Meu caro vizinho Kepler-62e, como tem passado?

Um sol a 1200 anos-luz nasce em Kepler-62f (NASA/Ames/JPL-Caltech)

Um sol a 1200 anos-luz nasce em Kepler-62f (NASA/Ames/JPL-Caltech)

Considerem o se­guinte ce­ná­rio: dois pla­ne­tas no mesmo sis­tema so­lar, am­bos com vida, am­bos com uma es­pé­cie do­mi­nante in­te­li­gente for­mando o que po­de­ría­mos re­co­nhe­cer como ci­vi­li­za­ção. Já se fi­ze­ram li­vros de fic­ção ci­en­tí­fica com pre­mis­sas mais modestas.

“Imaginem pe­gar num te­les­có­pio e ob­ser­var um mundo com vida e ape­nas a al­guns mi­lhões de qui­ló­me­tros do nosso. Ou ter a ca­pa­ci­dade de vi­a­jar en­tre es­ses mun­dos de forma re­gu­lar. Não posso ima­gi­nar maior mo­ti­va­ção para for­mar uma so­ci­e­dade de na­ve­ga­do­res es­pa­ci­ais.”

O en­tu­si­asmo do as­tró­nomo búl­garo Dimitar Sasselov é ins­pi­rado pela des­co­berta, em me­a­dos de abril deste ano, de dois pla­ne­tas que or­bi­tam a Kepler-62 na zona ha­bi­tá­vel, o –62e e o –62f.

A Kepler-62 é uma es­trela a 1200 anos-luz de dis­tân­cia, classe K, mais fria, dois ter­ços do ta­ma­nho do nosso sol e um quinto da lu­mi­no­si­dade. À sua volta or­bi­tam cinco pla­ne­tas, mas para esta his­tó­ria de de­man­das ci­en­tí­fi­cas e vi­zi­nhos cós­mi­cos só nos in­te­res­sam os dois que es­pe­vi­ta­ram a ima­gi­na­ção de Sasselov, –62e e –62f, cor­pos ro­cho­sos mai­o­res e de maior massa que o nosso — Super-Terras.

Se es­ti­vés­se­mos sen­ta­dos na su­per­fí­cie de Kepler-62f (ad­mi­tindo que tem uma su­per­fí­cie onde nos pos­sa­mos sen­tar e que não se­ría­mos es­ma­ga­dos pelo peso da gra­vi­dade), ve­ría­mos o pla­neta vi­zi­nho como uma es­pé­cie de es­trela da manhã.

Não é a pri­meira vez que nos dei­xa­mos le­var pelo en­tu­si­asmo ao con­si­de­rar a pos­si­bi­li­dade de a nossa casa não ser a única ha­bi­tada e ha­ver ocu­pan­tes nos edi­fí­cios mais perto. A ideia de uma ci­vi­li­za­ção em Marte ca­paz de cons­truir ca­nais ar­ti­fi­ci­ais, por exem­plo, che­gou a ser muito po­pu­lar nos fi­nais do sé­culo XIX.

Os ca­nais mar­ci­a­nos não pas­sa­vam de ilu­são de ótica — e tendo em conta a dis­puta ci­en­tí­fica en­tre os que de­fen­diam a sua ori­gem ar­ti­fi­cial ou na­tu­ral, foi como ob­ser­var dois ri­vais se­den­tos lu­tando por che­gar pri­meiro à mi­ra­gem de um lago no deserto.

O pa­dre e as­tró­nomo ita­li­ano Pietro Angelo Secchi (1818 – 1878), grande ci­en­tista, um dos pri­mei­ros a afir­mar ta­xa­ti­va­mente que o Sol era uma es­trela e a pro­por a clas­si­fi­ca­ção das es­tre­las pelo seu tipo es­pec­tral, en­tre ou­tros fei­tos, tam­bém foi o pri­meiro a de­se­nhar ilus­tra­ções co­lo­ri­das de Marte, em 1863, e a cha­mar «ca­nali» às es­trei­tas fai­xas que vis­lum­brou na su­per­fí­cie do planeta.

