A Invenção da Mentira – O Primeiro Mentiroso

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The Invention of Lying é um filme brilhante com Ricky Gervais (um conhecido ateu, defensor da realidade dos factos e do pensamento crítico, sendo assim um crítico de fantasias).

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Numa realidade alternativa, onde a mentira não existe, toda a gente (incluindo políticos, publicitários, pessoas num primeiro encontro, pessoas em “conversa de circunstância”, etc) dizem somente a verdade absoluta.
Não existe sequer o conceito, a noção, da mentira (faz lembrar a história dos Aborígenes na Austrália que também não tinham os conceitos de “roubo” e de “propriedade” até chegarem os Europeus).

Os próprios filmes não têm qualquer emoção, ficção ou drama. São somente uma leitura fria dos acontecimentos que se passaram realmente.
A publicidade aos produtos, por exemplo, é totalmente verdadeira, sem qualquer tipo de embelezamento ou tentativa de enganar as pessoas com frases dúbias sobre efeitos falsos (ou seja, não existem pseudos!).

Claro que num mundo deste género, as pessoas dizem constantemente coisas cruéis, mesmo sem intenção de magoar: dizem somente a verdade.

Mas quando um falhado chamado Mark (Ricky Gervais) descobre a mentira, torna-se o primeiro e único ser humano capaz de mentir, e percebe que a desonestidade tem as suas recompensas.
Por exemplo, num banco, numa altura em que os computadores estão em baixo, ele diz que tem na conta 800 dólares e pede para retirá-los da sua conta. Era mentira, porque ele só tinha 300 dólares na conta. Mas como se assume que as pessoas dizem sempre a verdade, então o caixa do banco dá-lhe o dinheiro que ele pediu. Entretanto, os computadores passam a funcionar corretamente e mostram o verdadeiro balanço da sua conta, mas o banco assume que o computador tem um erro, já que a pessoa seria incapaz de mentir.
Com este poder, de mentir e ninguém notar, ele passa a contar diversas mentiras, para seu benefício e dos seus amigos.
Num mundo onde cada palavra é tida como uma verdade absoluta, através das suas mentiras, Mark consegue ter sucesso.

Uma das mentiras mais divertidas é quando Mark escreve a história para um filme/documentário na televisão, sobre o século 14, onde inclui a invasão da Terra por extraterrestres. Como as pessoas não se lembram disso? Simples, as pessoas tiveram as suas memórias apagadas pelos extraterrestres.
O documentário tem por título “A Peste Negra”.
Claro que toda a gente acredita na história, apesar de ter 0 evidências (da mesma forma que acontece no nosso mundo, com as mentiras dos vigaristas).

A mentira que dá azo ao filme é quando Mark sabe que a sua mãe vai morrer. O médico diz-lhe (porque, claro, dizem sempre a verdade). A mãe tem um medo terrível da morte e do vazio que ela contém.
Então, quando ela está prestes a morrer, para confortá-la, Mark diz-lhe que ela não vai para o vazio, onde será para sempre esquecida da existência, mas terá sim acesso a uma vida após a morte, onde tudo será alegria. Ela morre feliz.
Os médicos e enfermeiras ouvem esta história e querem saber mais sobre esta “vida eternamente feliz”. Ele tenta explicar que estava somente a confortar a sua mãe, mas eles obviamente não entendem esse conceito: de mentir para tornar alguém mais feliz.
Quando os/as enfermeiros/as e os/as médicos/as contam esta história ao resto da população, toda a gente quer saber mais sobre isto. Ele então gradualmente começa a aumentar algumas histórias à história inicial: diz que existe um “Homem no Céu” que controla tudo e todos, e que deu regras (que o próprio Mark inventa) para as pessoas seguirem. Se as pessoas seguirem essas regras (só podem cometer “3 pecados” durante a vida), serão recompensadas após morrerem. O objetivo dele não é mentir, per se, mas sim fazer com que as pessoas se sintam mais felizes e o mundo se torne um local melhor para viver.

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Pessoalmente, adorei o filme.
É uma comédia, com sentido crítico e que não me parece ofensiva.

