Cientistas são…

Quando utilizamos o Google e tentamos procurar alguma coisa, à medida que vamos escrevendo partes de uma frase, o próprio Google vai tentando completá-la dando-nos dicas para nos fazer ganhar tempo.
Phil Plait notou isto: se forem ao Google e colocarem “scientists are…” , estas são as opções que o Google dá para nos ajudar:

google

As opções que o Google nos dá baseiam-se nas frases que as pessoas mais procuram.
Neste caso as opções são: cientistas são mentirosos, cientistas são idiotas, cientistas são liberais.

Estou em crer que os cientistas realmente são liberais.
No entanto, as outras opções são insultos.

Então porque aparecem?
Porque infelizmente há mais pessoas a procurar a desinformação, a mentira e a hipocrisia, do que a procurar o conhecimento verdadeiro sobre o estudo da natureza.

Qual o problema das opções do Google nos darem dicas desinformadas?
O grande problema é que as pessoas que negam os benefícios do conhecimento científico, ao procurarem no Google pela informação e receberem ainda mais desinformação, então vão ver as suas crenças reforçadas.
Sem pensamento crítico, a desinformação passa a ser uma bola de neve, e as tretas acabam por ganhar.

A verdade é-nos dada pela natureza. A verdade não é democrática. Por exemplo, o facto da gravidade ou da electricidade funcionarem, não depende da quantidade de pessoas que acreditam nisso.
Infelizmente, o Google dá a entender que sim. Ao basear as suas dicas/opções no número de pessoas que faz essa procura, o Google está a promover a desinformação e o reforço de crenças.

Mesmo que o Google não mude o seu algoritmo, há uma outra forma de se mudarem as opções.
“Basta que” mais pessoas façam procuras que reflictam mais a realidade. Por exemplo, procurando por: cientistas são investigadores, cientistas são professores, cientistas são importantes.

7 comentários

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  1. Olá Carlos,

    Concordo em tudo com o teu artigo e é certo que a desinformação é bem mais prejudicial que informação nenhuma. Mas não podemos nem devemos elitizar ninguém por ser cientista nem transformá-los numa classe superior. Houve e há cientistas fantásticos, do tipo que fazem avançar e evoluir a humanidade, mas não todos. Muitas das criticas que têm como alvo alguns cientistas ou o objecto do seu trabalho, partem de outros cientistas. Grande parte das vezes são estas criticas que mais contribuem para consolidação dos conhecimentos adquiridos, pois obrigam a uma investigação mais profunda e cuidada de determinada matéria, mas as piores criticas que li sobre questões de ciência têm origem noutros cientistas. Pseudos não são considerados nesta nossa reflexão pois muitos deles deveriam ser tratados como casos de polícia, pelo mal que fazem. Quero apenas concluir que as criticas são a melhor aliada da ciência, pois os cientistas são…curiosos, determinados, orgulhosos e teimosos (podia dizer persistentes para não parecer uma conotação negativa mas bendita teimosia a de alguns cientistas.)

    Grande abraço para toda a equipa do astropt

    1. Claro que sim. Concordo inteiramente com o seu comentário.
      Esse peer-review é essencial em ciência (e só existe na ciência) e é um dos factores que mais força lhe dá para atingir a “verdade”.

      E também é verdade que existem pela história várias disputas entre cientistas que se focaram sobretudo em insultos e aspectos pessoais.
      Mas o normal não é assim.
      Daí que generalizar que os cientistas são dessa forma, parece-me não só abusivo, como completamente errado.

      abraços!

  2. Em português aparece-me “cientistas são… ocultistas”! Em inglês aparece-me “poor”, “stupid” e até “evil”. 😛 Para mim o problema não está no algoritmo do google, está antes na quantidade de lixo que se publica na net sem supervisão e, pior, na ausência completa de espírito crítico de quem navega. É importante educar as pessoas a saber consultar informação na internet e a saberem distinguir da desinformação. Convenhamos que para um leigo é bastante difícil distinguir (no máximo sabe que existem alguns sites cujo conteúdo deve ser fidedigno, mas se neles não encontrar o que procura, é possível que “tropece” por outros onde poderá encontrar informação misturada com crenças pessoais, não sendo capaz de distinguir uma coisa da outra).

    1. Ao Plait também aparece “stupid”. A mim não 😛

      Em português também me dá a opção de ocultistas. Enfim…

      Concordo obviamente com o teu comentário. A questão é: se as pessoas não sabem distinguir, o que fazer então?

      abraços!

      1. Do meu ponto de vista é necessário dar formações às pessoas. Por um lado é absolutamente necessário os professores ensinarem aos alunos (desde cedo) como devem procurar informação, por outro é também importante educar a população em geral através de, por exemplo, programas televisivos dedicados a este tema. (Ensinar, por exemplo, as pessoas a usarem a sholarpedia, em vez da wikipedia.)