Interessado pe­las es­tru­tu­ras re­gu­la­res vis­tas por Secchi, o as­tró­nomo ita­li­ano Giovanni Schiaparelli (1835 – 1910) apon­tou o seu novo te­les­có­pio a Marte.

«Canali» foi tam­bém o termo es­co­lhido por Schiaparelli para des­cre­ver o que jul­gou ver: uma sé­rie de li­nhas fi­nas que uniam áreas es­cu­ras na su­per­fí­cie do planeta.

Ca­nali é um termo am­bí­guo, pois tam­bém pode referir-se a uma cons­tru­ção ar­ti­fi­cial — o Canal do Suez, por exem­plo; Schiaparelli descreveu-os como me­ras de­pres­sões na­tu­rais atra­vés das quais a água corre das ca­lo­tas de gelo para as re­giões equa­to­ri­ais. Engenheiros mar­ci­a­nos? Nem tanto:

“Não é ne­ces­sá­rio as­su­mir que é obra de se­res in­te­li­gen­tes e, não obs­tante a apa­rên­cia ge­o­mé­trica do sis­tema, es­ta­mos in­cli­na­dos a acre­di­tar que se ori­gi­nou du­rante a evo­lu­ção do pla­neta.”

Schiaparelli foi dos pri­mei­ros as­tró­no­mos a re­pa­rar que os ca­nais mu­da­vam de forma, ta­ma­nho e em nú­mero du­rante um ano mar­ci­ano. Explicou en­tão que o fe­nó­meno de­via ser pro­vo­cado por inun­da­ções cau­sa­das pelo de­gelo das ca­lo­tes po­la­res du­rante a primavera.

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Marte, o pla­neta socialista

Mas o as­tró­nomo ita­li­ano tam­bém gos­tava de «es­pe­cu­lar» – de­sig­na­ção mais eru­dita do ve­lho ato de «dar à pa­lheta» e que por ve­zes cos­tuma re­sul­tar em mo­men­tos bem pas­sa­dos. Por mais ci­en­ti­fi­ca­mente inó­cua que seja a con­versa, é quase sem­pre di­ver­tido.

Num ar­tigo pu­bli­cado em 1895 – La vita sul pi­a­neta Marte – Schiaparelli não co­lo­cou de parte a pos­si­bi­li­dade de vida mar­ci­ana e, cheio de ima­gi­na­ção, lan­çou al­gu­mas hi­pó­te­ses dig­nas de uma obra de fic­ção científica.

As mu­dan­ças ob­ser­va­das nos ca­nali po­diam re­sul­tar de um com­plexo sis­tema de ir­ri­ga­ção usado pe­los mar­ci­a­nos para trans­por­tar água às re­giões se­cas do equador.

Construções tão gi­gan­tes­cas, pros­se­guiu Schiaparelli, pre­ci­sa­vam de um go­verno cen­tral bas­tante forte de modo a pu­de­rem ser cons­truí­das e mo­ni­to­ri­za­das. Conclusão? Os mar­ci­a­nos eram uma co­mu­ni­dade pa­cí­fica e socialista.

É ver­dade que já os an­ti­gos egíp­cios cos­tu­ma­vam cha­mar de «O ver­me­lho» a Marte, mas Schiaparelli deu ao ver­me­lho mar­ci­ano um sig­ni­fi­cado ines­pe­ra­da­mente diferente.

A vi­são de um Marte so­ci­a­lista re­a­pa­re­ceu treze anos de­pois num ro­mance de fic­ção ci­en­tí­fica do fí­sico, fi­ló­sofo e es­cri­tor russo Alexander Bogdanov (1873 — 1928).

Em A Estrela Vermelha, pas­sada du­rante a Revolução Russa de 1905, um cientista-revolucionário cha­mado Leonid vi­aja até Marte para apren­der o sis­tema so­ci­a­lista dos mar­ci­a­nos e trans­mi­tir os en­si­na­men­tos aos con­ter­râ­neos. Era uma me­tá­fora do per­curso e das ideias po­lí­ti­cas do pró­prio Bogdanov, um ri­val de Lenine. Ainda es­cre­veu uma pre­quela, Engineer Menni, pu­bli­cada em 1913.