Por vezes, o filme até parece defender a mentira e as fantasias: quando usa a verdade de forma fria, cruel e bruta (que magoa as pessoas), quando usa a mentira para confortar as pessoas e deixá-las felizes, e quando usa a mentira como um modo de transcendência (uma fuga à bruta realidade).
A primeira metade do filme é com o Mark a utilizar a mentira para ajudar as pessoas.
No entanto, obviamente, o sentido do filme é contra a mentira e os enganos.

É óbvio que o filme tem o seu foco na religião: em como as fantasias através de “white lies” (pequenas mentiras para confortar psicologicamente as pessoas) estiveram na base da religião.
No entanto, eu vi este filme por um prisma muito mais abrangente: de tudo o que está mal no mundo, devido aos pseudos, e de como eles se aproveitam da “inocência” das pessoas em acreditarem em todas as histórias fantasiosas que ouvem.

Crédito: Mark Monlux

Crédito: Mark Monlux

Gostei também de várias mensagens que o filme transmite.
Por exemplo, de que o interior das pessoas é mais importante que a parte exterior, física.
De que o carácter pessoal é mais importante que ser rico ou famoso.
De que uma só característica não define uma pessoa, muito menos as aparências (“You are so much more than just that”).
Provavelmente a maior mensagem de todo o filme é: tentem ser felizes nesta vida. Procurem a felicidade, e não outras coisas (fama, dinheiro, etc). E façam-no nesta vida e não com o intuito de futuras vidas fantasiosas.
E a mensagem mais importante é: as pessoas devem fazer as suas próprias escolhas, por aquilo que é correto, e não porque alguém (deuses, pseudos, amigos, etc) lhes disse para fazer de determinada forma (ex: quando Mark podia dizer a Anna para ficar com ele, porque o “Homem no Céu” disse para Anna “assim o fazer”, mas Mark prefere que seja Anna a decidir por ela própria).

Mesmo no final, Mark e Anna têm um filho, que herdou a habilidade do pai para mentir.
Mesmo bastante “escondida”, parece-me uma evidência de que a evolução funciona 😉

5 comentários

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  1. Bela m… bosta de filme. Vê-se até meio mas depois é uma seca descomunal.

  2. Para quem não entendeu, meu irmão se referia à aquele “1o Lugar em Ciência!”.

  3. Eu conheço essa história de algum lugar, mas não lembro de ter visto o filme, sei que ele escreveu essas regras “divinas” em uma caixa de pizza, e que em uma cena no bar tentou explicar a mentira para seus amigos mudando o nome, mas eles, ignorantes de um outro jeito de pensar, não entenderam, mas uma coisa tenho certeza, se em outra realidade não existe a mentira, ela será descoberta logo, logo, pois os filósofos se dedicam ao gosto de saber, como o próprio nome diz, em grego “filos” é gostar e “sophia” é saber, e assim com seus conhecimentos iriam descobrir uma hora ou outra isso e iriam critica-lo em sociedade, transformando essa ideia popular, o que faria ela entrar em uso pela população.

    P.S.: Meu irmão passou por aqui enquanto lia o título do artigo, e de repente assumiu uma expressão séria, e eu, ao olhar para ele para expulsa-lo do meu quarto, ao ver essa expressão, fiquei assustada, perguntei o que havia ocorrido, e ele me disse, “Nada, só estava pensando que se eu quisesse um primeiro lugar em algo, seria na fila do banheiro”, mal ele terminou a frase e já estava no banheiro, ele é tão bobo nessas horas, quando não está nem xingando nem ofendendo de outro jeito as pessoas, me arrancou umas belas risadas.

    • Graciete Virgínia Rietsch Monteiro Fernanbdes on 04/01/2015 at 12:16
    • Responder

    Não vi o filme mas creio que teria agradado.
    Um abraço.

    • Ricardo André on 14/08/2014 at 20:39
    • Responder

    Este filme é mesmo excelente!

  1. […] etc, é uma história inventada há uns anos para confortar a comida. Isto faz-me lembrar o filme: A Invenção da Mentira. Grande parte da comida, que acredita no Fabuloso Além, continua a preferir a mentira do que lidar […]

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