Tétrade de Eclipses Lunares: “luas sangrentas” ou fenómeno natural?

Na sequência de um artigo que escrevi acerca das chamadas «luas sangrentas», ficou por explicar o que é uma tétrade de eclipses. Na altura não considerei que fosse importante mas, ao ler alguns dos comentários, fiquei com a impressão que algo ficou por esclarecer.

Nada como começar pelo princípio. Algumas generalidades sobre os eclipses…

Eclipses

Um eclipse só ocorre quando o alinhamento entre os três astros coincide com a passagem da Lua pela “linha dos nodos” (a linha definida pela intersecção do planos de translação da Lua e da Terra).

Como provavelmente é do conhecimento geral, há eclipses do Sol e eclipses da Lua.

Os eclipses do Sol ocorrem quando a Lua passa entre nós e o Sol, tapando uma parte do Sol (eclipse parcial do sol) ou a totalidade do Sol (eclipse total do sol). Pode acontecer que o cone de sombra da Lua (a umbra) não atinge a Terra porque a Lua se encontra mais distante e, em consequência, o seu diâmetro aparente é inferior ao do disco solar. Neste caso, o eclipse é anular numa estreita faixa da superfície terrestre e parcial onde incide a penumbra. Pode também acontecer que a umbra passa ao lado da Terra e apenas a penumbra atinge parte da superfície da Terra, caso em que também é apenas um eclipse parcial

eclipse total do sol

Um eclipse do Sol é total apenas numa estreita faixa da superfície terrestre. No decurso de um eclipse, a sombra da Lua varre um longo corredor ao longo do nosso planeta, devido à rotação da Terra e ao deslocamento da Lua na sua órbita.

Os eclipses da Lua ocorrem quando é a Terra que se interpõe entre o Sol e a Lua, passando esta pelo cone de sombra da Terra. Um eclipse da Lua pode ser penumbral, parcial ou total, dependendo da profundidade de sombra que a Lua atravessa.

eclipse da Lua

Como é evidente, os eclipses do Sol só podem ocorrer na Lua Nova e os eclipses da Lua na fase de Lua Cheia. Contudo, não há eclipses do sol em todas as Luas Novas nem eclipses da Lua em todas as Luas cheias. Isto deve-se à circunstância de o plano da órbita da Lua (em torno da Terra) estar inclinado em relação ao plano da órbita da Terra (em torno do sol). Assim, na maioria das vezes, a sombra da Terra ou da Lua “perde-se no espaço” sem atingir o outro astro.

Os eclipses da Lua e do Sol ocorrem em ciclos de cerca de 18 anos (para ser mais preciso, o ciclo é de 6585,3211 dias ou seja 18 anos 11 dias e 8 horas). Não se sabe quem primeiro notou esta regularidade e estabeleceu este valor mas é sabido que o ciclo de 18 anos, a que se deu o nome de Saros já era conhecido pelos chineses e pelos Caldeus (antigos astrónomos da Babilónia), muitos séculos antes da nossa era, apesar de na altura ainda não compreenderem a natureza dos eclipses.

Esta periodicidade na ocorrência dos eclipses torna-os num evento previsível, sendo assim possível saber em que datas passadas ocorreram eclipses, bem como saber em que datas futuras ocorrerão os eclipses.

 

Esta previsibilidade traz-nos ao tópico deste artigo. O que é afinal uma tétrade?
Uma tétrade de eclipses lunares é um conjunto de 4 eclipses totais consecutivos. Apenas isso.
Todos os anos ocorrem entre 2 a quatro eclipses da Lua, entre totais, parciais ou penumbrais. Quando ocorre uma série de quatro eclipses totais consecutivos, designa-se esse grupo de eclipses uma “tétrade”.

Será uma tétrade um fenómeno raro ou frequente?
Para responder a esta pergunta, consideremos que no século XX ocorreram 5 tétrades:
1ª tetrade em 04/06/1909, 27/11/1909, 24/05/1910 e 17/11/1910
2ª tétrade em 15/061927, 08/12/1927, 03/06/1928 e 27/11/1928
3ª tétrade em 13/04/1949, 07/10/1949, 02/04/1950 e 26/09/1950
4ª tétrade em 24/04/1967, 18/10/1967, 13/04/1968 e 06/10/1968
5ª tétrade em 04/05/1985, 28/10/1985, 24/04/1986 e 17/10/1986

No século XXI, já ocorreu uma tétrade, em 2003-2004, tendo os eclipses ocorrido nas seguintes datas: 16/05/2003, 09/11/2003, 04/05/2004 e 28/10/2004.

