EARTHRISE

Há 45 anos, na Véspera de Natal de 1968, a tripulação da Apollo 8 tirou esta fotografia, a que foi dado o nome de Earthrise (Terra nascente).

Foi a primeira vez que algum ser humano viu o planeta em que nasceu a surgir acima do horizonte de um outro corpo celeste. E foi também a primeira vez que algum ser humano deixou a órbita da Terra (passando a orbitar a Lua).

Earthrise

Recentemente, foi publicado no YouTube um vídeo que nos mostra o que essa tripulação da Apollo 8 testemunhou nesse longínquo dia 24 de Dezembro de 1968.

Para fazerem esse vídeo, utilizaram imagens da sonda LRO (Lunar Reconnaissance Orbiter) e para a câmara virtual utilizaram software que tomou em consideração a altitude, velocidade, localização e direção do movimento da Apollo 8. A posição do Sol e da Terra, bem como a orientação desta última, foram também tidos em conta e determinados com precisão. A precisão foi ao ponto de determinarem em que posição e momento do deslocamento da nave foram tiradas as fotografias. O vídeo tem um relógio que suspende a contagem do tempo, fazendo uma pausa no local preciso em que as imagens tiradas em 1968 coincidem com a visualização do vídeo agora feito, sendo aí sobreposta a imagem original.

[youtube http://www.youtube.com/watch?v=FE7FrGl-du4]

Convém ter bem presente que, por a Lua ter uma rotação síncrona (quem pensar que a Lua não tem movimento de rotação… get over it!), a Terra ocupa sempre, para cada observador, uma determinada área no céu, com pequenas variações em torno de um ponto médio.

Essas pequenas variações, de aproximadamente 5 graus de arco em torno de um ponto médio, resultam do movimento de libração, conjugado com a inclinação da órbita lunar.

O movimento de libração  resulta da circunstância de a velocidade de rotação da Lua ser constante mas a velocidade orbital variar. E a velocidade orbital varia porque a órbita lunar não é circular, mas sim uma elipse. Sendo que a Lua se desloca mais rapidamente quando está mais próxima da Terra (perigeu) e mais lentamente no apogeu.

Assim, um astronauta que esteja na Lua e lá permaneça durante pelo menos um “dia lunar” (período sinódico, que corresponde a 29,5 dias terrestres), verá que o Sol se vai deslocando (movimento aparente) no céu e que após 708 horas e 44 minutos volta a cruzar o mesmo meridiano. Durante essas 708 horas, passa por um período de dia e outro de noite, como nós aqui na Terra. Mas enquanto o Sol e as estrelas se deslocam no céu lunar, a Terra irá passar por um ciclo completo de fases: Terra Nova, Quarto Crescente, Terra Cheia e Quarto Minguante.

Também se deve ter bem presente que, no céu lunar, a Terra aparece com um diâmetro aparente 3,67 vezes maior que a Lua nos aparece a nós que a vemos aqui da Terra. Isso dá uma área 13,4 vezes maior, pelo que a noite lunar é iluminada por uma resplandecente Terra Cheia que é suficientemente brilhante para se ler confortavelmente um bom livro.

9 comentários

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  1. Olá, boa tarde!
    Lendo esse artigo, fiquei com uma dúvida sobre a Lua. Ontem, olhando a Lua, a vi “em pé” por volta das 16:30h, horário de Brasília, á noite ela também estava nessa posição, já a havia visto antes nessa fase minguante nessa posição “em pé”, como uma forma de uma banana. Mas, com o passar do tempo, por volta das 22:30h, ela estava “deitada”, na forma de “U”, a vi no mesmo lugar que eu estava antes.
    A que se deve essa forma de”U”, algo “anormal” na rotação, posição da Terra, Sol ou da Lua?
    Obrigado pela atenção

    1. A forma da Lua é sempre a mesma ao longo dos dias meses e anos: a Lua tem uma forma praticamente esférica.

      A parte iluminada da Lua, também é sempre a metade da esfera (a que se chama hemisfério) voltada para o Sol. Independentemente da posição relativa da Lua em relação à Terra.

