Super-Lua só daqui a 18 anos?

A RTP teve uma proposta brilhante: ter um segmento semanal de astronomia na televisão. É excelente que se tente levar a astronomia à população a partir da televisão. Isto sim é serviço público.
A ideia tinha tudo para ser um sucesso!

Infelizmente, o “especialista” convidado para falar nesse segmento não é especialista em astronomia.
A RTP decidiu chamar para falar de astronomia uma pessoa sem formação académica em astronomia, sem formação profissional em astronomia, que dá imensos erros quando fala de astronomia, que não comunica as coisas da melhor forma, e que já deixou as poucas actividades de divulgação de astronomia há uma década atrás.
Seria o mesmo que, para falar de medicina, a RTP convidasse um trolha como se fosse um especialista em medicina.
Será serviço público enganar desta forma os telespectadores?

O segmento semanal a que me refiro é no Bom Dia Portugal, se bem que o mesmo não-especialista faz questão de prolongar os erros no programa 24 horas.
Não satisfeita com a péssima avaliação feita ao trabalho do não-especialista semanalmente, a RTP também convida o péssimo profissionalismo para ter tempo de antena no 24 horas.

A pessoa em causa é o Miguel Gonçalves (originalmente, não tinha colocado o nome dele, mas já que ele se deu a conhecer nos comentários, então ele próprio decidiu sair do anonimato e assim posso editar aqui o nome que ele deixou no comentário).
Ora, várias pessoas viram o segmento do Miguel na noite de S. João no programa 24 horas da RTP, onde foi dado grande destaque à suposta Super-Lua que só iria acontecer daqui a 18 anos.

Era um erro. Muita gente foi enganada. Com a responsabilidade da RTP, porque não procura especialistas em astronomia, foi transmitida uma informação completamente errónea para a sua audiência.

Mas erros toda a gente dá (apesar de sabermos que não especialistas dão mais erros que os especialistas nas áreas respectivas, daí nos hospitais existirem cirurgiões para nos fazerem as cirurgias e não trolhas). Por isso, erros são desculpáveis.
O que já não é desculpável é a forma como a pessoa lida com os erros: se a pessoa não consegue reconhecê-los, se não consegue avaliar a informação que lê, dá imensos erros, aproveita para fazer campanha pelos amigos que fazem ataques pessoais (“tolo”, “óculos”, “quer tirar o lugar”, “autopromoções”, etc, tudo falácias Ad Hominem de ataques pessoais, à pessoa, e não de avaliação à informação que está a ser prestada) aos seus críticos que são os especialistas que têm o conhecimento do assunto, e se nem consegue reconhecer que não é especialista no assunto (como alguém achar que deve ser reconhecido como médico, apesar de nem sequer ter curso ou trabalhar nisso), etc, então essa pessoa está simplesmente a ser um pseudo e deve ser reconhecida dessa forma (porque esse é o comportamento dos pseudos em face dos especialistas, em face do conhecimento e em face dos factos).

Ou seja, não só a RTP promove não-especialistas, apresentando-os como especialistas (numa situação que é similar à do Artur Baptista da Silva), mas também promove este tipo de pessoas que ainda gozam e negam o conhecimento dos especialistas. É uma total falta de respeito para com os telespectadores.

Porque a RTP convida este tipo de pessoas que não são especialistas, que dão vários erros, e que ainda gozam com quem diz a verdade sobre os assuntos?
Seria o mesmo que a RTP convidar um trolha, sem formação em medicina, para comunicar na televisão notícias de neurocirurgia, só porque esse trolha “lê umas coisas na área”. E pior, ainda enganar os espetadores, promovendo a usurpação de funções, ao identificar essa pessoa (que é trolha) como sendo um neurocirurgião.
Com tantos astrónomos em Portugal (e alguns deles, com experiência em comunicação), porque a RTP convida pessoas sem formação na área?
Porque as pessoas confundem aspectos pessoais com profissionais. A pessoa pode passar o tempo a dar elogios aos jornalistas, que isso nada diz sobre o conhecimento que a pessoa tem ou não tem sobre determinado assunto (neste caso, a astronomia).

