Eclipse solar total de 13 de Novembro de 2012

Por terras australianas e mares vizinhos decorrerá um eclipse solar total no próximo mês de Novembro no dia 13. E NÃO SERÁ possível observá-lo em terras europeias pois o eclipse terá início pouco depois das 19 h 30 min (hora portuguesa) na zona Nordeste da Austrália, como se pode ver no gráfico animado a seguir. Haverá fora da faixa da totalidade (grosso modo com pouco menos de 200 quilometros) por uma extensão até cerca de pouco mais de quatro mil quilometros, zonas de eclipse parcial do Sol, e assim poder haver eclipse parcial na Antárctida neste eclipse solar total. A totalidade ocorre numa faixa estreita que atravessa a superfície da Terra, ao passo que num eclipse solar parcial será visível numa maior extensão da ordem de milhares de quilometros. Só a parte Nordeste da Austrália será a única parte terrestre na qual a faixa da totalidade passará. O eclipse central (o mesmo que dizer na faixa da totalidade) começará no parque nacional Garig Ganak Barlu National Park no Northern Territory a cerca de 250 quilometros a Este de Darwin às 20 h 35 min portuguesas. Viajando na direcção Sudeste, a umbra rapidamente atravessará o golfo da Carpentária e chegará à Península do Cabo York às 20 h 37 min portuguesas. A primeira e única região habitada na faixa da totalidade situa-se na costa Este de Queensland. Trata-se de Cairns que ficará a cerca de 30 quilometros a Sul da linha central da faixa da totalidade. Para os humanos que lá estiverem poderão apreciar um eclipse de 2 minutos de totalidade. Os habitantes de Cairns que se dirigirem para a linha central ganharão mais 5 segundos de totalidade. Tudo terá de ser conjugado com os dados climatéricos oferecidos por Jay Anderson http://home.cc.umanitoba.ca/~jander/tot2012/tse12intro.htm.

Após deixar a Austrália, a umbra seguirá pelo oceano e não haverá qualquer zona terrestre que terá à sua passagem a faixa da totalidade. O máximo do eclipse – com duração máxima do mesmo – terá lugar no Pacífico Sul às 22 h 11 min e 48 s. Nesse instante, o prolongamento do eixo da umbra lunar passará muito próximo do centro da Terra. O Sol estará a uma altitude de 68º (imagine-se o ângulo formado desde o horizonte até ao zénite que são 90º, o Sol estará em relação ao “ponto mais alto” do céu a 90º-68º=32º). O eclipse terminará às 23 h 48 min a 800 quilometros a Oeste do Chile.

Figura 1 – Animação do eclipse solar total de 13 de Novembro de 2012 a decorrer na Australásia. O ponto a negro representará a indicação da faixa da totalidade. O grande círculo que se move, a azul mais escuro relativamente à dos oceanos, será a zona de umbra mais a zona de penumbra da Lua projectada na superfície da Terra. Créditos da imagem: A. T. Sinclair, retirado do sítio da NASA.

Um eclipse solar total ocorre quando a Lua se interpõe entre o Sol e a Terra; e o diâmetro aparente da Lua é maior do que o do Sol. Para essa interposição ter lugar é necessário que a Lua esteja num dos dois nodos, ou seja, o ponto de intersecção da órbita da Lua com a da Terra – ver também figuras 2 e 3. Além disso é necessário que o Sol, do ponto de vista da Terra, esteja também perto ou coincidente com a projecção de tal nodo. Não esquecer que o Sol está, grosso modo, a 1 UA de tal nodo.

Figura 2 – A imagem representa a orientação do plano orbital da Terra e do plano orbital da Lua. O nodo representa o ponto de intersecção do plano da órbita da Terra com o plano da órbita da Lua. O eclipse de 13 de Novembro de 2012 ocorrerá no nodo ascendente já que a Lua passará para Norte da eclíptica (quase, grosso modo, coplanar com o do plano orbital da Terra). É preciso notar que a eclíptica corresponde ao plano MÉDIO das órbitas do Sistema Solar e que não será totalmente correspondente ao plano orbital da Terra. Não esquecer que o Sol se encontra a cerca de 1 UA do nodo. É apenas por efeito de perspectiva que parece estar no mesmo plano onde se encontra a Lua e, com isso, parecer próximo do nodo. Escusado dizer que tal nodo não se manifesta fisicamente no céu. Esquema da autoria de Jorge Almeida.

