A Grande Muralha da China é a única obra humana visível da Lua. Mito ou realidade?

Ontem ouvi uma referência à “única obra humana visível da Lua”. Nem foi necessário nomear essa obra pois já se sabe que a referência era, obviamente, à Grande Muralha da China.

Crédito: Severin.stalder, via wikipedia

Mas será que há algum fundo de verdade nisto ou não passa de mais um mito urbano?

Em 1938, ainda antes da conquista do espaço, no livro Second Book of Marvels , Richard Halliburton escreveu: «Os astrónomos dizem que a Grande Muralha é a única obra humana, no nosso planeta, visível a olho nu a partir da Lua.»

Ora a muralha situa-se na sua maior parte em áreas com relevo irregular, é construída com materiais obtidos nas suas redondezas e por isso não se destaca das áreas envolventes a ponto de ser visível da Lua. Contudo, até à ida do Homem à Lua, em 1969, não havia como comprovar a veracidade ou falsidade da alegação.

Com a ida do Homem à Lua, o mito sofreu a machadada final. Alan Bean, tripulante da missão Apollo 12 disse: «A única coisa visível da Lua é um bela esfera, principalmente branca, com algum azul e manchas amarelas. E aqui e ali alguma vegetação verde. Nenhum objecto feito pelo homem é visível a esta escala.»

Posteriormente, com o estabelecimento de estações espaciais em órbita baixa, o mito renasceu, desta vez com a pretensão de que seria visível a partir da Estação Espacial Internacional (EEI). Apesar de a EEI orbitar cerca de 1000 vezes mais próxima que a Lua, continua a ser um desafio observar a Grande Muralha sem ajuda ótica, conforme reconheceu Yang Liwei , o primeiro astronauta chinês, que disse não a ter conseguido ver.

O melhor que se consegue, a partir da EEI são fotos em que se notam vestígios muito ténues da muralha e, mesmo assim, só com o recurso a teleobjetivas:

Crédito: NASA

No entanto, outras obras humanas são visíveis a partir da EEI: grandes barragens, auto-estradas e cidades, ou as grandes pirâmides do Egipto.

Da Lua, apenas o contorno dos continentes.

Crédito: NASA

24 comentários

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  1. O Felipe dias fazendo umas contas loca
    e eu não se nem a tabuada

    • Sara Martines on 25/01/2018 at 03:25
    • Responder

    Tudo muito fascinante, mas a vista da terra é muito maravilhosa 😚, excelente esclarecimentos!!!

    • Sara Martines on 25/01/2018 at 03:22
    • Responder

    Tudo muito fascinante, mas a vista da terra é muito maravilhosa 😚

  2. Excelente esclarecimento.Obrugada!

    • Luiz Augusto do Couto Chagas on 30/09/2017 at 23:59
    • Responder

    Obrigado me ajudou muito a minha pesquisa

  3. Bem esclarecedor pra muitos isso é verdade por isso temos a oportunidade de procurar e se informar…. muito bom!!!

  4. A MURALHA É MUITO ESTREITA PARA SER VISTA A OLHO NU

  5. A corrupção no Brasil dá para ver até de plutão e, a olho nu.

    • José Simões on 26/04/2014 at 17:59
    • Responder

    “O melhor que se consegue, a partir da EEI são fotos em que se notam vestígios muito ténues da muralha e, mesmo assim, só com o recurso a teleobjetivas”.

    Com recursos às melhores teleobjectivas existentes até eu sou visível. Desde que não esteja camuflado, como é o caso da muralha.

    1. “Com recursos às melhores teleobjectivas existentes até eu sou visível.”

      Não me parece…

        • José Simões on 26/04/2014 at 20:37

        http://en.wikipedia.org/wiki/GeoEye-1

        40 cm

        à mais de 10 anos

        companhia privada

        Imagine-se o que os militares têm no momento

      1. Então sugiro que se esconda bastante bem 😉

    2. José Simões, como refiro no artigo, o mito que pretendo desmistificar é o que foi iniciado por Richard Halliburton, que escreveu: «Os astrónomos dizem que a Grande Muralha é a única obra humana, no nosso planeta, visível a olho nu a partir da Lua.».

      Como a astronáutica revelou que a muralha não era visível da Lua, houve quem pretendesse restaurar o mito, transferindo a alegação para a Estação Espacial Internacional. De novo se constatou que, sem ajuda óptica, a muralha também não se vê dali.
      Este é o fundamento do artigo. Nada mais.

      Quanto ao link que coloca para o GeoEye1, repare que aquilo não é uma teleobjectiva (não é uma lente que se coloca numa máquina fotográfica e se manuseia com as nossas mãos). É um telescópio com uma objectiva de 1,1 metros de diâmetro e 13,3 metros de distância focal!
      E, mesmo assim, a resolução é insuficiente para se reconhecer uma pessoa. Pode ficar descansado 🙂

