A morte de um planeta, agora

A equipa de astrónomos pensa que o planeta foi apanhado pela sua estrela, à medida que ela envelhecia e aumentava de tamanho, como se vê nesta representação artística.

Se marcaram viagem na vossa agenda para daqui a 2 mil milhões de anos é melhor cancelar.

Por essa altura o Sol estará muito mais luminoso e a Terra muito mais quente. Os oceanos ter-se-ão evaporado e até os Himalaias estarão derretidos. Não haverá sítio humanamente possível de visitar, só Dante e o seu inferno.

O aumento progressivo da luminosidade do Sol não é nenhuma novidade, acontece desde sempre. Mesmo na sua fase estável atual – os astrónomos chamam-lhe «sequência principal» – tem vindo a ganhá-la. Quando o Sistema Solar se formou, o Sol tinha 75 por cento da luminosidade atual. Daqui a mil milhões de anos terá 10 por cento mais.

Acrescentem-lhe mais mil milhões e será a despedida da vida na Terra tal como a conhecemos. As sete maravilhas do mundo estarão reduzidas a pó – tal é a força da Natureza e a indiferença perante os nossos feitos artísticos e arquitetónicos.

Com mais três mil milhões em cima dar-se-á início à fase de gigante vermelha: Mercúrio, Vénus e provavelmente tudo o que conheces, conheceste ou virás a conhecer neste planeta, serão engolidos pela fornalha.

E foi precisamente a destruição de um planeta que o telescópio Hobby Eberly do Observatório McDonald, no Texas, conseguiu captar. Melhor, inferir. A descoberta foi feita pela equipa de Alex Wolszczan, da Universidade Penn State, e publicada na revista Astrophysical Journal Letters.

A estrela devoradora é uma «velhota» transformada em gigante vermelha – chamam-lhe BD+48 740 e encontra-se a 1800 anos-luz.

Os cientistas já a andavam a estudar há algum tempo. Começaram por achar bizarro encontrarem um planeta enorme (1,6 vezes maior do que Júpiter) a descrever uma óbita elíptica em torno da estrela. Isto só podia significar que algum evento importante ocorrera nas imediações – um acontecimento suficientemente grande para alterar a órbita do gigante gasoso.

O que se passou foi uma catástrofe: o processo de destruição de um segundo planeta pela estrela libertou tanta energia que fez o gigante jupiteriano oscilar de um lado para o outro, alterando-lhe a órbita. E agora esse planeta já tinha desaparecido, engolido pela gigante vermelha em agonia. Tudo o que dele restava era a perturbação que gerou.

Restavam as memórias da sua luta inglória contra o poderio da estrela e um elemento químico que apanhou toda a gente de surpresa: lítio.

As análises de espetroscopia mostraram que a estrela BD+48 740 é composta por quantidades anormalmente grandes de lítio – ora, encontrar um elemento destes em abundância numa estrela daquela idade é quase tão improvável como descobrir açúcar no Mar Negro.

O lítio foi originado durante o Big Bang e é normalmente destruído nas estrelas. Que significado tinha aquilo e como terá ido lá parar tanto lítio?

Alex Wolszczan, o líder da equipa, citado pela BBC, responde: «Provavelmente a produção de lítio terá sido despoletada por uma massa do tamanho de um planeta. Este, deslocando-se em espiral, entrou na estrela e aqueceu-a enquanto estava a ser digerido

As aranhas fêmeas que devoram os machos depois do ato achariam todo este processo tremendamente sexy.

Claro que esta descoberta é entusiasmante porque reforça a ideia – ainda difícil de aceitar por alguns – de que a Ciência faz predições razoavelmente corretas. E confirma que quando especulamos sobre o destino da Terra daqui a cinco mil milhões de anos não andámos a consultar calendários dos Maias, mas o próprio Cosmos.

A Terra evaporar-se-á daqui a cinco mil milhões de anos – um acontecimento tão incompreensível, grandioso e incontrolável para nós como uma fogueira para uma formiga. Mas nada como confiar na extraordinária capacidade da inteligência humana e sermos otimistas de que não a usaremos para fazer coisas estúpidas como, por exemplo, rebentar-nos uns aos outros.