A totalidade corresponde ao intervalo de tempo que decorre desde o início do contacto II até ao contacto III (vide figura 3 para maior esclarecimento). A duração máxima teórica de um eclipse solar total na totalidade é de 7 min 31 s. A duração máxima deste eclipse é de 4 min 2,1 s em pleno Pacífico a Este da Nova Zelândia.

Figura 3 – A imagem ilustra a sequência dos contactos numa situação de uma localidade que esteja precisamente na faixa central (quase próximo do meio dessa faixa central). A fase da totalidade inicia no contacto II e termina no contacto III. O contacto I inicia quando o bordo Oeste da Lua “toca” no limbo Oeste do Sol (note que o Sol está cerca de 400 vezes mais distante de nós do que a Lua, e que por coincidência, o seu diâmetro também é 400 vezes maior, o que faz com que, para um observador na Terra, os diâmetros aparentes dos dois astros sejam tão semelhantes). O contacto II sucede quando todo o disco solar está sob o disco lunar e o bordo Oeste da Lua “toca” no limbo Este do Sol. Depois no máximo, o centro do disco da Lua poderá coincidir ou não com o centro do disco do Sol (no caso ideal, isso acontece precisamente no meio da faixa central do eclipse.) No contacto III, o bordo Este da Lua toca no limbo Oeste do Sol; no final do eclipse, o bordo Este da Lua contacta com o limbo Este do Sol. Nota importante: A Lua, da imagem à direita, nos contactos II e III e no máximo foi propositadamente tornada transparente para se ver o disco do Sol que está ATRÁS do disco lunar. Nos contactos II e III sobressai um pouco do disco lunar para a direita no contacto II, e para a esquerda no contacto III. No máximo, o disco lunar sobressai um pouco mais em torno do disco solar que está em segundo plano. A convenção usada para as direcções da Lua foi a estipulada pela IAU em 1961. Esquema da autoria de Jorge Almeida.

A magnitude deste eclipse será de 1,0500 e o seu gamma será de -0,3718. O eclipse faz parte do ciclo Saros 133. Para os leitores que já andam a puxar os cabelos a perguntar sobre o que é esta magnitude, o gamma e o ciclo Saros aqui segue uma singela explicação: A magnitude de um eclipse é a fracção do diâmetro do Sol oculta pela Lua. É estritamente uma razão de diâmetros e não se deve confundir com obscurecimento do eclipse, o qual é uma medida da área superficial ocultada pela Lua. A magnitude de um eclipse pode ser expressa tanto por percentagem como por fracção decimal (exempli gratia – com o Sol oculto em metade do seu comprimento, a magnitude do eclipse será 50% ou 0,5). A magnitude no ponto máximo do eclipse (coordenadas geográficas: 39º 56,9′ S e 161º 19,8” O) é de 1,0500, o que significa que a Lua além de ocultar os 100% do diâmetro aparente do disco do Sol, oculta mais cerca de 5,0% do diâmetro aparente do disco do Sol. No concernente ao gamma de um eclipse tal serve para descrever quão central a umbra (=sombra) da Lua atinge a Terra ou então a umbra da Terra atinge a da Lua (este último caso é durante o eclipse lunar – parcial ou total). O gamma é a distância, quando o eixo do cone da umbra da Lua passa próximo do centro da Terra, que vai desde o raio da Terra e o prolongamento do eixo do cone da umbra (ver figura 1). O sinal de gamma define para um eclipse solar se o eixo da umbra da Lua passa a NORTE ou a SUL do centro geométrico da Terra. Um valor positivo significa que o eixo da umbra da Lua passa a NORTE do centro geométrico da Terra. No caso do eclipse solar de 13 de Novembro de 2012 o eixo prolongado do cone da umbra da Lua passa a SUL do centro geométrico da Lua, daí o sinal negativo no valor de gamma. O ciclo de Saros nada mais é do que uma família de movimentos lunares, que no decorrer de 18 anos, 11 dias e 8 horas, com a repetição da posição da relação Sol – Lua – Terra, verifica-se o mesmo padrão das mesmas sombras lunares sobre a superfície terrestre. Cada eclipse é, de facto, único. Nunca há dois eclipses iguais. Para mais pormenores sobre o ciclo de Saros, leia Saros, que saros?.