O fí­sico e fi­ló­sofo tam­bém acre­di­tava no po­der cu­ra­tivo das trans­fu­sões de san­gue: em 1924, de­pois de ex­pe­ri­men­tar onze trans­fu­sões em si pró­prio, de­cla­rou que o san­gue novo ame­ni­zara o seu pro­blema de cal­ví­cie e me­lho­rara a sua visão.

Na época não se po­dia ana­li­sar a qua­li­dade do san­gue nem a com­pa­ti­bi­li­dade en­tre ti­pos san­guí­neos di­fe­ren­tes, pelo que em 1928 con­traiu ma­lá­ria e tu­ber­cu­lose à conta de mais uma trans­fu­são. Bogdanov mor­reu an­tes de con­se­guir ter­mi­nar um ter­ceiro li­vro so­bre as aven­tu­ras so­ci­a­lis­tas em Marte.

Camille Flammarion

Camille Flammarion

Olá, está al­guém em casa?

As es­pe­cu­la­ções de Schiaparelli pu­bli­ca­das em 1895 não eram no­vi­dade, pois três anos an­tes Camille Flammarion (1842 – 1925) es­cre­vera o li­vro La planète Mars et ses con­di­ti­ons d’habitabilité.

Há muito tempo que aquele as­tró­nomo fran­cês an­dava fas­ci­nado por tais as­sun­tos: em 1884, es­cre­vera Les Tierres du ciel, «vi­a­gem as­tro­nó­mica para ou­tros mun­dos e des­cri­ção das atu­ais con­di­ções de vida nos ou­tros pla­ne­tas do Sistema Solar».

As ideias de Flammarion quanto à evo­lu­ção dos pla­ne­tas eram quase tão pe­cu­li­a­res como o seu ca­belo: to­dos par­ti­lha­vam as mes­mas fa­ses de de­sen­vol­vi­mento, diferenciando-se uns dos ou­tros pelo tamanho.

A Lua, por exem­plo, era uma Terra morta – a água eva­po­rara, a at­mos­fera dissipara-se e os seus ha­bi­tan­tes ti­nham de­sa­pa­re­cido há muito tempo. Júpiter, o gi­gante, era um sol em co­lapso e uma fu­tura Terra, pois em mi­lhões de anos ha­ve­ria de en­co­lher até for­mar um nú­cleo ro­choso e pos­suir as mes­mas ca­rac­te­rís­ti­cas fa­vo­rá­veis à vida do nosso planeta.

Marte es­tava a meio ca­mi­nho en­tre a Terra e a Lua. O pla­neta se­cava, per­dia água e at­mos­fera, mas tal­vez ainda não es­ti­vesse com­ple­ta­mente morto: os ca­nais ob­ser­va­dos por Schiaparelli mostravam-nos o úl­timo sus­piro de uma ci­vi­li­za­ção mo­ri­bunda que ten­tava des­viar a água dos po­los e oce­a­nos para as zo­nas onde as ci­da­des ti­nham sido construídas:

“As con­di­ções bi­o­ló­gi­cas em Marte são muito se­me­lhan­tes às da Terra – exis­tem mon­ta­nhas, oce­a­nos, con­ti­nen­tes e ca­lo­tes po­la­res; logo, pode assumir-se que exis­tem se­res, muito se­me­lhan­tes aos hu­ma­nos, por des­co­brir.”

As ideias de Flammarion in­flu­en­ci­a­ram mui­tos au­to­res de fic­ção ci­en­tí­fica, in­cluindo o mais fa­moso de to­dos, Edgar Rice Burroughs, que em 1912 deu iní­cio à longa sé­rie de aven­tu­ras de John Carter em Marte, Barsoom.

