Sofrerá Marte uma catástrofe global em 2014?

Crédito: Ian Musgrave

Simulação do cometa C/2013 A1 a passar por Marte. Crédito: Ian Musgrave

No início de Janeiro, o astrónomo veterano Robert H. McNaught descobriu o cometa C/2013 A1 (Siding Spring), usando um dos telescópios do Observatório de Siding Spring, na Austrália. Na altura, o objecto viajava a cerca de 7,2 UA de distância do Sol, na direcção da constelação da Lebre, pelo que exibia um brilho muito débil. Logo após o anúncio da sua descoberta, astrónomos do programa Catalina Sky Survey resgataram dos seus arquivos observações adicionais obtidas a 8 de Dezembro de 2012, o que lhes permitiu encontrar uma solução para a órbita de C/2013 A1 e, para sua surpresa, extrapolar uma passagem a curta distância de Marte a 19 de Outubro de 2014.

Estas primeiras observações eram, no entanto, insuficientes para excluir um possível impacto na superfície marciana, pelo que os astrónomos têm estado desde então a reunir mais dados astrométricos para reduzir as incertezas na trajectória do cometa durante o seu encontro com o planeta vermelho. Neste momento, estão já somadas um total de 157 observações, cobrindo um período de 148 dias. Estes novos dados sugerem que C/2013 A1 passará a uma distância nominal da superfície marciana de apenas 50,1 mil quilómetros, com uma probabilidade de impacto de 1 em 1250! A essa distância, o cometa brilhará nos céus marcianos a uma magnitude aproximada de -8,5, o equivalente a 40 vezes o brilho de Vénus nos céus terrestres!

Como as comas dos cometas se estendem, geralmente, a mais de 100 mil quilómetros da superfície do núcleo, é praticamente garantido que o planeta vermelho ficará exposto a uma chuva de partículas cometárias durante a fase de maior aproximação. A maioria destas partículas são submicrométricas, mas algumas podem atingir alguns milímetros de diâmetro, um tamanho suficiente para constituírem uma ameaça às sondas presentes na altura na órbita marciana, pelo que este será, certamente, um problema a ser analisado em pormenor pelos responsáveis das missões Mars Express, Mars Odyssey, Mars Reconnaissance Orbiter, MAVEN e Mangalyaan (estas duas últimas com chegada prevista para Setembro de 2014).

Caso se verifique o cenário de impacto, o desastre será dantesco. C/2013 A1 viaja numa órbita hiperbólica retrógrada, pelo que passará por Marte a uma velocidade estonteante de 56 km.s-1! Os dados actualmente disponíveis sugerem que o núcleo deste cometa terá entre 3 a 50 km de diâmetro, o que significa que, em caso de colisão, a energia do impacto libertada atingirá no máximo o equivalente a 20 mil megatoneladas de TNT, ou seja, 350 vezes a energia libertada pela Tsar-Bomba, a mais poderosa bomba nuclear alguma vez detonada! Uma explosão desta magnitude produziria uma cratera com cerca de 500 km de diâmetro e 2 km de profundidade, e seria facilmente visível a partir da Terra. Desnecessário será referir que tal evento seria catastrófico para os robots Curiosity e Opportunity, actualmente em actividade na superfície do planeta.

C/2013 A1 estará em breve em conjunção com o Sol nos céus terrestres, pelo que voltará a posicionar-se de forma favorável para a realização de novas observações apenas no final do Verão. Nessa altura, os astrónomos reunirão, certalmente, dados suficientes para diminuírem as incertezas na trajectória do cometa ao ponto de poderem excluir ou não uma colisão com Marte em Outubro de 2014. Vamos aguardar.

32 comentários

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  1. Olá , Li em um site que dizia que o impacto desse cometa em marte jogaria na terra uma chuva de “asteroides marcianos”
    isso é verdade ??

    1. Podia ter-se uma chuva de estrelas… mas em Marte 😉
      http://www.astropt.org/2013/04/08/vai-chover-detritos-em-marte/

    2. Só queria saber……..Se o cometa batesse em marte traria consequencias para a terra como uma chuva de detritos marcianos ou algo assim…????