  6. Boa pesquisa!
    Sem lhe retirar o mérito, acho que há obras humanas, na Terra, que se vêm da Lua a olho nú.. Fugindo a obras menos dignas como “poluição” e de “desarborização”, e focando em construções ou ferramentas: temos a iluminação e o que ela ilumina! Quando for de noite na Terra, alguém na Lua à sombra de um bom chapéu de sol, deve poder ver com relativa facilidade as cidades iluminadas!..
    Cada candeeiro, e seu pedaço de passeio ou alcatrão iluminado num cidade, deve parecer parte de algum enxame globular…
    Agora estou sem tempo para fazer contas, mas gostava de colocar a questão: Se eu acender uma lâmpada (como as de alta pressão de Sódio num candeeiro de rua modesto) de 150W, que produza 150 lumen/W, qual a “magnitude” com que alguém a “perceberia” a uma distância da Lua? É só para ajudar a ver se o que eu disse a cerca de “ser visível pelo olho humano”, faz sentido ou não 😉

    1. Ok, já voltei do almoço, e já posso fazer umas continhas e responder à minha própria questão:
      Bom, imaginêmos a seguinte “plantação de candeeiros” com lâmpada à mostra:
      Todos equiespaçados ao longo de ruas de 10 em 10 metros, e as ruas a formarem quarteirões de 100m de lado. Cada rua de um quarteirão tem então 10 candeeiros, e cada quarteirão de 100m x 100m, terá aproximadamente 20 candeeiros (metade pertence a um quarteirão outra metade ao outro). Atribuamos 150 a 200 Watt a cada candeeiro (20 k lumen por candeeiro, suponhamos). 1 km quadrado terá então 2000 candeeiros. Assim, a quantidade (total: em todas as direcções) de luz que vem de uma cidadezita quadrada destas, com 1km de lado, é em números redondos 2000*20000 lumen. Ora, esta cidadezita vista a olho nú da Lua é como se fosse pontual (como se fosse uma estrela), mas não chega lá toda essa iluminação, só chega uma fracção dada por um ângulo sólido que depende da distância à Lua. Em outras palavras estes lumens todos vão ser convertidos num fluxo 4×10^7/(2.PI.r^2) (lux), onde r é a distância da Terra à Lua. Isto são aproximadamente 3,98×10^-11 lux!

      Quanto é isto em “linguagem de estrelas”?
      Ora uma certa magnitude corresponde a m = -2.5 log(I/I0), onde I0 é a intensidade de referência da escala de magnitude. A intensidade que correponde a uma estrela de m=0, é 2.077 x10^-6 lux… Vamos lá ver quanto é que o nosso valor daria em magnitudes:
      m = -2.5 log ( 3,98×10^-11/2.077×10^-6) = 11,8 mag! Dava uma estrela muito ténue…. Mas atenção que não estou a contar aqui a luz reflectida no chão iluminado, que ainda é considerável..

      Por estas contas, para termos um “brilho aparente” semelhante a uma estrela no limite da detecção do olho humano em bons céus (6 mag), teríamos que ter uma área de 15 por 15 quilómetros cheia de candeeiros com esta densidade de 2000 candeeiros por quilómetro quadrado, ou aumentar a potência ou eficiência luminosa dos candeeiros em 15^2 = 225x (por exemplo com reflectores de luz). Ou aproximar a Lua para 1/15 da distância 😉

      Parece-me que não é necessário um Império Chinês construir coisas compridas para se ver da Lua, basta uma grande falta de cuidado na orientação dos candeeiros e uma metrópole com uma área grande para conseguimos fazer isso com um estilo alaranjado! 🙂 Parece-me plausível, embora eu não consiga concluir nada objectivamente com estes cálculos que fiz… Ficou a tentativa 🙂

      1. Obrigado pelo contributo, Filipe. Foi mesmo uma boa tentativa…

        Há ainda outros fatores a tomar em consideração:
        – A maior parte da luz dos candeeiros é dirigida para o solo e é absorvida;
        – A luz das cidades não é vista contra um fundo totalmente escuro. A atmosfera da Terra tem um brilho natural. Ainda que ténue, reduz o contraste, dificultando a visibilidade da cidade a essa distância 🙂

  7. Gostei do post. Thanks 🙂 Mas se são visíveis as pirâmides não deve ser difícil reconhecer a 2ª circular de Shangai, o Nilo ou mesmo o Canal do Panamá. Da ISS não sei mas da MIR devia conseguir ver-se a praça vermelha 😛
    Abraço

    1. de Shangai????
      O que é visível é a 2ª circular de Lisboa, com a sua Catedral: Estádio da Luz 😛

      Aliás, acho que vou escrever sobre a VERDADE verdadinha de que a única construção vista da Lua é a Catedral com a estátua do Eusébio! 😀

      eheheheeh 😛

      1. Wishful thinking… 😉

  8. Olá Rui,

    Excelente 😉

    Eu já tinha escrito sobre isto, no longínquo ano de 2007, mas estava irritado na altura, porque na televisão tinham transmitido o mito como se fosse realidade! Enfim… 😛
    http://www.astropt.org/2007/07/17/grande-muralha-da-china/

    abraços!

    1. Ora bolas, não sabia que já tinhas abordado o assunto, Carlos.
      É impressionante que 40 anos depois de vários homens terem ido à Lua, ainda persistam estes mitos…

      1. Não há problema Rui.
        Já foi há 6 anos 😉

        As poucas pessoas que liam o blog naquela altura, já nem se lembravam de certeza 🙂
        Por isso, fizeste bem! 😉

  9. Excelente esclarecimento, Rui!

    1. 🙂

  1. […] 12 – Mitos Espaciais: Muralha da China feita de arroz não é vista do espaço. […]

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