RTP, fim do mundo, e dinossauros

Como se percebe pela frase, fins do mundo há muitos e são sempre vigarice.

Como se percebe pela frase, fins do mundo há muitos e são sempre vigarice.

A RTP decidiu passar no Jornal da Tarde um pequeno segmento (3 minutos) sobre o fim do mundo, focando a profecia Maia.
Podem ver esse segmento, aqui.

Como se percebe pela frase, já há 100 anos que a imprensa se deixava levar pelo sensacionalismo em vez de dar notícias com maior credibilidade científica.

Como se percebe pela frase, já há 100 anos que a imprensa se deixava levar pelo sensacionalismo em vez de dar notícias com maior credibilidade científica.

O que me apraz dizer?

É excelente que a RTP decida falar sobre isto de uma forma racional. É pena que o segmento seja tão pequeno, mas ao menos sempre existe.
E o segmento foi realmente muito bom. Tem nota perfeitamente positiva.

Infelizmente, nem tudo foi positivo.
Em termos históricos, o professor Joaquim Fernandes é excelente! Se se quer ter uma versão histórica do assunto, o professor Joaquim Fernandes é realmente uma das melhores pessoas em Portugal para se perguntar. E, como se viu, essa parte foi óptima. Por isso, parabéns à jornalista por ter escolhido esse entrevistado! O problema é quando o assunto está ligado a tretas das seitas New Age, porque aí, existem falhas, porque ao não se convidar pessoas de ciência, ficam sempre as “ideias no ar”, porque o professor Joaquim Fernandes nesses casos não é conclusivo. Neste caso, realmente é simplesmente um ciclo que acaba e outro que recomeça, mas é preciso salientar que essa mudança de ciclo é totalmente igual à mudança de 31 de Dezembro para 1 de Janeiro, todos os anos no nosso calendário. Era preciso haver alguém de ciência para mostrar claramente que nada vai acontecer, e não deixar a porta aberta para os vigaristas New Age continuarem a falar de “transformações interiores e cósmicas na mudança de ciclo”.
O segmento foi excelente ao contextualizar historicamente as várias ideias de fim-do-mundo, e que foram sempre treta – gostei especialmente do caso da aurora em 1938. Os meus parabéns à jornalista! No entanto, o final foi… decepcionante: “De todos os fins anunciados, apenas um se concretizou. Foi há cerca de 70 milhões de anos, um asteróide matou todos os dinossauros, e apareceu o Homem.” É certo que foram somente os últimos 15 segundos, mas estragou um segmento que poderia ser perfeito. Mas afinal que erros vejo aqui? (1) o fim dos dinossauros não foi anunciado por ninguém, logo não se pode concretizar a suposta “profecia” que nunca existiu; (2) foi há cerca de 65 milhões de anos; (3) não matou “todos” os dinossauros, já que, por exemplo, os crocodilos continuam aí, várias espécies evoluíram para outros animais que hoje estamos habituados a ver (aves), e existiram algumas “bolsas” locais de dinossauros (dos que vemos em filmes) que sobreviveram milhares de anos; (4) a seguir aos dinossauros não apareceram os Humanos, já que os Humanos estão cá há cerca de somente 200.000 anos.

Sinceramente, não me parece que seja um problema da jornalista especificamente.
Em Portugal (onde se inclui a RTP), não existe uma cultura de meritocracia. Ou seja, não se dá valor a quem realmente detém o conhecimento e estuda os assuntos. Daí que não é de estranhar que não existam regras que exijam que quando se está a produzir um segmento com informações científicas se procure os especialistas em conhecimento científico.
Neste caso, levou a um segmento excelente porque se teve o cuidado de falar de história com um especialista nessa área, mas o segmento não foi perfeito porque não se teve o cuidado de pedir a um especialista de ciência para avaliar a informação científica.

Foi pena não ter sido perfeito. Mas de qualquer modo, já foi muito bom!

13 comentários

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  1. Olá Carlos;

    Concordo com tudo o que chamas a atenção.
    Apenas um reparo preciosista mas necessário:

    «não matou “todos” os dinossauros, já que, por exemplo, os crocodilos continuam aí…»

    Era escusado esta mistura errónea entre dinossauros e crocodilos; ambos pertencem a Archosauria, parentes, mas mais distantes do que aves e dinossauros.
    Não é grave mas induz em erro quanto à proximidade entre dinossauros e crocodilos e à história evolutiva dos dois grupos.

    Subscrevo tudo o mais.