Figura 4 – Explicitação do parâmetro gamma de um eclipse solar total. O gamma representa-se com a letra grega ɣ. Destaque-se que há duas Luas que NÃO REPRESENTAM o mesmo eclipse! Serviu-se de duas Luas apenas para ilustrar dois valores distintos de gamma. O C a vermelho representa o centro geométrico da Terra que está assinalado com ponto de igual cor. O ponto B aponta para a intersecção entre o raio da Terra com o prolongamento do eixo da umbra lunar da Lua de cima. O ponto C aponta para a intersecção entre o raio da Terra com o prolongamento do eixo da umbra lunar da Lua de baixo. A distância entre este ponto de intersecção até ao ponto C é definida como AC (com traço por cima de AC) e esse segmento de recta AC é o gamma! É claro que esse gamma será negativo e é menor em relação ao outro gamma que é o segmento de recta BC. NOTA IMPORTANTE: A distância Terra-Lua está fora de escala, e tem mesmo que estar, senão o gamma seria impossível de ser marcado. Contudo pode haver um problema de interpretação da geometria da figura que pode criar um conceito errado na cabeça do leitor. Repare que na situação B, o centro de massa da Lua está numa posição que não poderia estar, pois não pertence à sua órbita. Deve ser entendido isso como um caso do gamma deslocado. Para ser mais preciso, seria necessário preservar os ângulos e não fazer caso dos diâmetros da Terra e da Lua. E, como tal, não se respeitou os ângulos na totalidade. Para tentar perceber melhor dou estas indicações: O plano da órbita da Lua está inclinado de 5 graus em relação à eclíptica. Recomendo que se adopte o plano horizontal do desenho como sendo a eclíptica. Então estabeleçam as duas situações A e B da Lua, de modo que a linha centro da Terra / centro da Lua esteja inclinada, no máximo, de 5 graus em relação à horizontal (nem é preciso deixar essa linha no esquema, é só para garantir). Pode-se diminuir o diâmetro da Lua, mas manter grande o da Terra, para o gamma ficar bem fácil de se ver. Claro, “estenda-se” mais o cone de umbra, para ele tocar na superfície da Terra. Esquema da autoria de Jorge Almeida.

Um acontecimento muito curioso, que ocorre alguns minutos antes do contacto II e após o contacto III, reside na formação de bandas de sombra. Notam-se bandas alternadas de luz difusa com zonas mais sombrias em superfícies claras e planas. Daí aconselha-se o uso de folhas ou de toalhas brancas estendidas ou então a observação de paredes alvas. De notar que estas bandas, numa fase inicial, manifestam-se de forma aleatória as quais, à medida que se aproxima o segundo contacto, se vão organizando e tornando lineares bem como devidamente alinhadas. Acompanhando estas mudanças, à medida que o segundo contacto se avizinha, nota-se invariavelmente um incremento de contraste, ao contrário do espaçamento entre as bandas que vai decrescendo. As bandas de sombra são a expressão da cintilação do Sol, que não são vistas no dia-a-dia dado o considerável diâmetro aparente da estrela Sol assim como o intenso brilho que emana. Ao contrário do que se vê em muitos livros, as bandas de sombra ainda carecem de um modelo científico que as explique satisfatoriamente, embora já se saiba que são afectadas pela turbulência da atmosfera, entre outros factores. Também é falso afirmar que um céu limpo é sinónimo de garantia de visibilidade destas bandas. Uma boa estabilidade atmosférica, a inexistência de ventos até 2 km de altura bem como ventos fortes impossibilita ou, pelo menos, dificulta sobremaneira a visualização de bandas de sombra.

