Quântica cor de rosa

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Através de noções científicas de fácil compreensão e de exercícios de conexão interior e com o campo da consciência unificada (campo de energia) vai sentir-se ligado, expandido, alegre, plenamente amoroso e com clareza para fazer as alterações na sua vida de forma simples e profunda. Passo a passo e com saltos quânticos (…)

Susana Cor de Rosa, Workshop Quântica do Coração

Sei exatamente o que Susana Cor de Rosa está a descrever: chama-se bebedeira.

A bebedeira expande-nos, alegra-nos, deixa-nos mais amorosos e com uma clareza simples e profunda que costuma desaparecer às primeiras horas da manhã. E não vamos negligenciar o papel desses saltinhos quânticos, pois tanto vamos para um lado como para o outro sem darmos conta do nosso movimento.

Madame Schrödinger’s Cat, de Duane Michals

Madame Schrödinger’s Cat, de Duane Michals

Lá estão eles com a Física Quântica

A física quântica é um ramo da física que poucos percebem e todos interpretam.

Na verdade, esqueçam a parte da física, que é demasiado complicada – é mesmo a quântica que parece exercer um efeito mágico sobre a imaginação das pessoas e o sentido de oportunidade de outras.

É o caso de Susana Cor de Rosa, uma moça jeitosa que tem aparecido com frequência naqueles programas das tardes da SIC para falar na sua qualidade de formadora e terapeuta da Cura Quântica Unificada, Inteligência Quântica, Quântica do Coração e para a Alma, Criatividade Quântica, Orientadora de Meditação, relacionamentos, imagem corporal, sexualidade, Pedagogia Waldorf, Reconective Healing e Matrix Energetics, entre outras especialidades começadas com maiúsculas pomposas.

A Susana é uma rapariga muito atarefada.


Tanto pode pagar a consulta como pagar a consulta

Esse efeito mágico de uma palavra que cola a ciência à espiritualidade com saliva divina lembra-me uma cena de um filme que vi há uns anos, O Carteiro de Pablo Neruda.

Preocupada em preservar a honra e virtude de uma bela neta que andava caída de amores pelo poeta, a velhota não parava de avisar, um dedo aflito espetado no ar: as metáforas, minha querida, olha as metáforas!

No mundo da multifacetada Susana, a quântica nada tem a ver com a Física, é uma metáfora de si própria sem valor científico, muito menos terapêutico, uma promessa de cura baseada em palavreado, nada mais do que palavreado, a 152 euros por consulta – se quiser beneficiar das energias positivas do Campo Quântico Unificado – ou 182 euros, se preferir ativar o seu ADN subtil.

Mas pode pagar em duas vezes.


Depois de ativar o ADN, já dá para fazer atualizações

Sim, é verdade, não é só o Windows que é preciso ativar – o ADN também.

Se a definição de ácido desoxirribonucleico (ADN) – tentem dizê-lo em voz alta e terão mesmo de marcar uma consulta com a Susana – pudesse ser transposta para a realidade do mundo dos computadores, então seria um disco rígido – um daqueles modernos SSD.

Um disco rígido armazena dados e o ADN também. Um disco rígido guarda as fotos do iPhone da Scarlett Johansson, por exemplo; o ADN, a informação necessária para se poder ‘fabricar’ proteínas e o ácido ribonucleico – ARN, para os amigos.

Claro que é muito mais complicado: as moléculas do ADN contém um manual de instruções completo sobre como desenvolver os seres vivos deste planeta. Tão complexas e eficientes são estas moléculas que até passam determinadas características para a geração seguinte de seres vivos, como corredores de estafetas da Evolução.

Para resolver este dilema de não conseguirmos pensar no ácido desoxirribonucleico como um tipo porreiro a quem poderíamos cumprimentar, convidar para beber uma cerveja e ter uma conversa animadora, Susana Cor de Rosa propõe que aceitemos que o ADN é um composto orgânico cuja natureza pode ser corrigida por salamaleques new age.