As ideias do fran­cês tam­bém im­pres­si­o­na­ram um as­tró­nomo ame­ri­cano, Percival Lowell (1855 — 1916), o ho­mem em quem ime­di­a­ta­mente pen­sa­mos quando se re­vi­sita a his­tó­ria desta ilu­só­ria exis­tên­cia dos ca­nais e dos nos­sos vi­zi­nhos à beira da extinção.

Lowell cons­truiu um ob­ser­va­tó­rio com o seu pró­prio di­nheiro (era muito rico) e, du­rante quinze anos, dedicou-se a ob­ser­var os ca­nais de Schiaparelli e ima­gi­nar, tal como Flammarion, obras de en­ge­nha­ria que ser­viam para tra­zer água dos pó­los e ir­ri­gar as re­giões equatoriais.

A crença de que Flammarion es­tava cor­reto baseava-se nas suas pró­prias ob­ser­va­ções: Lowell viu os ca­nais e che­gou a classificá-los em ti­pos di­fe­ren­tes, de­se­nhando ma­pas das suas po­si­ções na su­per­fí­cie do pla­neta. Ao no­tar cla­ras di­fe­ren­ças na ex­ten­são dos ca­nais en­tre ob­ser­va­ções, achou que en­con­trara a prova de que uma grande obra de en­ge­nha­ria es­tava em curso em Marte.

Em Outubro de 1907, um as­tró­nomo cha­mado Alfred Russell Wallace (1823 – 1913) sa­bo­tou esta de­manda, re­fu­tando ponto por ponto as ale­ga­ções de Lowell num li­vro cha­mado Is Mars ha­bi­ta­ble? A cri­ti­cal exa­mi­na­tion of Professor Percival Lowell’s book.

Além de con­si­de­rar Marte de­ma­si­ado frio para exis­tir água lí­quida à su­per­fí­cie, Wallace tam­bém afir­mou que o des­me­su­rado ta­ma­nho dos ca­nais, bem como a in­crí­vel ve­lo­ci­dade a que es­ta­vam a ser cons­truí­dos, mos­tra­vam que era im­pos­sí­vel o en­vol­vi­mento de al­guma in­te­li­gên­cia. Para ele, os ca­nais ti­nham uma causa natural.

Quem acer­tou em cheio foi o as­tró­nomo Vincenzo Cerulli (1859 — 1927), que ob­ser­vou Marte en­tre 1894 e 1896 e con­cluiu que os ca­nali de Schiaparelli não eram mais do que ilu­sões de ótica. Não pa­rece que as con­clu­sões de Cerulli te­nham sido le­va­das a sé­rio por Powell ou Wallace, de­ma­si­ado em­bre­nha­dos em de­sa­cre­di­tar a ori­gem na­tu­ral ou ar­ti­fi­cial dos ca­nais para pres­tar aten­ção à pos­si­bi­li­dade de nem se­quer existirem.

Mas as fo­to­gra­fias ti­ra­das em me­a­dos da dé­cada de 60 do sé­culo XX pela sonda Mariner ha­ve­riam de mos­trar mui­tos por­me­no­res da su­per­fí­cie — ex­ceto os ca­nais em Marte. O ig­no­rado Cerulli sem­pre es­ti­vera certo: ilu­sões pro­vo­ca­das pela at­mos­fera, pe­las li­mi­ta­ções dos te­les­có­pios da época e por um fe­nó­meno psi­co­ló­gico co­nhe­cido como Pareidolia eram res­pon­sá­veis pelo que os as­tró­no­mos ti­nham visto, não as en­ge­nha­rias extraterrestres.

Percival Lowell es­cre­veu três li­vros so­bre o as­sunto e acre­di­tou no vi­zi­nho mar­ci­ano até mor­rer, em 1916. Percival era tam­bém o nome de um dos ca­va­lei­ros da lenda do rei Artur. Tornou-se fa­moso pela sua par­ti­ci­pa­ção nas bus­cas pelo Santo Graal. Lowell foi, de certa forma, um ca­va­leiro da Távola Redonda que nunca che­gou a des­co­brir que o cá­lice sa­grado nunca existira.