Figura 5 – Ordem de acontecimentos de um eclipse solar total momentos antes do contacto I e após o contacto IV. Nota importante: Há alguma controvérsia sobre a ordem das contas de Baily e do anel de diamante. No entanto, dependendo da configuração do anel de diamante, que varia de eclipse para eclipse, mesmo perante uma fotografia duas pessoas podem ter percepções diferentes sobre como se parece um anel de diamante. Parece que tudo depende de qual seja o instrumento usado (olho nu – com o devido uso de óculos de protecção especial, binóculos e telescópio – ambos com filtro solar) poder resolver as contas de Baily. Se há apenas uma conta de Baily, ou se todas as contas de Baily surgem como apenas uma devido ao intenso brilho do Sol, ou se o Sol é ainda um fino decrescente (antes do contacto II) ou crescente (após contacto III) as pessoas podem interpretar como estando perante um anel de diamante. Contudo, as contas de Baily são um fenómeno mais objectivo, isto é, se consegue resolver múltiplas contas, sem margem para dúvidas, estará a olhar para as contas de Baily. O anel de diamante é mais subjectivo e depende da forma como vê o eclipse. Daí não se admire em ver noutras páginas sobre o eclipse uma ordem distinta da apresentada. A queda de luminosidade antecede a totalidade e prossegue durante a dita, o mesmo acontecendo com a temperatura. O vento de eclipse ocorre normalmente depois da totalidade. A visualização da umbra lunar precede a totalidade e prossegue após o fim da mesma. A visão de planetas e estrelas, bem como possibilidade de visualização de cometas e/ou asteróides terá ocorrência apenas na faixa da totalidade (salvo raras excepções). Poderá haver a hipótese de não se verem as contas de Baily bem como o anel de diamante dependendo do rebordo lunar. É provável que a coroa solar, dado que o Sol está no mínimo solar, não tenha uma dimensão angular apreciável. Panfleto da autoria de Jorge Almeida.

A par de todos os eventos já descritos, assim que está iminente o segundo contacto, acontece algo de único… surge uma “[…] jóia de luz maior que o próprio mundo […]”, ou seja, forma-se o anel de diamante. A observação do anel de diamante a olho nu sem uso de filtros adequados – óculos de protecção especial – deve ser considerada perigosa já que estamos a ver luz vinda da fotosfera do Sol que emite radiação ultravioleta e infravermelha nocivas para a retina do olho (lembre-se que a queimadura da retina é indolor). As dimensões do anel de diamante variam consoante o perfil do limbo lunar, podendo ser possível destacar desde um grande anel a um pequeno ou mesmo suceder a não visualização do anel. Mas antes deste último suspiro dos raios do Sol tocarem no limbo lunar – anel de diamante – geram-se as famosas contas de Baily que não são mais que o resultado de irregularidades no relevo lunar nas quais as montanhas bloqueiam a luz vinda do Sol e os vales lunares deixam passar os raios luminosos