Infelizmente, os jornalistas que convidaram este não-astrónomo parecem denotar não saber separar as coisas. Isto não é surpreendente, já que é assim que astrólogos, mediuns, vendedores de produtos milagrosos, e demais pseudos actuais, usam esta técnica milenar muito utilizada pelos antigos vendedores de banha de cobra: aproveitam o facto da sociedade em geral não ter a capacidade de distinguir o que é verdade do que não é, não pesquisar para saber se algo é mentira, e sobretudo confundir argumentos pessoais com a realidade da informação. Este é um dos grandes problemas da sociedade actual: iliteracia científica e iliteracia funcional (as pessoas são incapazes de avaliar objectivamente a informação que lhes chega).

Uma sociedade iliterada é fantástica para quem tenta vender “gato por lebre” à população.
Sem desenvolver ferramentas de pensamento crítico, as pessoas não se podem depois queixar da política, da economia ou do que quer que seja.

A RTP promove este estado de coisas, ao escolher pessoas não especialistas para se fazerem passar por especialistas num assunto que claramente não dominam.
É pena é que a RTP se deixe levar pelo lamaçal da iliteracia.

A verdade é que o Miguel tem o 12º ano e andou num curso sem o ter acabado. Não é astrónomo. Não trabalha/ou em astronomia. E passou a última década (próximo disso) como funcionário editorial e de livraria.
Notem que não estou a fazer juízos sobre o valor dele como pessoa nem como profissional na área dele. Estou somente a restringir-me à parte profissional: se a pessoa quer ser um bom profissional de um assunto, tem que ter habilitações para isso. Neste caso, essas habilitações não existem. Ele não é astrónomo, biólogo, geólogo, advogado, jornalista, psicólogo, sociólogo, etc, etc, etc (podem pensar em inúmeras profissões). Não é uma questão de “títulos”, mas sim de conhecimento.

Claro que me podem dizer: “mas Carlos, mesmo sem ter um curso e não se pertencer à área, até se pode fazer um bom trabalho nessa área, certo?” E respondo eu: Claro!
A pessoa pode não ser da área e produzir um excelente trabalho. Mas isso é muito mais raro e muito mais difícil. Por isso é que os trolhas não são convidados para fazer cirurgias. Não é porque as cirurgias não possam sair bem aos trolhas. E não é porque os cirurgiões nunca se enganem. Mas é porque a probabilidade de um cirurgião se enganar é muito menor que um trolha. Novamente, entramos em aspectos de literacia funcional: escolher sempre aqueles que têm uma maior probabilidade de estarem correctos, e esses são sempre os especialistas, aqueles que têm o conhecimento dos assuntos.

E os especialistas não são aqueles que se dizem especialistas, mas sim aqueles que realmente estudaram os assuntos como esses assuntos devem ser estudados (os especialistas não são aqueles que “lêem umas coisas em cima do joelho”). Por exemplo, os especialistas em mecânica quântica são físicos, com cursos universitários e doutoramentos, e não aqueles que se dizem especialistas porque até são simpáticos e vos vendem informação que vos cura de todos os males.

A RTP deveria ter assim mais cuidado nos convites que faz às pessoas para irem falar de algum tema: devem convidar especialistas e não aqueles que se fazem passar por especialistas (novamente vem-me à cabeça o caso do simpático Artur Baptista da Silva).
Será que a RTP gosta de ser enganada ou de enganar os seus telespectadores?

Na semana anterior, o Miguel não-astrónomo foi à televisão falar da Super-Lua, na noite de S. João.
Ele disse muitas coisas correctas. É verdade que tentou desdramatizar o mediatismo da situação. Assim como teve expressões brilhantes, como aquela da jogada de marketing da Lua.
Mas também teve alturas em que foi bastante confuso e não foi peremptório na resposta certa (ex: ilusão óptica da Lua perto do horizonte) e houve alturas em que me pareceu que a distância não era aquela mas não posso comprovar porque não tenho o objecto (ex: martelo).
Mas mais grave foi afirmar que esta Super-Lua só aparece daqui a 18 anos. Isto é mentira!