      1. Outra vez?

        Isto NADA tem a ver com a Terra…

  2. Eu gostaria de perguntar , se ele colidisse em marte nao traria danos ao nosso planeta ?

    1. Não.

  3. Tem um tal James McCanney, pseudo-astrônomo, ou no máximo um astrônomo contra a corrente caso tenha alguma “magic bullet”, que diz que isso vai terra-formar Marte e mina-lo de água e vida, ativar seus vulcões e seu campo magnético – detalhe, não uma colisão, mas apenas a cauda do cometa tocando Marte – ah e diz também que esse cometa teria tamanho planetário, ou no mínimo o tamanho da Lua…

    Bom… vamos esperar outubro… recomendo já comprarem suas passagens, agora que estão baratas, kkkkkkkkkk 😀

    1. Sobre esse pseudo:
      http://www.badastronomy.com/bad/misc/mccanney/index.html

      abraços! 😉

      1. Ele devia escrever roteiro de filme sensacionalista rollyoodiano a que eles adoram classificar ficção “científica”, isso, entre aspas mesmo, de científico não têm nada 😀

    • Tiago Cheregati on 26/01/2014 at 13:36
    • Responder

    Olá. Alguém pode dizer quantos km/h daria essa velocidade do cometa? Eu até sei que bastaria dividir por 3,6, mas e aquele exponencial negativo, como faz?
    Grato!

    1. O exponencial negativo quer dizer “por segundo” 😉

      abraços!

    2. 56 km/s – 201600 km/h

    3. Gente, não é exponencial não, é expoente. Exponencial é outra coisa…

    • Netto Domingues on 21/01/2014 at 14:58
    • Responder

    Coitado do Jonh Carter 😀

  4. se acontecer a atmosfera será afetada . com certeza.

    • joao henrique on 24/08/2013 at 04:02
    • Responder

    Até aqui tem censura? pensei que cientistas respeitassem o livre pensar…

    1. Está a falar de quê?

    • joao henrique on 24/08/2013 at 04:01
    • Responder

    Pena que nao é na terra…. como seria bom extinguir a raça humana e ficar só os bichos que sobreviverem e assim finalmente salvar o planeta… da praga humana..

    1. Acontece que se fosse algo a ponto de extinguir a raça humana provavelmente levaria boa parte das espécies existentes no planeta.

    2. “Pena que nao é na terra…. como seria bom extinguir a raça humana e ficar só os bichos que sobreviverem e assim finalmente salvar o planeta… da praga humana..”

      http://www.astropt.org/2012/08/28/esperanca-e-ilusao/

    • antonio gomes on 24/08/2013 at 01:17
    • Responder

    Vamos para o raciocínio.

    Shoemaker–Levy 9 bateu em jupiter em 1994
    C/2013 A1 possivelmente baterá em marte em 2014
    Seguindo a sequência, a terra é o próximo, isso em 2034.
    Muito tenso rsrsrsrsrsr

  5. Bem, este cometa será tão grande ou maior do que aquele que dizimou os dinossauros (10kms).
    Por isso, se caísse aqui na Terra, estávamos feitos! 😛

    Como é em Marte, será um evento fantástico! Será fabuloso para os astrónomos e para os geólogos!
    É só vantagens! 😀
    http://news.discovery.com/space/why-mars-getting-hit-by-a-comet-would-be-awesome-13032.htm

    Espero que bata 😀
    Até para criar alguma emoção no nosso quintal 😀

  6. E a teoria de energia de ativação à vida promovida por choques cinéticos… Marte até o que se sabe não possui compostos orgânicos, mas vai que estão lá embaixo junto com a água…rsrs boa Marcos. rs

  7. Pfff, morbidos!!! Anda tudo a torcer para que o cometa bata em Marte. Se batesse em nos nao gostavam, pois nao? Nao e assim que se trata um vizinho, para mais um de onde nunca vieram aliens para nos destruir, apesar dos muitos filmes feitos sobre o assunto. Shame on you, bad neighbours, shame on you!

    (Eu tb estou a torcer para que bata, mas nao digam nada a Marte)

  8. No momento tudo é possível. Quem sabe se uma colizão dessa magnitude não adensaria a atmosfera desse planeta, elevaria a sua temperatura e o acordaria geologicamente?
    É agurdar para ver.