Ilustração de Kepler-62e

Ilustração de Kepler-62e…

… e do vi­zi­nho Kepler-62f

… e do vi­zi­nho Kepler-62f

Admiráveis e oceâ­ni­cos mun­dos novos

Mais de 100 anos de­pois, com os nos­sos ultra-sofisticados equi­pa­men­tos ca­pa­zes de de­te­tar a som­bra de um pla­neta a 1200 anos-luz de dis­tân­cia, eis-nos a ima­gi­nar vi­zi­nhos cós­mi­cos ou­tra vez.

Os dois pla­ne­tas encontram-se den­tro de li­mi­tes a par­tir dos quais a água lí­quida pode exis­tir à su­per­fí­cie. O pri­meiro, Kepler-62e, ses­senta por cento maior do que o nosso pla­neta, de­mora 122 dias a dar uma volta com­pleta à es­trela e pos­sui uma tem­pe­ra­tura de equi­lí­brio de –3 graus Celsius; o se­gundo, Kepler-62f, qua­renta por cento maior do que a Terra, dá a volta em 267 dias e tem uma tem­pe­ra­tura de equi­lí­brio de –65 graus Celsius.

A tem­pe­ra­tura de equi­lí­brio obtém-se sem ter em conta o efeito da at­mos­fera. Por exem­plo, a Terra tem uma tem­pe­ra­tura de equi­lí­brio de –18 graus Celsius, mas to­dos sa­be­mos – so­bre­tudo nos úl­ti­mos dias – que a ca­pa­ci­dade de re­ter o ca­lor (o efeito de es­tufa da at­mos­fera) eleva as tem­pe­ra­tu­ras a va­lo­res superiores.

Na me­lhor das hi­pó­te­ses, o clima dos dois pla­ne­tas deve dividir-se en­tre «está um frio do ca­ra­ças» (-62f) e «está um ca­lor que não se aguenta» (-62e).

Como não fa­ze­mos ideia se­quer se pos­suem at­mos­fera, quanto mais detetar-lhe a com­po­si­ção, só nos po­de­mos fiar nos va­lo­res que temos.

Talvez pos­sa­mos sa­ber muito mais a par­tir de 2017, ano em que a NASA pla­neia lan­çar o TESS — Transiting Exoplanet Survey Satellite, ver­são 2.0 do Kepler – que es­co­lherá al­vos para o James Webb Space Telescope (JWST), cujo lan­ça­mento está pre­visto para o ano se­guinte. O JWST será ca­paz de es­tu­dar at­mos­fe­ras de exo­pla­ne­tas atra­vés de luz infravermelha.

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Até lá, ima­gi­na­mos. Por exem­plo, eis a austro-americana Lisa Kaltenegger, as­tró­noma do Instituto Max Planck, a ca­val­gar com as ré­deas de Stanislaw Lem:

“Esses pla­ne­tas são di­fe­ren­tes de qual­quer ou­tro no nosso Sistema Solar. Têm oce­a­nos sem fim. Poderá ha­ver vida lá, mas uma vida ba­se­ada em tec­no­lo­gia como a nossa? A vida nes­sas mun­dos acon­te­ce­ria de­baixo de água, sem acesso fá­cil a me­tais, ele­tri­ci­dade ou fogo para a me­ta­lur­gia. Seja como for, tais mun­dos se­rão be­los, pla­ne­tas azuis cir­cun­dando uma es­trela la­ranja – e tal­vez a in­ven­ti­vi­dade da vida para atin­gir a fase tec­no­ló­gica nos sur­pre­enda.”

Kaltenegger não es­pe­cula a par­tir do nada, baseia-se em mo­de­los com­pu­ta­ci­o­nais fei­tos por in­ves­ti­ga­do­res do Centro Harvard-Smithsonian de Astrofísica que «su­ge­rem» (pa­la­vra usada pe­los ci­en­tis­tas quando não sa­bem, mas têm uma grande fe­zada) que os dois mun­dos es­ta­rão com­ple­ta­mente co­ber­tos por um oceano.