A transcrição das palavras:
O destaque inicial do segmento é com esta frase logo a abrir: “Condições como esta noite só se vão repetir dentro de 18 anos
A meio do segmento, o Miguel não-astrónomo começou a falar no perigeu: “Eu vim à bocado do S. João para mostrar como no fundo são estas distâncias que nós estamos a falar. Hoje ao meio-dia e 11 foi o perigeu, o ponto mais próximo da Lua em relação à Terra.
E logo a seguir o jornalista, ao ouvir perigeu, pergunta: “Que só vai acontecer daqui a 18 anos?
E o Miguel não diz que não. Não é peremptório. Simplesmente complica a coisa e acaba de forma errada: “Esta conjungação de factores: uma Lua tão próxima, uma Lua Cheia, e estas condições de visibilidade; de facto só daqui a 18 anos.

Torno a repetir: isto é mentira!
O Miguel não-astrónomo decidiu “apontar o dedo” ao Observatório Astronómico de Lisboa (OAL), basicamente dizendo (interpretação minha): “A minha única fonte foi o OAL. Eu não tenho culpa. Eu nem sei avaliar a informação. Por isso, repeti o que eles escreveram.

Academicamente, sabemos que é muito mau só termos uma fonte para as coisas. Academicamente, sabemos que é muito mau não sabermos avaliar as informações que lemos – é iliteracia científica neste caso. E por “academicamente” entendam: profissionalmente. Penso que uma pessoa que queira ter o máximo de mérito profissional, tenta fazer estas duas coisas que referi. Mas para a pessoa ter isso, precisa ter conhecimento e pensamento crítico, para poder notar algo estranho na informação dada, colocá-la em causa, e a seguir ir procurar a informação correcta. E o Miguel não tem ferramentas para isso.

Não sei se os nossos leitores saberiam avaliar a informação do OAL. Talvez não. Mas grande parte dos nossos leitores são leigos em astronomia. Por isso, compreende-se. O que não se compreende é que alguém que se mostra como especialista em assuntos de astronomia não tenha essa capacidade. Profissionalmente, demonstra “preguiça” ou falta de brio (como me disseram) não comparar com outras fontes nem sequer se tentar informar com quem realmente é especialista em astronomia.

Se o erro foi do OAL, que fez então o OAL?
O OAL, e muito bem, apagou o erro do seu artigo inicial, que podem ver aqui. Inicialmente estava no final do artigo a falar dos 18 anos, numa frase pequeniníssima, sem grande interesse, que qualquer especialista em astronomia perceberia que era erro incluindo comparando com outras fontes. Ao terem conhecimento do erro, o OAL, muito bem, apagou-o.
O OAL não só apagou o erro do artigo inicial, como também publicou um outro artigo para esclarecer completamente o assunto. Podem ler aqui.
Deixem-me transcrever o artigo, e colocar algumas anotações minhas.

No passado dia 23 de Junho de 2013 assistiu-se a uma das luas cheias mais próximas do perigeu, também classificada como “super lua”, designação que é recente. Considerando a informação anteriormente prestada, decidimos completá-la de modo mais detalhado e correcto.

Correcto está em itálico. Porquê? Para realçar que antes tinha sido dada uma informação incorrecta, e por isso este novo artigo pretendia esclarecer isso.

A definição de super lua é a seguinte: quando o intervalo temporal entre Lua cheia e perigeu é menor do que 1 dia e 8 horas. Pode ver nesta tabela a lista das super luas que irão ocorrer entre 2014 e 2050. Note-se que os instantes da Hora apresentam-se em TT (Tempo Terrestre) — escala que em 2013 está desviada de ≈67 seg. ao UTC — pois não se pode fazer previsão exacta desta diferença para o futuro, devido à introdução de Segundos Intercalares.
Na tabela contabilizam-se 92 super luas, correspondendo a uma média de 2,5 eventos por ano, ou seja, são raros os anos com nenhum ou apenas um evento e é comum existirem duas ou três super luas por ano, mas nem todas terão o mesmo tamanho e brilho aparentes.
Sem fazer a análise exaustiva dos valores, assinalam-se alguns casos interessantes (perigeus menores e diferenças temporais menores) a cor diferente na tabela e transcritos aqui:

Não sei se perceberam até aqui, mas eu traduzo: as Super-Luas não são fenómenos raros! Em média, acontecem 2 ou 3 por ano!
E, como nos mostrou Neil deGrasse Tyson recentemente, aqui, elas nem são muito diferentes das “normais” Luas Cheias.