    Abraço e bom trabalho

    Luís Azevedo Rodrigues

    1. Sim, tem razão.
      Já tinha conversado sobre este ponto com outros cientistas 😉

      A minha ideia era colocar que houve grandes animais dessa época (como crocodilos e tartarugas grandes, por exemplo), dessa altura, que continuam hoje na Terra.
      Mas ambos os exemplos por acaso são anteriores aos dinossauros e continuaram a desenvolver-se durante o tempo deles.

      Ou seja, o exemplo realmente não foi o melhor, porque não me lembrei de qualquer nome de dinossauro na altura.

      Por outro lado, mesmo a utilização da palavra “dinossauros” já é um pouco de abuso, porque estamos a falar de animais muito diversos, e não somente daqueles que as pessoas conhecem dos filmes 😉

      Por isso, tem toda a razão com o preciosismo. 😉
      E se fosse eu, como percebe, ainda criticaria mais o meu próprio texto 😀

      abraços e obrigado!

  2. FODA-SE!
    (com todas as letras!!!)
    Acabei de ver agora a peça da RTP sobre o fim do mundo. Sim, pela primeira vez na minha vida escrevi uma asneira, com todas as letras, num comentário. E porquê? Bem, do conteúdo da peça retiro uma única coisa que ficou aqui, na minha cabeça, bem gravada. Então… então… o Homem apareceu há 70 milhões de anos, com a extinção dos dinossáurios? FODA-SE, novamente!

    1º – Considera-se que houve cinco grandes extinções em massa: Ordovício-Silúrico (450-440 Ma), Devónico superior (375-360 Ma, ou seja, no período de transição do Devónico para o Carbonífero), Pérmico-Triásico (251 Ma, considerada a maior extinção de sempre), Triásico-Jurássico (205 Ma) e Cretácio-Paleogénico (65
    ,5 Ma). Há quem considere que, neste momento, estamos perante uma sexta extinção em massa (pelo meio disto tudo, houve outros fenómenos de extinção mais pequenos em escala, mas com impacto na vida na Terra);

    2º – A extinção do Cretácico-Paleogénico, que é referida na reportagem da RTP, não extinguiu todos os dinossáurios. Somente os dinossáurios não-aviários é que foram extintos. Os outros sobreviveram.

    3º – O Homem não anda sobre a Terra há 70 milhões de anos, como a reportagem da RTP faz crer, mas há muito menos. Há evidências fósseis (não se conhecem casos em que o registo fóssil terá mentido; embora se conheçam casos em que a interpretação dos registos fósseis tenha servido para propagar mentiras) que indicam que os primeiros vestígios de hominídeos datam de há 7 milhões de anos, embora haja a polémica de que estes hominídeos por não serem bípedes não devam ser considerados hominídeos. Assim, os investigadores afirmam com certeza que o Homem apareceu há cerca de 4 milhões de anos com os Australopithecídeos (género “Australophitecus”) que terão dado origem ao género “Homo”. Onde é que a camarada de profissão foi buscar a ideia de que o Homem terá aparecido logo após o fim do Mesozóico? Não faço ideia!

      • betinhofloripa on 14/12/2012 at 11:18
      • Responder

      O mais engraçado, para não dizer trágico, é que esse tipo de gente, as que não ousam pesquisar sobre o assunto de que pretendem falar, é que , infelizmente, são as formadoras de opinião…por isso é que, ao meu ver, uma tolice como o 21/12/12, assim como tantas outras (lembra do Elinen?) toma tempo precioso de tantos cientistas, até mesmo de uma agência científica conceituada como a NASA, para tentar evitar tragédias…já que pessoas menos esclarecidas e, para não dizer tolas, se deixam levar por besteiras e não por evidências…fica aqui o meu apoio ao que vc escreveu..

      Abraços

  3. Parabéns à RTP e à jornalista Sónia Silva pela excelente reportagem. Como o Carlos refere aqui, só não teve nota máxima por causa das últimas três frases: “De todos os fins anunciados apenas um se concretizou. Foi há cerca de 70 milhões de anos. Um asteróide matou todos os dinossauros e apareceu o Homem.” Em que é que errou a jornalista?
    1. Já havia profetas entre os dinossauros?
    2. A queda do asteróide que provocou a grande extinção do Cretáceo-Terciário (evento onde desapareceram grande parte dos dinossauros) ocorreu há 65,5 milhões de anos e não há 70 milhões de anos, como é referido na peça.
    3. Nem todos os dinossauros se extinguiram. As aves evoluiram a partir de dinossauros terópodes sobreviventes (o mesmo grupo a que pertenceu o conhecido Tyranossaurus rex).
    4. O Homem surgiu há 200 mil anos, ou seja, muito depois do final da era dos dinossauros. O asteróide que terminou com o seu reinado apenas abriu caminho para os mamíferos.

