Novo processo pode tornar a energia renovável disponível com regularidade

Por Michael D. Lemonick

Recebemos, muito gentilmente, autorização do Autor acima citado para reproduzir, numa tradução livre para Português, o seu artigo “New Process May Make Renewable Energy Reliable at Last,” publicado no recurso web da organização independente de autores e de jornalistas que fazem pesquisa científica e que publicam relatórios sobre a alteração climática nos EUA, a CLIMATE CENTRAL.

Créditos aismist / flickr

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A energia solar é praticamente ilimitada, não gera gases de efeito estufa que aquecem o planeta – e é inútil entre o pôr e o nascer do sol. A energia eólica também é abundante e não emite carbono, e pode ser colhida de dia ou de noite, mas não quando o ar está calmo.

28 de Março de 2013

A descoberta anunciada na edição desta quinta-feira da reviste Science pode, no entanto, oferecer uma forma de contornar esses problemas intimidantes. Os Químicos da Universidade de Calgary, no Canadá, descobriram uma forma eficiente de transformar a energia eléctrica a partir de energia eólica e solar em hidrogénio, que por sua vez pode ser usado como combustível, emitindo nada mais prejudicial do que o vapor de água, e gerar energia quando o vento deixa de soprar ou o Sol está abaixo do horizonte.

“Essencialmente, estamos a usar o hidrogénio como um mecanismo de armazenamento de energia elétrica”, disse o co-autor Curtis Berlinguette numa entrevista.

Sem esse mecanismo, as empresas de energia eléctrica precisam de manter as centrais convencionais em “backup”, e se essas fábricas queimam carvão ou gás natural, vão emitir o CO2 que retêm o calor na atmosfera. Mas as técnicas de armazenamento que os especialistas em energia até agora descobriram – o bombeamento de água para cima quando o sol está a brilhar ou o vento a soprar, para, depois, deixá-la fluir novamente pela gravidade para gerar energia, ou o armazenamento da energia em baterias, ou o seu uso para comprimir o ar que irá movimentar os geradores – são bastante ineficientes.

Até há pouco tempo, na verdade tem-se passado o mesmo com o armazenamento do hidrogénio. A forma como essa tecnologia funciona é com uma corrente eléctrica que é transmitida através da água, dividindo a H20 em oxigénio (O) e hidrogénio (H). A desvantagem, explicou Berlinguette, é que “É precisa uma grande quantidade de electricidade ” Pode-se acelerar o processo usando um catalisador, o que ajuda a dividir moléculas de água, mas, até hoje, os melhores catalisadores disponíveis foram fabricados a partir de metais raros com uma estrutura atómica de estratos cristalinos.

Essa estrutura, no entanto, impede a água de maximizar o contacto com o catalisador. “É um pouco como a lasanha”, disse Berlinguette. “Se se despejar o molho sobre as camadas de massa lisa [os metais cristalinos], este não será absorvido ao longo de todo o seu caminho.”

A resposta dos químicos era usar metais mais baratos, incluindo o óxido de ferro velho liso (que conhecemos por… ferrugem) com forma amorfa, não cristalina. “É mais como o spaghetti”, prosseguiu Berlinguette, o que torna o processo muito mais eficiente. Não é, no entanto, eficiente o suficiente, se o objectivo for simplesmente produzir hidrogénio: para isso, é muito melhor um processo já estabelecido que é conhecido como reforma do metano re-accionado pelo vapor.

Mas se se tiver uma central geradora solar no deserto ou um parque eólico nas pradarias do Nebraska (ou de Alberta, no Canadá), e precisar dum lugar para armazenar o excesso de energia até que este seja necessário, o hidrogénio parece ser melhor do que as outras opções. “A densidade de energia do hidrogénio”, – isto é, a quantidade de energia que detém por quilograma de material – “é cerca de cem vezes maior do que as baterias ou ar comprimido ou do que as outras opções”, disse Berlinguette.

Um novo trabalho da equipa de Calgary melhora uma descoberta semelhante feita pelos químicos do MIT, há alguns anos, e os seus novos catalisadores são os melhores disponíveis, perfazem melhor  o seu trabalho, e recorrem a materiais mais baratos.

A conversão das energias renováveis em hidrogénio é actualmente muito mais cara do que estes métodos, mas a maior eficiência e os materiais milhares de vezes mais baratos empregues neste novo processo pode finalmente torná-lo competitivo.

Uma empresa formada pelos químicos para comercializar a sua nova tecnologia planeia ter um modelo de trabalho de escala fabril junto do mercado já no próximo ano, e prevê um modelo de escala domiciliária, do tamanho dum frigorífico grande, em 2015. Se isso vier a acontecer, uma casa equipada com painéis solares ou turbinas eólicas poderia ser totalmente auto-suficiente em energia, 24 horas por dia.

Os nossos agradecimentos a Michael D. Lemonick, Autor Sénior de Ciências da Climate Central, pela amabilidade e disponibilidade com que acedeu ao nosso pedido de publicação.

Thank You Michael D.Lemonick, for your kind  permission to translate and publish this post of your autorship in AstroPT.

 

2 comentários

  1. Lembrem-se não existe nada de graça.

    Mesmo a captação do vento e a captação da luz, podem causar alterações no clima..

    Claro, estamos muito lonje de que nossa interferência nessa área me específico possa ser sentida no clima.
    Mas principalmente quem lida com essa tecnologia deve ter bem claro que isto é real.

      • Manel Rosa Martins on 18/04/2013 at 23:34
      • Responder

      Trata-se aqui de armazenar a energia já produzida, para ser reutilizada nas horas em que não há vento nem sol, optimizando os processos já existentes.

      Em parte alguma está aqui anunciado um ou vários processos sem custos, até é explicado que se está a preparar a sua comercialização.

      Quanto à captação da energia solar e eólica alterar o clima não tenho qualquer dado ou estudo credível nessa matéria, referindo-me à captação em operação, a sua montagem claro que tem custos e causa poluição, uma turbina eólica pode pesar 80 Toneladas e só o seu transporte acarreta, com os meios actuais, poluição.

      Esta solução de armazenamento é, por seu lado, do interesse das companhias de energia, podendo por os seus recursos e os seus conhecimentos muito mais empenhados em investir nas Energias Renováveis.

      Obrigado pelo seu comentário, alertou para uma realidade que é justo realçar: não há energias sem custos. isso é um facto.

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