O Cérebro de Einstein: a origem de um génio

Albert_Einstein_Head

Levará a evolução do Homem a um aumento do volume do cérebro? Ou talvez de apenas algumas partes? Será que quanto maior o número de circuitos elétricos, mais eficiente é o cérebro? Ou tornará o encurtamento das redes neuronais o pensamento mais rápido?
Estas e outras questões tentam ser resolvidas por neurocientistas em todo o mundo.

Assim começou esta busca entre a relação da inteligência com a anatomia do cérebro.
Surgiu um grande interesse no estudo neuroanatómico dos grandes génios como o matemático alemão Carl Friedrich Gauss (1777-1855) e o psicólogo russo Ivan Pavlov (1849-1936), comparando a anatomia entre pessoas dotadas e pessoas comuns, e mesmo entre si, na busca do “padrão da inteligência”.

Para muitos, Albert Einstein é o físico mais célebre e dos que mais contribuiu para o desenvolvimento da física como hoje a conhecemos. De facto, as suas teorias foram tão revolucionárias, que ainda hoje são utilizadas e postas à prova nas mais variadas áreas, desde a física e cosmologia, à biologia e medicina.

Einstein nasceu às 11h:30min no dia 14 de Março de 1879 e faleceu às 13h:00min no dia 18 de Abril de 1955, com 76 anos (figura 1), vítima de um aneurisma da aorta abdominal. O relatório da autópsia esteve desaparecido por mais de 18 anos…

Algumas horas após o seu falecimento, o seu filho Hans Albert permitiu a remoção do cérebro, cerebelo, tronco cerebral e artérias cerebrais para serem preservados e estudados.

einstein dead

Antes do seccionamento em peças histológicas (figura 2), o cérebro de Einstein foi pesado (1230 g), fotografado e dividido anatomicamente em 240 blocos, 180 dos quais se encontram no Centro Médico Universitário de Princeton, mas o maior agregado de lâminas microscópicas estão no Museu Nacional de Saúde e Medicina, Estados Unidos. Existem ainda alguns blocos de tecido em Ontário, Califórnia, Alabama, Argentina, Japão, Havai e Filadélfia, estando as restantes porções do cérebro de Einstein em paradeiro desconhecido.
O corpo foi cremado, com exceção do cérebro e dos olhos.
O tecido cerebral e fotografias foram analisadas por mais de 18 investigadores resultando na publicação de 6 artigos científicos.

einstein cerebro fatia

O cérebro humano é dos órgãos mais complexos e a sua total compreensão ainda está longe de ser alcançada.
É constituído por 2 hemisférios, o direito e o esquerdo, ambos com 4 lóbos: frontal, parietal, occipital e temporal
(figura 3).
Vários estudos descrevem as superfícies externas dos lobos e as possíveis relações que possam existir com o comportamento e a inteligência do ser humano.

einstein cerebro lobos

O cérebro de Einstein possuia características raras, e talvez únicas, que podem estar relacionadas com a inteligência.

Começando pelo lóbo frontal: o hemisfério direito, responsável pela atividade motora esquerda, está bastante pronunciado. Esta característica incomum foi vista em violinistas destros, tal como Einstein (figura 3).
O córtex pré-frontal, incrivelmente bem desenvolvido, pode estar na origem das extraordinárias capacidades cognitivas, inclusive a sua produtividade em teorias, o que explica a grande imaginação de Einstein, como colocar-se a si próprio a viajar lado a lado com um fotão, ou estar fechado num elevador a acelerar em direção ao espaço. Esta imaginação pode também estar associada ao córtex parietal e occipital.
Einstein escreveu uma vez que o pensamento implica uma associação de imagens e “sensações”, e por isso, na sua visão, os elementos do pensamento, eram não só visuais mas também “musculares”. Esta associação pode estar relacionada com a considerável expansão do córtex motor primário esquerdo e somatosensorial primário esquerdo.
Por outro lado, a visão espacial e o pensamento matemático de Einstein podem estar relacionados com os seus lóbos parietais.

É interessante notar que, apesar da aparência macroscópica, o cérebro não apresenta simetria nos dois hemisférios, podendo mesmo ter funções diferentes em diferentes áreas, responsáveis pelo controlo de diferentes partes do corpo.
Por exemplo, o lóbo parietal inferior do hemisfério esquerdo está relacionado com a linguagem, imagem corporal e matemática, enquanto que o lóbo parietal do hemisfério direito ocupa-se com o processamento espaço-visual não-verbal. O lóbo parietal superior esquerdo está envolvido na atenção e orientação espacial, estando o lóbo parietal superior direito associado a imagens espaço-visuais.
Uma característica do cérebro do Einstein é que o lóbo parietal superior direito é mais largo que o esquerdo.
De facto, os lóbos parietais superiores, especialmente os posteriores, estão funcionais durante a aritmética mental.

einstein brain

Nestes estudos deve ter-se em consideração que Einstein já tinha 76 anos quando faleceu, e o seu cérebro já manifestava sinais de envelhecimento, levando à diminuição do tamanho.
De facto, o peso do cérebro de um idoso em comparação com um adolescente tem uma diferença cerca de 9%, pelo que o peso estimado para a sua juventude seria 1350g.

Numa última nota, propõem-se uma reflexão sobre a doação do corpo à ciência, por este e muitos outros seres humanos, fundamental para o estudo da evolução e do desenvolvimento do cérebro humano.
Mais estudos far-se-ão deste e de outros génios que marcaram a história, na tentativa de conhecer e compreender este tema tão complexo: a origem de um génio…

keep-calm-and-stay-genius

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Artigo de Ricardo Santos para a revista Horizon, referida neste post, e que nos deu autorização para reproduzirmos no AstroPT.

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