      Do que escrevo atrás, resulta que as fases da Lua que vemos no céu, e as porções iluminadas pelo Sol que visualizamos aqui da Terra resultam pura e simplesmente das posições relativas entre os 3 astros (Terra/Lua/Sol), bem como da posição da Lua na sua órbita (que tem uma inclinação de 5º em relação ao plano da órbita terrestre) e da posição da Terra na sua órbita em torno do Sol (Como a Terra ao rodar sobre si própria funciona como um gigantesco giroscópio, mantendo a mesma orientação do eixo de rotação ao longo do ano, a inclinação da eclíptica em relação a um determinado horizonte varia ao longo do ano).

      Não há em nada disto nenhum mistério e esta mecânica celeste elementar já era bem conhecida desde a Antiguidade Clássica, altura em que se definiram os ciclos de eclipses lunares, etc.

      Espero ter sido claro. Mais alguma dúvida, disponha 🙂

  2. Muito bom Rui Costa :)!
    Parabéns pelos teus recentes “posts”, aqui no AstroPt, que tenho tido o prazer de ler e de aprender!
    Um abraço e o desejo da continuação do bom trabalho.

    1. Obrigado João 🙂

  3. Uma pergunta sobre a libração..
    “Libração” é uma palavra altamente parecida com “libra”, e deve ter origem aí.. ou seja, em balança, e balancear..
    Um qualquer movimento que corresponda a um balancear, penso que pode ser chamado de “libração”, mas não tenho a certeza.
    Libração, vista como a totalidade do “movimento aparente de rotação” da Lua no céu, tem várias causas.. Entre elas, a órbita não ser circular, a órbita ser inclinada, e a de que o observador pode estar a rodar comparativamente rápido em torno de um eixo de rotação da Terra localizado uns milhares de quilómetros daquele sítio.
    A minha dúvida é se “Libração” é um termo que conjugue estas três causas, ou se pode ser usado para qualquer uma delas em separado. ou seja, a Libração total (L maiúsculo, por exemplo) seria a soma das 3 librações, cada uma de sua origem.
    Ou seja, eu da Terra poderia falar em Libração da Lua, mas estando na Lua, isso pode não fazer sentido sem descartar a posição do observador terrestre?
    Ou então, eu na Lua poderia falar da “Libração” da Terra como um movimento da própria Terra no céu lunar que pode fazer com que ela se ponha atrás do horizonte…

    1. Obrigado pelo excelente comentário, Filipe Dias.

      Daqui da Terra podemos ver cerca de 59% da superfície lunar e não apenas os 50% que aparentemente resultariam de uma rotação síncrona. Essa porção extra da superfície lunar resulta, como muito bem dizes, da combinação de 3 movimentos aparentes distintos (supondo um observador na superfície da Terra), a que se deu o nome genérico de libração.

      O movimento de libração pode então ser decomposto em libração em longitude, libração em latitude e libração diária.
      Eu, erradamente, dou a entender que o movimento aparente que resulta da inclinação da órbita lunar não é também parte da libração. Mas é, de facto.

      No texto, não faço referência à libração diária porque não estou a situar o observador na superfície da Terra. Coloco o observador na superfície da Lua e descrevo os movimentos aparentes da Terra no céu lunar.
      Curiosamente, se esse observador permanecer uns dias num local da Lua em que a Terra seja vista muito próximo do horizonte, ele poderá, em certas circunstâncias, ver a Terra a pôr-se e a nascer ao longo de um período de 27,3 dias terrestres.

  4. Espetacular !

    • Regis Olivetti on 07/02/2013 at 22:50
    • Responder

    Como diria o Spock-é fascinante.

  1. […] Atmosfera. Campo Magnético (aeroportos). Infografia. Earthshine. Citações e Fotos: Primeira, Earthrise, Noite, MESSENGER, Blue Marble, Berlinde Azul, Rosetta, MSG-3, Nascer da Terra, Mundo da janela […]

  2. […] Anders (missão Apollo 8) tirou esta fotografia à Terra, que apropriadamente foi denominada Earthrise (nascer da […]

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