Afinal, Curiosity (ainda) não descobriu vida em Marte!

Braço robótico do Curiosity a recolher uma amostra do solo arenoso de Marte, para inserir no SAM, no dia 9 de Novembro. Crédito: NASA/JPL-Caltech/MSSS

Bem, podemos considerar isto uma não notícia, mas há muito a retirar. Ao que parece, toda a “histeria” que circulou pela internet, sobre o anúncio de uma descoberta do Curiosity que “ficaria nos livros de História”, foi ontem temperada por uma mensagem do Curiosity, através do Twitter (sim, pode acompanhar o Curiosity no Twitter aqui): Everybody, chill. After careful analysis, there are no Martian organics in recent samples. Update Dec 3 http://go.nasa.gov/114tJs9 (tradução livre: “Pessoal, calma. Após uma análise cuidadosa, não foram encontrados organismos marcianos nas recentes amostras. Actualização a 3 de Dezembro http://go.nasa.gov/114tJs9“).

 

 

 

Há muito mais para descobrir em Marte.

Há muito mais para descobrir em Marte.

Bem, ohhhhhhhhh…. Esta mensagem do Curiosity vem por “água na fervura” na grande comoção, especulação e excitação (com a nossa quota parte, como pode ver aqui, aqui e aqui) em volta da recente entrevista do cientista John Grotzinger, do Mars Science Laboratory. Nesta entrevista, o cientista sugeriu que a NASA estaria prestes a anunciar uma descoberta que teria direito a ser imortalizada nos “livros de História”. Apesar desta afirmação, ressalvou que os resultados ainda teriam de ser confirmados. Justo será dizer que a ressalva de pouco serviu, gerando-se um alvoroço de especulação sobre que descoberta poderia esta ser. E nós sabemos como normalmente isto acaba… (imagem à direita).

Com as expectativas já muito altas, uma semana depois, a NASA emitiu finalmente um comunicado a esclarecer que “a especulação sobre uma possível grande descoberta, nesta fase precoce da missão, é incorrecta”, marcando ainda uma conferência de imprensa, para o próximo dia 3 de Dezembro, que esclarecerá sobre as últimas novidades, resultantes do uso de todos os instrumentos analíticos do Curiosity, numa pequena amostra do solo arenoso do planeta vermelho.

Má notícia? Uma desilusão? Não exactamente, até porque não nos podemos esquecer que o Curiosity começou o sua missão principal, que se espera que dure 2 anos, há apenas 4 meses. E já tanto foi feito. Podemos mesmo interpretar que esta missão, e tudo aquilo que o Curiosity já ofereceu, ficará certamente nos livros de História: pela sua “bagagem” tecnológica; pelos seus instrumentos de análise, funcionais e reveladores; pela descoberta de um possível antigo curso de água; por se confirmar o sucesso de algo que tanto leva de nós para outro planeta.

O comunicado da NASA lembra ainda que “uma classe de substâncias que o Curiosity procura é a de compostos orgânicos – químicos que contenham carbono e que poderão ser ingredientes para vida.” Apesar de ainda não ter sido descoberto nenhum deste compostos, lembramos que ainda é cedo. Muito cedo. E há muito para descobrir em Marte, tal como mostra o seguinte vídeo (uma paródia ao vídeo “Dumb ways to die”):

[youtube http://www.youtube.com/watch?v=bIy6w_iubSs]

Mas há algo muito positivo a tirar desta excitação que contagiou, pelo menos, toda a internet. Talvez em resultado da depressão instalada a nível mundial, talvez pela sensação de escape que esta missão oferece, talvez pelo notável aumento da curiosidade, de todo o mundo, pela exploração espacial, a verdade é que esta missão oferece-nos a possibilidade de sonhar, de saber mais e conhecer melhor aquilo que nos rodeia. O meio que a internet é em muito ajuda, mas durante uma semana (e sem contar com os exageros e especulações pseudo), o mundo estava mais uma vez junto a acompanhar algo que nos representa a todos: a curiosidade. Cada vez mais o nome dado a este robô faz sentido. E afinal a Astronomia, a Ciência e o conhecimento continua a juntar-nos, a dar-nos esperança e a oferecer um espaço comum.

Se quiser acompanhar a conferência de imprensa da NASA, em directo, no dia 3 de dezembro, poderá fazê-lo aqui: http://www.ustream.tv/nasajpl. A transmissão terá início às 05 da manhã de Portugal e às 3 da manhã de Brasilia, Brasil.

 

7 comentários

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  1. Uma boa chance de recuperarmos a dignidade na Terra, seria enviar para Marte os “Mercados” e os especuladores que vivem alegremente a “FUBAR” o tecido Social do países, que são sujeitos às manobras “cozinhádas”, que alimentam o FMI.

  2. Excelente Texto!!

    A descoberta, poderia ser, algum tipo de fóssil? Ou matéria morta, de milhões de anos?

    1. Diogo, isso seria material orgânico 😉

      abraços

  3. Deixo aqui novamente o meu comentário feito há 1 semana atrás: 😉

    http://www.astropt.org/2012/11/23/desafio-qual-sera-a-descoberta-feita-pelo-rover-curiosity-em-marte/comment-page-1/#comment-63483

    Eu não quero me adiantar no assunto… mas espero que juntem 2 + 2 😉

    A suposta “notícia fantástica” é para ser dada por um geólogo numa conferência de geofísica. É só.

    Nas conferências, vejo sempre imensos estudos fantásticos, em que ficamos genuinamente entusiasmados com eles, mas o “comum dos mortais” iria achar chato 99% daquilo que eu acho fantástico…

    Parece-me que vai haver muita gente desiludida… é pena que ponham as esperanças tão altas 😉

    1. A mim parece-me que não há desilusão nenhuma. Se só interessasse à maioria do público encontrar vida na exploração espacial, já teriam desistido de acompanhar os programas espaciais. Quando falo aqui no OASA sobre o que a New Horizons procura encontrar ou na fantástica missão da Voyager, todos ficam curiosos, apesar de nem se supor a procura de vida por estas missões. Ando optimista, vai-se lá saber porquê. 😉

  4. Excelente texto 🙂

    1. Obrigado 🙂

  1. […] não é desta. Foi tudo um grande mal-entendido, in­forma a Slate e o AstroPT, aqui e […]

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