Plutão – O Discriminado

“Quando andava na escola aprendi que o Sistema Solar tinha 9 planetas: Mercúrio, Vénus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Úrano, Neptuno e Plutão. Agora parece que voltou aos 8, mas que é isto? Mandaram para lá uma bomba atómica e “limparam” o planeta?”

Até 1930, também só havia oito planetas: a situação não é nova. Em ambos os casos, o facto de existirem apenas oito astros classificados como planetas no nosso Sistema Solar não está relacionado com a real existência dos mesmos – até 1930, eram oito, porque Plutão ainda não tinha sido observado; agora a questão está na própria classificação. Plutão foi desclassificado de “planeta”, não porque Plutão tenha mudado muito desde 1930, mas antes porque alterámos a nossa definição de “planeta”. A razão pela qual isso aconteceu pode-se dizer que foi pela recente observação de “muitos” outros candidatos a planetas no nosso sistema solar! A definição começou a parecer muito ampla, pelo que se decidiu restringi-la de modo a não incluir astros completamente “desproporcionados” (em relação aos conhecidos, claro), bem como não se dar a situação incómoda de se ter que estar constantemente a alterar manuais escolares (por exemplo) devido à descoberta de um novo planeta e, como tal, de certo modo a ter que estar sempre a actualizar um conhecimento de domínio público (é preferível todos concordarem em relação ao número de planetas, do que uns defenderem que são 9, outro que são 10 e por aí adiante, o que acabaria só por confundir as pessoas leigas na matéria).

Um planeta, segundo a definição que entrou em vigor em Agosto de 2006 e que levou à despromoção de Plutão, deve obedecer às seguintes condições:

  • Orbitar o Sol (noutro sistema planetário será evidentemente outra estrela);
  • Não ser satélite, ou seja, não orbitar um outro astro que orbite o Sol;
  • Ser suficientemente massivo para ser redondo (a gravidade encarrega-se de arredondar objectos massivos, pois essa é a forma de equilíbrio);
  • Ser suficientemente massivo para dominar a sua órbita, ou seja, não será desviado (significativamente) desta devido à presença de outros astros além do Sol.

Plutão não obedece à última condição, pois encontra-se na vizinhança da chamada Cintura de Kuiper a qual perturba de forma significativa a sua órbita.

Plutão, porém, para não se sentir injustiçado, foi compensado com uma nova definição: Planeta Anão. Planetas anões, como poderiam adivinhar, são astros que têm a particularidade de obedecer a toda a definição de “planeta” antes referida, exceptuando a última condição.

E agora a parte que pode surpreender alguns: sabiam que já existem mais planetas anões além de Plutão? É verdade, existe Éris, que se descobriu em 2005 e que se situa logo “depois” de Plutão. Como podem estar a adivinhar: foi Éris que trouxe a discórdia quanto à definição de “planeta” e que acabou por despromover o seu colega Plutão.

Há um outro num local surpreendente: entre Marte e Júpiter temos Ceres, com cerca de 1000 km de diâmetro (menor que a Lua, que tem um diâmetro de quase 3500km), descoberto em 1801. Foi aclamado primeiramente como planeta, sendo depois despromovido e passando a ser o primeiro Planeta Anão, denominação que na altura apenas se prendeu com a questão do tamanho (daí que em cima tenha escrito “nova definição”, ainda que o nome já existisse, com significado diferente). Ceres constitui um terço da massa total da cintura de asteróides que se encontra entre Marte e Júpiter.

Para já, além destes, temos ainda Haumea e Makemake na Cintura de Kuiper (entre Plutão e Éris, sendo que Plutão também pertence à Cintura de Kuiper, mas Éris já pertence ao disco disperso).

 

Nota: O presente texto já foi escrito há bastante tempo – talvez agora já não seja muito pertinente, embora muita gente já nem se lembre que Plutão foi de facto “despromovido”…

12 comentários

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  1. Já eu acho que o conceito de planeta é algo superficial, mais pro lado poético doq científico.

    Para mim, tudo é “astro” e cada um tem lá suas características.

    1. Um planeta é bastante diferente de uma estrela, por exemplo. É importante definirem-se diferentes termos para nos referirmos a diferentes astros, o que obviamente facilita a forma como nos expressamos. Neste caso, a importância é tanto linguística como científica, do meu ponto de vista.

  2. Excelente texto.
    Apenas faço um reparo na construção das frases, que está a ser cada vez mais usual nos nossos dias.
    A forma gramatical/expressão “deve de” pura e simplesmente não existe.

    “Um planeta, segundo a definição que entrou em vigor em Agosto de 2006 e que levou à despromoção de Plutão, deve de obedecer às seguintes condições”

    Não sei de onde raio veio esta ideia, mas o que é certo é que é cada vez mais usual ser utilizada….erradamente!
    Deve obedecer é a forma correcta.
    Não utilizemos palavras a mais onde não são necessárias e fazem com que se construa uma frase com erros. 😉
    Abraços e mais uma vez, parabéns pelo artigo.