formando então pequenas esferas de luz intercaladas vistas aqui da Terra. Conforme o perfil do bordo da Lua, podem destacar-se muitas ou poucas contas de Baily. Assim que fica somente uma conta de Baily, forma-se o anel de diamante. Após desaparecer o anel de diamante, neste instante, dá-se o contacto II e entra-se na fase da totalidade. Só a partir deste contacto, é perfeitamente seguro olhar para o Sol sem óculos de protecção especial (logo depois de desaparecer o anel de diamante e as contas de Baily). E se já imaginava estar na apoteose final, desengane-se pois em redor da Lua diferencia-se a famosa coroa solar que tem um brilho aparente similar ao da Lua cheia, a qual faz vibrar mesmo o mais impassível ser humano. A coroa solar começará a emergir um minuto antes da totalidade (obviamente a coroa solar está sempre presente, no entanto, o forte brilho do Sol impede a visualização da pálida coroa solar no dia-a-dia, e que só emergirá visivelmente aquando um eclipse solar total) e tornar-se-á invisível poucos segundos após a mesma. Contudo, aconselha-se apenas a apreciá-la entre o contacto II e o contacto III, uma vez que ainda fora desse intervalo da totalidade é visível a fotosfera cuja observação a olho nu reveste-se de grande perigo para a retina.
Assim que a totalidade está prestes a terminar com início do contacto III ( Nota importante: Aconselha-se vivamente a colocar os óculos de protecção especial alguns segundos antes do contacto III ) todo o eclipse solar total segue a inversão dos acontecimentos, acrescentando um fenómeno que ocorre quase sempre a seguir à totalidade: vento de eclipse. Outros aspectos meteorológicos do eclipse relacionam-se com as nuvens… Normalmente as nuvens cumulus desaparecem durante um eclipse porque a superfície terrestre arrefece, no entanto, nuvens stratus desenvolver-se-ão mais uma vez que há arrefecimento da atmosfera. Nuvens espessas bem como tempestades dificilmente sofrerão qualquer mudança mesmo na eminência de um eclipse solar total. A meteorologia ligada ao eclipse é complexa e as mudanças dependem do tipo de clima, da situação meteorológica do dia, localização na Terra, duração do eclipse bem como a altura do dia em que se dá o eclipse. É importante realçar que sendo o eclipse um fenómeno dinâmico é verdadeira a afirmação “cada eclipse é único”. É frequente notar que muitos eventos ligados ao eclipse sucedem em simultâneo. Use de bom senso e tome as providências necessárias para os cuidados a ter, em especial nos contactos II e III. Acima de tudo, saboreie cada momento que o eclipse solar total oferece e junte-se aos “[…] milhões de gritos e aplausos na apoteose final[…]”.
Obviamente estas indicações só terão sentido a quem estiver a observar ou pretenda ir observar o eclipse na Austrália ou Pacífico. E para quem possa, recomendo vivamente e para esses leiam com atenção o Manual de segurança da observação do eclipse solar total no final do artigo.