Crédito: OAL

Crédito: OAL

Destes há que realçar os de 2015, 2031 e 2034 pois ocorrem de noite em Portugal e por isso apresentam as menores diferenças temporais entre o momento de observação, a lua cheia e a passagem no perigeu.
Em 2031 teremos uma lua cheia a nascer no horizonte mas estando quase no perigeu. Apesar deste perigeu não ser dos menores, a distância à Terra será muito próxima da observada em 2013, criando um efeito visual parecido ao de 23 de Junho passado.

Deixem-me realçar a Super-Lua de 2034 (daqui a 21 anos), essa sim com alguns motivos para falarmos dela (devido ao seu menor perigeu e menor diferença de horas entre Lua Cheia e Perigeu). Mesmo assim, como disse atrás, observadores ocasionais da Lua não irão notar diferenças.
Deixem-me também referir que quem me falou deste ano relevante para a Super-Lua foi o professor e astrónomo (esse sim, astrónomo) Daniel Folha.

No entanto, o ano de 2031 é referido como uma simples curiosidade, passageira, do género “ontem esteve este Sol e hoje também”, ou seja, com uma distância à Lua desse ano próxima deste ano quando a vemos no horizonte. Não relevante. Nada de especial. E por isso é que o OAL tinha colocado só uma notinha pequeníssima no final do artigo original e depois acabou por até tirar para não enganar os leigos no assunto (incluindo os leigos que se fazem passar por especialistas).

Deixem-me referir também que a expressão “efeito visual” utilizada pelo OAL nada tem a ver com a expressão “condições de visibilidade” dita pelo tal não-astrónomo na TV. Uma coisa é um efeito óptico e atmosférico e outra coisa completamente diferente é ir buscar termos à meteorologia.

A melhor situação de todas é a de 2034 pois tem-se o menor perigeu de todos até 2050. Assim, ficam as pessoas desde já convocadas para outra noite de observação astronómica no OAL no dia 25 de Novembro de 2034! Cá vos esperamos.

Se dúvidas havia sobre a relevância dos anos das Super-Luas, penso que esta frase é totalmente esclarecedora.
Quem anda pela TV a dizer 18 anos, errou!
Promover e fazer grande destaque na TV (até abrir o segmento dessa forma) sobre só daqui a 18 anos existir a Super-Lua é promover o sensacionalismo.

Infelizmente, nem assim o Miguel não-astrónomo reconhece os erros. Ele continua a afirmar, contra todas as evidências, que não errou. Continua a afirmar que os “18 anos” estava certo. A razão é simples: ele não sabe interpretar o que lê de astronomia. E continua a promover ataques pessoais entre os seus amigos (incluindo “por trás” como ele disse publicamente) – não contraria os factos, porque os factos são claros.

Este é o tipo de qualidade de “especialistas” promovidos pela RTP.
A RTP anda a promover não-especialistas, que dão erros constantes, e que nem assumem os seus erros, preferindo entrar por “guerrinhas pessoais” quando alguém especialista no assunto, lhes faz ver que erraram.
Com este exemplo, a RTP decide mostrar que este é o tipo de pessoas que decide convidar para os seus segmentos: alguém que não percebe do tema, que diz umas palavras bonitas para enganar o povo, e que após ser confrontado com os erros científicos decide partir para os argumentos pessoais.