Ao longo deste século ocorrerão ainda mais 7 tétrades . A próxima inicia-se já no dia 15 deste mês, completando-se com mais 3 eclipses em 08/10/2014, 04/04/2015 e 28/09/2015.
As restantes 6 ocorrerão em 2032-2033, 2043-2044, 2050-2051, 2061, 2062, 2072-2073 e finalmente 2090-2091.

 

Conclusão: No século XX ocorreram 5 tétrades; Neste século XXI já ocorreu uma tétrade e uma segunda está prestes a iniciar-se. Ainda neste século ocorrerão mais 6.
Por estes dados, eu diria que não é um fenómeno raro nem há nada de misterioso nem de místico associado a ele.

Apreciemos a beleza de um eclipse lunar como o espetáculo belo, gratuito e universal que a natureza nos proporciona, sem medos nem receios.

Para quem dominar o Inglês falado, há um vídeo que explica muito bem o que se pode esperar de uma tétrade:

 

6 comentários

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    • Simony Rodrigues on 28/09/2015 at 15:41
    • Responder

    Sinceramente eu quero agradecer, ainda conseguimos discussões que nos levam ao conhecimento geral, aprendi muito sobre os dois assuntos, e sim existem pessoas que nao sabem nada sobre tétrade, e sim, falam apenas o que elas ouviram, temos que respeitar cada ser humano, pq cada um de nós estamos num estágio de aprendizado na vida. Grata

  1. O engraçado é ver os crentes defendendo com muita propriedade que isso significa o inicio do fim, sendo que o fim começou desde o nascimento do planeta, eles fazem estudos a fundo da biblia e toda sua simbologia para chegar a uma coclusão extremamente obvia e literal… ou sejam não vão aproveitar o evento por medo

      • Esaú Almeida on 29/04/2014 at 02:22
      • Responder

      Belíssima explicação científica de Rui Costa, me tirou muitas dúvidas.

      Só peço ao meu companheiro Renato que não generalize as coisas: nem todo crente é doido. Alguns tem convicção em algo e outros não, ninguém é mais especial ou menos por isso.

      Pessoas com convicção religiosa normal apenas acham interessante que esses eventos, coincidentemente, aconteçam em datas festivas judaicas, e que nas 7 tétrades que aconteceram desde o início da era cristã e que caíram nos mesmos feriados coisas interessantes aconteceram, (se o autor permitir) deixo para efeito de pesquisa o site http://www.jesusonmymind.com/services.

      Fora essas coincidências, não vejo motivos de histeria.

        • Poliana Paiva on 14/12/2014 at 06:53

        Poooxaaaaa,gostaria de curtir um milhão de vezes o comentário do Esaú Almeida…Parabéns por ter explicado sobre nós crentes!!!!

    • Roberto Oliveira on 10/04/2014 at 13:49
    • Responder

    tecnicamente, da pra considerar as fases da lua como uma especie de eclipse?

    1. Não.

      Eclipses acontecem quando a Lua passa pela sombra da Terra (sombra essa criada pela luz vinda do Sol). Isto só acontece durante a Lua Cheia.

      As fases da Lua é o que vemos de parte iluminada da Lua (pelo Sol), vista da Terra.
      Quando a Lua está em Quarto crescente, por exemplo, não está a eclipsar (a esconder) nada.
      http://www.alunos.esffl.pt/lua/images/imagem20.jpg

      abraços

  1. […] a partir de interpretações biblícas feitas por autores, que diziam que no último eclipse de uma tétrade lunar haveria tempos de grandes mortandades, e devido a isso, deu-se o nome de lua de sangue.    […]

  2. […] este eclipse, completa-se mais uma tétrade de eclipses lunares (conjunto de 4 eclipses totais […]

  3. […] o terceiro de uma série de quatro eclipses lunares totais consecutivos, uma série conhecida como tétrade. Ocorrendo em intervalos de quase seis meses, os dois anteriores foram a 15 de abril e 8 de outubro […]

  4. […] é o 3º de uma tétrade de eclipses lunares, como podem ler aqui. E, por favor, quem gosta de astronomia, pare de falar de luas sangrentas, que é misticismo […]

  5. […] na sombra da Terra, mas não fica totalmente escura. É chamada de Lua Sangrenta (leiam aqui e aqui), mas é uma cor aparente. É uma cor que vemos devido a estarmos a observar a Lua através da […]

  6. […] com explicação e transmissão e fotos, 2010, 2008). Próximos. Luas Sangrentas: explicação, tétrade, […]

  7. […] nem de “sangrento”, como alguns websites mentirosos quiseram fazer crer (leiam aqui, aqui, e […]

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