo o volume de líquido e, portanto, incapaz de deformá-lo”. O mesmo ocorre com líquido no útero da mãe, é pequeno e todos os seus pontos sofrem a mesma tracção, logo não há qualquer efeito. “Entretanto, as marés acontecem em qualquer dia e não apenas nos dias das quatro fases principais da Lua. Conclui-se então que, se realmente nascessem mais bebês nos dias das quatro fases principais da Lua, tal fato não poderia ser atribuído aos efeitos de maré.”.

De seguida algo terrível. Números e gráficos. A apresentação de provas concretas e factos assusta muitos astrólogos:

Este é um estudo intitulado “Marés, fases da Lua e bebês” do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS. O autor é Fernando Lang da Silveira. Para este gráfico foram verificadas cerca de 93 mil nascimentos entre 1967 e 1983.

Para quem gosta, percebe e pretende saber mais sobre os efeitos da lua e os efeitos místicos que não tem poderá aceder ao site do estudo.

Como já referi acima mais de 100 estudos sobre efeitos lunares falharam em mostrar uma correlação confiável e significativa sobre numerosas crenças. De seguida apresento uma lista que não tem qualquer influência com a lua:

– o índice do homicídios
– acidentes de trânsito
– chamadas à polícia ou corpo de bombeiros
– violência doméstica
– nascimento de bebés
– suicídios
– grandes desastres
– proporção de pagamento de prémios em casinos
– assassinatos
– sequestros
– agressões entre jogadores de hóquei
– violência em prisões
– internamentos psiquiátricos
– comportamento agitado de residentes de enfermaria
– assaltos
– ferimentos a bala
– facadas
– internamentos em salas de emergência
– explosões comportamentais de adultos com deficiências psicológicas
– licantropia
– vampirismo
– alcoolismo
– sonambulismo
– epilepsia

Agora sobre a ovulação da mulher. Reparem que “o ciclo menstrual médio é de 28 dias e varia de mulher para mulher e de mês a mês, enquanto que, o comprimento do mês lunar é de consistentes 29,53 dias. Alguns de nós já perceberam que estes ciclos não são idênticos.”

Muita gente acredita nos mitos lunares porque os ouviram ser repetidos inúmeras vezes. São crenças repetidas e a isto chama-se reforço comunal. As pessoas alvo ficam selectivas sobre o tipo de dados aos quais elas prestarão atenção no futuro. Se alguém acredita que durante uma lua cheia existe um aumento nos acidentes, esta pessoa irá notar quando acontecerem acidentes durante uma lua cheia mas ficará desatenta à lua quando os acidentes acontecerem em outras ocasiões. Se algo estranho acontecer e houver uma lua cheia no momento, uma conexão causal será assumida.” (do Dicionário Cético)

Para terminar, este assunto já foi abordado pelo Carlos Oliveira neste post do qual deixo um excerto:

“Numerosos estudos já tentaram encontrar efeitos lunares. Todos eles comprovaram a inexistência de qualquer relação. […]

Dezenas e dezenas de estudos feitos em diversos países sobre centenas de milhares de nascimentos provaram não haver qualquer relação entre o número de nascimentos e a fase da Lua.
Leiam aqui sobre estudos feitos em França e em Itália.
Leiam aqui sobre estudos feitos no Brasil. […]

Ou, como eu já tenho dito várias vezes, a parteira/enfermeira que assiste ao parto tem incomparavelmente mais influência gravitacional sobre o parto do que a Lua.

Se quiserem continuar a acreditar em mitos sem sentido, só há mais uma coisa a fazer: vão a um hospital e peçam os registos de nascimentos e façam a correlação por vocês próprios de modo a ver se há alguma diferença em termos de fase da Lua.”

8 comentários

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  1. Boa Tarde.