O ADN é como um disco rígido com bad sectors, mas felizmente podemos «instalar nova informação física» no ADN subtil para «implementar novas forças, sentimentos e comportamentos que o beneficiam.»

Ativar, instalar, implementar – caramba, querem ver que a Susana Cor de Rosa também é um hacker?

Se calhar é um caso para ser desvendado pelo saudoso Peter Falk da série Columbo.

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Não vale a pena? Mais vale desistir? Sem emenda? Tem razão, senhor detetive. Que pode uma pessoa fazer?

A terapeuta quântica Susana é boa pessoa? Com certeza que será. Não faz mal a ninguém? Seguramente que não.

O maior caçador de tretas da blogosfera em Portugal, Ludwig Krippahl, que também escreveu sobre a quântica cor de rosa de Susana, discorda:

Faz mal a quem perca tempo com estas coisas quando o que está a tentar tratar quanticamente é um sintoma de uma doença grave que um médico poderia diagnosticar.

Faz mal a quem decida optar por estas coisas, sem efeitos secundários e ambiente mais agradável, em detrimento de terapias eficazes mas com efeitos secundários nefastos.

E penso ser razoável considerar que faz mal a alguém vender-lhe um serviço que não se está a prestar. Mesmo que a instalação de filamentos luminosos no ADN subtil fosse, hipoteticamente, inócua, o facto é que uma pessoa paga 182€ para lhe instalarem os filamentos e não lhe instalam filamentos nenhuns. Isso é um tipo de coisa que até me parece que a lei considera ser fazer mal.

Não acho que a lei seja uma boa forma de combater estas coisas. Prefiro o ridículo e a educação. Mas que fazem mal, diria seguramente que sim.

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Acha que pode ajudar os outros porque o efeito placebo é uma mistificação, ao contrário dos filamentos de luz do ADN subtil?

Que o faça.

Deseja desenvolver consciências, expandir corações, ligar os seres humanos, transformar janelas em cartões postais, gambozinos em elefantes Dumbo, estrelas em sóis benevolentes, e por montes e vales a saltar os terapeutas do vazio vêm brincar aos médicos e enfermeiros?

Força nisso.

Mas pelo amor da santa padroeira dos quânticos, queira a estimada tricotadora de filamentos luminosos fazer-me o grande favor de deixar em paz o senhor Albert Einstein!

Einstein nunca disse que «tudo é um milagre», como Susana Cor de Rosa escreve.

A citação foi-lhe atribuída num artigo do geógrafo americano Gilbert Fowler White, mas White nunca especificou se Einstein falava em nome pessoal.

De qualquer modo, numa conversa com o autor David Reichinstein publicada em 1934 no livro «Albert Einstein : a picture of his life and his conception of the world», o físico afirmou taxativamente não acreditar em milagres.

Ai ai ai – uma terapeuta quântica não saber estas coisas tão triviais. Não pode ser.

A frase completa que lhe é atribuída é esta: «Existem apenas duas maneiras de viver a vida. Uma é tal que nada é um milagre. Na outra, tudo o é.» Depois circulou uma variação mais marota: «Existem apenas duas maneiras de ver a vida. Uma é pensar que não existem milagres e a outra é que tudo é um milagre. Eu acredito nessa última.»

A propósito, o provérbio «Quem conta um conto acrescenta um ponto» não foi criado pelo nosso amigo Albert (mas podia ter sido).

E posso garantir que o autor da experiência mental mais famosa do mundo, Schrödinger, nada teve nada a ver com a frase «Gato escaldado de água fria tem medo».

Mas a que se segue é mesmo de Einstein:

Duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana. Mas, no que respeita ao universo, ainda não adquiri a certeza absoluta.

7 comentários

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  1. (…) já experimentou um tratamento com a Susana? (…)

    (…comentário editado…)

    1. Cara Madu,

      Este é um local de ciência.
      Somos cientistas. Sabemos o que é física quântica, até porque alguns de nós somos formados em física.