E deixem-me realçar: este erro está longe de ser único. Os erros deste não-especialista são comuns. Como qualquer electricista obviamente daria vários erros se o pusessem na televisão a falar de medicina, também este funcionário editorial dá imensos erros quando a RTP o convida para falar de astronomia.
Pessoalmente, eu deixei de ver o segmento dele para não me irritar com tantos erros. Isto da Super-Lua só vi, porque diversos amigos meus me contactaram a dizer essa informação errónea. E ainda há cerca de talvez 2 semanas atrás (não estou certo) houve um outro erro grave que também o confirmei após receber as questões de amigos meus.

Um outro amigo nosso também viu um dos segmentos dele, sobre uma descoberta de exoplanetas, e além dele ter complicado muito as explicações em alguns casos (sinal que não domina o assunto), também confundiu exoplaneta confirmado com candidato, número de planetas descobertos, disse que Júpiteres Quentes são uma raridade quando afinal são o mais comum até agora (o que era raridade era a forma como foi visto), e parece que alguns números de distâncias também não foram bem convertidos pelo dito senhor. Mas isto foi dito publicamente no FB por um cientista português. Eu não vi o tal programa, por isso, eu próprio não posso confirmar estes dados.

Eu próprio posso confirmar, e até registei, vários outros erros do Miguel não-astrónomo.
Exemplos:
1 – trocou o evento que extinguiu os dinossauros há 65 milhões de anos com o evento muito pior de há 250 milhões de anos.
2 – afirmou que uma estrela com meros 10 milhões de anos (de classe K) é velha (na verdade, é bastante jovem).
3 – afirmou que a “rosa” em Saturno é no pólo sul (é no pólo norte).
4 – Uma distância dita pela NASA de 4 billion miles foi traduzida pelo dito senhor como 4 mil milhões de quilómetros.
5 – Afirmou que Copérnico é que arrasou com o geocentrismo, sendo que Galileu deu-lhe só um suporte popular (certamente que não sabe o mais básico de História da Astronomia).
6 – Trocou o nome de um autor de livros, masculino, por uma pessoa do sexo feminino.

E estas são só algumas coisas que me vou lembrando de há meses atrás, quando até lia e ouvia o que o Miguel dizia. Como sabem, a minha memória até é má. Baseado nisso, posso especular que existem vários outros exemplos que nem me lembro. E, claro, existem certamente outros exemplos que eu nem sei, porque deixei de o ver e ler.

É certo que o Miguel até tem uma boa forma de comunicar as coisas. Reconheço isso.

Por outro lado, mesmo nessa área tem falhas. Como nunca aprendeu realmente a comunicar ciência (mais uma habilitação que lhe falha), a verdade é que se nota que complica por demais algumas explicações (por não dominar o assunto) e por vezes fala em comparações de massa, mil milhões de anos, anos-luz, e coisas deste género, que qualquer pessoa que esteja em casa a ver TV obviamente que não faz a mínima ideia do que querem dizer esses termos (com uma cadeira de Introdução à Comunicação, penso que estas coisas poderiam ser melhoradas… mas para isso, ele precisava querer, e poder, aprender e não só aparecer).
Na minha opinião, por vezes também mostra um conhecimento demasiado superficial dos assuntos. E isso nota-se mais naquilo que expliquei agora: não sabe depois explicar e complica aquilo que é simples. Mas pronto, isso é porque verdadeiramente ele não domina os assuntos, porque objectivamente nem é astrónomo nem trabalha em astronomia.
E de quem é a culpa disto? Da RTP por convidar pessoas que não dominam determinado assunto para comunicar tão mal sobre esse assunto.

Também me chateia ele não dar o crédito a quem o tem. Se ele não é astrónomo nem trabalha em astronomia, obviamente que aquele conhecimento é de outras pessoas (fontes).
Chateia-me muitíssimo a falta de rigor científico, ou melhor, nem é o rigor científico, até é mais simplesmente: ele não dizer as coisas correctas (como nos exemplos que dei em cima). Isso sim, para mim, é muito grave! Porque qualquer leigo pode ir ao Google e ver as informações certas nos locais credíveis. Pode até nem entender as notícias, mas no mínimo deve saber ler as informações certas.

