Terraformação, um conceito inviável

Terraformação é um conceito apelativo, mas extremamente especulativo, e, na minha opinião, totalmente inviável.
É um bom sonho de ficção científica, mas a realidade não se compadece com sonhos e a realidade é que terraformação não faz sentido.

O que é a Terraformação?

A wikipedia diz-nos que:
“Terraformação é a denominação dada ao processo, até agora hipotético, de modificar a atmosfera e temperatura de um corpo celeste sólido (como um planeta ou um satélite natural) até deixá-lo em condições adequadas para suportar um ecossistema com seres vivos da Terra.”

Na prática, Terraformar é tornar algo (um planeta ou mesmo uma grande lua) como a Terra.

Apesar de grandes nomes da ciência e da divulgação científica defenderem esta ideia, parece-me que é um conceito totalmente inviável… a vários níveis.

Existe uma inviabilidade ética inerente a este conceito: porque razão iríamos destruir algo totalmente natural para converter em algo para ficar mais de acordo com aquilo que gostamos? Teremos esse direito no Universo? Não chega já fazermos isso na nossa casa (Terra)? Por exemplo, Marte é um planeta belíssimo. Em termos de geologia, poderá mesmo ser um paraíso para os geólogos. Qual a razão para o destruir?

Um projeto destes seria também terrivelmente dispendioso, mais dispendioso do que qualquer empreendimento até agora realizado. É inviável economicamente.

Um projeto de terraformação demoraria, no mínimo, dezenas de milhares de anos. Provavelmente milhões de anos. Seria, assim, inviável temporalmente. Ninguém continuaria um projeto durante muitos milhares de anos…

Politicamente também é inviável. Sendo que um projeto destes demoraria, no mínimo, dezenas de milhares de anos, então não só seriam precisos milhões de governos contínuos sempre a suportar/apoiar o mesmo projeto, mas até tendo em conta que os sistemas políticos mudam, certamente que este projeto não seria sustentável.

As sociedades vão mudando, as culturas também, e as formas de pensar também. Ter um projeto, com a mesma forma de pensar, estagnado durante milhares de anos, seria suicídio social. Alguém imagina que atualmente pudessemos ter um projeto contínuo, sempre o mesmo e sempre viável, começado por um Australopiteco? Socialmente, é um projeto inviável.

Por fim, o mais importante: tecnicamente é um conceito totalmente inviável.

Etapas da Terraformação de Marte

Etapas da Terraformação de Marte

Marte é o “poster boy” para esta ideia de terraformação, ou seja, é o exemplo mais dado, porque é considerado o planeta mais fácil de terraformar.

Mas alguma vez Marte poderia ser como a Terra? Não.

Marte teria que ter mais massa – foi a falta de massa que levou a que a sua atmosfera ficasse rarefeita (ele não conseguiu mantê-la). De que serviria criar uma atmosfera mais densa em Marte, se voltaria a perdê-la? Como se colocaria massa em Marte?

Marte teria que ter um campo magnético como o terrestre. Como o conseguir?

Por mais dióxido de carbono que tiremos de Marte e por mais oxigénio e azoto/nitrogénio que coloquemos em Marte, precisaríamos não só desses, mas de todos os outros gases existentes na atmosfera terrestre. Mais difícil que isso: precisaríamos das mesmas proporções de gases atmosféricos. Mais uma vez, parece-me inviável…

Posteriormente, Marte precisaria de ter uma temperatura e uma pressão semelhantes à Terra, de modo a conseguir ter água à superfície.

Por fim, precisaríamos de colocar em Marte, vida tal como a conhecemos na Terra. Não poderia ser “vida esporádica”, mas sim um ecossistema inteiro.

Crédito da imagem: Stefan Morrell, National Geographic

Crédito da imagem: Stefan Morrell, National Geographic

Além de todas as razões anteriores, existem mais duas razões genéricas para a Terraformação de Marte não ser possível.

Uma delas é que não conhecemos todas as variáveis planetárias.
Existem demasiadas variáveis, que desconhecemos, e existem inúmeras interações entre elas das quais não fazemos ideia.
Se não sabemos essas variáveis, como podemos querer mudar algo se não sabemos o seu funcionamento?

A outra razão passa por definir o planeta Terra. O que é a Terra?
A Terra não é sempre igual. A própria Terra vai mudando. A Terra no tempo dos dinossauros era diferente de agora, em várias coisas, incluindo na constituição atmosférica (percentagem maior de oxigénio, por exemplo). A Terra há somente 2 mil milhões de anos era incrivelmente diferente de agora… nem sequer havia organismos complexos. A Terra antes da vida era incrivelmente diferente de agora… nem sequer tinha oxigénio na atmosfera! A própria vida (a vida terrestre) mudou totalmente a Terra. Quando se fala em Terraformar nunca se tem em conta que na verdade a própria Terra não é uma coisa fixa. Por isso, não se pode terraformar algo se não se sabe sequer de qual Terra – em qual tempo – estamos a falar.

A verdade é que Terraformar é impossível… ou melhor, é extremamente improvável.

Esta é também a razão para nunca encontrarmos uma outra Terra no Universo.
Nunca iremos encontrar um planeta que seja exatamente igual ao nosso neste momento.
Mesmo que encontremos uma outra Terra, poderá ser uma Terra como era no tempo dos dinossauros, ou no tempo em que existiam somente microorganismos, mas encontrar tudo (desde campo magnético, gravidade/massa, constituição atmosférica, vida como a conhecemos, etc) exatamente igual ao que temos parece-me igualmente impossível… ou melhor, extremamente improvável.
No mínimo, tão improvável como existir um outro Carlos Oliveira exatamente igual a mim (desde sinais, passando por doenças e pelas mesmas experiências pessoais, e acabando no segundo exato em que nasci e irei morrer) na Terra. Não existe.

mars_terre

Existe algum sítio no Universo que possa sofrer uma Terraformação?
Sim, a própria Terra.