Kepler-62e, mais perto da es­trela e por­tanto mais quente, te­ria mais nu­vens que a Terra; o –62f, mais frio e dis­tante do seu sol, ne­ces­si­ta­ria do efeito de es­tufa (e dió­xido de car­bono) para aguen­tar um oce­ano – se tal não acon­te­cer, é um mundo co­berto de gelo.

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O as­tró­nomo de Harvard Dimitar Sasselov, ou­tra vez:

“Kepler-62e tem pro­va­vel­mente um céu re­pleto de nu­vens, é quente e hú­mido; Kepler-62f é mais frio, mas ainda as­sim um pla­neta po­ten­ci­al­mente ami­gá­vel para a vida.”

É de mim ou os ecos de Camille Flammarion e Percival Lowell aca­ba­ram de atra­ves­sar mais de uma cen­tena de anos e são agora re­ver­be­ra­ções nas vo­zes des­tes cientistas?

Não tem pro­blema ne­nhum! Especular é como sa­bo­rear um copo de bom vi­nho tinto: desde que não se abuse, en­tor­pe­cendo o ra­ci­o­cí­nio e caindo no ví­cio, cos­tuma até fa­zer muito bem à di­ges­tão. E estes dois pla­ne­tas são um ex­ce­lente ape­ri­tivo para acompanhar.


Fontes e leituras:
Bitaites: Meu caro vizinho Kepler-62e, como tem passado?
AstroPT: Missão Kepler Descobre 3 Super-Terras na Zona Habitável
AstroPT: Descobertos os planetas mais pequenos dentro da zona habitável
AstroPT: Conversa de café sobre alienígenas em Gliese 667Cc
AstroPT: Mais de 60.000.000.000 planetas potencialmente habitáveis na nossa galáxia?
Scientific American: The Earth-like Mars
PopSci: The Math: What Life On Kepler-62e Would Be Like
The Daily Galaxy: Two Alien Planets With ‘Endless Oceans’
M.Bennardo: Setting the re­cord straight on the ca­nals of Mars

6 comentários

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  1. Interessantíssimo esse assunto. Muito me fascina essas “Terras”, com seus segredos e mistérios. Mas independente do quão parecido um exoplaneta seja com a terra, é impossível, hoje, qualquer tipo de visita por nossa parte. Talvez daqui há alguns anos conseguiremos enviar sondas para algum planeta assim. Só espero estar vivo para ver isso!

    Mudando de assunto, a Lisa Kaltenegger é uma mulher surpreendentemente linda, me impressionei.

    1. Porquê surpreendente? 😉

    2. Tbm concordo com você, mais a imagem do planeta Kepler-62f mostra que nao é coberto de oceano!

      1. Não existem imagens do planeta… só ilustrações artísticas 😉

    • Cien. Luis Carlol Rosebrt on 17/02/2014 at 21:22
    • Responder

    Muito Bem Detalhado, Eu sou Cientista Da Univ. De São Paulo é Gostei Muito do seu blog.
    tem um pequeno detalhe é que tem uns Asteroides está na rota do planeta Kepler-62f, e arcada 22 anos os Asteroides Era em Colisão como o planeta “Kepler-62f “

    • graciete virgínia rietsch monteiro fernandes on 16/07/2013 at 19:18
    • Responder

    Gostei bastante deste texto.
    Muito se especula! Não deixa de ser útil quando se pode chegar a conclusões que a Ciência comprove. O pior é quando vem lá a pseudociência com os seus conhecimentos absolutos!!!
    Cumprimentos.

  1. […] Vénus é o planeta mais enganador do Sistema Solar, talvez até mais do que Marte e os seus falsos canais. […]

  2. […] (aqui), Kepler-10b, Kepler-11, Kepler-16b (Tatooine), 2MASS0103(AB)b, Kepler-20e e 20f, Kepler-22b. Kepler-62e. Kepler-62, Kepler-69. Kepler-78b (aqui). Kepler-90. Kepler-91b. KIC 12557548. KIC 8435766b. […]

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