Também pelo que aparenta, nada faz para prevenir os erros. Exemplo: pagar a especialistas, a consultores de astronomia, a astrónomos, para lhe explicarem os assuntos de astronomia antes de ele os ir dizer para a TV ou publicamente no seu mural de FB. Não custava muito e não perdia muito tempo, e certamente que em vez de errar, prevenia muito mais a existência desses erros (e até o fazia compreender melhor os assuntos para assim os poder explicar melhor). Mas isto aparentemente não é feito.

A minha pergunta continua a mesma: porque a própria RTP não convida um especialista em astronomia, que domine o assunto?
Porque a RTP decide convidar alguém como a Maya ou o Giorgio Giorgio Tsoukalos que falam muito bem e contam muitas histórias, mas que de astronomia nada percebem?
Será isto serviço público? Convidar não-especialistas e enganar a população ao apresentá-los como se fossem especialistas?

Como é que a RTP pode convidar alguém para falar de um assunto, sem essa pessoa ter habilitações para isso, sem ter formação académica, sem ter formação profissional, sem ter o cuidado de estudar os assuntos, que tem um conhecimento superficial do assunto, e que dá imensos erros? Como é que a RTP não avalia a informação que ele dá? Como é que a RTP pode ser incompetente a este ponto?

É certo que ele pode dar as opiniões que quiser, sobre astronomia, sobre direito, sobre economia, o que seja, mas quem o quer convidar para algo, deveria ter um mínimo de cuidado de saber se aquilo são opiniões informadas ou não. E a verdade é que as opiniões são todas iguais, seja um assunto ou outro.

Será que a RTP gosta de cuspir na cara dos astrónomos portugueses?
É uma vergonha o que estão a fazer aos excelentes astrónomos portugueses!
Porque a RTP ostraciza os astrónomos portugueses?
Porque a RTP pretere os astrónomos portugueses, em favor de alguém que utiliza a estratégia do Artur Baptista da Silva?

É certo que recentemente tivemos o caso em Portugal de Artur Baptista da Silva, que se fez passar por coordenador de uma equipa da ONU sem o ser e com isso enganou muitos jornalistas e fez entrevistas na televisão. Neste caso, a diferença é que o Miguel é honesto: ele afirma peremptoriamente que não é astrónomo. Mas os jornalistas, mesmo assim, não entendem. Parece que a simpatia e as cunhas estão acima da meritocracia. É isso que a RTP deixa entender.

Sinceramente não entendo como a RTP pode tomar decisões destas, em que o resultado é ter a sua audiência enganada pelas informações incorrectas que são transmitidas por alguém que não domina o assunto.
Com tantos astrónomos em Portugal, porque a RTP decide convidar alguém que não o é?
Com tantos bons comunicadores em Portugal, porque a RTP decide convidar alguém com tantas falhas?
Porque a RTP privilegia a mediocridade, desprezando a meritocracia?

Se calhar, como defendia George Orwell, o interesse é ter uma sociedade ignorante, controlada, e muito distante da verdade objectiva. Talvez seja por isso que, mesmo na presença dos factos, a RTP continue a escolher quem não domina o assunto (astronomia).

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Talvez a RTP pense o contrário de Enrico Fermi. Talvez a RTP despreze os especialistas que dizem a verdade, preferindo uma sociedade onde a ignorância é melhor que o conhecimento dos assuntos.

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Talvez a RTP pense que a ignorância é uma benção, e por isso promovam a iliteracia convidando não-especialistas para darem erros constantes sobre o assunto. Uma sociedade de idiotas (como neste filme) é mais facilmente controlável.

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Não sei qual a resposta certa para a RTP tomar este tipo de decisões que denotam incompetência. Talvez a resposta certa seja que a escolha não é consciente. Talvez os próprios jornalistas nem se apercebam que estão a convidar não-astrónomos para falarem de astronomia. Nem se apercebem que a pessoa dá vários erros porque não é especialista no assunto. Não se apercebem que ele limita-se a copiar o que lê mas não é capaz de avaliar cientificamente essa mesma informação que lê.