Para quem tenha mais curiosidade em saber mais sobre os eclipses, continue a leitura que se segue:
O eclipse solar total além de ter suscitado muitos sentimentos de medo e admiração ao longo da História, serviu como meio de estudos científicos. Eclipses solares totais já foram e ainda estão a ser usados em várias pesquisas científicas, além da monitorização das vizinhanças do Sol, aproveitando o contraste gerado pela umbra lunar.
Através do eclipse solar total foi possível comprovar um dos aspectos da teoria da relatividade de Einstein em que corpos de grande massa como o Sol podem deflectir a luz dado que o Sol cria uma deformação na teia espaço-tempo. A Relatividade Geral de Einstein liga a presença de massa à geometria local do espaço-tempo. Não se diz que a massa “exerce força gravitacional”, tal como defendia Newton, mas que as partículas, ou mesmo a luz, se deslocam livremente pelo espaço-tempo, segundo geodésicas (isto é, linhas segundo as quais a distância entre dois dados pontos é mínima). O espaço-tempo (que é quadridimensional) sofre uma curvatura, devido à presença da massa, por exemplo, do Sol. Nas proximidades dele, a curvatura é mais acentuada. Isso faz com que a luz das estrelas, ao percorrer a geodésica, se desvie da recta. Devido a este fenómeno, as posições aparentes das estrelas, vistas por um observador na superfície terrestre, são significativamente modificadas, quando estas se encontram próximas do disco solar no céu. Como o brilho excessivo do céu próximo do Sol dificulta a observação dessas estrelas, a situação ideal para fotografá-las é a de um eclipse solar total. Comparando as suas posições com as que já se conhecem (ou seja, quando estão longe do disco solar), calcula-se um desvio que concorda excepcionalmente com as previsões teóricas da Relatividade Geral. Actualmente, imagens em vários comprimentos de onda das coroas internas e externas têm sido usadas para se compreender melhor os complexos processos magneto-hidrodinâmicos que contribuem para o aquecimento do plasma da coroa solar a temperaturas até 1 ou 2 milhões de graus Celsius. Por sua vez, registos espectroscópicos têm informado os cientistas sobre a composição e temperatura das regiões mais externas do Sol. O “flash spectrum”, por exemplo, obtido quando a fotosfera já está totalmente ocultada pelo disco lunar, mostra a composição da cromosfera. Alguns pesquisadores têm usado mapas da actividade da fotosfera para prever qual o aspecto da coroa solar durante eclipses. Tais correlações são importantes para determinação dos efeitos dos buracos coronais, helmet streamers, flares, proeminências, manchas solares entre outros, sobre as características observadas da coroa solar. Há um fenómeno muito curioso conhecido como efeito de Allais no qual se verifica supostamente uma oscilação anómala num pêndulo aquando o decorrer de um eclipse solar total, cujas causas não estão devidamente esclarecidas. Outro aspecto importante e que despertará o interesse neste eclipse solar total serão os hipotéticos… vulcanóides. Segundo http://www.isthe.com/chongo/tech/astro/SandT-200805-vulcanoid_v3.pdf o que se passa é que nos próximos eclipses solares totais vai haver busca por vulcanóides – possíveis asteróides residentes entre a órbita de Mercúrio e a estrela Sol. Recentes modelos elaborados por Neil Evans (Universidade de Oxford) e Serge Tabachnik (do Observatório da Universidade de Princeton) sugerem que os asteróides vulcanóides, se de facto existirem, residirão numa banda estreita e estável entre os 0,08 UA e 0,18 UA. A menos de 0,08 UA estariam sujeitos a maior força gravitacional, além do aquecimento extremo do Sol, a mais de 0,18 UA seriam ejectados… Vistos da Terrra, eles não deverão ter mais de 10,5º de separação angular em relação ao Sol. Suspeitas incidem na maior probabilidade de residirem a 0,08 UA o que torna ainda mais difícil a busca, além do mais a interacção da gravidade de Mercúrio e mesmo de outros planetas poderão deslocar estes asteróides a pouco mais de 10º em relação ao plano da eclíptica. Já se tentou procurar os vulcanóides em 2000 (a busca é mais precoce ainda… Suspeitas dos asteróides em questão já tiveram início em 1859 por Le Verrier.. que mais pensava, na verdade, de um planeta Vulcano que poderia explicar eventualmente o movimento anómalo de Mercúrio.) Daí, que a partir de agora, os eclipses solares totais servirão para ir em busca desses vulcanóides. É preciso uma câmara CCD e registar por alguns intervalos de tempo a zona em redor do Sol aquando a totalidade. Convém usar filtros Wratten para filtrar o comprimento de onda verde da coroa, isto porque se suspeita que os vulcanóides sejam um pouco em termos de cor tal qual o planeta Mercúrio… o uso de filtros é com objectivo de aumentar o contraste e facilitar a busca dos asteróides vulcanóides. Além desta importância, registos históricos de eclipses solares totais têm sido usados para a determinação de variações na velocidade de rotação da Terra e cálculo da diferença ΔT, entre o Tempo Uniforme (TDT) e o tempo baseado na rotação da Terra (TU ou TU1). Os eclipses solares já foram usados (e ainda continuam a sê-lo) para a determinação de alguns parâmetros astrométricos, como o raio lunar médio (principalmente durante eclipses onde os raios aparentes do Sol e da Lua praticamente coincidem ou nas áreas onde o eclipse é visto como rasante) e também como teste de programas de previsão desses eventos. Outras pesquisas focam as mudanças atmosféricas e meteorológicas, incluindo o interessante fenómeno das bandas de sombra e a difusão da luz residual do Sol, e a visibilidade de astros. Biólogos têm estudado o comportamento dos animais e plantas durante a passagem da umbra lunar. E, naturalmente, existem muitos outros estudos mais complexos, relativos a pesquisas de Astrofísica.