  9. Também gostaria que o impacto acontecesse.

    Se fossem enviadas e posicionadas sondas específicas para filmarem e coletarem dados da dinâmica consequente do impacto no planeta, seria um oportunidade ímpar para um grande show de e para a ciência, mesmo que as sondas lá pousadas possam ser prejudicadas. A Curiosity II pousará em poucos anos e poderia estudar as consequências.

  10. Tiago,

    “Pelo menos se o impacto eventualmente acontecer parece-me possível que o campo magnético de Marte fique mais forte.”
    Não vejo porquê. Tal como o Rui Costa afirma, o impacto de C/2013 A1 em Marte seria o equivalente ao embate de um mosquito no pára-brisas de um carro. Ou seja, a energia transferida pelo impacto para o interior do planeta seria insuficiente para activar um dínamo no núcleo marciano. 😉

  11. Esperemos que se confirme. Seria um espetáculo digno de registo e traria enormes oportunidades à Ciência.

  12. A órbita de Marte não poderá eventualmente ser afetada?

    1. Olá Tiago,

      Não. 🙂

        • Tiago on 04/03/2013 at 13:11

        Obrigado pela resposta. Pelo menos se o impacto eventualmente acontecer parece-me possível que o campo magnético de Marte fique mais forte (eventualmente, sem cáculos não se pode afirmar nada).

    2. Tiago, a diferença de massas entre o planeta Marte e o cometa é tão grande, que a sua pergunta equivale a perguntar se um mosquito que embate no pára-brisas de um automóvel pode desviá-lo para fora da estrada.

      Marte tem um diâmetro de 6.790 km e o cometa estima-se que tenha entre 15 a 50 km. Vamos apontar para um valor intermédio e assumir que o cometa tem um diâmetro de 30 km (valor já de si bastante grande para um cometa).

      A partir daqui pode-se calcular a diferença de volume entre os dois corpos: (6.792 km/30 km)^3 = 11.604.575. Ou seja Marte tem um volume quase 12 milhões de vezes maior que o cometa.

      Mas o que está em causa numa colisão não é o volume mas sim a massa.
      E aqui temos que cada cm^3 (centímetro cúbico) de Marte tem uma densidade média de 3,934 g/cm^3 (gramas por centímetro cúbico).
      Já os cometas são corpos porosos e constituídos por materiais leves e pouco coesos. A sua densidade média está avaliada em cerca de 0,6 g/cm^3.

      Daqui se conclui que um determinado volume do cometa tem cerca de 6,5 vezes menos massa que um igual volume do planeta Marte.
      Assim, Marte terá cerca de 11.605.000 X 6,5 vezes mais massa que o cometa ou seja Marte é 75 milhões de vezes mais massivo que o cometa.

      Além disso, uma grande parte da energia cinética do cometa, seria (no caso altamente improvável de uma colisão) transformada em energia térmica e mecânica, a qual seria absorvida pelo planeta, que se deformaria na zona envolvente do impacto, formando uma cratera e aquecendo os materiais na área de impacto.

      Conclusão: Marte continuaria a sua trajectória em torno do Sol…

  1. […] o cometa passaria a uma distância da superfície marciana de apenas 50,1 mil quilómetros, com uma probabilidade de impacto de 1 em 1250! Ou seja, havia cerca de 0,1% de hipóteses deste cometa bater em Marte… e 99,9% de […]

  2. […] a fluir em Marte. Vida. Oposição (2012, 2014). Sobrevoar a superfície. 1.000.000.000 pixeis. Catástrofe em 2014? Chuva de detritos. Estranho. Rato. Gorila. Estátua Egípcia. Luz. UFO. Missões Humanas. Missão […]

  3. […] do núcleo do cometa C/2013 A1 (Siding Spring). No dia 19 de Outubro, Siding Spring fará uma passagem a cerca de 132 mil quilómetros de distância da superfície de Marte – o equivalente a aproximadamente 1/3 da distância média entre a Terra da Lua. Os […]

  4. […] 15 – o cometa C/2013 A1 não irá colidir com Marte a 19 de Outubro de 2014. […]

  5. […] este nosso post, Slate e […]

  6. […] Num fantástico e inesperado desenvolvimento de última hora, a Nasa acaba de informar que refinou os cálculos para o cometa C/2013 A1 que deverá provocar uma catástrofe global em 2014 (leiam a notícia de Março passado, aqui). […]

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