    Acabei de ler o estudo feito por Fernando Lang da Silveira, mencionado no texto acima. O estudo feito por ele não possui qualquer análise qualitativa dos dados, ou seja, ele considerou friamente a data de nascimento, não importando se foram cesarianas, partos normais, se a mãe teve algum problema durante a gestação, etc. Um estudo assim pode até ser considerado uma alavanca para novos estudos, mas não pode eliminar completamente a influência da mudança da lua nos partos.

    Estou grávida de 8 meses e passei muito bem durante a gestação toda. Porém, no mês passado, tive um episódio de contrações no qual precisei ser internada e ser medicada para manter meu filho até a data necessária. Quando comecei a ouvir esta história do nascimento na virada da lua, olhei no calendário e constatei que este fato ocorreu justamente na lua cheia do mês passado (entre 18 e 20 de setembro de 2013).

    Isso posto, não considero confiável o estudo, nem mesmo o relatado neste blog. Espero que outros estudiosos se interessem pelo assunto, pois os mitos populares sempre nascem de alguma informação verídica ou observação de antigos.

    Abraço a todos.

    1. Ser cesariana ou não é completamente irrelevante.

      A Lua não tem qualquer relevância em partos ou noutras tretas quaisquer que perfazem os mitos populares. Basta olhar quantitativamente para os números e para os mais de 100 estudos realizados (não vou sequer tomar como séria a expressão “observação dos antigos” porque como toda a gente deveria saber e já foi explicado dezenas de vezes neste blog, “conhecimento milenar” é somente uma expressão utilizada pelos vigaristas para enganar o povo com tretas, já que qualquer pessoa compreende que as “observações dos antigos”, que para apaziguar vulcões matavam pessoas ou para ganhar a força dos seus opositores comiam-lhes o coração, eram no mínimo um conjunto de crenças infundadas).
      Além disso, existe uma coisa chamada ciência, que lhe dá por exemplo a internet onde está a escrever. E a ciência é clara: um mosquito que entre na sua sala de partos tem muito maior influencia sobre si, que a Lua. A parteira que existir na sua sala de partos tem muito maior influencia sobre si do que qualquer Lua ou objecto celeste que queira imaginar. A ciência e matemática básica permitem concluir isto. Isto são os factos.
      O resto são historinhas para entreter pessoas com base no erro tipo I da estatística.

      Quanto à sua gravidez, o facto de ter tido episódios de contracção já perto do nascimento é normal e nada tem a ver com a Lua. O facto de ser na altura da Lua Cheia e ter relatado aqui, tem a ver com o erro tipo I em estatística. Porque todas as grávidas que vêem isso acontecer noutras fases da Lua, e se isso acontecesse à própria Juliana a 5 de Setembro por exemplo, já não viria aqui relatar o facto porque não seria “levada” por esse erro de estatística de só dar relevância a factos que estejam de acordo com aquilo que gostaria que fosse verdade.

      Espero que corra tudo bem com a sua gravidez e que o bebe nasça completamente saudável.

      abraços

      P.S.: depois avise quando a criança nascer 🙂

  2. vampirismo?
    oh really?

    este pessoal inventa cada uma…

  3. Também já me tinha referido a este assunto, aqui:
    http://www.astropt.org/2009/09/01/partos-na-lua-cheia/

    🙂

    1. Olá Carlos… ou Dr Carlos :op  já actualizei o post com a referência ao post de 2009. Coloquei um excerto para ser lido e haver curiosidade de ir ao post de 2009 também. Um abraço!

      1.  ahh great 🙂  Obrigado por incluíres no post 😉

      2.  ahh great 🙂  Obrigado por incluíres no post 😉

    2. Olá Carlos… ou Dr Carlos :op  já actualizei o post com a referência ao post de 2009. Coloquei um excerto para ser lido e haver curiosidade de ir ao post de 2009 também. Um abraço!

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  2. […] lua estava quase cheia – fez-me lembrar que muita gente já está a preparar crenças sobre a lua cheia (e também aqui). Em breve talvez haja alguma água milagrosa para atenuar os efeitos nocivos da […]

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