Manual de segurança da observação do eclipse solar total

NOTA IMPORTANTE: Em circunstância alguma, NUNCA aponte binóculo e telescópio sem filtro apropriado para o Sol, sob grave perigo de ficar irreversivelmente com cegueira absoluta. Para sua própria segurança LEIA TODAS as regras abaixo indicadas.

O autor não se responsabiliza por quaisquer problemas que advenham da má utilização das regras deste manual.

1ª regra: NUNCA observar sem óculos de protecção especial antes do contacto II e logo imediatamente ao contacto III. Só é absolutamente seguro ver o eclipse solar total a olho nu durante a totalidade que corresponde ao tempo que decorre entre o contacto II e o contacto III. Aconselha-se vivamente a colocar os óculos de protecção especial uns segundos antes da totalidade terminar, ou seja, antes de se dar o contacto III.

2ª regra: NUNCA ver as contas de Baily e o anel de diamante sem os óculos de protecção especial, ou filtros solares próprios, já que são manifestações de eclipse parcial sendo, portanto, visível a fotosfera a qual constitui fonte de emissão de radiação infravermelha e ultravioleta que acarretam perigo para a visão.

3ª regra: NUNCA usar óculos escuros, vidros negros de fumo, películas para fotografias a cores, negativos de fotografias, radiografias, disquetes, CDs, DVDs, filtros de gelatina, polaróides, filtros Wratten, folhas de alumínio em quaisquer ocasiões e circunstâncias na observação do Sol. Evite os filtros Mylar. Não é recomendável o uso de quaisquer filtros de soldador, mesmo o de #14.

4ª regra: NUNCA usar os óculos especiais de protecção ocular* combinados com binóculos, câmaras fotográficas, telescópios ou outros instrumentos ópticos. Os óculos especiais com a norma europeia supracitada apenas SÓ devem ser usados para observação ocular directa. E deve-se fazer intervalos frequentes para descanso a fim de o olho não aquecer demasiado.

5ª regra: NUNCA utilizar os filtros solares** para serem colocados na ocular do instrumento óptico, ou seja, a lente onde se encosta o olho para ver.

6ª regra: NUNCA fazer uso de óculos especiais de protecção ocular que já tenham sido utilizados ou que estejam guardados, porque podem ter microfuros, arranhões ou imperfeições que deixem passar mais radiação do que a permitida. Lembre-se que a queimadura do olho é indolor e o perigo é demasiado para arriscar com óculos especiais de protecção ocular pouco fiáveis seja de onde for a sua origem (o mesmo para os filtros solares). Importante testar a segurança do óculo especial de protecção ocular olhando com eles colocados para uma fonte de luz bem forte em casa e procurar por falhas, imperfeições no filtro do óculo.

7ª regra: NUNCA exceder observação contínua com óculo de protecção especial por períodos de mais 30 segundos, fazendo sempre intervalos de 2 minutos de descanso. Evita-se, desta forma, a acumulação de calor na retina. IMPORTANTE lembrar que o aquecimento da retina não é sentido por nós como sentimos o aquecimento da pele, UMA VEZ que a queimadura da retina, derivado do aquecimento desta, é INDOLOR! Se prolongar demasiado a observação, a retina começa a aquecer e não nos apercebemos desse aquecimento, podendo ocorrer lesões irreversíveis – a cegueira parcial ou total. Além disso evita-se que o filtro aqueça em demasia, reduzindo assim a possibilidade de deteriorar o óculo de protecção especial.

* Os óculos especiais de protecção ocular são vendidos nas farmácias, e devem ter marca CE obrigatória, que cumprem a Norma Europeia EN 169/1992 e a Directiva Europeia CEE 89/686), ou então no caso de estar na Austrália desloque-se a uma farmácia e peça por óculos reconhecidos pela autoridade de Saúde do país.

** Os filtros solares para binóculos e telescópios devem ser comprados em lojas especializadas de Astronomia.

Se quiserem ver o eclipse em directo, via web, vejam esta lista de links que vão transmitir o eclipse.

17 comentários

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  1. É possível o horizonte ficar, e fica, de facto, avermelhado, durante um eclipse solar total. O fenómeno é explicado através do efeito de dispersão de RAYLEIGH. (em inglês, Rayleigh scattering)
    Tente ver aqui nesta imagem:

    http://imageshack.us/photo/my-images/853/redqj.jpg/

    Voltarei a este tema em breve no próximo mês

  2. Uma pergunta. Porque o céu fica vermelho quando acontece isso?

    1. Não está a confundir com a Lua ficar avermelhada durante um eclipse lunar?

      abraços

  3. Gostei muito. Obrigada

  4. Parabéns pelo trabalho e animação. Gostei.

  5. Muito legal mesmo esse artigo. Pena que não poderei ver esse eclipse. Parabéns Jorge Almeida,ótimo trabalho!

  6. Excelente post. Muito completo e bem explicado.
    Só é pena que o eclipse não seja visível de Portugal. Ainda teremos que esperar até 3 de Novembro de 2013 para vermos aqui um ecipse parcial. Antes disso nada…

