Astrologia é dada por Deus?

Hoje de manhã recebemos a notícia no Facebook do AstroPT de que o jornal Público tinha dado voz à desinformação. O artigo em causa é este.

astrologia deus

Como sabem o jornal Público é dos melhores, senão o melhor jornal português a divulgar notícias de ciência.
Como também sabem, a credibilidade das notícias do jornal Público é bastante elevada.
Não só tenho em grande consideração o dito jornal, como até utilizamos as notícias de ciência do Público algumas vezes como fonte aqui no AstroPT (com o respectivo crédito, claro).

Não sou só eu a pensar isto, mas como provei em vários grupos após ler todos os comentários de críticas a este artigo, percebi que além da indignação existia a surpresa e a frustração por este jornal de referência ter dado um enorme tiro no pé.

Há aqui várias coisas que não se podem criticar.
Por exemplo, o artigo não está na secção de “ciência”, mas sim de “Portugal”, logo não confunde ciência com esta treta.
Por outro lado, o Público, como jornal independente e privado, tem todo o direito de entrevistar quem quiser. Se acham que a senhora tem algum mérito seja lá no que for (mesmo que seja na pseudociência), então entrevistam-na (o fraudulento do Daniken, da crença dos Astronautas Antigos, também foi entrevistado por muitos jornais ao longo da vida).
Por fim, é preciso reconhecer que o próprio jornal posteriormente corrigiu a notícia retirando-lhe a palavra “credibilização” (o que seria uma mentira) e colocando “refundação”.

Mas realmente há neste artigo vários aspectos que são criticáveis.
Muitas das críticas já foram ditas por outros comentadores, e a essas críticas com as quais concordo, junto ainda outras.

1 – O título diz tudo: está-se a vender uma crença. É só isto.
O jornal Público decidiu publicitar uma crença como se um dos seus crentes tivesse algum mérito por ter essa crença e querer incuti-la nos mais desatentos, nos mais desinformados, e sobretudo nos mais desesperados (como sabemos, em tempos de crise, quem lucra são os pseudos).
Razão tem um dos comentadores do jornal que diz que se a Astrologia é a escrita de Deus, então é porque Deus não sabe escrever.

2 – A Astrologia é um conjunto de crenças e mitos antigos de quando se pensava que a Terra estava no centro do Universo e o que víamos nos céus eram deuses. É só isto. É exactamente igual à crença de atirar pessoas para dentro de um vulcão para que os deuses dêem um pouco de chuva no dia seguinte. É uma crença. Nada mais.

3 – A Astrologia baseia-se em pressupostos completamente falsos à luz do conhecimento (por exemplo, existem 13 signos/constelações do Zodíaco por onde o Sol aparenta passar se a Terra for o centro do Universo, e não 12, e cada um desses signos/constelações tem tamanhos diferentes), como já expliquei em vários artigos sob a categoria Astrologia.
O artigo glorifica a ignorância e o desconhecimento de como o Universo funciona.
É a glorificação das crenças sobre o saber!
Pergunto à jornalista do Público, se o jornal se faz e aparece na internet, porque ela quer muito acreditar que ele vai aparecer por artes mágicas e pelas posições dos astros, ou então se é devido ao conhecimento correcto que se tem do mundo que nos rodeia! Se é devido ao conhecimento (de leis e teorias científicas), então o Público não devia promover a hipocrisia.

4 – Devido ao ponto anterior é que não há forma nenhuma de a Astrologia ter sequer um resquício de credibilidade. Não tem. Porque o que se baseia é facilmente provado como falso. Por isso quando inicialmente utilizaram a palavra “credibilização” foi um enorme erro do Público.

5 – A pessoa em causa é escultora e formada em Artes Decorativas. Por aqui se percebe o conhecimento que ela tem da astronomia e do estudo do Universo: 0.
Será que o Público se transformou na revista Maria (ou similares revistas cor-de-rosa), onde não interessa informar devidamente as pessoas, mas sim dar-lhes a conhecer a vida de “celebridades” por mais falsas ilusões que elas vendam?

6 – Pessoalmente, o que a mim mais me chateou foi a expressão “Ciência Esotérica”. Não é ciência. É um abuso, uma mentira e um total desrespeito pelos leitores do Público manipularem as expressões de modo a enganarem as pessoas sobre o que é uma ciência. É vergonhoso utilizarem uma expressão destas num jornal como o Público.

Este artigo é um péssimo serviço feito à população portuguesa que, em crise, deixa-se levar por falsidades e dá dinheiro para falsas crenças.
Este artigo é uma promoção de crenças obscurantistas. E deixo a informação para o Público: já não estamos na Idade Média.

Pelos vistos, além da “vergonhosa propaganda pseudocientífica” feita ao livro de misticismos do Luís Portela, agora também se glorificam as crenças astrológicas.
Assim anda a comunicação social portuguesa: a promover o obscurantismo, as crenças, e as mentiras à luz do conhecimento.

Se fosse noutro jornal qualquer, até era capaz de compreender melhor este tipo de artigos.
Mas o Público sempre se mostrou pela verdade, pela informação correcta, e pela promoção do conhecimento científico. Como pode publicar uma coisa destas que deita por terra todo esse esforço, é algo que me ultrapassa.

Termino com o comentário feito pelo António Piedade no próprio jornal:
Este momento é de um desrespeito total pelo trabalho de excelente divulgação científica que, sob direcção da Teresa Firmino, a secção de ciência do Público tem vindo a fazer. Lamento.

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  1. […] uma semana atrás, deixei neste post a minha indignação, por o jornal Público ter publicado um artigo a promover a vigarice da […]

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