Estou a pensar comprar um telescópio…

Com alguma frequência, os astrónomos amadores são confrontados com uma pergunta aparentemente simples, mas cuja resposta pode ser (diria que é sempre) difícil.

A pergunta é algo como: «Gostaria de comprar um telescópio. Que telescópio me aconselha?»

Habitualmente, esta pergunta surge no decorrer de uma observação pública em que se mostra a Lua ou Saturno por um telescópio.
A primeira dificuldade está em avaliar o interesse da pessoa que nos questiona; será um interesse profundo que levará a pessoa a utilizar o telescópio e a querer observar regularmente o céu? Ou apenas um interesse momentâneo, despertado pela curiosidade do momento e que desaparecerá assim que a pessoa tentar apontar o telescópio para outro objecto que não a Lua e constatar que não consegue identificar nenhuma das centenas de luzinhas que vê no céu?

Na verdade, não há respostas únicas nem respostas acertadas. A escolha de um telescópio é uma coisa muito pessoal e até pode não ser a melhor decisão para quem pensa iniciar-se na observação astronómica.

Assim, aqui ficam algumas sugestões:
Sente-se atraído pela astronomia? Está a pensar comprar um telescópio? Se ainda não tem experiência na observação astronómica (se apenas consegue identificar e localizar a Lua e um ou dois planetas), não recomendo que compre um telescópio. Antes disso, compre algo muito mais acessível: um livro de iniciação à astronomia e uns binóculos. Os binóculos devem ter, nas especificações, 7X50 ou 10X50 (o primeiro número refere-se à ampliação dos objectos observados e o segundo número é o diâmetro da objectiva em milímetros).

binos

Apesar de uns binóculos parecerem algo simples, são de facto um poderoso auxiliar na astronomia e o melhor instrumento para se começar a conhecer o céu e as constelações. Mesmo os observadores experimentados possuem e utilizam binóculos com frequência.
Por incrível que possa parecer, os binóculos têm algumas vantagens em relação a um telescópio:
– Têm um campo de visão muito mais amplo que um telescópio – a porção de céu que se vê ao olhar por eles é significativamente maior o que facilita na busca dos objectos a observar e dispensa a utilização de tripés (salvo para os de maior ampliação ou com lentes acima de 50mm);
– São muito fáceis de usar – é só segurar nas mãos e olhar para o céu.
– Habitualmente são muito mais baratos;
– Podem também ser usados durante o dia noutro qualquer hobby, por exemplo na observação de aves.

No entanto, se já tem uns binóculos e já conhece minimamente o céu, sabendo identificar e localizar a Lua, Saturno, Júpiter, a galáxia de Andrómeda, as Plêiades, a nebulosa de Oríon, etc, poderá, então, adquirir um telescópio.

Mas qual telescópio? Cá está outra escolha muito pessoal. Há vários tipos de tubo óptico e de montagens. E cada uma das variações será mais adequada para um determinado fim.
Os refratores (em que a objectiva é uma lente convergente), com montagem equatorial são mais adequados para observação planetária e astrofotografia.
Os refletores (assim chamados porque a objectiva é um espelho côncavo) são habitualmente maiores e são melhores para objectos do céu profundo (galáxias, nebulosas, etc).
Há também os catadióptricos (combinam uma lente corretora frontal com um espelho côncavo) que poderão ser mais versáteis.

Além dos tipos de tubo ou de montagem, decidir qual é o telescópio mais indicado para cada pessoa, depende também de outros factores, como por exemplo se observa de casa ou se terá que se deslocar para um local mais escuro (afastado de fontes de iluminação artificial), neste caso o peso do instrumento conta; Se tiver que se deslocar para um local de observação convém ter a certeza que cabe no carro, e neste caso o tamanho dele também é importante; O preço também será algo a ter em conta e, como em tudo o resto, you get what you pay for, ou seja, há telescópios para todas as bolsas mas é conveniente ser cauteloso com os instrumentos baratos à venda em supermercados ou em lojas não especializadas (com muita cautela, pode-se até considerar o mercado de usados).

images

O melhor mesmo é verificar se há algum clube ou associação de astrónomos amadores próximo da sua cidade e, em caso afirmativo, contactá-los e acompanhá-los numa noite de observação; Aí terá oportunidade de ver, experimentar e avaliar por si mesmo qual será o mais adequado.