  7. E mais… “os astros envolvidos sao corpos extensos, e nao particulas pontuais. Entao, o que seria um astro “interpor-se” entre outros dois? Os centros de massa podem nao estar perfeitamente alinhados, e acontecer o eclipse (e e’ o que geralmente acontece) – quais os limites de tolerancia nesse alinhamento? ” Uma excelente questão também levantada. Na maioria dos casos, os centros de massa dos corpos envolvidos nunca estão 100% alinhados.

  8. Obrigado. Contudo foi preciso corrigir uma falha no artigo que passou despercebida a mim desde 2006!

    Refere-se à legenda da figura 2. Tinha dito inicialmente que o nodo era intersecção do plano orbital da Lua com o da eclíptica. Ora, isso não é verdade. E já foi rectificado o erro – e tive também de editar a imagem. Passo a explicar: a eclíptica é o plano médio das órbitas de todos os N corpos do Sistema Solar. O plano orbital da TERRA não coincide exactamente com o da eclíptica! Há um ligeiro desvio. Assim não faz sentido identificar o plano orbital da Terra com o plano médio das orbitas de todos os N corpos do Sistema Solar. E graças ao Dr. Mário Freitas que me esclareceu a dúvida: “Desta forma, insisto em contestar o que nos diria, ‘a primeira vista, a etimologia (“ecliptica” seria o “plano dos eclises”): rigorosamente, a definicao da linha nodal referente ‘a ocorrencia dos eclipses nao deve ter a ver com a Ecliptica, mas com o plano orbital da Terra (que a meu ver, nao e’ o mesmo que o plano medio do Sistema Solar).” Fica a rectificação!
    Ou seja, o nodo é de facto a intersecção do plano orbital da Terra (e NÃO O DA ECLÍPTICA) com o da Lua. Assim fica mais preciso.

    • Manel Rosa Martins on 27/10/2012 at 03:58
    • Responder

    Magnífico trabalho Jorge, e excelente código de boas práticas nas observações de eclipses solares, digno de figurar nessas efemérides em todos as Escolas públicas e privadas, para seguirem com toda a atenção as habituais recomendações da Direcção-Geral de Saúde.

    Com efeito a observação descuidada dos eclipses solares pode provocar cegueira temporária ou permanente.

    “Do not attempt to observe the partial or annular phases of any eclipse with the naked eye. Failure to use appropriate filtration may result in permanent eye damage or blindness!”

    http://eclipse.gsfc.nasa.gov/SEhelp/safety.html

  9. Excelente artigo 🙂

    • Renato Romão on 25/10/2012 at 18:43
    • Responder

    Magnifico e exemplar post!
    Óptimas informações e recomendações.
    Aguardaremos pelo feedback dos sortudos. 🙂

  10. Trata-se de um artigo muito extenso, mas foi a pensar no leitor para poder perceber o melhor possível sem perder a precisão que se exige ao assunto. Tentei explicar o melhor possível os conceitos fazendo uso de meus próprios esquemas. Em breve serão lançados sítios consignados à videoprojecção do evento na Austrália e as fotografias tiradas pelos sortudos/as.

  1. […] – Eclipses: Solar (2012 com 12 fotos e vídeo, 2010, 2009, noite), Parcial, Anelar (2010, 2008), Híbrido (2013). Lunar […]

  2. […] tudo sobre este eclipse, neste post. Vejam a lista de sítios que vão transmitir o eclipse, neste […]

  3. […] – LINK para a explicação detalhada do fenómeno: http://www.astropt.org/2012/10/25/eclipse-solar-total-de-13-novembro-de-2012/ – Link para animação mostrando a zona onde a ocultação do disco solar ocorre: […]

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