      Se quer falar de física quântica, podemos debater o assunto.

      Se quer insultar as pessoas, enquanto defende alguém que não tem qualquer formação (consequentemente, não sabe) nas tretas que vende, então este local de ciência não é para si.

      (o seu comentário foi editado por razões óbvias)


      Eu não sou agricultor. Não ando a “vender” que sei muito de agricultura. Isso faria de mim um mentiroso. Estaria a burlar os meus ouvintes.

      Deixo-lhe uma pergunta: no artigo todo, que frase é que está errada?
      O que é que o autor disse que a Madu avalie como estando errado?
      É que a Madu escreveu um longo comentário com insultos aos cientistas e ao autor, mas em nenhum momento apontou uma frase que estivesse objetivamente errada.
      Todas as informações que o autor prestou parecem-me corretas. Se não é assim, aponte o que está errado.
      Ou será que o seu problema foi o humor inicial do autor, que se vê nos outros textos do mesmo autor? Foi isso que a ofendeu?

      Como não apontou qualquer erro do autor, só o insultando, assumo que não goste do humor.
      Se o humor a ofende, a stressa, a irrita e a faz insultar as outras pessoas, então só posso concluir que os “tratamentos” (entre aspas) da Susana não estão a funcionar.
      Como vê, a própria Madu acabou de provar que o que a Susana vende não funciona.


      Para responder à sua pergunta: nem eu (nem ninguém) precisa de experimentar tudo para saber qual o resultado.
      Eu não preciso me atirar do topo de um prédio de 50 andares, para saber que não vou voar (na verdade, vou-me espatifar cá em baixo). Sabe como sei? Por uma coisa que se estuda na ciência que se chama gravidade.

      Por fim, deixo-lhe outra pergunta: já experimentou o conhecimento científico?
      Ahhh pois já. Está a utilizar a internet, feita com ciência, através de dispositivos eletrónicos (computador ou telemóvel) que também utilizam centenas de conceitos científicos (incluindo a física quântica).

      Porque é que então está a utilizar a ciência, enquanto insulta os cientistas e rejeita o conhecimento científico?
      Sugestão: procurar no dicionário a palavra hipocrisia (por estar a cuspir no prato que lhe dá de comer).

      abraços

  2. Parem de envenenar gatos!!

    Utilizem políticos corrutos no lugar deles 🙂

  3. Um magnífico artigo do sr. Marco Santos, habitualmente recheado com excelente didática e humor perspicaz, no qual poucos dominam nesses tempos.

    Meus mais elevados cumprimentos.

  4. Eu sei quem punha dentro da caixa e não era o gato, não cobrava 182€ e de certeza que nos “curávamos” , pelo menos, de uma fonte propagadora de uma doença quanticamente fatal: o oportunismo de uns sobre a necessidade e o desespero de quem é ignorante.

  5. Será que alguém realmente entende o que se passa a nível “quântico”???!!
    Eu aposto que só a Susana entende…ahh, através da enorme entropia que se instalou no seu cérebro cor-de-rosa.
    No que respeita ao gato, foi vergonhosamente “trocado” por uma pequena caixa com larvas de mosca, porque é mais fácil de transportar e uns séculos antes eram consideradas de origem “espontânea”, como alguns eventos quânticos??!!
    Deste modo temos larvas vivas, larvas mortas e larvas que se transformam em mosca, depois de agitarmos bem a caixa…

    Um bom Ano de 2014, para todos.

  6. Marco, envia à dita senhora este exame de qualificação em mecânica quântica:
    http://www.ufpe.br/ppgfisica/images/EGD/MQ/mq_2008_2.pdf

    Ela que mostre que é especialista…

  1. […] Extraterrestres Antigos. Desmistificar. Desenhar. Canal de Estórias. Erich von Däniken. Dogons. Quântica cor de rosa. Tribunal. Anel Negro. Dois Sóis. Alinhamento planetário sobre Pirâmides de Gizé. Sismos e […]

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