Sei que não ajudei muito, mas acreditem que é melhor ponderar muito bem se se compra um telescópio e que telescópio comprar pois se não se conhece o céu e apenas se compra um qualquer por impulso, acabará por se ter um telescópio a acumular pó num canto da garagem…

5 comentários

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  1. Bom! Eu tenho um leve conhecimento do céu! Identifico algumas constelações, como, Órion incluindo sua nebulosa, Escorpião, Touro, Libra Lebre, Gêmeos, Cão Maior, claro q acompanho a localização dos planetas pelo Stellaruim…. e gostaria de saber qual a medida mínima de um telescópio q eu deveria ter p/ observar a Nebulosa de Órion?
    Abraço!!

    1. A nebulosa de Orion é visível a olho nu (quando se observa de um local escuro, longe de uma cidade) por isso, não há tamanho mínimo do telescópio para a observar. Qualquer instrumento mostrará mais detalhe que a olho nu.
      Quanto ao nível de detalhe, a resposta é muito simples: quanto maior a abertura do telescópio (diâmetro da objectiva nos refractores ou do espelho primário nos reflectores) mais detalhe se verá. Num telescópio amador, por muito grande que seja, nunca se vai ver aquele pormenor colorido, com diferentes tonalidades, que se vê nas fotografias. Visualmente, as nebulosas são, regra geral, objectos a preto e branco.

      Pessoalmente, nunca iria recomendar um telescópio exclusivamente para observar a nebulosa de Orion. A escolha do telescópio deve ser feita para observar um conjunto muito mais alargado de objectos. Na minha opinião, os telescópios reflectores oferecem, dentro da mesma gama de preços, uma maior abertura, sendo a minha escolha preferida.
      Dentro dos telescópios reflectores, não recomendo aqueles com um espelho de 76mm que por vezes se vendem em superfícies comerciais. Acho que não passam de brinquedos que têm mais potencial para afastar as pessoas da astronomia que para as fascinar com a beleza do céu nocturno. A evitar.
      O nível seguinte de abertura, 114mm (ou 4,5″) já é razoável e pode ser satisfatório para um iniciante. Já mostra muito detalhe na Lua, Júpiter e Saturno; e até mesmo as nebulosas e galáxias mais brilhantes se podem ver como manchas mais ou menos indistintas.
      Os reflectores de 150mm (ou 6″) ou de 200mm (8″) são o tamanho que recomendo para um iniciante: Já captam luz suficiente para começar a mostrar estrelas individuais num aglomerado globular (por exemplo no aglomerado de Hércules – M13) e são suficientemente compactos para se transportar para um local escuro.
      A partir daqui, é tudo uma questão de orçamento. Mas que tal procurar saber se na sua zona alguém tem um telescópio e se podem fazer uma observação em conjunto? Nada como experimentar antes de comprar um instrumento…

  2. E verdade que num telescópio refrator, quanto maior a distancia focal maior a ampliação ?

    1. Mais ou menos…
      Seja lá qual for o telescópio, para a mesma ocular, quanto maior a distância focal do telescópio maior será a ampliação.

      Um telescópio tem uma objetiva (que pode ser uma lente ou um espelho ou um conjunto de ambos) com uma determinada distância focal. Mas um telescópio só pode ser usado se tiver uma ocular (a lente por onde se espreita) no focador (num refrator é a parte de “trás”, que serve para focar a imagem).
      Para se calcular a ampliação, basta dividir a distância focal do telescópio pela distância focal da ocular. Por exemplo, se um telescópio tiver uma DF de 1000mm e a ocular uma df de 20mm, dará uma ampliação de 50X. Mas se se quiser ver uma imagem mais ampliada, muda-se a ocular para uma de df mais curta, por exemplo 10mm e obtém-se 100X. Neste exemplo, uma ocular de 5mm dará 200X.

      Assim, a ampliação não é uma característica do telescópio mas sim algo que pode variar de acordo com as oculares que pretendermos utilizar.

      Boas observações 😉

  3. Gostei imenso do artigo e ele foi mesmo na mosca!
    Obrigada
    Ingrid

  1. […] precisamente na madrugada do dia 7, cerca de 1 ou 2 horas antes do Sol nascer. Nessa madrugada, uns binóculos com um campo de visão de 7º quase conseguem acomodar ao mesmo tempo 3 astros bem distintos: o […]

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