    1. Não fazia ideia disso.

      Parece que até o José Saramago escrevia mal:
      http://linguamodadoisec.blogspot.pt/2007/12/como-deve-de-ser-ou-como-deve-ser.html

      Obrigado pelo reparo.

    • Bartolomeu Lança on 06/11/2013 at 20:12
    • Responder

    “até 1930, eram oito, porque Plutão ainda não tinha sido observado”
    Porque estão a apagar o que nos deixou a civilização Suméria?

    1. Não se está a apagar nada. Os sumérios nunca tiveram meios para poder observar o Plutão (directa ou indirectamente), portanto para eles Plutão nunca existiu (isto é, nunca existiu para eles o “Plutão” que se está a falar neste artigo).

  3. Uma ideia a ter em conta é que quando há textos mais elaborados, ou com informação mais completa dizer algo do género: Público alvo com conhecimentos em Cálculo, por exemplo. Ou com conhecimentos de Física…
    Sim, de forma simplificada pode-se dizer que os planetas giram em torno do Sol, se bem que a realidade não é totalmente essa, é uma aproximação aceitável.
    Sobre o termo, foi apenas uma sugestão.

  4. Não seria antes orbitar o centro (comum) de massa do Sistema Solar? É que o próprio Sol também orbita em torno desse centro de massa do Sistema Solar. Os planetas, mais precisamente, giram não em torno do Sol propriamente dito, mas em torno do baricentro do Sistema Solar.
    O termo “massivo” – escrito em português de Portugal – não está correcto. É “maciço”. E passo o que está no ciberduvidas para explicação a qual eu concordo:
    “Não parece que haja necessidade de usarmos o adjectivo massivo, talvez por cópia do inglês massive e/ou do francês massif, porque o nosso adjectivo maciço, além de o compreendermos melhor por ser da nossa língua, traduz perfeitamente os sentidos originais dos termos estrangeiros massive e massif.

    O nosso maciço também tem que «ver com ‘massa’, com ser compacto e denso», pois que, entre as várias significações, tem as seguintes: que é compacto; pesado (sinónimo de denso) – acepções estas a que se refere o prezado consulente para justificar a adopção do estrangeirismo “massivo”, de que não precisamos.

    Não precisamos para nada da palavra “massivo” em «afluência massiva de pessoas = afluência em massa», porque o nosso vocábulo maciço também se emprega nesta acepção. É o que nos ensina o muito bom e conhecido Dicionário Aurélio na entrada maciço:
    «Em grande quantidade, comparando-se ao que é comum: presença maciça de espectadores.»

    Em conclusão: o prezado consulente não apresentou nenhum caso em que o significado de “massivo” não esteja também em maciço.
    Possivelmente, deixou-se levar, o que é natural, pela grafia massivo, em que há os dois ss de massa. Mas uma coisa é a grafia, e outra é a significação. No caso em questão é esta que interessa.

    Caso semelhante se passa com o espanhol macizo, ligado também à ideia de massa. Diz assim o bom e conhecido Diccionario de Uso del Español, de Marta Moliner, na entrada macizo, a: «Formado por una massa sólida sin huecos en su interior.»

    No nosso português, não é estranho o uso de maciço para significar grupo de pessoas ou coisas muito juntas, como vimos na transcrição atrás.”

    1. Olá Jorge,

      Em relação à questão de orbitar o centro de massa: é um detalhe. Quem entende um pouco de Astronomia saberá que é isso que eu quero dizer; quem não sabe, quanto a mim, não precisa de saber isso neste artigo, porque não é minha intenção discutir o assunto aqui. Em termos práticos pouca diferença faz, dada a localização do centro de massa…

      No que toca ao “massivo” e “maciço”, curiosamente, da primeira vez que escrevi o artigo usei o termo “maciço”, na altura “chatearam-me” para me mudar o termo e aquiesci. Agora não vou alterar novamente: as duas palavras existem no nosso português de Portugal e são “parcialmente” sinónimas, podendo ambas ser usadas neste contexto. O mais importante é que o leitor compreenda o exposto, e penso que isso não está em causa quer com o uso de um termo ou do outro.

      Cumprimentos,
      Marinho

  5. Bruno, tem mais pseusdos planetinhas (planetas-anão), tem uns como o MakeMakee o Haumea ( que mais é um planeta-ovo-anão)

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Planeta_an%C3%A3o

    1. Quem é o Bruno?

    2. Olá Humberto,

      Se por “Bruno” se refere a quem escreveu o artigo, faço notar que a informação que refere está no penúltimo parágrafo do texto.

      Cumprimentos,
      Marinho

  1. […] significa que os planetas do sistema solar (a despromoção do Plutão já foi discutida noutro artigo) partilham (mais ou menos) a mesma eclíptica. Consequentemente, o trajecto que o Sol faz de […]

  2. […] planetas-anões. Tique, Tyche, Planeta X. Plutão: características, não-planeta, explicação, razões da despromoção, imagens, água, oceano, atmosfera, anéis, 4 luas (nova […]

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