Entre a descoberta da Agricultura e a amartagem da sonda Curiosity passaram dez mil anos. Quem poderá impor limitações ao que seremos capazes de fazer daqui a mil milhões?

Portanto pode acontecer que os eventos que se seguem – majestosamente desenhados pelo grande ilustrador Ron Miller – venham a ser manipulados e evitados pelos nossos longínquos descendentes, seres tão tecnologicamente avançados que nos lembrariam deuses (ou extraterrestres).

O que acontecerá quando o Sol der o badagaio?

O dramático aumento da luminosidade…

… e o Inferno venusiano na Terra

Com a preciosa ajuda do mestre Ron Miller e do artigo nesta página, embarcamos na nave da imaginação de Carl Sagan e fazemos uma viagem de milhões de anos.

Quando as reservas de hidrogénio que se encontram no núcleo do Sol começam a esgotar-se, é tempo de dizer adeus ao nosso planeta. Não havendo mais hidrogénio para queimar, não haverá mais produção de energia. Sem energia, o núcleo do Sol não conseguirá suportar o peso das camadas mais externas e sofrerá um colapso. Esse colapso provocará um enorme aumento da sua temperatura. O núcleo do Sol atingirá os 100 milhões de graus Celsius.

Os oceanos evaporar-se-ão, a atmosfera escapará para o Espaço e, por fim, todo o nosso planeta se terá transformado num deserto escaldante com 700 graus de temperatura à superfície.

Os últimos momentos da Terra

O Sol visto da lua Europa: os gelos derretem

O gigantesco Sol visto a partir de Plutão

O Sol consome os últimos vestígios de hidrogénio – o que existe ainda nas camadas mais próximas do núcleo. Esta derradeira tentativa será tão violenta que as camadas externas, que tinham colapsado em direção ao núcleo, serão empurradas para fora outra vez. O Sol começa a inchar e inicia a fase em que se transforma numa gigante vermelha.

Temos quase a certeza de que o planeta mais próximo, Mercúrio, será engolido. Vénus e Terra também. Mesmo que um Sol inchado não alcance a Terra, ela será destruída pelas forças de maré da gravidade.

Se existissem seres humanos na Terra imunes ao calor e à radiação, e o planeta não chegasse a ser engolido pelo Sol, o céu seria, mesmo assim, aterrador. Não seria azul, mas vermelho vivo. Imaginem um Sol brilhando com uma luminosidade 2 mil vezes superior e um diâmetro 200 mil vezes maior que o atual: um observador no nosso planeta veria não um céu azul mas o equivalente a um gigantesco mar de lava. O Inferno teria finalmente conquistado os céus.

Sol como anã branca, visto de uma eventual Terra sobrevivente

E se por alguma razão ainda desconhecida este planeta sobreviver ao cataclismo, será apenas um corpo morto banhado pela luz fantasmagórica de um sol mirrado, uma anã branca.

9 comentários

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    • Matheus Fernandes on 05/07/2017 at 17:07
    • Responder

    O que o artigo não cita é que a Terra pode escapar também e ter um aumento na sua órbita,já que durante a sua transformação para Gigante vermelha do Sol,ele também tende a perder massa e com ele perdendo massa sua gravidde diminuirá e dessa forma a Terra pode alongar sua órbita. Mas é um ótimo artigo

  1. Parabéns pelo excelente artigo. Uma pergunta, o que acontecerá a Marte (também será destruido ou é mais provavel que “sobreviva”)?

    1. Deverá sobreviver. Poderá sair da órbita actual, sendo “empurrado” ou “puxado” pela força gravitacional. 😉

  2. adorei, pena saber que não vou viver mais de 2 mil milhoes de anos hehe

  3. Excelente trabalho, Marco!

  4. Espectacular, Marco!
    Vou consultar a minha agenda… 🙂

    • Ricardo André on 31/08/2012 at 16:57
    • Responder

    Excelente trabalho, digno de um portfolio 😀

  5. Excelente artigo Marco. Um toque literário só faz bem à informação científica. Pessoalmente, adorei. 😀

  1. […] no Texas. Relâmpago. Tornado de Fogo. Local mais frio. Porta do Inferno. Doggerland. Destino da Terra. Salvar a Terra (não é preciso). Ego vs. […]

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