  4. Excelente análise crítica. 😉

    Abraços.

    • Hélio Martins on 12/12/2012 at 21:03
    • Responder

    Carlos, não se pode exigir muito em Portugal. A Ciência em Portugal ainda é vista como algo estranho e só ao alcance de alguns. Portugal ainda tem muitos analfabetos científicos. O que eles deviam ter feito era ter falado com o Professor Máximo Ferreira para ele lhes dar algumas explicações. Mas como diz já foi muito bom!

    P.S.Contam – se pelos dedos de uma mão as pessoas que conhecem, Fermi, Mercali, Richter, Max Planck…

    • betinhofloripa on 12/12/2012 at 20:58
    • Responder

    Por falar em dinossauros…parece que não foi mesmo o meteoro..

    http://www.livescience.com/25324-volcanoes-killed-dinosaurs.html

    1. Foi. A causa principal foi o asteróide. Isso é certo.

      Como já temos explicado em alguns posts por aqui:
      Ao contrário da noção popular, não existiu só um factor a extinguir os dinossauros. Foram um conjunto de factores. 😉
      O principal foi a colisão do asteróide, em que há provas mais do que suficientes para termos a certeza disso. Mas os dinossauros já estavam em declínio fruto de outras causas, e essa causa da colisão levou a outras coisas que acentuou ainda mais essa extinção: por exemplo, alteração climática devido à colisão foi outra causa. Ou seja, existe uma causa principal e várias secundárias. Essa da actividade vulcânica é uma dessas outras causas. Infelizmente, na TV e na imprensa, em vez de explicarem convenientemente dizendo que é uma e outras, dizem que ou é uma ou outra, confundindo a população. 😉
      Além do mais, os dinossauros não foram realmente extintos. Alguns continuaram (ex: crocodilos), outros desenvolveram-se (ex: aves), e até houve “bolsas” de dinossauros que sobreviveram isolados durante algumas centenas de milhares de anos. Não foi tipo: “o asteróide bateu e passado 1 hora estava tudo morto”
      Ou seja, as coisas são mais complexas do que realmente nós explicamos muitas vezes 😀

      abraços!

        • Cavalcanti on 12/12/2012 at 23:30

        http://www.umsabadoqualquer.com/974-dinossauros/

        😉

        • betinhofloripa on 13/12/2012 at 19:53

        Não tenho dúvida de que não ocorreu de uma hora para outra…

        Ainda assim..as coisas mudam…a ciência está sempre em evolução…coisas ditas como certas podem mudar…

        http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2012/12/fossil-que-seria-de-animal-marinho-e-de-seres-terrestres-diz-estudo.html

        De qualquer forma, a possibilidade de que o gatilho tenha sido um meteoro é até plausível…no entanto, outras extinções em massa, de maiores magnitudes, não apontam meteoros como causa..é isso que me faz crer que talvez o meteoro tenha sido mero coadjuvante.

        Abraços

        🙂

        • Andre Valente on 14/12/2012 at 16:12

        Até quando vai durar essa caça ao fim do mundo?
        Estou louco para ler os assuntos aqui neste, dia 23/12/12, pois sei que dia 22/12/12 sera um dia de grande alegria e vaia…
        Estou ansioso para saber qual sera a próxima astúcia desses visitantes do mundo das fadas comedores de cogumelos, em desvendar o fim da humanidade…

      1. Andre Valente,

        “Até quando vai durar essa caça ao fim do mundo?”

        Infelizmente, persistirá por muito tempo. Ano-após-ano, pseudos não conseguem aprender com os próprios erros e sempre inventarão uma data-treta como sendo o “Dia da Redenção” – mas não possuem o discernimento de que eles fomentam o pânico infundamentado no pensamento incoerente que estão a informar as pessoas.

        É triste.

        Como alguns estão a ver que, à medida que vai se aproximando a data e, absolutamente, nada de anormal está ocorrendo (por várias vezes afirmamos aqui), alguns já estão a sair pela “tangente”. Como possuem aversão pela ciência e metem todos que fazem parte desta num saco só, ficam sempre a afirmar coisas estrambólicas.

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