A Terra terraforma-se gradualmente e continuamente.
Com humanos ou sem humanos, a Terra está sempre a modificar-se. É uma terraformação contínua que já dura há 4,6 mil milhões de anos 🙂

58 comentários

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  1. Anatomicamente e fisiologicamente, está provado que o nosso planeta não é tão favorável assim para a nossa evolução..evoluímos é certo mas não num ambiente ideal!
    Hoje, é possível simular o ambiente ideal para a evolução de seres como nós. E isso pressupõe um planeta com gravidade menor e mais percentil de O2 na composição da atmosfera.

    1. O planeta já teve maior percentagem de O2 na atmosfera. Daí ter tido dinossauros e mosquitos enormes – o ambiente ideal para eles, não para nós.

      Quanto ao “Anatomicamente e fisiologicamente, está provado que o nosso planeta não é tão favorável”, há-de me dizer que livros de biologia anda a ler.
      E já agora, diga-me também por quem foi provado isso. E “unicórnios invisíveis” não contam como autores dessas provas.
      Obrigado.

        • Vitor on 13/08/2018 at 23:15

        Não com o nível de percentil de O2 do cretáceo… não precisamos ser gigantes.
        25% de O2 ao invés dos 20% actuais iriam permitir ainda mais o desenvolvimento do nosso cérebro de uma forma que nem imaginamos. Estamos a falar do uso de pelo menos 50% das nossas capacidades cerebrais irrigadas com mais oxigénio, uma nova forma de compreensão da nossa existência, de onde viemos, para onde vamos, do universo.
        Estamos prisioneiros essencialmente pela percentagem de uso da nossa mente que é muito aquém do desejável. . ..
        E convém saber o porquê do boom tecnológico dos últimos 100 anos e porque ocorreu num tão curto espaço temporal. . Tendo a civilização vários milhares de anos. Acho que tivemos ajuda….

      1. Isso é absolutamente mentira.

        Pergunto-lhe novamente em que livro de biologia anda a ler esses disparates.

        Também lhe pergunto novamente qual o livro de biologia que lhe diz que: “Quanto ao “Anatomicamente e fisiologicamente, está provado que o nosso planeta não é tão favorável”.

        E, por fim, deixo-lhe novamente a pergunta: quem é que “provou isso”. Sendo que não aceito como resposta que os autores dessas provas foram “unicórnios invisíveis”.

        Obrigado.

  2. E se a nossa própria terra foi alvo de uma ” terra-formação” logo após o desaparecimento dos dinossauros num cataclismo…
    E se esse cataclismo foi propositadamente provocado para eliminar a maior parte da vida existente na altura para repovoação com outro tipo de seres…
    E se uma civilização mais avançada tivesse o seu planeta em apuros, á beira da aniquilação e provocou o cataclismo, terra formou e nos introduziu cá reproduzindo o ambiente original no seu planeta…
    Talvez tenha acontecido isso mesmo. E nós, como os nossos antepassados também já estamos a matar o nosso planeta e sabendo que temos de buscar nova casa estamos a pensar em colonizar outro planeta, reproduzindo as condições daqui lá…
    E daqui a umas centenas de milhares de anos, voltamos a fazer o mesmo..
    Reparem, o ser humano é realmente muito diferente dos outros seres vivos, um sinal de que não somos de cá originalmente.
    Eu acredito!

    1. Eu já vi esse filme de ficção científica… a questão é que é só mesmo ficção.

      A verdade é que o ser humano é MUITO IDÊNTICO aos outros seres vivos. O que prova que faz parte do mesmo processo evolutivo, no mesmo planeta. Basta estudar biologia para perceber isso.

      abraços

  3. Tenho algumas considerações:

    1 – Não vamos fazer um planeta idêntico a terra. Isso também acho impossível pois cada planeta é único. Mas se conseguirmos chegar a um ambiente parecido de como era a terra na época dos dinossauros como foi comentado no texto, já estaria ótimo.

    2- Se a atmosfera tiver muito oxigênio ou pouco etc. O ser humano vai ter tecnologia para se adaptar e assim mesmo teremos um ecossistema. Nem que seja com espécies diferentes das que temos hoje na terra. Até materializar o projeto da terraformação teremos tecnologia suficiente para manipulação genética.

    3- Esse tempo estimado em milhões de anos para terraformar está baseado em que? Se o conceito é hipotético essa conta também é.

    4- Marte talvez seja difícil, mas quem sabe a lua Europa, ou outro exoplaneta qualquer mais semelhante a terra.

    5- Sobre a ética de alterar algum planeta intacto, eu acho que isso é questão de continuidade da espécie. O nosso sol tem data de validade. Assim como eu, acredito que muitas pessoas não se contentam em ser mais um em uma espécie destinada a ser exterminada.

    1. 1 – no ambiente dos dinossauros nós não vivíamos.

      2 – se é para ter redomas e manipulação genética, então não é preciso terraformar. Basta viver em qualquer planeta dentro de redomas e com manipulação genética 😉

      3 – no tempo necessário para desenvolvimento de sistemas ambientais precisos.

      4 – na lua Europa era preciso viver no “subsolo”.

      5 – concordo.

  1. […] ou não, o facto é que alterar sua natureza para que se pareçam com a Terra é, além de algo desnecessário, uma violação dessa história própria. Terraformar Marte, por exemplo, poderia levar à extinção uma eventual vida que já esteja lá, […]

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