Quem o convida provavelmente nem se dá conta que ele nem é especialista, e “deixa-se levar” pela sua própria iliteracia e ignorância sobre o tema. No entanto, lembro que o pensamento crítico é transversal a todas as áreas. E não precisamos ser especialistas em certos assuntos, para saber procurar as fontes credíveis que nos dizem se a informação X é verdadeira ou não.

Isso sim é o teste final: informação correcta. E não se a pessoa fala bem ou se nos dá elogios. A verdade objectiva, a informação correcta, deve estar sempre acima do resto. Isto, claro, se alguma vez quisermos viver numa sociedade baseada na meritocracia (uma sociedade verdadeiramente democrática em que os especialistas são conhecidos como tal, pelo seu mérito, pelas suas qualificações, pelo seu conhecimento do assunto em causa).

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  1. Francisco Moita Flores, na CMTV, do dia 24 de Novembro, às 23:48, ao falar do Caso Sócrates e não só:

    “(…) redes de tráfico de influências, para a qual se tornou tão natural meter cunhas, privilegiar pessoas, promover através da simpatia pessoal, que se chega a um momento em que espontânea e naturalmente aparecem os crimes mais graves, com muito mais gente a aceder a este tipo de práticas.”

  1. […] uma vez se vê que a tirania religiosa esteve sempre oposta ao conhecimento. Ainda hoje se vêem muitos exemplos desta perseguição a quem detém o […]

  2. […] jornaleiros, este “pesquisador especializado em vida extraterrestre” (fazem lembrar a RTP com o “comentador de astronomia”) encontrou outros “crânios de […]

  3. […] o segmento deixa a pergunta: porque raio damos ouvidos a pessoas que não são de ciência, para falarem de assuntos científicos? O segmento também evidencia uma conspiração, mas não da […]

  4. […] O período áureo destas crenças imbecis deu-se na chamada Idade das Trevas, chamada assim devido precisamente às crenças se sobreporem ao estudo sistemático e objetivo da natureza, o que levou a um declínio civilizacional na Europa. Mas estas crenças sempre existiram, promovidas pelos chamados vendedores de banha-de-cobra. […]

  5. […] forma, obviamente no ano 2000, os vendedores de banha-de-cobra já não existem, a homeopatia foi corretamente esquecida como superstição milenar, o Reiki foi […]

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  8. […] Os seus amigos parecem acreditar nele, mesmo que fiquem furiosos com ele. John comporta-se assim como um palestrante carismático, um pseudo, em que mesmo as pessoas que deviam ser céticas acabam por acreditar nele por ele contar histórias fascinantes… mesmo que o que ele diga seja totalmente mentira. […]

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  10. […] mesmo estudo diz-nos que pessoas demasiado confiantes nelas próprias – mesmo sem qualquer talento – conseguem transmitir essa confiança a outras pessoas, fazendo-as acreditar que têm […]

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  12. […] “escrever umas equações”, não é entender as coisas. Isso serve somente para dar um “ar de entendido” para os mais crédulos, quando na verdade, o entendimento das situações/fenómenos vai muito para além disso. Feynman […]

  13. […] torna-se o primeiro e único ser humano capaz de mentir, e percebe que a desonestidade tem as suas recompensas. Por exemplo, num banco, numa altura em que os computadores estão em baixo, ele diz que tem na […]

  14. […] Só falta saber que imbecilidade transmitirá o chamado “serviço público” (entre aspas) em Portugal, ao rejeitar o conhecimento dos astrónomos portugueses e confiar em falsos especialistas. […]

  15. […] auto-intitulam de “serviço público” continuam a fomentar os disparates e a divulgar semanalmente mentiras. Para o “serviço público”, as correções e a verdade são características […]

  16. […] os programas com debates supostamente equilibrados mas que na prática cospem no conhecimento, e despediam-se os comentadores ignorantes. Infelizmente, duvido que isso aconteça. Aposto que a RTP vai continuar a enganar os seus […]

  17. […] Queremos pessoas capazes ou show-off? […]

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