Afinal a bactéria não era de arsénio

Lembram-se da notícia revolucionária da descoberta de vida baseada no arsénio? Relembrem, aqui.
E lembram-se de todas as críticas que se seguiram? Relembrem, aqui.

Leiam também este excelente artigo de André Levy.

Em Janeiro deste ano, um novo estudo, liderado pela conhecida Rosie Redfield, falhou na sua confirmação da experiência anterior da Felisa Wolfe-Simon. Leiam aqui.

Em Julho passado, dois novos estudos comprovaram os resultados negativos.

Segundo estes novos estudos, “os novos resultados mostram claramente que a bactéria, GFAJ-1, não é capaz de substituir arsénio por fósforo para sobreviver”.

Como escreveu o Público:
“Em princípio, todas as formas de vida na Terra precisam de seis elementos de base: oxigénio, carbono, hidrogénio, azoto, fósforo e enxofre. Mas há ano e meio, num autêntico golpe mediático incentivado pela agência espacial norte-americana NASA, a equipa da astrobióloga Felisa Wolfe-Simon (da NASA), publicara, também na Science, resultados de experiências que, segundo esses cientistas, mostravam que a dita bactéria, natural do lago Mono, na Califórnia, era uma forma de vida totalmente diferente de tudo o que se conhecia até lá. Isto porque ela era capaz, num meio muito pobre em fósforo e rico em arsénio, de continuar a proliferar integrando no seu ADN e noutras moléculas o arsénio, elemento muito tóxico mas cujas propriedades são semelhantes às dos fósforo.”

Os novos estudos revelam que “o meio [utilizado pela investigadora] apresentava uma contaminação com fosfatos suficiente para suportar o crescimento de GFAJ-1”.
O comunicado para a imprensa diz ainda que “é provável que a bactéria seja exímia em captar, mesmo em condições extremas, o escasso fosfato disponível no ambiente, “o que ajudaria a explicar por que é que ela consegue crescer mesmo na presença de arsénio dentro das suas células”.”

A conclusão é clara: a bactéria “não viola as regras da vida, estabelecidas de longa data, ao contrário da interpretação que Wolf-Simon dera aos resultados da sua equipa”.

O comunicado também realça as vantagens do processo científico que está à-vista de toda a gente: “o processo científico é por natureza um processo que se vai auto-corrigindo, onde os cientistas tentam replicar os resultados publicados”, daí ser importante a “informação adicional sobre a GFAJ-1, um organismo extraordinariamente resistente cujo estudo mais aprofundado merece interesse, em particular no que respeita aos mecanismos de tolerância ao arsénio”.

Leiam o artigo completo no Público.

Gostei também de ver dois comentários ao artigo, que dizem:
“Isto é ciência no seu melhor. Um estudo publicado, transparente, detalhando as condições. E outro estudo, usando o anterior, provando que as conclusões eram erradas. E de tudo isto sai avanços. Era excelente que todas as áreas fossem assim, atendendo-se aos factos, e avançando com eles, em lugar de ter medo que conclusões diferentes possam ser vistas como fraqueza ou erro.”
“A diferença entre Ciência e Pseudociência está aqui tão clara como água.”

1 comentário

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    • Aureo André Karolczak on 05/01/2016 at 12:13
    • Responder

    Eu me lembro disto, acompanhei com muito interesse na época. Tentei não assumir uma posição negativa quanto ao fato, afinal muitas injustiças foram feitas na história da ciência, mas a posição da pesquisadora em questão, se negando a discutir os pontos polêmicos da “descoberta”, alem de irritante era um claro indicativo que tinha mosca na sopa. É uma pena pois seria um campo de pesquisas potencialmente poderoso. Agora é interessante lembrar que todos que assinaram a pesquisa da Sra Felicia , inclusive como orientadores, saíram á francesa deixando a pesquisadora aos leões.

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