        É claro que é fácil simplesmente afirmar isto, mas no fim de contas, mesmo que isto fosse feito, o mais que se conseguiria fazer era tornar as pessoas mais cuidadosas, sem contudo torná-las capazes de distinguir a informação do lixo. Será sempre necessário que alguém mais informado que elas faça esse trabalho, pelo que continuará a ser necessário a existência de sites cujo conteúdo elas possam confiar. Poderia criar-se um género de “carimbo oficial” para sites, que só seria concedido àqueles que se submetessem a uma revisão científica por quem é considerado conhecedor. Naturalmente, isto implicaria por um lado uma re-unificação do conhecimento (porque é impossível e nem faz sentido andar a verificar todas as páginas da internet), por outro também um forte investimento (do ministério da educação?), visto que seria um trabalho extremamente difícil e demorado.

        Vais-me dizer que isso já existe, onde o conteúdo não só é revisto por quem sabe, como também o é escrito por essas pessoas: basta comprar uma enciclopédia. É claro que o problema nesse caso está simplesmente na acessibilidade da informação. Uma pessoa tende a preferir obter conhecimento sem pagar, se essa opção lhe for dada. Assim, a melhor forma de combater a desinformação seria tornar as vias fidedignas de informação mais acessíveis e sem custos a toda a gente. Verificando-se esta condição, seria muito mais fácil indicar às pessoas onde é que elas deveriam procurar a informação.

        Falta ainda referir as questões para as quais não é fácil encontrar respostas, muitas vezes porque ainda nem existem respostas definitivas para elas. Para estas são necessários sites como este, onde qualquer pessoa possa contactar “directamente” com gente especializada. Mais uma vez, seria apenas necessário redireccionar os curiosos para nos encontrarem.

        Bom, fazendo um pouco de tudo isto, creio que o problema tenderia a ser resolvido.

        Abraço.

      2. Quem poderia fazer essa revisão científica, de modo a dar carimbos? Ciência Viva?

        abraços!

        • Marinho Lopes on 10/12/2013 at 21:56

        Não sei bem que recursos humanos tem o Ciência Viva. Creio que o mais fácil seria o ministério da educação criar um programa de revisão científica de sites, ou seja, algo do género:
        – Para cada área científica convidava um grupo restrito de docentes universitários a fazer parte de uma comissão de avaliação (estes docentes teriam que ser necessariamente remunerados, pois de outro modo não estou a ver ninguém a colaborar).
        – Os administradores das páginas da net que quisessem receber o “carimbo oficial” (1), teriam que simplesmente submeter uma candidatura num site gerido pela comissão de cima.
        – A comissão teria então um dado período de tempo para deliberar sobre os websites, dando finalmente o carimbo, ou não.

        Este processo poderia ser periódico, e o “carimbo” poderia ter a validade de um ano, por exemplo. Por outro lado, poderia ser dada a oportunidade a qualquer pessoa de contactar a tal comissão para a informarem sobre irregularidades num qualquer website “carimbado”. Dependendo da irregularidade, o “carimbo” poderia ser retirado.
        Naturalmente, a partir desta ideia pode-se também pensar que em vez de submissões formais dos websites a esta comissão, a submissão poderia dar-se através de um X número de recomendações (2). Isto é, um website tornar-se-ia apto a ser verificado pela comissão científica caso a comissão recebesse um certo número de recomendações positivas sobre esse website. Fazer isto também seria bastante fácil, bastaria as pessoas serem informadas do processo… (Se o autor do website tivesse interesse, ele mesmo trataria de informar os seus leitores.)

        (1) Nota: este carimbo não teria que ser nada de muito complicado, bastava o website passar a constar de uma lista oficial de sites recomendados pela tal comissão científica.

        (2) Nota: para distinguir pessoas, bastaria distinguir IP, obrigando ainda a fazer-se um login com algum número oficial (BI, por exemplo).

        Bom, isto são apenas ideias vagas e muito “preliminares”, mas tenho a certeza que seria possível criar um sistema deste género, desde que houvesse alguém disposto a fazê-lo, bem como verbas para pagar à tal comissão científica.

  1. […] Neste texto, não pretendo entrar no mérito de explicar a física quântica, coisa que já foi feita várias vezes aqui no Astropt (por mim e por especialistas de verdade que sabem muito mais do que eu sobre o assunto). Colocarei alguns links para você se aprofundar ao final deste texto. O que quero mesmo fazer é aludir a uma frase que o Carlos usa com frequência, e que é muitíssimo adequada: “a ciência não é democrática. Por exemplo, o facto da gravidade ou da electricidade funcionare…. […]

  2. […] Ainda que seja de praxe na ciência colocar todo o conhecimento como provisório, determinamos como fato tudo aquilo que funciona. Ou seja, os efeitos da Física Quântica não são reais por consenso ou mero capricho da comunidade científica: são reais porque funcionam. Prova disso são os equipamentos eletrônicos que usamos hoje, computadores, tablets e smartphones, só para citar alguns exemplos. Se a física quântica fosse algum blablablá esotérico, nenhum destes aparelhos teriam sido possíveis. Citando o colega Carlos Oliveira, “a ciência não é democrática. Por exemplo, o facto da gravidade ou da electricidade funcio…. […]

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